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Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

Pregação eficaz

A elaboração de um bom sermão evangélico deve unir técnica e inspiração divina

Por Evandro Teixeira

Desde a Reforma Protestante, os cultos evangélicos constam, basicamente, de dois momentos: adoração comunitária, por meio da música, e ministração das Escrituras Sagradas. O primeiro é uma preparação para o segundo, sendo a pregação o ápice de cada reunião. Os evangélicos, em geral, entendem ser nessa parte que Deus fala à congregação, por meio de Sua Palavra e da instrumentalidade do pregador. Desse modo, como canais entre o Altíssimo e os ouvintes do Texto Santo, aqueles que se dedicam a esse trabalho precisam estar bem preparados para a tarefa, tal como o apóstolo Paulo recomenda a Timóteo: Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm 2.15).

Martinho Lutero (1483-1546), precursor da Reforma: Nosso trabalho é levar o Evangelho aos ouvidos, e Deus o levará dos ouvidos para os corações
Foto: Reprodução

A fé cristã já contabiliza dois milênios de história, período em que seus pregadores se aperfeiçoaram na arte de anunciar a Palavra. Assim, hoje, o bom orador é aquele que segue maneira estrita a orientação de Paulo citada anteriormente e domina as técnicas da homilética – termo que vem da palavra grega omilew, que significa conversar, falar. É a mesma origem de homilia, vocábulo utilizado pela Igreja Católica Romana para designar o momento de prédica na liturgia das missas contemporâneas.

O filósofo Agostinho de Hipona (354-430) já enfatizava a importância da homilética e tratou de incorporar princípios da retórica grega à pregação cristã
Foto: Reprodução

Ainda nos primeiros séculos do cristianismo, o filósofo Agostinho de Hipona (354-430) já enfatizava a importância da homilética e tratou de incorporar princípios da retórica grega à pregação cristã, tomando o apóstolo Paulo como modelo de eloquência. O grande filósofo se debruçou sobre essa arte em seu livro A doutrina cristã, enfatizando que o pregador é o que interpreta e ensina as verdades divinas. Porém, entre Agostinho e a Reforma Protestante, cerca de dez séculos se passaram, e a pregação da Palavra perdeu o protagonismo nas missas romanas, que continuaram a ser celebradas em latim, língua que caíra em desuso.

O pastor e teólogo britânico John Stott (1921-2011) declarava que a pregação tem o objetivo de esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça
Foto: Divulgação

Somente após a Reforma Protestante, a partir de 1517, a propagação das Escrituras e a homilética voltaram a ganhar destaque. Afinal, um dos objetivos do movimento era justamente divulgar a mensagem da Bíblia a todas as pessoas. O precursor do movimento, Martinho Lutero (1483-1546), afirmava: Nosso trabalho é levar o Evangelho aos ouvidos, e Deus o levará dos ouvidos para os corações. Assim, ao longo dos séculos seguintes, a arte da pregação continuou a se desenvolver. Um dos mais importantes pregadores modernos, o pastor e teólogo britânico John Stott (1921-2011) declarava que a pregação tem o objetivo de esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvida e Seu povo lhe obedeça.

O Rev. José Paulo Brocco lamenta: “Muitos ministros sobem ao púlpito sabendo o que pretendem expor, mas sem ter estudado corretamente”
Foto: Arquivo pessoal

Tempo de estudo – Em coro com o colega britânico, o Rev. José Paulo Brocco observa que a homilética não é apenas uma arte, mas também uma ciência, pois é orientada por meio de regras e deve eliminar o tratamento superficial do texto bíblico. Entretanto, em sua opinião, o mero uso das técnicas adequadas pode comprometer a elaboração e a exposição da mensagem. “É importante orar, estudar e analisar o texto a ser pregado – uma prática que demanda tempo. Há pregadores que alegam não dispor de horário para estudar a Palavra. Mesmo assim, sentem-se na responsabilidade de pregar. Muitos ministros sobem ao púlpito sabendo o que pretendem expor, mas sem ter estudado corretamente”, lamenta-se o pastor, que é ministro jubilado e presidente da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil.

O Pr. Renato Oliveira da Silva traça o perfil do bom pregador:“ É aquele que se disponibiliza completamente ao Senhor, a fim de que Deus possa
usá-lo como bem entender”

Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Renato Oliveira da Silva, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Montes Claros (MG), ressalta que pastores e obreiros necessitam exercitar diariamente a comunhão com o Senhor. De acordo com ele, os líderes precisam buscar, no Livro Sagrado, revelações dadas diretamente pelo Todo-Poderoso. Com base nesse princípio, Silva traça o perfil do bom pregador: “É aquele que se disponibiliza completamente ao Senhor, a fim de que Deus possa usá-lo como bem entender”. O pastor não descarta a possibilidade de o ministro valer-se de esboços de sermões já prontos, no entanto enfatiza que, de modo algum, tal recurso deve servir como “muleta espiritual” àqueles que vão ministrar as Boas-Novas. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Ponto de partida]

Pr. Gunar Berg de Andrade: “A Bíblia é inesgotável. Logo, pouco tempo para pregar é ruim. Mas tempo sem fim é desnecessário”
Foto: Arquivo pessoal

Palavra por palavra – Iniciando por um esboço já pronto ou não, dedicar tempo à preparação do sermão é atividade imprescindível àquele que almeja pregar a Palavra. Esquivar-se dessa tarefa se refletirá na superficialidade do discurso e no tempo de duração dele. Segundo o Pr. Gunar Berg de Andrade, diretor da Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus em São Paulo (EETAD), normalmente os pregadores se perdem nesse quesito por falha na preparação do sermão.

Para o professor, a mensagem não pode ser demasiadamente sucinta nem longa demais. Por isso, ao ministrar a disciplina Homilética, ele recomenda aos alunos que a exposição bíblica seja redigida integralmente, palavra por palavra, durante o preparo da mensagem. Essa técnica, pensa ele, evita repetições desnecessárias e digressões inúteis. “Quem usa esse recurso logo percebe que uma mensagem preparada fora dele desperdiça até 45% do tempo”, explica. Andrade assinala que, se o pregador preparar o sermão redigindo cada palavra, apenas 45 minutos serão suficientes para uma boa exposição das Escrituras perante a congregação. “A Bíblia é inesgotável. Logo, pouco tempo para pregar é ruim. Mas tempo sem fim é desnecessário.”

Rev. Ageu Cirilo de Magalhaes Júnior observa: “Se os olhos não estão no pregador, é sinal de desatenção”
Foto: Arquivo Graça / Tele Fotos / Fernando Oliveira

Tendo se preparado adequadamente, à medida que está ministrando a Palavra, o pregador tem como avaliar se sua exposição está atingindo os ouvintes, a partir da reação deles. É o que acredita o Rev. Ageu Cirilo de Magalhaes Júnior, da Igreja Presbiteriana da Vila Guarani, em São Paulo (SP). “Se os olhos não estão no pregador, é sinal de desatenção”, observa o ministro, acrescentando que o melhor meio de avaliar a eficácia da mensagem pregada é conversando com as pessoas depois do culto, a fim de saber o que mais lhes chamou atenção.

A esteticista facial e obreira Joana D’Arc Nogueira dos Santos, que conseguiu livrar-se do vício do cigarro, testemunha: “Tudo começou por meio da palavra ministrada e inspirada por Deus”relacionarem com outras, independentemente do sexo: “A amizade é construída”
Foto: Arquivo pessoal

“Decisão vitoriosa” – Para os ouvintes da Palavra, a exposição clara das Escrituras, inspirada pelo Espírito Santo, pode ser o ponto de partida para transformações profundas. Quando conheceu a IIGD em São Lourenço (MG), em 2003, a esteticista facial e obreira Joana D’Arc Nogueira dos Santos, 54 anos, enfrentou um longo processo de libertação e cura, pois não conseguia se ver livre da dependência do cigarro. Até que, certo dia, assistiu a uma pregação pautada no texto de 1 Coríntios 6.19 (Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?). A partir daquele momento, ela encontrou as forças necessárias, em Deus, para abandonar aquele vício.

A obreira também obteve vitória sobre uma rinite crônica que lhe acarretava muitos transtornos. Antes de se converter a Cristo, chegou até a buscar ajuda em outras religiões, porém não obteve sucesso. Uma mensagem com base em Isaías 53.4 mudou sua vida (Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido). “Nunca mais fumei nem tive crise de rinite. Tudo começou por meio da palavra ministrada e inspirada por Deus”, testemunha.

O casal de empresários Alex Fernandes de Souza e Kassiara Leandro Gomes Fernandes, que abriu uma empresa sob a inspiração de uma pregação: “decisão vitoriosa”
Foto: Arquivo pessoal

O casal de empresários Alex Fernandes de Souza, 42 anos, e Kassiara Leandro Gomes Fernandes, 34, queria abrir o próprio negócio. Contudo, para realizar esse sonho, eles – ambos membros da Igreja da Graça em Itaperuna (RJ) – dependiam da rescisão do contrato de trabalho de Alex, algo que o chefe dele não concordava em fazer. Após assistir a uma pregação que tinha como base Lucas 18 (A parábola do juiz iníquo), Alex, assim como a viúva do Texto Sagrado, insistiu com o chefe até que a justiça fosse feita em seu favor. Finalmente, ele foi liberado do contrato de trabalho e abriu com a esposa a empresa Valentina Joias, em homenagem à filha de oito anos deles. “Aquela pregação inspirou meu marido a tomar uma decisão vitoriosa”, declara Kassiara.

O Pr. Welfany Nolasco Rodrigues pontua: “Em casa, na comunidade de fé e na sociedade, ele [o ministro]precisa manter a coerência. De nada adianta uma boa retórica, uma fala eloquente com argumentos elaborados, se não houver unção”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Welfany Nolasco Rodrigues, da Igreja Metodista Nova Canaã, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), enfatiza que a inspiração divina para pregar mensagens transformadoras somente repousa naqueles que se posicionam como instrumentos do Espírito Santo. Além disso, Rodrigues destaca que a vida espiritual do ministro sobe com ele ao púlpito. “Em casa, na comunidade de fé e na sociedade, ele precisa manter a coerência. De nada adianta uma boa retórica, uma fala eloquente com argumentos elaborados, se não houver unção”, pontua o pastor, resumindo as características inegociáveis que caracterizam um bom pregador, segundo o apóstolo Paulo, no texto citado no início desta reportagem: precisa ser aprovado por Deus e bom conhecedor da Palavra.

Ponto de partida

Elaborar uma mensagem com conteúdo bíblico e relevante para os ouvintes é um desafio constante para os pregadores da Palavra de Deus. Por isso, livros com esboços de sermões já prontos podem ser de grande ajuda. Eles servem como ponto de partida para a preparação das pregações, ajudando o ministro do Senhor a organizar ideias e a direcionar o trabalho de pesquisa necessário ao desenvolvimento da mensagem.

A Graça Editorial tem, em seu catálogo, dois títulos que não podem faltar na biblioteca dos mensageiros de Deus:

Foto: Divulgacão / Graca Editorial

180 esboços para pregadores (R. R. Soares) – A obra, apresentada em três volumes, abrange diversos temas, tais como consagração, doutrina, ética cristã, evangelização e vida devocional. Por meio dela, o pregador do Evangelho tem um excelente ponto de partida para a elaboração de mensagens claras e contextualizadas.

Foto: Divulgacão / Graca Editorial

500 esboços de estudos bíblicos (F. E. Marsh) – Em cada esboço, o autor entrelaça passagens das Escrituras Sagradas, confeccionando um rico “tapete” para a reflexão do leitor e a formulação de estudos e sermões dinâmicos e estimulantes.

(Evandro Teixeira, com informações de Graça Editorial)


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