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01/09/2022Na medida certa
Apesar dos benefícios para a sociedade, o conhecimento científico não deve ser visto como verdade absoluta
Por Evandro Teixeira
É difícil imaginar como seria o mundo atual sem a contribuição da ciência moderna. Embora a população não entenda bem os processos de uma pesquisa científica, é certo que, de forma geral, o conhecimento acadêmico é amplamente divulgado, em especial pelos meios de comunicação. E, com o advento da internet, esse compartilhamento de informações sobre estudos e descobertas se tornou ainda mais rápido.
A descoberta da vacina contra a covid-19 é, sem dúvida, o mais recente exemplo disso. Orientada pelos meios de comunicação sobre a segurança e a eficácia das vacinas, rapidamente a população correu aos postos de saúde para receber suas doses do imunizante. “Tivemos de ficar muito tempo em casa sem convívio social, o que nos deixou ansiosos por uma resposta positiva”, comenta o biólogo André do Nascimento. Para ele, a pandemia deu maior visibilidade ao papel da ciência e de sua influência na vida cotidiana. Afinal, o conhecimento científico, quando bem aplicado, coopera para melhorar a qualidade de vida do ser humano.
A bióloga Quézia de França Duarte explica que, se por um lado, a ciência é vista como solução para diversas questões, por outro pode se tornar um problema quando tratada como verdade absoluta. De acordo com ela, no mundo acadêmico científico, as diferentes ideias e seus defensores devem coexistir. “Dar à ciência um poder de exclusividade inquestionável é um grande erro”, alerta a cientista.
Segundo ela, os questionamentos são bem-vindos porque dão mais clareza a cada novo conhecimento descoberto, que, lembra a bióloga, não será definitivo: pode passar por novas avaliações ao longo do tempo, quando, por exemplo, surgem novas evidências sobre determinado trabalho. Por isso, ela entende que é importante haver grandes investimentos no setor de pesquisas, as quais abrem caminho para inovações tecnológicas e para uma análise exaustiva, crítica e reflexiva dos estudos realizados.
Indagada a respeito da falsa dicotomia entre fé e ciência, a bióloga defende que são conceitos interligados e complementares. “Um não exclui o outro. Quando há discordâncias, em geral, é porque estamos interpretando um ou outro de maneira restritiva demais”, explica Quézia Duarte, lembrando que, para os cristãos, a verdade absoluta sempre será Jesus.
Firme fundamento – Opinião semelhante à da bióloga tem o Pr. Ronan Boechat de Amorim, da Igreja Metodista na Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro (RJ). Para o ministro, a coexistência entre os ensinamentos bíblicos e as descobertas científicas pode (e deve) ser pacífica. “As Escrituras Sagradas formatam a nossa fé. Já a ciência é um instrumento capaz de enriquecê-la”, frisa, deixando claro que o conhecimento científico pode agregar muito à fé.
Por outro lado, há quem pontue que a ciência provavelmente não será capaz de explicar, por seus métodos, aquilo que não é observável com um dos cinco sentidos humanos (visão, tato, olfato, audição e paladar). Entre as coisas não observáveis, estão as questões relacionadas à fé. “Mesmo sendo capaz de criar novas tecnologias e esclarecer fenômenos culturais e sociais, a ciência dificilmente conseguirá explicar todos os fatos ligados a essa área”, pontua o engenheiro eletricista e eletrônico Eduardo Aguiar, o qual cita o texto de Hebreus 11.1: Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem.
Positivos e negativos – Um levantamento realizado nos Estados Unidos pelo Pew Research Center, sediado na capital Washington, procurou mensurar a percepção que as pessoas têm do trabalho científico no mundo pós-covid. Entre as dez mil pessoas ouvidas, cerca de dois terços (65%) disseram que veem como positivos os efeitos da ciência na sociedade; 28% consideram que os avanços científicos produzem efeitos positivos e negativos, e 7% demostraram ter uma visão negativa dela.
Entre os que enxergam efeitos positivos da ciência na sociedade, 56% mencionaram, por exemplo, os avanços na área da saúde, como a erradicação de doenças e a descoberta de medicamentos que geram maior expectativa de vida para os doentes. Alguns destacaram ainda a importância do uso da tecnologia em benefício da Medicina. Por outro lado, parte dos entrevistados apontou como um aspecto ruim do trabalho dos cientistas o fato da demora para encontrar cura e tratamento eficaz para doenças graves.
Os dados divulgados pelo instituto Pew evidenciam que os benefícios evidentes da ciência não afastam os questionamentos. É o que pensa o Pr. José Dias da Silva, da Igreja Metodista Central em Alagoinhas (BA). Embora veja muitos pontos positivos da ciência em diversos setores da sociedade, ele entende que há a necessidade de impor limites a ela, em especial nos assuntos ligados à existência do homem, como o prolongamento da vida a qualquer custo. O pastor cita a existência de pesquisas no campo da criogenia humana, uma técnica de congelamento de cadáveres, a qual faz o processo de deterioração do corpo ser interrompido, visando ressuscitá-lo no futuro.
Na opinião de José Dias, ao mesmo tempo em que supervaloriza a vida, a ciência pode atuar a favor da morte quando usada para criar bombas de efeitos catastróficos. “É triste saber que tanto conhecimento possa ser utilizado para fabricar armas capazes de destruir a humanidade”, lamenta-se.
Para o Pr. Nilton Gomes de Abreu Júnior, líder da Igreja do Evangelho Quadrangular no Guerenguê, na região de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), é preciso impor limites à vaidade dos cientistas. “Muitos querem agir como se fossem o próprio Deus”, critica o ministro, destacando que o uso do conhecimento científico para atender aos próprios interesses poderá conduzir os indivíduos, cada vez mais, a um abismo de frieza e falta de humanidade. “O egoísmo tende a fazer as pessoas pensarem nas próprias necessidades apenas, deixando evidente uma total ausência de sentimento pelo próximo.”
Conhecimento científico – Mesmo reconhecendo a importância das descobertas científicas, o Pr. Paulo César Lopes, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus em Lavras (MG), observa que o cristão deve estar atento para não ser seduzido pelo cientificismo. [Do editor: também chamada de cientismo, trata-se de tendência intelectual ou concepção filosófica de matriz positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade (religião, filosofia, metafísica etc.), porque seria a única capaz de apresentar benefícios práticos e alcançar autêntico rigor cognitivo]
Segundo ele, tal comportamento sinaliza a dificuldade de crer em milagres. O ministro cita o caso do apóstolo Tomé, relatado em João 20.25. Incrédulo, ele declara que somente creria na ressurreição se visse as marcas dos cravos nas mãos de Jesus. “Tomé demonstrou que precisava de elementos, além da fé, para compreender um grande feito de Deus.”
Lopes observa que todo conhecimento científico tem origem em Deus, conforme está registrado em Colossenses 2.2,3 (Para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em amor e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus — Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência), mas assinala que nem toda ciência é usada para o bem do homem.
Pensamento semelhante tem o Pr. Victor Augusto Martins, líder estadual da IIGD em Porto Alegre (RS), o qual lembra que, muitas vezes, a fé atua onde a ciência falha. Citando o caso registrado na Palavra daquela mulher que por 12 anos sofreu de fluxo de sangue (Mc 5.25-34), o ministro destaca que, mesmo tendo recursos financeiros, ela só conseguiu ser curada mediante a fé. “Quando a ciência encontra limites para atuar, o Senhor revela ser o Deus soberano.”
O líder assevera que ciência e fé não precisam nem devem estar necessariamente em campos opostos. “Devemos ter em mente que todo conhecimento é dado pelo Senhor”, afirma Martins. No entanto, ele alerta para o fato de que o apego exagerado à ciência pode levar ao enfraquecimento da fé, e assinala que, no princípio de tudo, está o Senhor. “A ciência não tem capacidade de usar Deus, mas o Criador pode utilizar a ciência”, declara o ministro, ressaltando que as possíveis falhas e incongruências de estudos científicos jamais serão encontradas nAquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Caminhando juntas
A Bíblia está repleta de afirmações que somente seriam comprovadas pela ciência muitos séculos depois de a Palavra de Deus ter sido escrita. Confira:
:: Por milênios, os seres humanos creram que a Terra era quadrada, mas Isaías afirma: Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar (Is 40.22).
:: Os gregos antigos criam que a Terra estava sobre os ombros do deus Atlas. A ciência viria a contradizer essa ideia apenas em 1650. Contudo, muitos anos antes, a Bíblia já informava que a terra está suspensa sobre o nada. O norte estende sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada (Jó 26.7).
:: Quando o pai da oceanografia, Matthew Fontaine Maury (1806-1873), percebeu que a Bíblia usava a expressão veredas dos mares no Salmo 8.8, decidiu encontrá-las. Em suas viagens marítimas, descobriu a existência das correntes continentais quente e fria.
:: A ideia do ciclo da água no planeta só foi compreendida pelos cientistas no século 17. Contudo, a Bíblia afirma em Amós 9.6: Ele é […] o que chama as águas do mar, e as derrama sobre a terra; o SENHOR é o seu nome.
:: Quando as Escrituras dizem que os céus, e a terra, e todo o seu exército foram acabados (Gn 2.1), o original hebraico usa o tempo verbal para indicar uma ação que não voltaria a acontecer, ou seja: a criação foi acabada de uma vez por todas.
:: A Bíblia informa que os ventos obedecem a um ciclo de correntes de ar, muitos anos antes de elas serem descobertas pelos cientistas: O vento vai para o sul e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento e volta fazendo os seus circuitos (Ec 1.6).
:: J. Paul Hutchins, cientista da NASA, a agência espacial estadunidense, e autor do livro Hubble reveals creation (em português, algo como Hubble revela a criação), defende que descobertas recentes no espaço têm mostrado que os planetas se formam em total escuridão a partir de uma nuvem disforme de poeira e detritos. Ou seja, ele afirma que eles começam em um estado disforme e caótico – algo que coincide com o relato de Gênesis 1.2: A terra era sem forma e vazia.
(Fonte: Creationism)