Pouco valor?

Religião, pátria e família não são mais prioridades entre os jovens, revela pesquisa

Por Patrícia Scott

Os valores da juventude estão mudando rapidamente nos Estados Unidos. Um estudo publicado pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal, em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa de Opinião (NORC, a sigla em inglês) da Universidade de Chicago, mostrou que a paternidade, a religião e o patriotismo não são mais prioridades para a maioria dos jovens estadunidenses. De acordo com o levantamento, apenas 38% dos entrevistados disseram que o patriotismo era muito importante, 39% citaram a religião como algo relevante na vida deles e somente 30% classificaram como prioridade ter filhos. Esses temas, historicamente tão caros à sociedade norte-americana, eram mais valorizados. Na primeira edição da mesma pesquisa, realizada em 1998, 70% dos participantes consideravam o patriotismo muito importante e 62% diziam o mesmo acerca da religião. Quanto a ter filhos, 59% consideravam esse aspecto como muito relevante para si.

Não existem estudos semelhantes no Brasil, mas, na visão do Pr. Orestes Lima, líder estadual do Jovens que Vencem (JQV) da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Maranhão, a juventude brasileira está muito focada em questões pragmáticas, como a formação profissional e o desenvolvimento da carreira. “A tendência é que essa ideia ganhe ainda mais força entre eles”, defende Lima.

Na opinião do pregador, o desinteresse por religião, patriotismo e paternidade também pode estar ocorrendo no Brasil em decorrência do crescente bombardeio da mídia, a qual procura desvalorizar o casamento e a fé cristã. “O objetivo é fazer com que os jovens não constituam uma família tradicional, e sim que levem uma vida sem princípios e com vários relacionamentos”, alerta o líder.

Para o evangelista Mário Cézar de Sousa Lima, presidente da União de Mocidade das Assembleias de Deus (UMAD) no Nordeste, o relativismo e o materialismo têm desviado até os jovens cristãos das verdades bíblicas. “Há exceções, mas a maioria não está preparada para defender a própria fé. Muitos pensam em adquirir imóveis, serem bem-sucedidos no trabalho e ter dinheiro para o lazer. Poucos estão preocupados com a comunhão com o Senhor.”

Em contrapartida, Mário Lima avalia que quem está comprometido com o Pai celestial oferece à igreja dinamismo e entusiasmo e busca mobilizar outros nos esforços evangelísticos. “Nesse estágio da vida, moços e moças estão mais abertos aos desafios e enfrentamentos. Por isso, a participação deles na evangelização promove uma grande expansão do Reino de Deus.” Nesse sentido, Mário lembra que, na história da Igreja, muitos missionários e evangelistas usados por Deus eram jovens. “São incontáveis os despertamentos espirituais iniciados por eles”, acrescenta. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Exemplos bíblicos] 

Pautas sociais – A líder estadual do Jovens que Vencem (JQV) em Goiás, Maria Renê Ramos, observa que, de modo geral, as igrejas têm se esforçado para atrair a juventude, promovendo programações voltadas para esse público e buscando inseri-lo na obra do Senhor. Entretanto, assevera que se trata de uma luta diária contra as muitas distrações oferecidas pelo mundo. “Por isso, mais do que palavras e atividades, é importante que o jovem encontre, na igreja, modelos de vida inspiradores”, observa a ministra, frisando que a participação da família é igualmente fundamental. “Os pais precisam viver o que pregam para que seus filhos não entrem em conflito nem tenham uma visão distorcida do Evangelho e de Jesus.”

Por outro lado, Maria Ramos ressalva que o ingresso no mercado de trabalho e a construção de uma carreira – duas questões diretamente ligadas ao dinheiro, sucesso e reconhecimento – também têm papel de destaque na vida dos jovens. Ela alerta para o fato de as mídias sociais contribuírem para que a juventude desenvolva esse tipo de mentalidade. “As postagens nas redes são de pessoas perfeitas. Algo que chama atenção de quem vê, ainda que não seja a realidade vivenciada.”

Já o Pr. Luiz Eduardo Rosa, líder dos jovens na igreja Missões Evangelísticas Vinde Amados Meus
(MEVAM), em Real Parque, na cidade de Campinas (SP), ressalta que moços e moças, crentes ou não, estão se preocupando cada vez mais com as pautas sociais. Segundo Rosa, temas relacionados à sexualidade, ao feminismo e ao meio ambiente estão em alta entre eles, mas as igrejas, em geral, têm dificuldades de tratar desses assuntos.

Além disso, para o ministro, os jovens veem um abismo entre eles e as gerações anteriores e tendem a não querer ser parte da Igreja que seus pais lhes apresentam. “Como líderes de jovens, nossa prioridade deve ser dar um bom exemplo. Isso porque a garotada não está atrás de um discurso cristão, e sim de modelos cristãos no que diz respeito à família, à fé, ao propósito e às obras.” Na visão do líder, é preciso conduzir os mais novos ao Evangelho a fim de que tenham comunhão com o Espírito Santo e a Igreja do Senhor. “Mais do que barulho do lado de fora, o desafio é encontrar um lugar em Deus para que Cristo seja desenvolvido em cada um.”

Eleger prioridades – O líder estadual do Jovens que Vencem (JQV) no Paraná, Eduardo Zocolotto Gomes, concorda com o Pr. Eduardo Rosa. “Os jovens precisam conhecer o verdadeiro Jesus, não o da religião. A juventude está sedenta e com vazios a serem preenchidos. Somente Cristo é a resposta. Então, é necessário propagar mais e mais os ensinamentos das Sagradas Escrituras”, argumenta Gomes, lembrando que a fé cristã dá força e equilíbrio para o jovem, além da direção correta a seguir em meio às tribulações. “O inimigo ataca a mente e as emoções, mas, estando firmes no Evangelho, a juventude conseguirá resistir e superar os dias maus. Com mansidão e humildade, é preciso caminhar ao lado dos jovens, trilhando cada passo nessa magnífica jornada de conhecimento do Pai.”

O Pr. Jader Cruz, da Assembleia de Deus em Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), destaca que, devido à tecnologia, um grande desafio para esta geração é justamente eleger prioridades na vida. Para ele, em razão do constante ataque midiático contra os valores cristãos, tem crescido o número de rapazes e moças que se consideram evangélicos, mas que não desejam se envolver com uma igreja local. “Por outro lado, eles estão engajados em assuntos, como educação, saúde, bem-estar e política, tendo em vista a produção enorme sobre esses temas nas redes sociais.” Mesmo diante desse quadro, o líder acredita que o Brasil continua se destacando como uma nação na qual a juventude tem grande envolvimento com a Igreja do Senhor e interesse pela Palavra de Deus. “O jovem brasileiro deseja que a fé o conduza à firmeza e à paz. Na relação com a igreja local, eles esperam ter mais inclusão, contextualização, acolhimento e muito diálogo”, conclui.

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