
FÉ FRUTÍFERA
13/10/2025
Por Lilia Barros
A vida cristã não foi projetada para ser desfrutada de modo isolado. No Antigo Testamento, o valor da comunhão (Sl 133.1-3), da adoração em conjunto e da edificação mútua já é mencionado. No Novo Testamento, esse princípio é ainda mais evidente, revelando que a Igreja é o Corpo de Cristo (1 Co 12.27) e cada membro tem sua função, contribuindo para o fortalecimento do todo. Desse modo, congregar é mais do que frequentar um culto: é viver em unidade. A Bíblia ensina também que a fé se fortalece no convívio congregacional, que os dons espirituais se manifestam no ajuntamento dos santos e que a presença de Jesus se torna real no encontro entre os irmãos. Vivenciar o cristianismo sem congregar é como ser um membro separado do corpo: perde a sua vitalidade. Portanto, fazer parte de uma comunidade de fé é um chamado de Deus a todos os seguidores do Senhor Jesus. Ele mesmo frequentava sinagogas e ensinava o Texto Sagrado.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Para Clauzir Paiva Nascimento, pastor auxiliar na Assembleia de Deus em Vila Velha (ES), o culto público é uma necessidade da vida cristã, conforme registra Atos 2.42: E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. “Quando congregamos, ajudamos uns aos outros e não temos tempo para alimentar o próprio ego. Essa união fortalece a nossa fé, sendo um dos principais meios pelos quais se expressa a graça de Deus”, observa o ministro. Mencionando o livro de Hebreus, capítulo 10, versículos 24 e 25: E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia, ele reforça: “Essa passagem nos adverte a manter o hábito de nos reunirmos para adoração e comunhão e nos orienta ao encorajamento mútuo, sobretudo porque o dia da volta de Jesus se aproxima.” Ao ser indagado a respeito do resultado de uma pesquisa do Instituto Datafolha, a qual demonstra que quase 25% dos chamados “desigrejados” no Brasil (aqueles que deixaram de frequentar uma igreja) são jovens com idades de 16 a 34 anos, o pastor revelou extrema preocupação com esse cenário. Ele observou que quem fica fora do grupo eclesiástico se torna presa fácil para as dificuldades da vida, os ventos de doutrinas ou a própria concupiscência. “A igreja é um corpo, um rebanho, uma família. Não podemos viver isolados, sem interagir”, avalia.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Viva e atuante – Por sua vez, o Pr. Eliomar Correa de Jesus, da Primeira Igreja Batista em Itaparica, na cidade de Vila Velha (ES), avalia a situação da Igreja nos dias de hoje, fazendo uma comparação com o que se passou na época da Igreja primitiva, entre os anos 60 e 65. Ele lembra que os judeus convertidos ao cristianismo enfrentavam dupla perseguição: por terem se tornado cristãos e por abandonarem práticas e doutrinas judaizantes. Foi nesse contexto que a carta aos Hebreus foi escrita, com o propósito de fortalecer a fé daqueles que estavam trilhando o caminho de Cristo. “Muitos deles acreditavam que o Messias voltaria ainda naquela geração. No entanto, passados mais de 30 anos e diante dos desafios enfrentados, alguns esfriaram na fé, e outros se afastaram. Por esse motivo, o escritor aos hebreus apela para que não abandonem a comunhão”, ensina.
Na opinião do ministro batista, a permanência do crente na fé necessita de estímulos, e o principal deles é o momento do encontro presencial com os irmãos. “O melhor é estar juntos para serem ministrados, acolhidos e incentivados”, afirma Eliomar de Jesus. O pregador pontua que congregar é um traço essencial da Igreja de Cristo. Por isso, iniciativas, como os cultos on-line, embora atendam a certas demandas, não conseguem substituir o calor humano, a presença física e as conexões. “O pertencimento e o acolhimento surgem nesse ambiente de proximidade. Viver em comunidade, compartilhar a fé e os momentos da vida são fundamentais para dar sentido e propósito à caminhada cristã.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro A força da Igreja]

O Pr. Fábio de Araújo, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Barcelona, na cidade de Serra (ES), frisa que a palavra grega para igreja, ekklesia, significa assembleia ou ajuntamento de pessoas. Por essa razão, lembra o ministro, no Novo Testamento, os cristãos são retratados como uma comunidade viva e atuante, na qual seus membros estavam sempre próximos uns dos outros. “A reunião da igreja envolve cheiro, toque, abraço, olho no olho e o peso da glória de Deus. Cristo tocava os enfermos, os apóstolos impunham as mãos, e os irmãos partilhavam o pão. Tudo isso só é possível presencialmente”, observa o líder, citando as palavras de Jesus registradas em Mateus 18.20: Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. Para o pastor, a ausência da presença física compromete a própria compreensão do que significa ser Igreja. “A comunidade de fé corre o risco de se reduzir a uma ideia ou a um conteúdo a ser consumido, em vez de uma família espiritual da qual se participa de modo ativo”, pondera ele, acrescentando que os dons espirituais, essenciais para a edificação da igreja, encontram maior liberdade e expressão no convívio presencial.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
No entanto, Fábio reconhece que, por diversos motivos, algumas pessoas podem estar impossibilitadas de participar dos cultos na igreja. Nesses casos, muitos lançam mão de vídeos de reuniões gravadas e de transmissões ao vivo, a fim de receber a mensagem do Evangelho e orar com o pregador. “Pessoas enfermas, acamadas, em viagem, com limitações de locomoção ou que vivem em locais que não têm igrejas podem ter acesso à Palavra de Deus, para serem fortalecidas espiritualmente”, comenta Araújo. Entretanto, ele ressalva que há muitas restrições no formato digital. “Na tela, a experiência do espectador se torna passiva e unilateral. Os elementos da comunhão, como a imposição de mãos, o consolo de um abraço ou a partilha do pão, não podem ser vivenciados de maneira plena.”

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Amor de Jesus – De acordo com o Pr. Antônio Pinheiro Rodrigues, da Igreja da Graça em Santa Cruz (RN), a Escritura Sagrada fala da importância do templo e do compromisso do próprio Deus com o local santo, conforme está registrado em 2 Crônicas 7.15,16 (Agora, estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à oração deste lugar. Porque, agora, escolhi e santifiquei esta casa, para que o meu nome esteja nela perpetuamente; e nela estarão fixos os meus olhos e o meu coração todos os dias). Ele também enfatiza que o papel do líder da congregação é ensinar, orientar e cuidar, embora advirta que a salvação é individual. “O que falta é a pessoa buscar um relacionamento mais próximo com Deus”, adverte. Ao mesmo tempo, ele destaca que a igreja precisa resgatar quem já fez parte da comunidade de fé. “Podemos mudar esse cenário, demonstrando o amor de Jesus por essas vidas. Só assim conseguiremos atraí-las de novo para o Senhor.”

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Na opinião do Pr. Evaldo Carlos dos Santos, da Primeira Igreja Batista da Praia da Costa, em Vila Velha (ES), a Igreja é o corpo espiritual de Jesus, e a Ele todos os membros estão interligados, conforme Paulo escreve aos Efésios: Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor (Ef 4.15,16). Para o ministro batista, quando um cristão afirma não precisar da igreja, está rejeitando algo que Jesus instituiu e negando a relevância da presença do próximo. “Na verdade, esse discurso serve, muitas vezes, para justificar dificuldades de convivência”, opina Santos, completando que a congregação precisa dar frutos de vida onde está inserida. “Quando estamos juntos, conseguimos realizar grandes projetos, como campanhas sociais e ações missionárias. Ao congregarmos, não há prejuízos: existem apenas os desafios normais de lidar com as diferenças.”
Evaldo dos Santos sinaliza que o Messias não apenas transmitiu uma mensagem e, depois, retornou ao Pai; Ele escolheu relacionar-Se com os 12 discípulos e com a multidão. “Hoje, Deus continua a revelar-Se por meio da Sua Palavra e por intermédio do Seu Espírito. Rejeitar essa realidade é como dizer que se deseja ser uma pessoa transformada, mas sem uma família”, avalia o pastor, lembrando que a igreja tem a responsabilidade de levar as ovelhas perdidas de volta ao aprisco. “É preciso estender a mão, pois muitos carregam traumas e necessitam de um processo de cura interior para que seu potencial seja restaurado.”

Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia
O Missionário R. R. Soares destacou, em sua mensagem: Você é parte do corpo de Jesus Cristo, transmitida em seu programa Semeando a Fé, no YouTube, que os cristãos precisam se filiar a uma igreja e estar sob a liderança pastoral. Muitas pessoas acreditam em Deus, ouvem a Palavra do Senhor e recebem bênçãos, mas não compreendem a importância de se submeter à autoridade ministerial, ao pastor, chamado na Bíblia de anjo da igreja. Firmado no Salmo 50.5 (Congregai os meus santos, aqueles que fizeram comigo um concerto com sacrifícios), o Missionário esclareceu que esses sacrifícios foram realizados por Jesus para nos dar cura, prosperidade, perdão e paz. Por isso, precisamos congregar. Quem ainda não está filiado à igreja deve tomar a decisão de se tornar um membro ativo, submisso e guiado por Deus, e então será abençoado.
A FORÇA DA IGREJA
A comunhão cristã é uma das marcas da pregação do Evangelho e, ao mesmo tempo, a força da igreja, local de reunião dos crentes com Deus. Jesus orou para que Seus seguidores fossem um, e os apóstolos reforçaram esse chamado à união e ao amor mútuo. Aqui, selecionamos alguns versículos da Palavra que tratam desse tema:

– Uma coisa pedi ao SENHOR e a buscarei: que possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor e aprender no seu templo (Sl 27.4).
– Guarda o teu pé, quando entrares na Casa de Deus; e inclina-te mais a ouvir do que a oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal (Ec 5.1).
– E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se para ler (Lc 4.16).
– Entrai pelas portas dele com louvor e em seus átrios, com hinos; louvai-o e bendizei o seu nome. Porque o SENHOR é bom, e eterna, a sua misericórdia; e a sua verdade estende-se de geração a geração (Sl 100.4,5).
– Mas o SENHOR está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra (Hc 2.20).
– Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR! (Sl 122.1).
– Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho do Hermom,
que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Sl 133.1-3).
– Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos (Ef 4.1-6).
– Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste (Jo 17.21).
– Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos, em um mesmo sentido e em um mesmo parecer (1 Co 1.10).
(Fonte: Bíblia Sagrada)