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30/12/2022Sede de Deus
A juventude nacional está se tornando cada vez mais evangélica
Por Ana Cleide Pacheco
Levará ainda algum tempo até que seja possível conhecer os números do Censo 2022 e ter um retrato fiel do cenário religioso brasileiro. Entretanto, com base em pesquisas por amostragem e em estimativas, é possível traçar um perfil aproximado do crescimento numérico das igrejas evangélicas no Brasil. Estima-se, por exemplo, que o rebanho protestante se tornará o maior segmento religioso do país na década de 2030, quando abarcará mais de 50% da população nacional.
Percebe-se também que essa quantidade maior de crentes em Jesus – verificada nas diversas faixas etárias da população – é perceptível entre os jovens. Uma pesquisa realizada em 2020 pelo instituto Datafolha mostrou que 12,4 milhões de jovens com idades de 16 a 24 anos se declaravam evangélicos. A julgar pela tendência de multiplicação da Igreja Protestante, é possível afirmar hoje que a juventude brasileira está cada vez mais evangélica. No livro Povo de Deus: quem são os evangélicos e por que eles importam (Geração Editorial), lançado em 2020, o antropólogo Juliano Spyer concorda com essa tese. Considerando-se a faixa etária dos fiéis, enquanto o catolicismo é mais popular entre pessoas com 40 anos ou mais, os evangélicos pentecostais atraem mais crianças e adolescentes.
O livro de Spyer é citado por Rodolfo Capler, escritor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em artigo publicado no portal Veja. No texto, Capler não só endossa a noção de que existe uma adesão considerável de jovens brasileiros ao Evangelho, como também tenta apontar razões que explicam o fenômeno. Segundo ele, entre os fatores que contribuem para tal número de crentes, estão a adaptação da mensagem religiosa à realidade sociocultural da juventude, a utilização da música gospel e a presença social das igrejas nas periferias urbanas.
Porém, do ponto de vista bíblico, a adesão à mensagem redentora de Jesus segue outro critério: o sobrenatural, que se traduz no arrependimento dos pecados e na crença em Cristo como Senhor e Salvador. É o que tem testemunhado a Pra. Ana Paula Costa de Araujo Wiemer, 42 anos, líder da juventude da Igreja Missionária Evangélica Maranata na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). De acordo com ela, o aumento do número de jovens convertidos é incontestável. “Acredito que eles estão reconhecendo a necessidade de serem preenchidos pelo amor de um Deus que é Pai, capaz de acolhê-los em seus dilemas, suas dores e dificuldades”, analisa a ministra, acrescentando que “uma juventude decidida a seguir Jesus tem a capacidade de produzir uma transformação linda em todo o território nacional”.
Porém, a pastora não descarta que os fatores citados pelo pesquisador possam influenciar alguns jovens a se juntarem às igrejas – o que, em sua opinião, é preocupante, pois existe uma grande diferença entre se declarar evangélico e ter a mente transformada pela conversão e pelo arrependimento genuínos. “Muitos são atraídos pelo ambiente evangélico, são abençoados nos cultos, curtem o momento de louvor e a pregação, mas isso não quer dizer que assumiram um compromisso com Cristo.” Segundo Ana Paula Wiemer, o foco dos líderes deve ser orar e trabalhar para transformar cada jovem em um cristão temente a Deus e ávido por seguir Jesus. “Afinal, ter uma juventude impactada pelo poder de Deus fará a diferença em nossa nação.”
O crescimento meramente numérico da juventude evangélica também preocupa Daniela Cristina Brassero Rondon, 40 anos, líder de jovens da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), em Rolândia (PR). Por isso, ela destaca que busca ensinar a Palavra de Deus a seus liderados com dedicação e oração. “Acredito que os jovens estão sedentos de ouvir e aprender de Jesus. Quem convence e toca o coração é o Espírito Santo. Precisamos orar por essa moçada. Eles têm acesso a muita informação e uma visão bem diferente das gerações passadas.”
Diferença marcante – Entre essas diferenças geracionais, uma se destaca: o desejo de fazer algo significativo pela sociedade, sendo parte da resolução das dores que afligem o mundo atual. É o que diz o antropólogo Ângelo Marcony Mendes Pereira, 54 anos, pastor do Ministério Palavra da Verdade na Tijuca, zona norte carioca. “O jovem quer mudanças e, por isso, ao observar a realidade dos necessitados, almeja ser parte do processo de solução.”
Para o especialista, diante de tantos problemas sociais e das lacunas deixadas pelo Estado, os jovens percebem que há, nas igrejas, uma oportunidade de fazer diferença no contexto em que estão inseridos. “Ao buscarem envolvimento nas questões de responsabilidade social, identificam-se e se apaixonam pela Palavra. É nesse contato com a Escritura, quando praticada, que encontram sentido para a vida.”
Já o Pr. Thiago da Silva, 36 anos, da Igreja Metodista em Cascadura, zona norte carioca, acredita que o acolhimento oferecido pelas comunidades de fé é o aspecto que mais colabora para a conversão dos jovens. “Se ele se sentir acolhido em suas necessidades familiares, sociais, espirituais ou afetivas, começará a se envolver mais com a igreja e com aqueles que lhe prestam essa ajuda. Isso fará com que estreite vínculos com as pessoas e sinta a necessidade de experimentar Jesus em profundidade”, avalia Silva, assinalando que, se o trabalho é realizado com seriedade e a congregação consegue transmitir a mensagem, o jovem conhecerá a Palavra, buscará mais o Senhor e criará raízes na vida cristã.
Transformação contínua – Se por um lado o cenário atual vem favorecendo a conversão de muitos jovens, por outro caberia indagar se essa mocidade seguirá se identificando com a fé evangélica. Para o pastor de juventude José Carlos Alves do Nascimento Filho, 33 anos, da Primeira Igreja Batista em Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), a resposta ao questionamento é positiva.
O ministro lembra que a sociedade passou recentemente por um período difícil em virtude da pandemia. Na opinião dele, mesmo devido a uma doença grave, capaz de afetar de maneira profunda a saúde mental de inúmeros jovens, a Igreja soube responder ao desafio. “Muitos se isolaram a ponto de terem hoje grandes dificuldades em retornar ao convívio social. Mas, mesmo diante desse cenário, a mensagem do amor de Cristo está sendo propagada.”
Carlos Alves reconhece que alguns podem buscar o Evangelho apenas como um auxílio temporário na crise. No entanto, ele assegura que aqueles que permanecerem experimentarão o amor de Jesus e a transformação do Espírito Santo de Deus. “Acredito que a juventude, a qual tem um coração bastante aberto a receber a Palavra, continuará se identificando com o amor de Cristo. Porém, vale ressaltar, que o Evangelho não é somente sobre identificação, vai muito além disso: trata-se também de uma transformação de vida contínua”, explica, assinalando que, para os jovens se firmarem na fé, é necessário que as comunidades cristãs os ajudem a criar vínculos sólidos com Deus e com elas. Do contrário, irão experimentar apenas um relacionamento volátil com o Criador e com a igreja local, em uma espécie de relação de “consumo”.
O Pr. Ramon Márcio de Oliveira, 44 anos, líder da Igreja Batista Parque Granada, em Uberlândia (MG), concorda com seu colega e acredita ser necessário levar em conta as mudanças culturais que vem ocorrendo no mundo, a fim de manter os jovens em comunhão com Cristo e com as comunidades de fé. “Vivenciamos uma transição, e há quem diga que, somente agora, após a pandemia do coronavírus, estamos entrando no século 21, na pós-modernidade. Essas mudanças não se dão somente pelo calendário, mas também por eventos, rupturas com o passado e pela chegada e instauração de um novo ciclo”, analisa Oliveira.
O ministro destaca que o mundo está diante de novos horizontes jamais imaginados, e tal quadro afeta diretamente as igrejas, incluindo a necessidade de criar atividades virtuais. Além disso, segundo ele, a juventude, mais habituada que os adultos à comunicação pelos meios virtuais, está acostumada a buscar informações de todo tipo na web, entre elas artigos e livros relacionados à teologia cristã. “Garotos de 17, 18, 19 anos já definem o que é incoerente, antibíblico. Ou seja, não temos apenas pessoas mais jovens indo para as igrejas, temos indivíduos mais bem informados, ou com muito mais acesso à informação. Acredito que os jovens continuarão se identificando com a fé evangélica, mas com muito mais espírito crítico.”
Desenvolvimento do Reino – Mesmo em meio a um contexto de mudanças aceleradas, muitos líderes como o Pr. Ramon Márcio de Oliveira avaliam que a interação entre jovens e adultos continua sendo imprescindível. “Sempre entendi a importância dos anciãos, daqueles que vieram antes, não apenas para a Igreja, mas também para a sociedade como um todo. Sempre dialoguei com as duas gerações”, assegura o pastor, destacando que os mais maduros, devido à experiência de vida, precisam ser ouvidos pelos mais jovens, os quais têm energia e disposição para fazer as coisas acontecerem. “Essa mútua influência é fundamental para o desenvolvimento do Reino de Deus.”
A estudante de Psicologia Jenyffer Monteiro Pereira da Guia, 25 anos, concorda com Oliveira. Para ela, a interação com os mais experientes é primordial para o pleno desenvolvimento dos jovens. Citando o texto de Provérbios 20.29 (A beleza dos jovens está na sua força; a glória dos idosos, nos seus cabelos brancos), Jenyffer afirma que a Bíblia demonstra a importância dessa troca de informações e vivências. “Podemos ter a vitalidade, mas eles têm a sabedoria. Então, apesar de ser extraordinário para nós como juventude sermos tantos em número, precisamos ser diligentes em oração, buscando o conhecimento e a profundidade do contato com os mais vividos. E, acima de tudo, precisamos buscar ter mais e mais comunhão com o nosso Salvador, Jesus Cristo.”
Ainda de acordo com Jenyffer , não há dúvidas de que a juventude brasileira está despertando para algo novo. “Cremos em uma geração de jovens sedentos pela presença de Cristo, inconformados com este século e as injustiças deste mundo”, afirma a líder de jovens da Comunidade Evangélica Habitar, no bairro Coelho, em São Gonçalo (RJ). Para ela, essa nova geração de cristãos está se preparando para ser levantada em todas as esferas da sociedade, implantando o Reino de Deus. “Oramos para que o Senhor nos dê discernimento e sabedoria para crescermos em número, maturidade e entendimento”, conclui.