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Pedido de socorro

Ações violentas de adolescentes apontam para problemas familiares e o ambiente virtual

Por Patrícia Scott

Uma onda de violência nas escolas de diferentes regiões do país tem deixado a população brasileira atônita. As ações, muitas delas perpetradas por adolescentes, deixaram um rastro de mortos e feridos entre alunos e docentes. Em maio, um estudante de 17 anos, identificado como L. R. L., entrou armado no Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso de Goiás (GO), e matou a tiros o coordenador Julio César Barroso de Souza, 41 anos. Horas antes do crime, o aluno teria discutido com uma professora e fora levado até a coordenação, onde foi informado por Julio que poderia ser transferido, caso não mudasse seu comportamento. O jovem foi detido após o homicídio.

Foto: Lisidika / Adobe Stock

Em abril, as polícias civis de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraná cumpriram dez mandados de internação provisória contra adolescentes suspeitos de planejar ataques em escolas. Segundo promotores do Ministério Público desses cinco estados, esses jovens usavam uma plataforma digital para combinar possíveis investidas. Os suspeitos são investigados por atos infracionais análogos aos crimes de ameaça, incitação ao crime, apologia ao crime e associação criminosa. Em Aracruz (ES), no final de 2022, atentados ocorridos em duas escolas deixaram quatro mortos e 12 feridos. A investigação apontou que o autor do crime, um adolescente de 16 anos, é ex-aluno de um dos colégios e utilizou as armas do pai, um policial militar.  

Assassinatos em instituições de ensino, entretanto, não são um fenômeno recente. Um mapeamento sobre casos semelhantes realizado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) listou 23 ataques ocorridos de 2002 a 2023 em 19 escolas públicas estaduais e municipais e em quatro colégios particulares. No primeiro episódio, em 2002, um garoto de 17 anos disparou contra duas colegas na sala de aula em uma instituição privada em Salvador. Em três eventos subsequentes, o crime foi cometido em dupla. Em outros cinco, os atiradores se suicidaram em seguida. Ao todo, 30 pessoas morreram: 23 estudantes, 5 professores e 2 funcionários. O levantamento da UNICAMP revelou também que 13 dos 23 casos investigados aconteceram nos últimos dois anos.

A assistente social Márcia Monte afirma: “O dever dos adultos é proteger e cuidar dos adolescentes, percebê-los como seres humanos em desenvolvimento”
Foto: Arquivo pessoal

“Estratégias de proteção” – A assistente social Márcia Monte, assessora nacional de proteção da ONG Visão Mundial, defende o investimento estatal para ajudar os jovens, especialmente os mais vulneráveis economicamente. Para tanto, ela acredita que é necessário promover a educação e fortalecer as escolas, as quais devem ser sensíveis às necessidades individuais de cada aluno, de modo que possam encaminhá-los para o atendimento correto. “O dever dos adultos é proteger e cuidar dos adolescentes, percebê-los como seres humanos em desenvolvimento. Quando eles se tornam agressores, certamente nossa função de cuidado falhou. Então, precisamos rever as estratégias de proteção.” Márcia também destaca que cabe às famílias o papel primordial de proteger os jovens. Entretanto, reconhece que as demandas da atualidade, como a necessidade de trabalhar fora, faz muitos pais terceirizarem o cuidado com os filhos. “Dessa forma, muito dessa agressividade é, na verdade, um pedido de socorro”, alerta a especialista.

A líder estadual de jovens teens da Igreja da Graça em Santa Catarina, Daniela Santana, ressalta: “Os filhos se espelham nos pais. Por isso, a falta de diálogo em casa também pode contribuir para um comportamento desajustado”
Foto: Arquivo pessoal

A líder estadual de jovens teens da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Santa Catarina, Daniela Santana, concorda com Márcia Monte e assegura que as referências familiares têm um papel fundamental na formação do adolescente. “Os filhos se espelham nos pais. Por isso, a falta de diálogo em casa também pode contribuir para um comportamento desajustado.”

Já a missionária Caroline Vargas, da Missão Ide, sediada em Manaus (AM), lembra que a responsabilidade familiar é proporcionar um ambiente seguro, amoroso e saudável, além de orientar e dar o suporte emocional para as crianças e os adolescentes. “Isso possibilita um vínculo forte e atua na prevenção e no manejo da agressividade”, salienta ela, acrescentando que os responsáveis devem fornecer supervisão adequada para garantir a segurança das crianças e prevenir comportamentos indevidos. “Isso inclui monitorar atividades, estabelecer regras e limites apropriados e estar presente na vida dos pequenos.” A evangelizadora salienta que os pais devem ser o modelo de comportamento, demonstrando habilidades de comunicação saudável, resolução de conflitos e controle das próprias emoções. “Muitas vezes, os filhos aprendem observando o modo de agir dos adultos ao redor”, reitera. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Sinais de alerta]

A missionária Caroline Vargas lembra que a responsabilidade familiar é proporcionar um ambiente seguro, amoroso e saudável, além de orientar e dar o suporte emocional para as crianças e os adolescentes
Foto: Arquivo pessoal

Segundo Caroline, a Igreja igualmente desempenha um papel importante na formação da rede de proteção ao adolescente. A comunidade evangélica pode contribuir na formação moral por meio de ações práticas que demonstrem a importância que cada menino e menina tem no Reino de Deus. “A casa do Senhor também é um bom lugar para a construção de amizades saudáveis. Ter amigos nesse ambiente pode ser uma fonte de apoio e companheirismo, o que é ótimo para a saúde mental e emocional deles”, ensina.

A missionária Elsie B. C. Gilbert concorda que a Igreja é muito importante para a construção da sanidade emocional e mental dos adolescentes: “Para isso, são necessárias estratégias de convivência e escuta intencional”
Foto: Arquivo pessoal

Regressão no desenvolvimento – Na opinião da missionária Elsie B. C. Gilbert, coordenadora de comunicação da Rede Mãos Dadas, um grupo de instituições, igrejas e pessoas de apoio à criança, concorda que a Igreja é muito importante para a construção da sanidade emocional e mental dos adolescentes. Ela cita o exemplo do profeta Samuel quando ouviu a voz do Senhor pela primeira vez (1 Sm 3). O rapaz precisou da orientação de uma pessoa mais experiente para discernir o que acontecia naquele momento. “Samuel estava com medo, pois ouvira uma voz no meio da noite. Mas o sacerdote Eli não só acordou, como também ouviu o menino com atenção e o instruiu sobre como enfrentar aquela situação”, esclarece. De acordo com Elsie Gilbert, a Igreja precisa exercer o papel de Eli na vida dos jovens. “Para isso, são necessárias estratégias de convivência e escuta intencional. Algo que resolve uma multidão de problemas”, assegura.

A líder estadual de adolescentes da IIGD em Goiás, Regina Feitosa Nobre, acredita que a agressividade é uma tentativa de garotos e garotas estabelecerem o controle sobre o meio: “Eles estão perdidos em seu papel como cidadãos, tanto de direitos quanto de deveres. Estão sem identidade”
Foto: Arquivo pessoal

Por outro lado, na atualidade, as redes sociais concorrem diretamente com a família e a igreja na formação dos adolescentes. Na opinião da missionária, as mídias sociais promovem o isolamento dos mais jovens e provocam uma regressão no desenvolvimento deles. “Nas redes, eles só interagem com um grupo de iguais. Não há moderação, e, portanto, o adolescente fica exposto a todo tipo de bullying por parte dos próprios colegas”, avalia, acrescentando que os conteúdos consumidos de forma compulsiva na web atrapalham o desenvolvimento da autodisciplina. “Ainda que aparentemente inofensivo, esse material gera expectativas irreais sobre o corpo, a beleza e o comportamento.”

Já a líder estadual de adolescentes da Igreja da Graça em Goiás, Regina Feitosa Nobre, pensa que a agressividade é uma tentativa de garotos e garotas estabelecerem o controle sobre o meio. “Eles estão perdidos em seu papel como cidadãos, tanto de direitos quanto de deveres. Estão sem identidade”, analisa Regina, a qual acredita que as redes sociais são gatilhos para as condutas inadequadas dos jovens, inclusive no que diz respeito à violência. “Elas [as redes sociais] apresentam aos adolescentes uma vida desregrada, sem limites, que evidencia a permissividade. Com isso, eles acabam movidos pelos próprios desejos, sem a preocupação com as consequências dos seus atos.”

A educadora Nara Célia Batista de Santana de Araújo diz que a violência dos jovens é só um sintoma: “Quando ocorre, é porque o adolescente já está enfrentando problemas. A agressividade é apenas a ponta do iceberg
Foto: Arquivo pessoal

Para a educadora Nara Célia Batista de Santana de Araújo, a violência dos jovens é só um sintoma. “Quando ocorre, é porque o adolescente já está enfrentando pro­blemas. A agressividade é apenas a ponta do iceberg”. Na opinião dela, é necessário agir com sabedoria ao lidar com a questão. “Desrespeitar o outro e não saber lidar com as diferenças são problemas sérios que precisam ser encarados com cuidado, mas também com autoridade”, afirma a educadora. E a julgar pelas estatísticas recentes a respeito da violência per­pe­trada por adolescentes no país, famílias, igrejas, escolas e o Estado precisam agir rapidamente!

Sinais de alerta

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Entre os adolescentes, é possível perceber alguns indícios de que algo não está bem. Os primeiros sinais são a indisciplina e a agressividade. Desafiar a autoridade dos mais experientes, assim como se recusar a realizar diversas atividades, desobedecendo-lhes indicam que há um problema. A agressividade, muitas vezes, também se manifesta com uma expressão verbal diferenciada. Quando o adolescente grita com frequência, utiliza gírias ou palavrões, tons de ironia e sarcasmo, é necessária uma intervenção.

Nesses casos, é comum que eles se envolvam em discussões ou brigas. Mas, quando a intimidação se torna algo frequente, pode escalar para algo mais sério, como o bullying ou as agressões físicas.

O descontrole emocional é outro sinal de alerta e se apresenta por meio de mudanças de humor constantes e explosões frequentes. A impulsividade e a falta de autocontrole também fazem parte da rotina dos adolescentes com comportamento agressivo.

(Fonte: Educamundo)

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