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27/02/2024O pároco está convertido!
Depois de crer em Cristo por meio de seu próprio sermão, William Haslam iniciou um avivamento que varreu o Sul do Reino Unido
Por Élidi Miranda*
No século 19, muitos ministros ordenados pela Igreja Anglicana da Inglaterra não tinham passado por uma experiência de conversão ao Evangelho. Era o caso do Rev. William Haslam (1818-1905), que não pensava em ter um encontro pessoal com Cristo, pois havia sido batizado quando criança, considerava-se um bom homem e participava da celebração dominical da comunhão. Para ele, seu caminho para o Céu estava solidamente pavimentado, e, portanto, qualquer vivência subjetiva era desnecessária.
Logo após sua ordenação ao ministério, em 1842, Haslam foi designado como pároco de uma igreja na pequena Perranzabuloe, na região costeira da Cornualha, no extremo Sul da Inglaterra. Em 1846, foi deslocado para atuar em Baldhu, um povoado ainda menor situado na mesma área. Ali, nem sequer havia templo, mas, graças aos seus esforços, uma igreja foi construída e inaugurada em 1848. Nessa época, ele se casou com Frances Taunton, com quem teve dez filhos.
Porém, o trabalho no pacato vilarejo não acalmou o coração do ministro, que se sentia atordoado pelas ideias de um grupo considerado sectário pela Igreja Anglicana: os metodistas. O que mais chamava a atenção de Haslam era a alegria e a transformação que eles diziam vivenciar após a conversão. Confuso, ele passou a se questionar se seu caminho para o Céu estava tão bem alicerçado quanto imaginava.
Assaltado pela dúvida, Haslam decidiu procurar o escocês Robert Aitken (1800-1873), pastor em Pendeen, no extremo Oeste da Cornualha. Aitken era um avivalista e dissidente do metodismo tradicional. Após a conversa, ocorrida em 1851, eles se ajoelharam e oraram. Naquela oportunidade, William Haslam chorou, mas não se converteu. Entretanto, deu o primeiro passo. Ao voltar para casa, pela primeira vez, sentiu um medo terrível de comparecer diante do Senhor e ouvir dEle as palavras de Mateus 7.23b: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.
Os dias que se seguiram àquele encontro foram difíceis para o Rev. Haslam. Ele se considerava indigno de ministrar à igreja e, por recomendação de Aitken, estava disposto a suspender os serviços religiosos da paróquia até que ele mesmo se convertesse. No domingo seguinte, antes de anunciar a interrupção das atividades da igreja, decidiu oficiar um culto muito breve. Leu uma passagem, seguida de algumas orações litúrgicas, e passou a explicar o texto lido: Que pensais vós do Cristo? (Mt 22.42a). Então, Haslam disse aos ouvintes que, quando Jesus fez essa pergunta aos fariseus, eles não entenderam que Ele tinha vindo para salvá-los.
Em seguida, aconteceu algo inesperado, que o próprio Haslam contou, alguns anos depois, em uma de suas autobiografias: Algo me dizia o tempo todo: “Você não é melhor que os fariseus. Você não acredita que Ele veio para salvá-lo mais do que eles”. Não me lembro de tudo o que eu disse, mas senti uma luz e uma alegria maravilhosas entrando em minha alma e estava começando a ver o que os fariseus não viam. Se foi nas minhas palavras, ou nos meus modos, ou no meu olhar, não sei; mas, de repente, um pregador local, que por acaso estava na congregação, levantou-se e, erguendo os braços, gritou à moda da Cornualha: “O pároco está convertido! O pároco está convertido! Aleluia!”. No momento seguinte, sua voz se perdeu nos gritos e louvores de 300 ou 400 membros da congregação.
Sinais e maravilhas – O pároco havia se convertido, em seu próprio púlpito e por seu próprio sermão, com pelo menos outras 20 pessoas que nasceram de novo naquela manhã. A notícia se espalhou em toda aquela área, e, à noite, a pequena igreja não foi capaz de comportar a multidão que se dirigiu até o lugar. Os cultos continuaram a acontecer nos dias seguintes, com muitas pessoas vindas de outras cidades, sendo salvas pelo poder transformador do Espírito Santo. Uma atmosfera de avivamento permaneceu na congregação e se espalhou pela região de Baldhu por três anos.
Haslam, então, deixou aquela igreja em 1855 e começou a viajar, pregando cheio do Espírito como um avivalista. De tempos em tempos, fixava-se em algumas congregações, mas, pelo restante de sua vida, recebeu convites para pregar em diferentes partes da Inglaterra e da Irlanda. Ocorriam novos avivamentos e cultos marcados por sinais e maravilhas onde quer que entregasse a mensagem do Senhor.
Certa tarde de sábado, três mil pessoas se juntaram para uma reunião no templo de Mount Hawke, no Norte da Cornualha. Haslam começou a pregar o Evangelho quando, de repente, o poder do Espírito Santo desceu sobre o povo, e várias centenas caíram de joelhos, simultaneamente, clamando por misericórdia em alta voz. Como era impossível continuar a pregar, Haslam cantou um hino e caminhou entre aqueles que sentiram fortemente a presença de Deus, orando em prol de sua libertação completa.
William Haslam, que deixara a incredulidade e se tornara um avivalista, crente nos dons espirituais e na operação do poder transformador de Cristo, escreveu em uma de suas autobiografias, From death into life (Da morte à vida, em tradução livre), que poderia preencher um livro inteiro apenas com histórias sobre as manifestações do Consolador em seu ministério, citando sonhos, visões, profecias surpreendentemente precisas, curas milagrosas e palavras de conhecimento.
Em 1877, sua esposa morreu, e, no ano seguinte, ele se casou novamente. Em 1890, viajou para ministrar na Índia, mas sua saúde começou a decair, e Haslam teve de retornar à Inglaterra. Cinco anos depois, Haslam descansou no Senhor, marcando a história do Evangelho como um dos precursores do movimento pentecostal, que se propagaria pelo mundo ao longo de todo o século 20. (*Com informações de UK Wells e Beautiful Feet)