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Pecado sem perdão

O que se pode entender acerca do ensino de Jesus sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo

Por Patrícia Scott

Um insulto à divindade, à religião ou ao que é considerado sagrado. Eis a definição de blasfêmia. De acordo com a Bíblia, trata-se de um tipo de ofensa muito grave, especialmente se dirigida ao Espírito Santo. No Novo Testamento, a blasfêmia contra a terceira pessoa da Trindade é mencionada em três dos quatro evangelhos, sendo a passagem de Mateus 12.31,32 a mais conhecida. Nela, Jesus afirma: Portanto, eu vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.

Foto: Divulgação / Graça Editorial

No evangelho de Marcos, está registrado: Na verdade vos digo que todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e toda sorte de blasfêmias, com que blasfemarem. Qualquer, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca obterá perdão, mas será réu do eterno juízo (Porque diziam: Tem espírito imundo) (Mc 3. 28,29). Já o evangelista Lucas escreve: E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem ser-lhe-á perdoada, mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado (Lc 12.10).

Entretanto, a blasfêmia contra o Espírito Santo gera controvérsias e suscita diferentes pontos de vista. O Missionário R. R. Soares, respondendo a um leitor de Graça/Show da Fé – na edição nº 272, publicada em março de 2022 –, que lhe perguntou sobre o tema, afirma: Aquilo que o Senhor Jesus chama de blasfêmia contra o Espírito Santo é, consciente e deliberadamente, atribuir ao demônio uma ação que a pessoa sabe, no íntimo, ser feita por Deus ou Cristo. Os escribas e fariseus agiam assim porque não aceitavam que o Messias fosse alguém simples, humilde e acessível a pessoas comuns, como era Jesus. Entretanto, no fundo, tinham consciência de que Ele viera do Altíssimo, segundo confessou o fariseu Nicodemos (Jo 3.1,2).

Em sua explicação, o Missionário esclarece que o orgulho e a inveja cegavam aqueles doutores da Lei. Isso fica evidente, de acordo com R. R. Soares, nos argumentos que usavam para explicar o inegável poder do Mestre: Diziam que a autoridade dEle vinha de Belzebu! O Senhor destruiu esse raciocínio e expôs seus acusadores ao ridículo, diante da multidão. Portanto, não se tratava de um engano, um equívoco, ou de uma crença meramente errada, e sim de acusar com intenção o Salvador de ser agente do diabo. Aí está a blasfêmia contra o Espírito Santo.

O líder da Igreja da Graça assinala que esse pecado só é cometido por quem tem plenas condições de saber a Verdade sobre Jesus, mas, por orgulho, tal indivíduo a recusa. Ora, quem age assim jamais irá se converter depois. Se alguém vem para o Senhor Jesus, arrependido de seus pecados, querendo a salvação, será aceito pelo Altíssimo e feito Seu filho (Jo 1.12). Todas as suas obras antigas são lavadas no sangue do Cordeiro, e essa pessoa passa a ser nova criatura (2 Co 5.17). Por fim, o Missionário alerta: Cuidado com o acusador dos irmãos! Quem de fato comete o pecado sem perdão, na verdade, nunca se importará com isso nem se sentirá incomodado, até o Dia do Juízo Final (Mc 3.29,30).

O Pr. Lauro Doriel assegura: “Quando alguém conhece as Escrituras e, ainda assim, faz pouco caso do Espírito Santo, desrespeita-O conscientemente, e, portanto, peca contra Ele”
Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia

“Rejeição persistente” A partir dessa mesma visão, o Pr. Lauro Doriel, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Rio Grande do Sul, pontua que o Espírito Santo é a pessoa da Trindade que entra em contato com o ser humano. “Quando alguém conhece as Escrituras e, ainda assim, faz pouco caso do Espírito Santo, desrespeita-O conscientemente, e, portanto, peca contra Ele”, assegura.

Por sua vez, o Pr. Elder Cavalcante, líder estadual da IIGD no Rio Grande do Norte, lembra que, ao contrário dos incrédulos, todos que aceitam Jesus como Salvador e recebem o Espírito Santo tendem a não mais blasfemar, pois são novas criaturas [2 Co 5.17]. A tendência deles, segundo o pregador, é gerar frutos para o Altíssimo, os quais não condizem com a blasfêmia. “O apóstolo Paulo diz aos gálatas que o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança [Gl 5.22]”, enumera.

O professor de Teologia Luiz Curvelo resume: “No Novo Testamento, a blasfêmia está relacionada à rejeição persistente da obra do Espírito Santo”
Foto: Arquivo pessoal

O professor de Teologia Luiz Curvelo destaca que, desde o Antigo Testamento, a blasfêmia já era algo muito sério, pois a Lei de Moisés era taxativa quanto a profanar o Nome de Deus, conforme registra Levítico 24.16: E aquele que blasfemar o nome do Senhor certamente morrerá; toda a congregação certamente o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do Senhor, será morto. “Já no Novo Testamento, a blasfêmia está relacionada à rejeição persistente da obra do Espírito Santo”, resume Curvelo, que leciona na Escola Teológica Assembleia Nova Jerusalém (ETANJ), em Parque Vila Maria Baixa, em São Paulo (SP). 

O teólogo hebraísta Marcelo Oliveira avalia que o cristão displicente na comunhão com Deus desobedece ao Senhor e O desonra, extinguindo, dessa maneira, a presença do Espírito Santo
Foto: Arquivo pessoal

Por sua vez, o teólogo hebraísta Marcelo Oliveira, especialista no estudo do hebraico, esclarece o que não pode ser caracterizado como blasfêmia contra o Espírito de Deus. “Qualquer cristão pode entristecer o Espírito Santo, o que acontece constantemente a partir do pecado [Ef 4.30]. Resistir a Ele ou mentir ao Espírito, como Safira e Ananias fizeram, também não é blasfemar [At 5.1-11]”, avalia Oliveira, assinalando, porém, que o cristão displicente na comunhão com Deus desobedece ao Senhor e O desonra, extinguindo, dessa maneira, a presença do Espírito Santo (1 Ts 5.19).

O teólogo
Roberto Cruvinel assevera: “O Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo [Jo 16.8] e dirige o indivíduo em toda a Verdade [Jo 16.13]”
Foto: Arquivo pessoal

Sem entendimento O teólogo Roberto Cruvinel, diretor da Escola Teológica Pastor Virgílio dos Santos Rodrigues, em São Paulo (SP), observa que todo pecado é condenado, mas existem os que geram maiores consequências. Para o estudioso, o pecado imperdoável consiste na rejeição consciente, maliciosa e voluntária à evidente ação do Espírito, com respeito à graça de Deus, que se manifesta em Cristo Jesus. “O Espírito Santo convence o homem do pecado, da justiça e do juízo [Jo 16.8] e dirige o indivíduo em toda a Verdade [Jo 16.13]”, assevera.

O Pr. Celso Godoy esclarece que o Espírito Santo faz a pessoa compreender as coisas de Deus e defende: “Não aceitar o Seu convencimento e não se submeter à graça do Senhor significa blasfemar contra Ele”
Foto: Arquivo pessoal

Visão semelhante tem o Pr. Celso Godoy, da Primeira Igreja Batista em Medeiros Neto (BA), ele salienta que o Espírito Santo faz a pessoa compreender as coisas de Deus. O pregador lembra que, a partir dEle, é possível entender a necessidade de viver à disposição de Jesus. “Portanto, não aceitar o Seu convencimento e não se submeter à graça do Senhor significa blasfemar contra Ele”, defende.

Entretanto, segundo o ministro batista, há pessoas que se equivocam ao pensar que seria uma blasfêmia contra o Espírito Santo julgar manifestações espirituais porque estas poderiam ser fruto da ação dEle. De acordo com Godoy, tal interpretação está errada, pois as Sagradas Escrituras ensinam que todos devem julgar os espíritos. “A Bíblia diz que o profeta não pode ser julgado, mas o que ele fala, sim [1 Jo 4.1]”.

O Pr. Sinvaldo Queiroz considera que a blasfêmia contra o Espírito Santo está condicionada ao ato de negar a divindade de Cristo e o Seu senhorio, além do poder para salvar o homem do pecado: “É resistir à ação redentora de Deus revelada por Jesus e sinalizada pelo Espírito Santo”
Foto: Arquivo pessoal

Já o Pr. Sinvaldo Queiroz, da Igreja Batista da Cidade, em Vitória da Conquista (BA), considera que a blasfêmia contra o Espírito Santo está condicionada ao ato de negar a divindade de Cristo e o Seu senhorio, além do poder para salvar o homem do pecado. “É resistir à ação redentora de Deus revelada por Jesus e sinalizada pelo Espírito Santo”, resume o líder, ressaltando que Satanás trabalha nesse sentido, conforme expressa o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 4.4: O deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.

Queiroz destaca que o Altíssimo deseja levar a Sua criação para o Reino do Seu Filho amado. “Ele faz isso por intermédio do próprio Jesus, a partir do convencimento gerado pelo Espírito Santo”, ensina o pastor, destacando que essa compreensão é importante para que o medo e o jugo da culpa sejam extirpados. “A blasfêmia contra o Espírito Santo não é sobre Deus punir os que não O adoram, e sim sobre o indivíduo não reconhecer a dádiva do Senhor por intermédio de Jesus e ainda dizer que o Todo-Poderoso age sob o poder do maligno”, conclui.

Foto: Fotokitas / Adobe Stock

2 Comments

  1. Eduardo disse:

    Gostei muito pela palavra

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