Confiança em Deus
15/01/2025MISSÃO DESAFIADORA
Pastores e teólogos ressaltam a responsabilidade dos pais na educação religiosa dos filhos e orientam o que fazer quando estes se afastam do Evangelho
Por Evandro Teixeira
Uma das maiores preocupações dos pais cristãos é que os filhos não permaneçam nos caminhos do Senhor. No entanto, as Escrituras Sagradas declaram no conhecido texto de Provérbios 22.6 (ARA): Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele. Esse versículo sugere que, se houver uma boa condução, os rebentos trilharão os mesmos passos de fé de seus pais. Porém, sobretudo na juventude, alguns fazem escolhas diferentes dos genitores, inclusive seguindo outras crenças. Ao se depararem com esse tipo de problema, muitos pais se questionam em que erraram e, simultaneamente, buscam soluções a fim de os filhos retornarem à presença de Jesus.
O Pr. Fábio Silva Monteiro, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Lagoa Santa (MG), reconhece que educacar as crianças não é uma tarefa fácil. Ele lembra que os pequenos possuem um tempo próprio para assimilar os ensinamentos. Nos sete primeiros anos de vida, por exemplo, eles têm uma dependência emocional maior dos pais. Por tal motivo, o pregador pensa ser tão importante que os responsáveis estejam sempre presentes. “Os momentos entre pais e filhos precisam ser de qualidade com capacidade para criar memórias afetivas”, explica. Monteiro recomenda que os pais, durante o processo educacional, realizem autoavaliações a fim de reconhecerem possíveis falhas. “Sempre dá tempo de fazer correções e modificar as atitudes”, assegura. Ele também ressalta que essas mudanças devem ocorrer antes de o filho chegar à idade madura, quando, em tese, as intervenções paternas têm menor influência. Entretanto, salienta que, com a sabedoria do Alto, em qualquer etapa, é possível reverter um quadro adverso. “Quando buscamos a Deus de todo o coração, dando a Ele liberdade para nos ensinar, o Senhor nos mostra como devemos prosseguir”, conclui.
Exemplo dos pais – O teólogo Welfany Nolasco Rodrigues afirma que, biblicamente, a responsabilidade dos pais não se resume apenas a ensinar sobre Deus, mas também a vivenciar os princípios cristãos no dia a dia. “É preciso haver consistência entre ensinamentos e práticas diárias”, frisa ele, citando o texto de Tiago 1.22. Além disso, segundo o estudioso, é importante estabelecer um ambiente favorável para o desenvolvimento espiritual dos filhos. Rodrigues reconhece que a igreja oferece um suporte relevante para a educação religiosa, mas esclarece que o lar é o primeiro e mais influente espaço de aprendizado. “O tempo que as pessoas passam no templo é muito pequeno se comparado com a interação social e familiar”, atesta, observando que a educação espiritual deve ser adaptada à idade e ao nível de maturidade dos filhos, tendo o seu início na infância e sendo desenvolvida até a fase adulta.
Ao compartilhar dessa mesma perspectiva, a teóloga Marisa Doreto da Silva pontua que, se a didática não for adequada, mesmo que a criança tenha uma boa estrutura em casa e na igreja, os ensinamentos podem não gerar raízes. Ela afirma que os pais devem acompanhar os pequeninos sempre que possível, ainda que a programação seja direcionada ao departamento infantil da igreja. “Alguns pais apenas levam as crianças ao templo, mas não permanecem lá”, observa Marisa, deixando claro que, em algum momento, quando os filhos desenvolverem maior discernimento, poderão questionar essa ausência, uma vez que o investimento na educação religiosa recai sobre pai e mãe. Em razão disso, a teóloga considera que, dependendo da situação, a liderança da igreja deve advertir esses pais caso esse comprometimento seja negligenciado ou transferido deliberadamente para terceiros. Essa falha, sublinha Marisa, reforça a importância de os pais manterem a coerência entre discurso e prática. Ela defende que a melhor forma de ensinar é pelo exemplo: “Os filhos podem até não ouvir o que os pais falam, mas certamente veem o que fazem”. A teóloga assinala que é fundamental haver repetição no processo de assimilação. “Para mostrar a uma criança o que significa orar, temos de orar com ela. Assim, devemos proceder com todas as práticas cristãs”, assevera.
Na opinião do Pr. Alexandro Pereira dos Santos, da Igreja da Graça em Imbariê, Duque de Caxias (RJ), antes de desviar da fé, os filhos dão sinais de que há algo errado acontecendo; portanto, é primordial saber qual é a motivação de eles irem à casa do Senhor. Santos observa que, às vezes, eles participam dos cultos apenas porque são levados. E, dessa maneira, dificilmente irão desenvolver uma comunhão com Deus. “Os pais precisam estar atentos em como amparam os filhos espiritualmente”, alerta, acrescentando que, quando os filhos estão atentos às práticas cristãs dos pais, alinhadas à Bíblia, raramente se afastam de Jesus, fazendo menção às palavras de Paulo sobre o jovem Timóteo: Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti (2 Tm 1.5).
Atenção e cuidado – Já o educador Wilton Joscel, membro da Igreja Batista Luz, em Nova Iguaçu (RJ), expõe que os questionamentos tendem a se intensificar na passagem da adolescência para a juventude. Ele declara que, nesse período, os filhos dão início a um processo natural de ruptura identitária, quando é despertado neles o desejo de se diferenciar da família e se assemelhar aos “amigos”. Na visão do profissional, no meio dessa “desidentificação”, eles podem despertar interesse até por outra religião. Embora pareça assustador, destaca Joscel, é indispensável que os pais não se desesperem. “É preciso que os pais iniciem um trabalho de resgate e, oportunamente, reforçar, durante as conversas, todos os ensinamentos recebidos em casa. Nessa hora, calma, fé, respeito e oração são cruciais para que ninguém se perca.”
Para o educador, se mesmo assim o filho abandonar os ensinamentos de Deus transmitidos pela família, ficará nítido que ele não compreendeu o que lhe foi passado. Ou, se entendeu, os ensinamentos podem ter sido insuficientes para atender às suas necessidades espirituais. Entretanto, Wilton Joscel incentiva os pais a não desistirem, e sim agirem prudentemente com o filho, principalmente se este morar com eles. “Expulsá-lo de casa, o que alguns podem pensar em fazer, não é uma boa opção”, afirma o pedagogo, indicando que o filho precisa ser posto dentro do coração dos pais, lugar em que pode se reencontrar com o Criador. “O amor sempre gera bons resultados”, finaliza.
Pensamento semelhante tem o Pr. Roberto José Inácio, líder da Assembleia de Deus Philadelfia, no Anil, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). Ele ratifica que os pais precisam estar atentos aos filhos, porque, durante o crescimento, estes recebem diferentes tipos de influência, seja na escola, seja em outros lugares. Por tal razão, acentua que os pais devem viver cada etapa do desenvolvimento dos filhos, atuando como “pedagogos”. “Nossa responsabilidade, como pais, é conduzi-los aos princípios sábios da vida moral, intelectual e espiritual, para que, em tempo algum, eles se desviem da Palavra.”
O ministro do Evangelho admite que, frequentemente, devido à rotina agitada dos adultos, incluindo as atividades na obra de Deus, os pais não acompanham adequadamente os filhos. As etapas da vida passam sem que eles percebam, e, quando se dão conta, os filhos absorveram, como esponjas, tudo o que lhes foi apresentado. “Infelizmente, isso pode levar a um desvio de caminho. Na jornada cristã, por vezes, cuidamos demasiadamente dos filhos espirituais e nos esquecemos dos de casa”, acentua Inácio, mencionando a advertência de Paulo: Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel (1 Tm 5.8).
Confiança e fé – Para o Pr. Ivomar Florêncio de Andrade, líder regional da IIGD em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo (SP), os pais precisam ser perseverantes na missão de conduzir espiritualmente os filhos. “É importante nos dedicarmos na aplicação de estudos bíblicos para eles”, exemplifica o pregador. Ele enfatiza que deve haver convicção daquilo que apresentam aos pequenos, sobretudo, na promessa de Atos 16.31: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.
Ivomar Florêncio declara que, mesmo que um filho abandone o Evangelho, os pais devem se manter firmes na fé, sabendo que são as pessoas mais interessadas e capacitadas para resgatá-lo. “Além de orar constantemente, sempre que tiverem oportunidade, devem falar acerca da Palavra,” ensina, destacando que é o Senhor quem convence o homem dos pecados. “Se os pais têm se empenhado no resgate do filho, e, aparentemente, a resposta esteja demorando, é necessário manter a esperança viva e aguardar o agir de Deus, conforme o que está escrito em Lamentações 3.26: Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do SENHOR”. O pastor cita também Lucas 15, que retrata a parábola do filho pródigo, e garante que, mesmo distante, ele não se esqueceu totalmente do que aprendeu em família. “Tomando sábia decisão, aquele rapaz retorna para casa, para os braços do Pai, ganhando novas vestes e um anel de honra. Os pais, conscientes de que dão uma boa orientação, podem confiar que uma hora os filhos voltarão para os caminhos do Altíssimo,” completa.