Perigo on-line
10/07/2025
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O aumento da expectativa de vida ampliou o papel dos idosos, hoje considerados produtivos, dinâmicos e capazes de impactar as novas gerações

Foto: Ingward / Adobe Stock

Por Lilia Barros

O Brasil atravessa um processo contínuo de envelhecimento da população. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2023, a expectativa de vida no país era de 76,4 anos, superando o índice pré-pandemia, de 76,2 anos, em 2019. Para os homens, a longevidade média é de 73,1 anos e, para as mulheres, chega aos 79,7 anos. De acordo com os especialistas, diante desses números, é possível dizer que a velhice ganhou novos contornos: as pessoas idosas estão mais ativas. Elas permanecem mais tempo no mercado de trabalho e, em muitos casos, ingressam na faculdade. Além disso, esses indivíduos cuidam melhor da saúde, praticando atividades físicas e esportivas, viajam e são engajados nos ministérios da igreja. Dessa maneira, tornam-se fonte de inspiração para as novas gerações.

A cientista social Jacqueline Ziroldo lembra que, atualmente, mulheres de 60 anos estudam, consomem e movimentam a economia com autonomia
Foto: Arquivo pessoal

No entanto, nem sempre foi assim, como prova uma notícia publicada no Jornal do Commercio do Amazonas, em 4 de agosto de 1960, que chama a atenção pelo título: Ônibus entrou na casa humilde e foi apanhar a velhinha de 42 anos. Velhinha? Sim, pois a expectativa de vida era de apenas 52,5 anos nessa época. Então, de fato, aquela mulher já fazia parte da terceira idade. É o que explica o geógrafo Wellington Souza Silva, o qual salienta que o envelhecimento da população brasileira é um fenômeno recente. Devido às melhorias nas condições de vida pelas quais o país passou nas últimas décadas, aumentou-se a expectativa de vida, e, consequentemente, a população idosa do Brasil, declarou ele, em entrevista concedida em 2018 àquele diário amazonense.

Nova realidade – Passados 65 anos desde a divulgação da curiosa manchete, houve uma alteração drástica nos serviços básicos oferecidos à população brasileira. Hoje, uma pessoa com 42 anos faz parte do grupo da vida adulta final (ou tardia), que reúne aqueles com idades de 40 a 59 anos. A partir dos 60 anos, o indivíduo entra na terceira idade e é beneficiado pelo Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003). [Do editor: a vida adulta jovem (ou inicial) começa aos 18 anos e vai até os 25 anos; já dos 25 aos 40 anos, é um período denominado vida adulta intermediária, ou plena.]

O Pr. Júlio Vinicius Paz aconselha os cristãos que se sentem inseguros em buscar o bem-estar físico por medo de cair na vaidade: “Não é pecado desejar ter saúde ou boa aparência”
Foto: Arquivo pessoal

A cientista social Jacqueline Ziroldo define como segunda vida adulta o período em que pessoas com mais de 40 – e até mais de 50 anos – vivem de maneira ativa, produtiva e realizadora. Para ela, o avanço da ciência ampliou a expectativa de vida, permitindo que muitos encarem essa fase como uma nova etapa adulta, rompendo com a visão tradicional de velhice. A estudiosa lembra que, atualmente, mulheres de 60 anos estudam, consomem e movimentam a economia com autonomia. Em sua experiência acadêmica, ela identificou uma transformação comportamental e social em curso. “Elas criaram os filhos, trabalharam a vida inteira e, depois, voltaram a estudar, alcançando uma formação universitária com mais de 55 anos de idade. Chorei com elas e as abracei”, recorda-se Ziroldo. A cientista social reforça que existe uma nova dinâmica mental e comportamental; um movimento que está gerando um novo sistema social.

O Pr. Adriano Cruz do Nascimento enfatiza que a missão principal da Igreja é o cuidado espiritual, mas não há razão para deixar de lado a saúde do corpo físico: “Fortalece a autoestima e melhora a qualidade de vida”
Foto: Arquivo pessoal

Entretanto, ela reconhece que, apesar dos avanços na longevidade e na valorização do envelhecimento ativo, o etarismo ainda persiste na sociedade brasileira. Para Jacqueline, muitos jovens resistem a conviver com pessoas mais velhas ou a aceitar que alguém prestes a se aposentar queira recomeçar em outra profissão. Na opinião dela, os estigmas sociais continuam limitando as oportunidades e a valorização de quem tem mais de 60 anos, mesmo diante das novas possibilidades trazidas pela maior expectativa de vida. [Do editor: o etarismo se refere à discriminação, ao preconceito e a estereótipos com base na idade. É a prática de julgar ou tratar alguém de modo desigual devido à sua idade, afetando tanto jovens como idosos]

Corpo e espírito – No ambiente eclesiástico,amplia-se o alcance do discurso em favor da manutenção da saúde. Os líderes evangélicos vêm orientando os membros de suas igrejas acerca de como cuidar do corpo – sem perder o foco na vida espiritual. É o que prega, por exemplo, o Pr. Júlio Vinicius Paz, da Assembleia de Deus Nova Vida em Itapoã, na cidade de Vila Velha (ES). Formado em Nutrição, ele recomenda que os crentes, tanto homens quanto mulheres, adotem hábitos que contribuam para um envelhecimento saudável e produtivo. “Evite alimentos ultraprocessados e aqueles ricos em gordura saturada e açúcar. Invista em atividade física regular, sempre com orientação profissional. Isso faz toda a diferença”, orienta.

O Pr. Anderson Ferencz recorre à Bíblia para reafirmar a importância do cuidado físico, citando o capítulo 11 de Levítico, no qual Deus orienta o povo de Israel sobre alimentação: “Isso mostra a preocupação divina com a saúde”
Foto: Arquivo pessoal

O pastor aproveitou para aconselhar os cristãos que se sentem inseguros em buscar o bem-estar físico por medo de cair na vaidade. “Não é pecado desejar ter saúde ou boa aparência. Muitos têm receio de mudar e serem vistos como vaidosos, mas cuidar do corpo é tão legítimo quanto buscar metas em outras áreas”, garante Paz, citando o texto de 1 Coríntios 10.31 (Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus). “Cuide da sua saúde de modo que orar por ela só seja necessário diante do que está além do seu controle”, aconselha.

O Pr. Adriano Cruz do Nascimento, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Jardim Imperial, na cidade de São José dos Campos (SP), enfatiza que a missão principal da Igreja é o cuidado espiritual, mas não há razão para deixar de lado a saúde do corpo físico. “Muitas congregações têm incentivado a busca por uma vida saudável, promovendo caminhadas, exercícios e até tutoriais de maquiagem e vestuário durante os encontros de mulheres. Isso fortalece a autoestima e melhora a qualidade de vida”, observa o ministro, destacando que o foco deve ser o ensino da Palavra. “Cuidar do corpo é importante, porém isso jamais deve substituir o culto a Deus ou o tempo com Ele. Somos templo do Espírito Santo (1 Co 6.19)”, recorda-se ele, esclarecendo que é preciso ter em mente que, para cumprir nossa missão espiritual, não podemos negligenciar a saúde física.

O empresário Naor Alves de Lima enxerga o envelhecimento sob uma nova perspectiva, menos associada à limitação e mais conectada à vitalidade e ao propósito: “Envelhecer é inevitável. Ficar velho é opcional”
Foto: Arquivo pessoal

Fazendo coro com Adriano Nascimento, o Pr. Anderson Ferencz, da Igreja da Graça em Dom Pedro II, também em São José dos Campos (SP), recorre à Bíblia para reafirmar a importância do cuidado físico. “No capítulo 11 de Levítico, Deus orienta o povo de Israel sobre alimentação. Isso mostra a preocupação divina com a saúde”, pontua Ferencz, citando o que declara Salomão em Provérbios 17.22: O coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido virá a secar os ossos.

Amor à vida – Aos 65 anos, o empresário Naor Alves de Lima enxerga o envelhecimento sob uma nova perspectiva, menos associada à limitação e mais conectada à vitalidade e ao propósito. “Envelhecer é inevitável. Ficar velho é opcional”, afirma, acrescentando que procura manter seu espírito jovem. “Faço exercícios ao ar livre, vou à academia, viajo de moto, mantenho amizades, inclusive com pessoas mais jovens, e cultivo um bom relacionamento conjugal. Acima de tudo, não desisto de viver”, relata ele, que é membro da Igreja Caminho da Graça na Praia do Canto, em Vitória (ES).

A Pra. Isildinha Muradas diz que, atualmente, com os avanços da Medicina e da vacinação, houve um aumento da expectativa de vida
Foto: Arquivo pessoal

Para Naor, os diagnósticos precoces, os medicamentos modernos e a melhoria das condições de atendimento nas unidades de saúde (tanto público quanto privado) têm proporcionado uma nova “performance” para a terceira idade. “Tenho acompanhamento médico regular, adoto uma alimentação mais equilibrada e procuro informações sobre como melhorar minha qualidade de vida”, enumera o empresário. Por outro lado, ele frisa que alguns desafios podem comprometer um envelhecimento saudável, como o impacto das redes sociais, as crises ambientais (o aquecimento global e os eventos climáticos extremos, por exemplo) e a ansiedade crescente.

O empresário também ressalta que a Igreja tem o desafio de acolher e orientar uma população cada vez mais envelhecida. “Não estou alheio às dores paralisantes que alguns vivem. Porém, conheço gente que teria condições de cultivar melhores hábitos para aproveitar mais a velhice, mas prefere o sofá e a reclamação”, critica Naor, lembrando que todos precisam tomar posse da promessa citada pelo profeta Isaías: Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão (Is 40.31).

Há muito tempo, 42 anos deixou de ser terceira idade no Brasil: agora, “velhinhos” e “velhinhas” vivem cerca de três décadas a mais
Foto: Ahmed elmaslamani / Adobe Stock

No universo feminino, sobram argumentos que explicam porque muitas mulheres parecem estar envelhecendo com muito mais saúde e vitalidade hoje em comparação com a década de 1960. “O primeiro motivo foi o êxodo rural. Quando elas deixaram de trabalhar nas lavouras, expostas ao sol, ao frio e à chuva, o envelhecimento da pele e o desgaste físico precoce diminuíram significativamente”, aponta a Pra. Isildinha Muradas, líder do Ministério Sonho de Deus, no Centro de Taubaté (SP). “O segundo fator está relacionado à transformação cultural, que impulsiona o autocuidado feminino. Com mais mulheres estudando, trabalhando e ocupando espaços sociais, cresce também o interesse por bem-estar e pela aparência. E a indústria de cosméticos acompanhou esse movimento, oferecendo produtos mais acessíveis e eficazes”, ressalta a pastora. Ela acrescenta que, atualmente, com os avanços da Medicina e da vacinação, houve um aumento da expectativa de vida, especialmente ao reduzir as mortes precoces – causadas por partos e condições de trabalho exaustivas.

Isildinha Muradas, assim como os demais personagens ouvidos nesta reportagem, entende que, conforme revela a Palavra de Deus, a velhice não representa perda de valor ou utilidade: faz parte do curso natural da vida e é entendida como um tempo de honra e sabedoria acumulada – um período precioso, dedicado ao serviço do Reino, que servirá de legado de fé às novas gerações. Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos e temam o seu Deus. Eu sou o Senhor (Lv 19.32 – NVI).


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