Custe o que custar

Pastores e empresários ensinam como ser um empreendedor de sucesso sem abrir mão dos princípios bíblicos

Por Lilian Barros

Quem abre uma empresa enfrenta inúmeros desafios para obter sucesso profissional. No entanto, em meio aos percalços inerentes ao mundo dos negócios, há aqueles que – a fim de escapar de tributos e outros encargos impostos pela legislação vigente – preferem recorrer a irregularidades para aumentar seus ganhos. A depender do ramo de atuação da empresa, não lhes faltarão propostas ilícitas que poderão alavancar seus lucros.

Quando se trata do empreendedor cristão, não é diferente: as ofertas de vantagens ilegais são igualmente apresentadas a ele. Porém, nesse caso, para aquele que deseja agir pautado pela ética cristã, o caminho é desafiador. Essa pessoa precisará arcar com todos os encargos do seu ramo de atividade e fechar a porta para propostas escusas. Ao tomar tal decisão, esse servo do Senhor conseguirá colocar em prática os valores e princípios da Palavra de Deus e prosperar no mundo dos negócios? A reportagem Graça/Show da Fé foi a campo para responder a esta pergunta.

Conhecedora da necessidade de ser honesta tanto na igreja como nos negócios, a empresária Marisa Victória não tem dúvidas: a resposta é sim. “Mentir e dar um jeitinho para se dar bem e sair na frente da concorrência podem parecer atitudes normais, mas não para quem quer seguir os valores do Reino. Creio que nós, cristãos, podemos ser bem-sucedidos. Afinal, fomos chamados para comer o melhor desta terra[Is 1.19 – ARA]”, assegura Marisa, proprietária da empresa Expressão Maior Comunicação, no Rio de Janeiro (RJ), e membro da igreja Academia da Fé, na capital fluminense. Por isso, de acordo com a empresária, vale a pena ser fiel aos princípios bíblicos.

Ela deixa claro que, em alguns momentos, o empreendedor cristão enfrentará situações em que precisará optar por “perder para ganhar”, ou seja, terá de pagar o preço por ser correto. Entretanto, Marisa Victória garante que Deus honrará os Seus servos. “Não importa se somos proprietários ou funcionários de uma empresa, nossa fé, as escolhas e nosso caráter devem ser pautados na Palavra de Deus.”

“Dom de Deus” – O Pr. Daniel Bahiano, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus em Sorocaba (SP), esclarece que aplicar os princípios de fé aos negócios é uma combinação perfeita. Todavia, ele ressalva que, por ocupar uma posição de destaque, o empreendedor que crê em Jesus será observado de perto e cobrado por suas atitudes. Bahiano lembra que, caso apresente uma conduta incontestável frente às tentações e às dificuldades da área comercial, será uma fonte de inspiração para seus observadores. “Sendo um cristão exemplar, os valores do Reino serão promovidos na empresa”, afirma o líder, citando as palavras do apóstolo Paulo a Tito: Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade (Tt 2.7).

Todavia, o pastor ensina que, para conduzir sua empresa conforme a vontade de Deus, o empreendedor precisa entender um princípio fundamental acerca do dinheiro: existem pessoas que endeusam esse bem material e, por ele, são capazes de trair, roubar e matar. “O segredo é fazer do dinheiro o nosso servo. Ele é uma ferramenta a ser usada para suprir nossas necessidades, as daqueles que amamos e até mesmo as da obra do Senhor. Prosperidade é dom de Deus, e o resultado obtido de modo honesto é uma bênção”, garante, firmado em Eclesiastes 5.19: E quanto ao homem, a quem Deus deu riquezas e fazenda e lhe deu poder para delas comer, e tomar a sua porção, e gozar do seu trabalho, isso é dom de Deus.

As opiniões de Bahiano são reforçadas pelo Pr. Denilson Silva, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus no Acre. Ele cita outra passagem bíblica. Nela, Cristo conta a parábola dos talentos (Mt 25.14-30). No texto, Jesus relata que cada servo foi encarregado de obter lucros com o que havia recebido de seu senhor. “Ter dinheiro jamais será problema, desde que ele não ocupe o lugar de Deus. Portanto, use-o com zelo e seja diligente em seu negócio”, aconselha.

O Pr. Rogério Postigo, líder estadual da Igreja da Graça em Minas Gerais, faz coro com os pastores Daniel Bahiano e Denilson Silva e adverte que o amor ao dinheiro é raiz de todos os males (1 Tm 6.10). “O dinheiro é um ótimo servo, mas um péssimo senhor.” Por outro lado, Postigo reconhece que, no mundo dos negócios, todo empresário deseja o lucro e fechar bons contratos. Caso contrário, a empresa não sobreviverá. “Isso não é pecado. Todo trabalhador é digno do seu salário”, afirma o líder, citando 1 Timóteo 5.18.

No entanto, de acordo com Postigo, é importante não abrir mão da obediência à Palavra do Senhor, pois é dessa maneira que o empreendedor terá sucesso, como ensina o salmista: Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite […] e tudo quanto fizer prosperará (Sl 1.1-3). “Vivemos em um mundo que jaz no maligno. É um mercado sem dó, mas temos o Todo-Poderoso conosco. Faça dEle o seu Sócio, Mestre e Refúgio. Assim, você terá a ajuda de que precisa para enfrentar os desafios”, aconselha.

“Somos mordomos” – A prosperidade, porém, não se limita à riqueza material. É o que defende Josué Júnior, especialista em Gestão de Negócios e mentor de empresários atuante em Belo Horizonte (MG). Ele ensina: “O dinheiro não é bom ou ruim, e sim uma ferramenta que usamos para alcançar nossos objetivos e abençoar as pessoas”. De acordo com o especialista, a Bíblia encoraja o servo de Deus a prosperar, mas ele enfatiza que tal busca deve ser guiada por justiça, generosidade, amor e serviço ao próximo. “Administrar significa definir prioridades claras, economizar com sabedoria, compartilhar com os necessitados e buscar o Senhor em primeiro lugar, porque somos Seus mordomos. A prosperidade engloba um estado de bem-estar que inclui saúde, relacionamentos harmoniosos e paz espiritual”, assegura Júnior, membro da Igreja Presbiteriana de Lagoa Santa (MG), município da Região Metropolitana da capital mineira.

Por isso, o casal Rogério e Rosilene Schwartz – eles são membros da Igreja da Graça em Vitória (ES) e proprietários da loja Toqmóveis, na capital capixaba – não mede esforços para obedecer ao Senhor. Nos anos 1980, antes de assumirem essa postura, o negócio – de fabricação e venda de mobiliário para escritórios – tinha ido à falência. “Tínhamos uma dívida altíssima e um carro que vivia quebrado”, informa Rosilene. Entretanto, à medida que iam se reerguendo financeiramente e trabalhando duro como sempre, decidiram confiar no Senhor e sujeitar-se a Ele de maneira incondicional.

Hoje, o casal tem uma loja com 408 m², o único estabelecimento do gênero na rua em que está localizado e com estacionamento privativo para os clientes. “Quitamos a dívida e temos vários carros novos. Pontuando de 0 a 1.000%, diria que crescemos 680% em espaço e 950% em ganhos financeiros”, contabiliza Rosilene Schwartz. Entretanto, ela reconhece que seu trabalho não é um conto de fadas, e as ofertas para aumentar os lucros de modo ilícito sempre aparecem. “Estamos no mundo, e é complicado porque, infelizmente, ainda existem aqueles que pedem comissões para comprar conosco. Já perdemos muitas vendas por não fazermos isso. Explicamos a essas pessoas que somos cristãos. Algumas aceitam, outras não voltam mais”, informa a empresária. Rosilene deixa uma mensagem de esperança para aqueles que buscam empreender honestamente: “Não desistam nunca de seus sonhos. As batalhas acontecerão, mas tenham fé, pois Deus não Se agrada de quem desiste”.

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