Honrar a Deus reflete obediência e produz abundantes bênçãos

Por Lilia Barros*

Na Bíblia, o conceito de honra desempenha um papel crucial nas relações interpessoais, na comunhão com Deus e no testemunho cristão diário. Segundo as Sagradas Escrituras, esse princípio não se limita a um simples respeito ou admiração, envolve também um compromisso profundo com a dignidade e a valorização do próximo. Tal prática, fundamental na caminhada cristã, abrange tanto o reconhecimento da grandeza do Criador como atitudes que O glorifiquem. Alguns personagens bíblicos, ao honrarem o Senhor, tiveram suas histórias registradas no Livro Santo.

Enoque, pai de Metusalém, é descrito no Texto Sagrado como alguém que agradou ao Altíssimo e não passou pela morte: E viveu Enoque sessenta e cinco anos e gerou a Metusalém. E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Metusalém, trezentos anos e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou (Gn 5.21-24). O escritor da carta aos Hebreus afirma que, pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus o trasladara, visto como, antes da sua trasladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus (Hb 11.5).

A Bíblia registra outros exemplos de honra ao Criador, como o de Abraão, considerado o “pai da fé”, que obedeceu ao chamado do Senhor (Gn 17); Moisés, que conduziu o povo de Israel pelo deserto e avistou a Terra Prometida (Dt 34.1-4); Josué, discípulo e sucessor de Moisés, que guiou o povo na conquista de Canaã (Js 3.1-6; 17; 4.23,24); e o profeta Daniel e seus amigos, que demonstraram fidelidade a Deus ao não provarem dos manjares reais (Dn 1.8) nem se curvarem a outros deuses (Dn 3.12; 18; 28).

“Expressão viva” – O Pr. Glalter Garcia Justo Rocha, professor de Aconselhamento Bíblico na Escola Avalanche de Missões Urbanas, no Centro de Vitória (ES), explica que o termo hebraico kavod, traduzido como honra no Antigo Testamento, transmite a ideia de peso ou importância. “Honrar significa o valor que Deus atribui às pessoas, às instituições e a Si mesmo”, afirma. Para o pastor, o cristão, ao valorizar e respeitar aqueles que o Pai celestial coloca em sua vida, está agindo em obediência. Rocha defende que praticar esse princípio bíblico é um ato de fé que diferencia os cristãos em um mundo no qual o desrespeito ao próximo e a desvalorização são comuns. “Afinal, essa virtude não é apenas um mandamento, mas também uma expressão viva do caráter de Cristo em nós.”

O escritor cristão Ricardo Albuquerque observa que, muitas vezes, honrar é uma atitude negligenciada em uma sociedade marcada pelo individualismo e pela irreverência. “As Sagradas Escrituras ensinam que a honra deve ser cultivada com as autoridades, os irmãos na fé e os líderes espirituais, tendo Deus acima de todos”, pontua. Albuquerque também enfatiza a importância de dar atenção e suporte àqueles que desempenham papéis menos visíveis – pessoas que servem aos necessitados, aos novos na fé ou a quem enfrenta dificuldades. “Isso reflete a lógica do Reino dos Céus, onde os últimos serão os pri­mei­ros (Mt 20.16) e o maior deve servir ao menor (Mc 10.43-45)”, sinaliza o autor, destacando que a honra na igreja não deve ser distribuída com base em aparência, status ou função. “Deve refletir o amor e a justiça de Deus, reconhecendo e valorizando todos.”

Na opinião de Ricardo Albuquerque, é preciso ter cautela, pois, em algumas situações, a honraria pode resultar em privilégios ou distinção. Por isso, é fundamental que não seja transformada em uma reverência indevida. Ele frisa que a Bíblia adverte sobre os riscos de exaltar os homens além do que é devido, já que somente Deus é digno de adoração (Êx 34.14; Ap 22.8,9). “Quando alguém é honrado, por causa de um chamado ministerial, uma posição de autoridade ou feitos notáveis, devemos sempre lembrar que toda a glória pertence a Deus”, frisa o escritor, citando Isaías 42.8 e 1 Coríntios 10.31. Para o autor, é igualmente necessário ressaltar a importância de honrar os pais ao longo da vida – o que implica respeitar e ouvir seus conselhos, cuidar deles com gratidão, especialmente na velhice, evitando a indiferença. “Seguir esse exemplo reflete o amor de Cristo. Mesmo na cruz, Ele Se preocupou em garantir que Sua mãe fosse amparada”, frisa Ricardo, referindo-se à passagem de João 19.26,27: Ora, Jesus, vendo ali sua mãe e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.

Honraria familiar – O gesto do estudante Lorenzo Monfardini, 22 anos, ao honrar seu pai, Jefferson Gomes Monfardini, 49, durante sua formatura na Universidade Federal de Ouro Preto (MG), em dezembro de 2024, reforçou os ensinamentos registrados em Romanos 13.7: Portanto, dai a cada um o que deveis: […] a quem honra, honra. A atitude do jovem, recém-formado em Engenharia de Produção, emocionou o Brasil e viralizou nas redes sociais. A fim de homenagear o pai – que há mais de duas décadas trabalha no setor comercial de uma distribuidora de gás e que lutou para proporcionar ao filho uma boa educação –, Lorenzo carregou um botijão sobre os ombros enquanto caminhava até a plataforma para receber seu diploma. Senti que precisava representar isso de alguma maneira. Foi uma emoção indescritível, compartilhou o formando, em entrevista ao site G1, completando que se emocionou ao reencontrar o pai ao fim daquele evento. A cena do meu pai, vindo em minha direção todo orgulhoso, abraçando-me e pulando, ficará comigo para sempre.

Honra também é, porque não dizer, um assunto relacionado à linhagem familiar. Antigamente, o sobrenome era transmitido de geração em geração com a crença de que tal título ancestral significava poder, respeito e agradecimento. É o caso de Vera Lúcia de Souza Lima, 47 anos, que recebeu o mesmo nome da mãe por escolha de seu pai, Romildo de Souza, 79 anos. Esse foi o modo que o aposentado encontrou para homenagear a esposa, falecida há 36 anos, quando a menina tinha apenas 11 anos. “Esse gesto é uma demonstração grandiosa de honra. É bonito saber que, por amor a uma mulher, um homem decide dar o nome dela à filha, como fez o meu pai”, expressa, emocionada, a operadora de caixa Vera Lúcia, membro da Igreja Batista em Rancho Novo, na cidade de Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense.

O Pr. Rogério Lopes, da Assembleia de Deus Quality Of Life in Christ no bairro de Nazareth, na cidade de Vitória (ES), salienta que existem diversas formas de expressar honra, seja ao Criador, seja ao próximo. “Uma delas é reconhecer publicamente as qualidades, as habilidades e o caráter do outro”, explica o líder, mencionando a atitude do rei Assuero (ou Artaxerxes) da Pérsia. O monarca ordenou que Hamã colocasse em Mardoqueu o anel-selo, fizesse-o montar em um cavalo da realeza, usar o cetro e a coroa reais e percorrer as ruas, enquanto era apregoado diante dele: Eis a forma como o rei honra quem verdadeiramente lhe agrada (Et 6.1-12).

Lopes recordou também um exemplo de honra a Deus: o rei Salomão. Na inauguração do templo, ele ofereceu mil bois em sacrifício como forma de reverenciar o Todo-Poderoso pela construção da casa do Senhor e pelo privilégio de poder erguer aquela edificação (2 Cr 1.6). “Houve louvores, celebrações e uma grande refeição para o povo, e Salomão reinou com justiça”, assinala o ministro assembleiano. Na visão dele, a melhor maneira de honrar o Altíssimo é seguir Suas diretrizes, estabelecidas na Palavra, obedecendo aos Seus mandamentos, os quais ensinam a prática da honestidade, da pontualidade, do respeito e do temor.

Lei do retorno – Para o Pr. Alex de Lima da Silva, líder da sede regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em São José dos Campos (SP), a honra é um dos princípios bíblicos associados à recompensa divina. “Biblicamente, honrar a Deus com as primícias, por exemplo, é uma ação que vem acompanhada de uma promessa de prosperidade”, afirma o ministro, mencionando Provérbios 3.9: Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as primícias de toda a tua renda. Segundo ele, o crente em Jesus não pode se esquecer de que as autoridades – pais, governantes, professores, pastores – devem ser honradas, pois foram estabelecidas pelo Todo-Poderoso, conforme declara o apóstolo Paulo em Romanos 13.1,2: Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. “Cada pessoa merece tratamento honroso por aquilo que significa, pelo que fez pelo outro ou pela posição que ocupa. Não respeitar o princípio da honra nos impede de vivenciar as bênçãos que a acompanham”, assevera Silva. Para ilustrar, o pastor lembrou o ocorrido em Nazaré, cidade onde Jesus cresceu, mas que não foi cenário de milagres e maravilhas. Embora tenha vivido grande parte da Sua vida naquela região, Cristo não foi honrado, pois o povo não O reconheceu como o Messias. “Diante da atitude das pessoas, Ele afirmou que o profeta não tem honra em sua própria terra. Como resultado, o lugar não experimentou os sinais de Jesus.”

Citando a conhecida passagem de 1 Samuel 2.30 (Honrarei aqueles que me honram, mas aqueles que me desprezam serão tratados com desprezo – NVI), a Pra. Maria Sandra da Silva Garcia, da Igreja da Graça em Cachoeiro de Itapemirim (ES), ressalta: “Honrar a Deus representa a garantia da lei do retorno, desencadeando benefícios abundantes para a vida do cristão, o qual experimenta o cuidado e a intervenção do Senhor.”

Opinião semelhante tem o Pr. Daniel Silva, líder regional da IIGD em Venda Nova, na cidade de Belo Horizonte (MG). Ao ser entrevistado por Graça/Show da Fé, ele mencionou uma circunstância clara da aplicação da lei do retorno. “O profeta Eliseu, que se dedicou a honrar Elias e o Todo-Poderoso, viu seus celeiros se encherem de unção e virtude vindas do Onipotente para a sua vida”, declarou Silva, referindo-se à passagem de 2 Reis 2.1-14. O pastor lembra que as ofertas são um modo de exaltar o Criador, conforme registrado em Provérbios 3.9,10. “Ao ofertarmos, expressamos nosso louvor e nossa gratidão, o que nos permite experimentar a provisão divina.”

Segundo Silva, as Sagradas Escrituras nos ensinam que a honra deve ser direcionada aos mais fracos, aos vulneráveis ou aos menos reconhecidos, como menciona o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12.22-26, porque estes precisam do cuidado e do auxílio daqueles que têm a capacidade de oferecê-los, agradando, assim, a Deus. “Devemos honrá-los, mas com a consciência de que todos são membros de um mesmo corpo”, conclui o ministro, relembrando as palavras de admoestação paulina aos Romanos: Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros (Rm 12.10).

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