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Pastores e estudiosos apontam aos novos convertidos os caminhos para o crescimento espiritual
Por Evandro Teixeira
No capítulo 3 do evangelho de João, Jesus compara a conversão a um novo nascimento: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus (Jo 3.3). Ao fazer essa analogia, o Mestre demonstra que, em um primeiro momento, o salvo é semelhante a um bebê: precisa de cuidados básicos para se desenvolver forte e sadio até se tornar um cristão maduro.
Em seu livro Crescendo espiritualmente (Graça Editorial), o pastor, escritor e conferencista norte-americano Kenneth E. Hagin (1917-2003) demonstra como o desenvolvimento cristão deve ser buscado pelo recém-convertido, a fim de alcançar a maturidade na fé. Hagin aponta a necessidade de o novo crente em Cristo ter a Bíblia como sua principal fonte de nutrição espiritual, conforme lemos em 1 Pedro 2.2: Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação (ARA). [No final desta reportagem, leia o quadro Alimentação equilibrada]
O Pr. Marcelo Alexandre Modesto Pereira, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Ouro Fino (MG), lembra que a leitura bíblica é importante em qualquer fase da vida cristã, mas se torna essencial no cotidiano do recém-convertido. “Quanto mais o crente souber, melhor, pois o batismo nas águas virá em seguida. O novo crente deve se preparar para esse momento”, ensina o ministro, ressaltando que a orientação pastoral é indispensável: “Convém que o recém-convertido tenha acesso fácil ao líder, caso precise de conselhos e instruções úteis na caminhada.”
“Doutrinas basilares” – O teólogo André Miranda Soares Abreu alerta que o líder e a igreja local precisam apoiar quem é novo na fé. Ele salienta que, logo no início da conversão, o cristão costuma viver intensamente a alegria de ter aceitado Jesus. Esse sentimento deve ser alimentado pela congregação local, levando o recém-chegado à família de Deus a fortalecer sua comunhão com o Senhor e os irmãos em Cristo.
De acordo com André Abreu, uma das primeiras iniciativas a serem tomadas é inserir o novo convertido nas atividades eclesiásticas, tornando-o parte do grupo. Na sequência, ele deverá participar de estudos bíblicos em uma classe de integração, com o propósito de lhe serem apresentados os rudimentos do Evangelho. Isso é essencial para que sejam estabelecidos os alicerces do crescimento espiritual: “Nessa fase, ele conhecerá as doutrinas basilares da Igreja e terá contato com as experiências dos cristãos mais maduros”, explica o teólogo, acrescentando que a estrutura da comunidade cristã se torna essencial, pois deverá ter espaço e professores capacitados para exercer esse papel.
Outro teólogo, Marcelo de Castro Lodoro, observa que o recém-convertido tem algumas dúvidas provenientes de seu passado e precisa de apoio na obtenção dessas respostas. “Para o novo crente, por exemplo, é um desafio entender a graça invisível de Deus e aplicar as orientações bíblicas em sua vida.” Porém, o especialista lembra que, com a leitura da Bíblia e o auxílio da liderança e dos membros da comunidade de fé, espera-se que esse crente se desenvolva: “Seu progresso é percebido pelos frutos, que são as mudanças de comportamento”, afirma o estudioso, fazendo referência a 1 João 3.6 (NVI): Todo aquele que permanece nele não peca. Todo aquele que peca não o viu nem o conheceu.
Lodoro esclarece que, sendo um cristão maduro ou um recém-nascido na fé, o crente em Jesus está sujeito a fraquezas, porque ambos são vulneráveis às ciladas da carne. “O servo mais experiente conhece melhor o caminho para o aperfeiçoamento. Por isso, além de não ignorar o que já sabe, deve continuar aprendendo com Deus e compartilhando as experiências com os mais novos”, ensina.
“Novidade de vida” – Indagado sobre o tema, o Rev. Eber Cocareli, diretor e apresentador do Programa Vejam Só!, exibido pela Rede Internacional de Televisão (RIT), lembra que o apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, distingue o cristão maduro (capaz de comer alimento sólido) do crente imaturo (que só consegue digerir leite): E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis; porque ainda sois carnais (1 Co 3.1-3a). Cocareli ressalta que “o cristão maduro teria melhor capacidade para discernir questões espirituais mais complexas e densas, enquanto o novo convertido ficaria apenas com o mais básico na fé”.
O apresentador esclarece que, embora sejam esperados crescimento e amadurecimento do novo crente em Jesus à medida que adquire conhecimento, tal desenvolvimento pode não acontecer. Nesse caso, orienta Cocareli, há o risco de a conversão do indivíduo não ter ocorrido efetivamente, conforme ensina o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 13.5: Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis, quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.
O Pr. Eber destaca o fato de o próprio Salvador ter alertado para os diversos tipos de nascidos na fé que permanecem infrutíferos e se desviam, conforme demonstrado na parábola do semeador (Lc 8.5-15). Para Cocareli, é fundamental que, de modo responsável e sábio, os pregadores ensinem o significado de nascer de novo. “Seguir Jesus implica se arrepender do percurso anterior e crescer em novidade de vida”, esclarece, citando Romanos 6.4: De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.
Se tudo correr bem, com o passar do tempo, o servo de Deus conquistará a esperada maturidade espiritual, ainda que tenha diante de si o desafio de se manter no Caminho. É o que pontua o teólogo Patrick Denucci de Freitas. Para ele, mesmo tendo anos de trajetória cristã, o esforço para não perder o foco é o mesmo dos primeiros passos na fé. Segundo acredita, a jornada em direção ao Céu exige empenho dos salvos, como lemos em Mateus 7.13,14: Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. De acordo com Patrick de Freitas, para permanecer na estrada da salvação, o servo de Deus deverá viver na dependência do Altíssimo – um conselho que se aplica a crentes novos e aos maduros. “O Senhor nos garante que estará conosco durante o processo”, pontua o estudioso, citando as palavras de Paulo em Filipenses: Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de Jesus Cristo (Fp 1.6).
Declínio espiritual – Na opinião da Pra. Juliana Viana de Sousa Barbosa, líder estadual da IIGD em Goiás, durante a peregrinação, qualquer filho de Deus pode perder o que já conquistou, pois todos estão sujeitos ao erro. “Somos sempre tentados a desobedecer à Palavra”, alerta a líder, citando Hebreus 12.1: Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta. Segundo a ministra, se não houver vigilância, o cristão poderá dar brechas ao inimigo, abrindo espaço para a quebra da comunhão e o declínio espiritual.
Pensamento semelhante tem o Pr. Luiz Carlos Corrêa, líder estadual da Igreja da Graça na Paraíba. Ele estende esse raciocínio aos pastores experientes, que acreditam erroneamente que não precisarão mais de ajuda. “Ao alcançar o pastorado, nenhum líder se torna um super-homem. Ao contrário, continua sendo tentado pelo diabo e passa por lutas como todo servo de Deus”, enfatiza.
Corrêa reconhece que pesa sobre os pastores uma responsabilidade a mais, porque eles precisam manter uma liderança firme na oração e pautada na Palavra. “A qualidade do ensino ministrado no púlpito se refletirá no nível de maturidade dos membros, dependendo da maneira como forem orientados, especialmente no caso daqueles que dão seus primeiros passos na fé”, lembra o líder, ressaltando que todos são membros do mesmo Corpo, independentemente da maturidade de cada um. “A liderança precisa se empenhar em manter a saúde espiritual dos membros, em prol de uma igreja fortalecida”, conclui.
ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA
Em seu livro Crescendo espiritualmente (Graça Editorial), Kenneth E. Hagin enfatiza o ensinamento bíblico de que, por terem acabado de passar pelo novo nascimento, os novos cristãos são bebês espirituais. Contudo, o autor lembra que os recém-nascidos na fé não devem permanecer nesse estágio, pois o desejo do Senhor é que alcancem a maturidade.
Para incentivá-los a crescer no conhecimento da Palavra, Hagin diz que os novos convertidos precisam receber a dieta certa, o leite espiritual. Ele cita uma série de textos bíblicos que devem orientar o novo crente no início de sua jornada com Cristo, tais como Filipenses 4.13 (Posso todas as coisas naquele que me fortalece) e Efésios 3.20 (Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera). O autor explica que esse cardápio precisa ser modificado de tempos em tempos.
Hagin ajuda o leitor a identificar a fase de desenvolvimento em que se encontra, a fim de ter ferramentas para discernir sua condição espiritual e os meios de avançar para um nível superior. Você não se torna cristão plenamente crescido e maduro da noite para o dia. A Bíblia manda que examinemos a nós mesmos. É o conhecimento da Palavra de Deus que nos ajuda a crescer, defende o autor. (Fonte: Graça Editorial)