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15/08/2023Missões/Internacional
22/08/2023Liderança feminina
Pesquisa revela crescimento do número de mulheres em cargos de gestão no meio corporativo
Por Evandro Teixeira
Pela primeira vez na história, as mulheres estão ocupando 10% dos cargos de liderança da lista Fortune 500, que reúne as 500 empresas de maior receita dos Estados Unidos. Desde fevereiro deste ano, 53 dessas companhias estão sendo comandadas por elas, que ocupam o mais alto cargo dentro de uma corporação, o de diretora-executiva.
Tal aumento é reflexo da ascensão da figura feminina na sociedade ao longo das últimas décadas. E elas têm feito um ótimo trabalho. Um relatório da organização não governamental Conference Board mostrou que empresas com pelo menos 30% de mulheres nos cargos de liderança têm 12 vezes mais chances de estar entre as melhores em desempenho financeiro.
Paralelamente, uma pesquisa da firma de consultoria internacional Leadership Circle revelou que a direção feminina é eficaz em todos os níveis de gerenciamento. Segundo o estudo, as mulheres superam os homens na capacidade de se conectar com outras pessoas, mobilizar equipes e são mais propensas a liderar a partir de uma mentalidade criativa. As mulheres aparecem de maneira visivelmente diferente dos homens em termos de construção de conexões, mentoria, desenvolvimento de outras pessoas e demonstração de preocupação com a comunidade. No ambiente de negócios atual, isso funciona como uma superpotência, informou Cindy Adams, presidente da Leadership Circle.
Para a cientista social Rosângela Paes Romanoel, membro da Assembleia de Deus em Uberaba (MG), a crescente presença feminina em posições de liderança no meio corporativo é bastante significativa, a julgar pelos obstáculos que elas ainda enfrentam no atual contexto social. A especialista acredita que a facilidade de estabelecer boas relações e a capacidade criativa – características marcantes na mulher – são fundamentais para quem ocupa qualquer cargo de direção. “A economia mundial exige hoje um bom relacionamento entre líderes e liderados. Uma equipe colaborativa e participativa é essencial para o crescimento da empresa.”
A cientista social lembra ainda que a atuação feminina no mercado de trabalho se manteve restrita a cargos auxiliares por décadas. Porém, nos dias atuais, as profissionais estão mais conscientes de suas potencialidades e sabem que são capazes de assumir funções de liderança. No entanto, Rosângela Romanoel lamenta o fato de que, apesar desse avanço, seja pequeno o número de mulheres em posições de chefia. No Brasil, por exemplo, um levantamento divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que, entre os cargos de liderança existentes nas empresas industriais, apenas 29% são ocupados por elas.
Formada em Administração, com ênfase em Marketing, Mariquely de Oliveira Gomes, 37 anos, também acredita que as mulheres, por seu modo de ser, têm muito a contribuir com as organizações quando ocupam funções de comando. Cristã, ela acredita que o homem e a mulher foram criados por Deus com potencial para realizar as mesmas atividades no campo intelectual. Por isso, podem assumir qualquer cargo a que se proponham, desde que busquem a formação necessária. “A capacidade de liderança na área de gestão seria apenas mais uma entre tantas competências que podem ser desenvolvidas por elas”, pontua a administradora de empresas, citando o texto de Provérbios 31.10-31, que trata da mulher virtuosa.
Mariquely Gomes lembra que a Palavra de Deus mostra que as mulheres sempre se destacaram por sua competência de liderança, gestão estratégica e posicionamento. Ela cita a história de Débora, registrada no capítulo 4 do livro de Juízes, como um exemplo de líder que inspirou o povo a lutar e vencer seus inimigos. Hoje, em um contexto diferente, é possível encontrar cenários parecidos. “Há bons exemplos que não ganham tanta visibilidade”, pondera. A especialista ainda assevera que é possível encontrar mulheres com grande espírito empreendedor em todos os lugares, mesmo que não estejam dirigindo grandes empresas. “No entanto, gerenciam negócios bem-sucedidos em áreas específicas, como uma lanchonete de bairro.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro Profetisa e líder]
Auxiliadora do homem – O Pr. Tessio Fonseca Azevedo, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Setor Central de Jataí (GO), defende a ideia de que as mulheres são tão competentes quanto os homens para o comando em muitos segmentos – inclusive o ministerial. O pregador defende que o estilo de liderança feminino é muito positivo na Igreja, mas reconhece que ainda existe um grande desafio a ser vencido por elas. “Há certa resistência por parte dos que veem apenas os homens no papel de líderes. Na verdade, Deus usa quem Ele quer, seja homem, seja mulher.”
Opinião semelhante tem o Pr. Marlei Vagner Lúcio, líder da IIGD em Barbacena (MG). Ele destaca a bem-sucedida liderança feminina no comando das Forças Armadas e da Polícia Militar, instituições nas quais a presença masculina é maciça. De acordo com o ministro, o sucesso das mulheres à frente dessas corporações se deve à capacidade de organização delas ser superior à dos homens. “Elas podem exercer bem qualquer cargo que lhes for confiado”, assevera.
Um exemplo de liderança é Liliane Ramos Nunes Soares, 38 anos, gerente de uma rede de farmácias em Teresina (PI). Membro da sede estadual da Igreja da Graça no Piauí, ela acredita que a habilidade feminina para liderar vem da sensibilidade concedida por Deus à mulher, a qual, já na criação, assumiu o papel de auxiliadora do homem. Ela entende que, além do empenho profissional que a qualificou para a função que exerce atualmente, existe um propósito divino no caminho que percorreu em sua carreira. A gerente relata que, ao longo dos seus 18 anos de empresa, fez do local de trabalho uma oportunidade de falar do Senhor. “Hoje, dos 70 funcionários, cerca de 20 são evangélicos. Entre esses, seis são membros da sede estadual da IIGD no Piauí”, compartilha Liliane, que é casada com o gerente de logística Lídio Ricardo Xavier Soares, 38 anos, e mãe de três filhos.
Foi também o espírito de liderança que motivou a empresária Flaviane Salgado de Souza, 34 anos, a montar, há dez anos, uma loja de roupas de academia em parceria com o marido, Jorge Leonel Barros Faria, 40 anos. O estabelecimento evidencia o talento de Flaviane para os negócios. Antes de explorar esse segmento, ela vendia produtos de cama, mesa e banho, e o marido atuava como motoboy em um supermercado.
A empresária relata que sempre gostou de trabalhar no comércio e sentiu de Deus que era o momento de ter o próprio empreendimento. O casal começou a vender roupas fitness aos poucos, e, com o suporte do esposo na administração, os negócios foram crescendo. Para Flaviane, com os espaços que estão sendo abertos para as mulheres, todas deveriam ser encorajadas a demonstrar que são capazes de empreender e obter grandes feitos. “Temos de colocar Deus em primeiro lugar. Devemos ser fiéis a Ele sempre, sobretudo no dízimo e nas ofertas. Essa fidelidade tem nos concedido muitas bênçãos e estão nos abrindo portas”, compartilha a empresária, que é membro da Igreja da Graça em Itaperuna (RJ).
Liderança horizontal – Apesar de possuir as características favoráveis para exercer uma boa liderança, muitas mulheres podem se sentir incapazes de assumir tal responsabilidade. De acordo com a Pra. Ana Lúcia Moreira Rodrigues, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Santa Eugênia, Nova Iguaçu (RJ), essa percepção pode ser consequência de uma baixa autoestima – resultante, possivelmente, de experiências negativas vividas na infância ou na adolescência. “Essa mulher pode ter sido desmotivada por outras pessoas quando tomava a iniciativa de fazer algo que, no ponto de vista dela, era interessante.”
A ministra aponta que outro cenário possível para essa desmotivação seria algum erro cometido no início da vida profissional, o que poderia reduzir o ímpeto na busca de crescimento na carreira. “Se essas questões não forem bem trabalhadas, mesmo tendo plenas condições de exercer um cargo de liderança, a pessoa pode, equivocadamente, julgar-se incapaz. Mas, insistindo e focando na qualificação pessoal e profissional, podemos avançar até conquistar bons resultados”, orienta.
Ao ser indagada sobre as características femininas, Ana Rodrigues destaca que, embora sejam, em geral, um pouco mais doces no trato com seus liderados do que os homens, elas não deixam de ter voz de comando. A pastora observa que, por ter uma visão mais coletiva, as mulheres usam melhor a chamada liderança horizontal, uma estratégia que consiste em colher um conjunto de informações dos funcionários, o qual é usado para fomentar o trabalho em equipe, contribuindo, assim, para o crescimento da empresa. “Com os resultados positivos, todos sentem que colaboraram com o sucesso do departamento”, explica Rodrigues, ressaltando que essa visão organizacional não é muito diferente da administração de uma residência em que há vários filhos, na qual diversas atividades e pessoas precisam ser “gerenciadas”. Assim, quase por instinto, a dona de casa procura organizar o lar, mantendo a ordem e a disciplina.
Já a Pra. Ana Paula Nascimento, da Igreja Templo do Renovo em Anchieta, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), defende a ideia de que, mesmo ocupando cargos de liderança, as mulheres não podem perder a essência de ternura e generosidade. Segundo ela, também não devem abrir mão do papel de mãe e de esposa, em uma relação de submissão ao marido, nutrida pelo amor, conforme a instrução bíblica deixada pelo apóstolo Paulo: Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo (Ef 5.22,23). “Além da gestão de uma empresa, a presença feminina, com seu toque singular, se faz necessária na família, na igreja e na sociedade”, conclui.
Profetisa e líder
Quando se fala em liderança feminina na Bíblia, um dos nomes de maior destaque é o de Débora. Essa mulher viveu por volta do ano 1125 a.C., e sua trajetória está registrada nos capítulos 4 e 5 do livro de Juízes. Naquele tempo, o povo de Israel estava afastado do Altíssimo e não havia um rei para liderá-lo (Jz 4.1).
Esposa de Lapidote, reconhecida como profetisa e juíza, Débora – cujo nome significa abelha – liderava Israel naquela época. Diz a Palavra de Deus: E habitava debaixo das palmeiras de Débora, entre Ramá e Betel, nas montanhas de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ela a juízo (Jz 4.5). Ela era respeitada como uma mãe em Israel (Jz 5.7).
Graças ao seu prestígio, a juíza foi capaz de reunir o povo para lutar contra a dominação imposta por Jabim, rei dos cananeus. Sendo assim, ela convocou o relutante Baraque (Jz 4.9) para liderar os israelitas contra o poderoso Sísera, comandante do exército de Canaã. Por sua covardia e falta de fé, Baraque foi avisado por Débora que perderia a honra de aniquilar aquele inimigo; este cairia, então, pelas mãos de uma mulher, o que, de fato, aconteceu (Jz 4.21). Mesmo tendo um comandante medroso, o resultado da empreitada foi uma esmagadora vitória do povo de Deus contra os cananeus na batalha de Quisom (Jz 4.15). E, em uma sucessão de conquistas, os israelitas aniquilaram Jabim (Jz 4.23). (Fontes: Bíblia Sagrada e Estilo Adoração)