Falando de História – 286
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01/06/2023Paz com todos
O que a Bíblia ensina sobre prevenção e resolução de conflitos
Por Patrícia Scott
O homem é um ser social e, portanto, precisa viver em comunidade. Porém, apesar da necessidade de caminhar lado a lado com o semelhante, a vivência coletiva nem sempre é pacífica. Sendo no casamento, na família, no trabalho, nas amizades ou mesmo na Igreja, divergências sempre estarão presentes. Contudo, a fim de minimizar os conflitos que muitas vezes emergem dessas diferenças, a Palavra de Deus apresenta inúmeros conselhos. O autor da carta aos Hebreus, por exemplo, exorta: Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). O apóstolo Paulo, ao escrever aos romanos, orienta: Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens (Rm 12.18). [Leia, no box desta reportagem, o quadro Conselhos bíblicos]
Dentro desse contexto, o Pr. Dario Brunet, do Projeto Vida Nova, em Vila da Penha, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), lembra que Jesus é o Príncipe da Paz, conforme descrito pelo profeta Isaías: Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. (Is 9.6). “Cristo diz que os pacificadores, aqueles que mantêm a paz e evitam conflitos, serão chamados filhos de Deus [Mt 5.9]. Além disso, o Messias nos prometeu uma paz que o mundo não nos oferece [Jo 14.27]”, afirma Brunet, acrescentando que Jesus viveu em meio à perseguição dos religiosos de Sua época, os quais tentavam incessantemente encontrar algo que pudesse ser utilizado contra Ele. “Em alguns momentos, o Mestre Se esquivava e fazia Seus perseguidores refletirem, pondo fim à confusão, como ocorreu com a mulher adúltera [Jo 8.3-11].”
O ministro salienta que um dos caminhos para alcançar a paz é o perdão, como Paulo ensina aos colossenses: Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também (Cl 3.13). “É preciso ter paciência, porque o homem irritado provoca dissensão [Pv 15.18]. A calma é igualmente importante, pois desvia a fúria [Pv 15.1].Para viver em paz, é necessário buscar a presença do Altíssimo todos os dias, investindo tempo ‘no secreto’ – nos momentos a sós com Deus –, em oração.”
“Escolhas e decisões” – A psicóloga Renata Lang Stapani recorda que o Livro Sagrado está repleto de recomendações apaziguadoras para situações conflituosas. “Jesus fala o tempo todo sobre ética nas relações e sobre respeito, além de destacar Sua repulsa pelo egoísmo, pela hipocrisia e pela traição”, pontua ela, assinalando que as Escrituras Sagradas são a resposta de Deus para todas as questões humanas. “A Bíblia regula o bom senso do indivíduo, o qual encontra, no Texto Santo, paz e esperança.”
A especialista ressalta que as desavenças nascem da expressão de pensamentos divergentes sobre determinado tema ou a respeito da condução de alguma situação. No entanto, argumenta que, embora muitos embates sejam inevitáveis, uma vez que o Criador formou pessoas diferentes entre si, as discordâncias podem ser manejadas a fim de conter o agravamento da situação. “Percebemos e sentimos de modo diverso do outro, o que afeta nossas atitudes, escolhas e decisões. As reações graves são evitáveis, a partir de uma comunicação de qualidade, livre de competição”, explica Stapani, acrescentando que o conflito pode até ser uma chance de as pessoas se conhecerem melhor, lapidarem o ego natural, cederem e, assim, tornarem-se seres humanos melhores.
A psicóloga Mônica Borges concorda que os conflitos constituem parte indissociável da vida humana. Entretanto, acredita que eles podem ser evitados, por exemplo, com boa dose de humor, com o adiamento de conversas complicadas e o afastamento de assuntos controversos. “Quando precisar ter um diálogo difícil, foque no problema, não na pessoa. Assim, juntos, os envolvidos poderão buscar uma solução.” A especialista aponta que muitos problemas surgidos nas relações interpessoais podem refletir a dificuldade dos indivíduos de expressarem aquilo que sentem, querem e pensam, gerando uma tensão interna que os impede de viver plenamente. “O que a pessoa expressa não condiz com as emoções verdadeiras, acarretando o conflito interior”, observa Borges.
Por outro lado, a psicóloga entende que as situações conflituosas evitam o estancamento de uma convivência, evidenciam alguma necessidade não atendida e impõem novos desafios às partes envolvidas. “É a oportunidade de melhorar e transformar amizades e estimular o interesse e a curiosidade das pessoas”, garante Mônica, indicando que, dentro dessa dinâmica, torna-se necessário compreender o conflito como um fenômeno inerente à condição humana, sem tentar responsabilizar terceiros ou fazer de conta que o distúrbio não existe. “Quando o indivíduo demoniza ou não encara o problema com responsabilidade, a tendência é que ele se converta em confronto e violência.” Segundo a psicóloga, uma vez que a situação é enfrentada com maturidade, o próximo passo será o restabelecimento da união.
Caminho da reconciliação – Para o Pr. Cláudio Santana, da Primeira Igreja Batista em Jardim Bom Pastor, Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, a comunicação é fundamental para pavimentar o caminho da solução dos conflitos. “É preciso saber escutar antes de falar, conforme orientação de Salomão em Provérbios 18.13: Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha”, ensina.
Outro ponto destacado pelo ministro é a importância da conciliação mútua. Ele cita o exemplo de José do Egito como alguém que soube lidar com as diferenças. Ao se tornar governador, com toda a autoridade e o poder a ele concedidos, poderia mandar prender e até matar os irmãos que o venderam como escravo (Gn 37). Entretanto, preferiu trilhar a rota da reconciliação.
O Pr. Fernando Ferreira, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD)no Paraná, acredita que, se o servo de Deus se envolve em desentendimentos, é porque não aprendeu a primeira lição de Jesus: ser manso e humilde de coração (Mt 11.29). “O fruto do Espírito
[Gl 5.22] dá ao salvo a capacidade de ser manso com todos, tendo o domínio das palavras e ações”, afirma o pregador, citando as orientações de Paulo a Timóteo: Ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos (2 Tm 2.24-26).
Ferreira cita ainda dois relatos dos evangelhos de situações que poderiam ter resultado em conflito se não fosse a sabedoria pacificadora de Jesus. Na primeira, ele destaca o desentendimento entre os discípulos sobre quem deveria sentar-se ao lado do Mestre em Seu Reino (Mt 20.26). “Cristo solucionou o problema ensinando que o maior é quem serve com humildade aos demais. Desse modo, arrancou a raiz do conflito.” No segundo caso, recorda o pregador, quando ocorreu uma desavença entre os irmãos do Messias. “Eles não acreditavam no ministério de Jesus e O provocavam para que fosse a Jerusalém e mostrasse os Seus sinais [Jo 7.1-9]. O Salvador mandou que eles subissem à festa, pois, no momento oportuno, Ele iria a Jerusalém. Assim, finalizou a questão. O conflito é evitado quando a Palavra de Deus é posta em prática.”
O Pr.Lacir Pereira, líder estadual da IIGD no Piauí, enfatiza que a Bíblia Sagrada sempre mostra o melhor caminho para a resolução de conflitos. Mencionando 1 Samuel 25, o ministro ressalta que Nabal, um homem muito rico e maligno, afrontou Davi. Furioso, o filho de Jessé decidiu acabar com a vida daquele homem e de todos da sua casa, mas Abigail, esposa de Nabal, interveio. “Ela se humilhou diante de Davi, pedindo que ignorasse o que o marido havia feito e não levasse em conta a ofensa. Abigail aplacou a desavença porque desejou e buscou a paz. Aquele que atenta para os ensinamentos bíblicos e os pratica será bem-sucedido e terá a solução para todos os conflitos.”
O líder cita ainda outra passagem da Escritura, o texto de Gênesis 13.7: E houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló; e os cananeus e os ferezeus habitavam, então, na terra, a qual mostra que a terra havia ficado pequena para o tamanho dos rebanhos, ocasionando desentendimentos. “Percebe-se que, nesse caso, a contenda é provocada por algum interesse pessoal e pelo desejo de que a própria vontade seja estabelecida”, pontua Pereira, assinalando que, quando cada um defende apenas as ideias e razões pessoais, dificilmente se chega a um consenso. “Por isso, muitas vezes, é melhor abandonar os questionamentos e ficar em silêncio, buscando a resposta em Deus para o momento de falar”, observa o pastor, referindo-se às palavras de Salomão registradas em Provérbios 26.20: Sem lenha, o fogo se apagará; e, não havendo maldizente, cessará a contenda.
CONSELHOS BÍBLICOS
A Bíblia é essencialmente pacificadora e apresenta, em diversas passagens, recomendações expressas para evitar ou resolver conflitos. Confira alguns conselhos contidos nela:
Trate os outros com respeito – O que despreza o seu próximo é falto de sabedoria, mas o homem de entendimento cala-se. (Pv 11.12)
Ignore a ofensa – O insensato mostra logo a sua ira, mas o prudente ignora os insultos. (Pv 12.16 – NAA)
Fale com sabedoria – Há alguns cujas palavras são como pontas de espada, mas a língua dos sábios é saúde. (Pv 12.18)
Responda com paciência – A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. (Pv 15.1)
Perdoe e seja perdoado – E, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, vos não perdoará as vossas ofensas. (Mc 11.25,26)
Não revide na mesma moeda – A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens. (Rm 12.17)
Não alimente a raiva – Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira. (Ef 4.26)
Ouça e reflita antes de falar – Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus.
(Tg 1.19,20)
Não amaldiçoe o semelhante – E, finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, amando os irmãos, entranhavelmente misericordiosos e afáveis, não tornando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, sabendo que para isto fostes chamados, para que, por herança, alcanceis a bênção. Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano; aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. (1 Pe 3.8-11)
(Fonte: Bíblia Sagrada)