
Jovens priorizam propósito e alto potencial de ganhos, especialmente na web
12/06/2025
Charles Edward Fuller investiu na comunicação para expandir o Evangelho nos EUA
13/06/2025
Por Evandro Teixeira
O relatório anual da International Christian Concern (ICC), organização estadunidense sem fins lucrativos de apoio aos crentes perseguidos, aponta que cerca de 300 milhões de cristãos enfrentam algum tipo de perseguição no mundo – incluindo o fato de que regimes autoritários estão usando tecnologias de vigilância digital para controlar e intimidar grupos religiosos. Segundo o documento, na China, o Partido Comunista está lançando mão de programas de reconhecimento facial para monitorar comunidades cristãs e, ao mesmo tempo, rastreia aplicativos bíblicos e plataformas que transmitem cultos on-line. Outros países – Índia, Coreia do Norte, Irã e Arábia Saudita – vêm adotando práticas semelhantes às do regime de Pequim. Na América Latina, na Nicarágua, incluída pela primeira vez no relatório da ICC, o governo de Daniel Ortega intensificou a repressão aos cristãos, fazendo uso da tecnologia para monitorar comunicações entre líderes religiosos. O presidente da ICC, Jeff King, considera que esses casos não são fatos isolados. Cristãos em todo o mundo enfrentam ameaças diárias às suas vidas e à liberdade religiosa.

Foto: Divulgação
De acordo com a Missão Portas Abertas (MPA), esse tipo de monitoramento de cristãos é definido como cyberstalking (perseguição digital), um assédio permanente a pessoas por meio, por exemplo, da instalação de uma rede de câmeras de vigilância em todo o território chinês, inclusive nas igrejas registradas. “Assim, o governo tem acesso ao que ocorre nos templos, como as pregações e as demais atividades da igreja”, pontua o secretário-geral de Portas Abertas, Marco Cruz. Ele frisa que a China tem exportado a tecnologia de vigilância para outros países ao redor do mundo, sobretudo para aqueles que estão na Lista Mundial de Perseguição (LMP), divulgada anualmente pela MPA, com as 50 nações mais perigosas para os cristãos.

Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas
Em Mianmar (antiga Birmânia), nação de maioria budista do Sul da Ásia, de 54 milhões de habitantes, e 13ª na lista de Portas Abertas, o governo local tem adotado um sistema de monitoramento bastante parecido com o chinês. E há evidências de que a junta militar – que assumiu à força o poder em 2021 – tenha como alvos os grupos cristãos e as igrejas. “Esse tipo de controle por mecanismos mais sofisticados tende a aumentar em regiões mais intolerantes ao Evangelho devido ao apoio recebido de grandes potências que investem em tecnologia de vigilância”, alerta Cruz.
Violação de direitos – O presidente da Missão Antioquia, Pr. Silas Tostes, também percebe o avanço no sistema de vigilância dos cristãos em países fechados à Palavra de Deus. Ele enfatiza que esse monitoramento vem se tornando uma prática comum até em nações reconhecidamente democráticas. “É preciso haver um questionamento sobre o limite desse tipo de controle”, adverte.

Foto: Arquivo pessoal
Ao ser indagado por nossa reportagem sobre a situação da China, Tostes relata que o regime de Pequim usa a tecnologia de vigilância associada à inteligência artificial (IA). Para ele, em Xangai, segunda maior cidade chinesa, com 24,8 milhões de habitantes, é possível saber, por meio da IA, quantas vezes a pessoa colocou o lixo de maneira errada na lixeira. “A cada erro, o indivíduo recebe uma advertência. Depois da terceira, leva uma multa.” Tostes acrescenta que, nesses lugares, a população, de modo geral, é movida pelo medo – por saber que comportamentos contrários a determinações do governo chinês têm consequências.
O advogado Rafael Durand Couto, especialista em Direito Religioso e mestrando em Direito Internacional, defende que o objetivo original do uso da tecnologia de vigilância é proteger patrimônios, e, em razão disso, os equipamentos de monitoramento devem atender a certas exigências. No Brasil, opina Couto, a lei de proteção de dados impõe limites à coleta, ao armazenamento e ao tratamento de informações biométricas, como imagens faciais. Ele esclarece que, por outro lado, a instalação de câmeras em espaços privados demanda a autorização expressa do proprietário e exige a sinalização adequada do ambiente monitorado.

Foto: Arquivo pessoal
Questionado sobre a vigilância de igrejas em várias partes do mundo, Rafael Couto assegura que o uso de tecnologia para rastreio de atividades dos membros em reuniões religiosas configura uma grave violação de direitos. “Contraria princípios consagrados em tratados internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), o Pacto Internacional sobre Direito Civis e Políticos (PIDCP) e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH). Ao monitorar templos e seus membros, fazendo uso de tais ferramentas digitais, o Estado invade a esfera privada da fé, violando a liberdade religiosa.”
Porém, em regimes totalitários, destaca o advogado, esses tratados não são levados em consideração porque a lei se torna instrumento de controle nas mãos do Estado. “A China, com seu sistema de crédito social [um mecanismo que avalia o comportamento dos cidadãos mediante uma pontuação que pode acarretar recompensa ou punição], ilustra essa realidade de modo alarmante”, salienta. Couto sublinha que as democracias liberais buscam um equilíbrio entre segurança e liberdade individual, regulando o uso de tecnologias de vigilância. Mas os regimes autoritários as utilizam como ferramentas de controle, ignorando direitos fundamentais e individuais. “A comunidade internacional enfrenta o desafio de pressionar esses governos para que adotem padrões mínimos de proteção de dados, a fim de garantir o respeito aos direitos humanos na era digital”, pondera.

Foto: Arquivo pessoal
Ousadia e prudência – O Pr. Felipe Valeriano Menezes, desde 2022 líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Armênia, uma ex-república soviética de 2,9 milhões de habitantes, localizada na montanhosa região do Cáucaso, entre a Ásia e a Europa, pensa que, em meio a esse cenário de vigilância acirrada, os cristãos precisam aprender a lidar com qualquer situação. Ele entende que as igrejas e as organizações missionárias devem agir com sabedoria e prudência, tal como Jesus ensina em Mateus 10.16 (Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas).
Isso porque, quando existe um rígido controle estatal sobre a internet, o mais prudente é que os missionários evitem o uso de redes sociais para minimizar os riscos à segurança pessoal e à continuidade do trabalho. Ao tomarem esse cuidado em países fechados ao Evangelho, esses servos de Deus não se expõem nem correm o risco de serem presos ou mortos. Valeriano afirma que, mesmo crendo que a adversidade sempre ronda o pregador da Palavra em territórios marcados pela intolerância religiosa, ter cautela é fundamental. “Precisa haver equilíbrio entre ousadia e prudência. Ao mesmo tempo, o missionário não deve se deixar dominar pelo medo e precisa continuar falando de Jesus.”

Foto: Arquivo pessoal
Quem também compreende bem essa realidade é o Pr. Homero Aziz, que tem vasta experiência em missões transculturais. Líder, há 11 anos, da Igreja Batista da Jordânia e presidente de outras congregações na Turquia e no Iraque, ele avalia que, apesar de estarem sob forte vigilância, as comunidades cristãs e as organizações missionárias não devem se deixar levar pelo medo e preconceito. Ele acredita ser fundamental o planejamento da missão de incluir a análise estratégica dos diferentes contextos socioculturais e religiosos de cada país, onde se pretende desenvolver um trabalho.
Na Jordânia, o ministério de Aziz é reconhecido e monitorado pelo governo. Pela lei islâmica, o pastor não pode pregar publicamente para muçulmanos. No entanto, lá o pregador tem amparo legal para atuar dentro de sua comunidade ou responder às questões de fé para quaisquer pessoas desde que seja no âmbito do relacionamento informal ou com quem tenha vínculo de amizade. “No final das contas, meu papel não é mudar a religião de ninguém, mas indicar o caminho que leve a pessoa a Jesus”, pondera.
Aziz ressalta que, para fugir do controle governamental, em alguns países, os cristãos veem como saída as igrejas domésticas, que funcionam nos lares e nos espaços não reconhecidos pelas autoridades locais. No entanto, chama atenção para o fato de que esses governos trabalham para identificá-las, o que, na prática, não deixa os seguidores do Salvador imunes à perseguição. Além disso, o pregador observa que é preciso fortalecer os cristãos nativos e a igreja autóctone [que se origina de um país e não é influenciada por outras culturas]. “Essa questão diz respeito ao reconhecimento das comunidades cristãs locais como parte do ministério de Jesus, independentemente de qual movimento ela faça parte, e tem como objetivo principal alcançar os perdidos.”

Embora o clima seja hostil nas nações em que há leis duras contra cristãos e muita perseguição (inclusive virtual), o cristianismo está crescendo nesses territórios. “Essa é a beleza do Evangelho. Se a cruz é o centro da nossa pregação e da nossa vida, nada pode impedir o avanço da Igreja”, assevera o pastor batista, declarando que, todas as vezes que, por causa de Cristo, a Igreja sofrer perseguição, a obra do Senhor – mesmo em países fechados – frutifica de alguma maneira, como aconteceu em tantos lugares no Irã. Homero Aziz se recorda de que, há 40 anos, havia poucos relatos de conversão de muçulmanos em território iraniano.
Entretendo, hoje, o Irã é um dos lugares onde mais cresce o número de convertidos a Cristo. “É o que mostram os dados de Farshid Fathi e Sarah Akhavan, líderes do movimento de igrejas domésticas no país”. Aziz concluiu mencionando que, diante dessa realidade, cabe a aplicação do texto bíblico registrado em João 12.24: Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto. Conforme o ensinamento de Jesus, alguns servos do Altíssimo darão a própria vida pela causa (e pelo avanço) do Evangelho.