
Minha Resposta – 310
02/05/2025
Por Marcelo Santos
Nascido em 1906, nos Estados Unidos, o movimento pentecostal chegou ao Brasil quatro anos depois, com a vinda de missionários como os suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, fundadores da Assembleia de Deus. Desde então, o pentecostalismo cresceu exponencialmente, tornando-se um dos maiores fenômenos religiosos do país. Incorporou elementos da cultura nacional e se destacou por apresentar uma vibração espiritual e uma mensagem que ressaltava as necessidades do povo. Essa história, seus desdobramentos e o pensamento pentecostal no Brasil vêm sendo objetos de estudo do pastor e teólogo Weder Fernando Moreira, 32 anos.
Casado com Ester, 32, e pai do pequeno Tito, de apenas quatro anos, ele defende a tese de que o avivamento vai além de manifestações emocionais: trata-se de uma intervenção divina que gera arrependimento, renovo espiritual e despertar evangelístico. “É um mover contínuo e transformador que começa com a oração e a Palavra, mas impacta comunidades inteiras”, destaca Weder, líder da Catedral Assembleia de Deus em Igarapava (SP), no interior paulista.
Seu interesse pelo tema vem desde cedo: filho de pastor, Moreira buscou, ainda na adolescência, “saber a razão de sua fé”. Por isso, graduou-se em Teologia e Pedagogia, especializou-se em Grego do Novo Testamento, realizou estudos aprofundados sobre a cultura judaica e helênica e publicou oito livros, incluindo Anatomia do Pentecostes e Descortinando a cultura do Messias. Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, ele aborda a essência do avivamento espiritual no contexto pentecostal, os desafios da Igreja brasileira e o papel social desse movimento.
Quais são os principais elementos que caracterizam um avivamento espiritual?
Na perspectiva pentecostal clássica, trata-se de uma intervenção extraordinária do Senhor: quando a Sua presença se manifesta de maneira poderosa e inquestionável. O resultado é uma profunda transformação espiritual, marcada por arrependimento genuíno, renovação da fé e mudança de vida. O verdadeiro avivamento traz elementos, como a fome intensa por Deus e pela Sua Palavra, um desejo ardente por comunhão com Cristo e com os irmãos, um renovo espiritual e um despertar evangelístico e missionário. Essas características indicam que o avivamento não é apenas um momento de emoção, mas também um mover contínuo e transformador na Igreja.
O que não é avivamento?
Muitas vezes, confunde-se avivamento com manifestações espirituais em cultos. Mas, no pentecostalismo clássico, é algo mais profundo. Embora possam ocorrer, essas manifestações não são a essência do avivamento, que também não pode ser confundido com emocionalismo – apesar de este, em alguns casos, acompanhar experiências verdadeiramente genuínas.
Qual é a relação entre a Teologia Pentecostal e as necessidades espirituais do Brasil?
O pentecostalismo respondeu tanto às demandas espirituais quanto sociais do povo brasileiro. Sustentado pelo Espírito Santo, ele trouxe uma liturgia espontânea e participativa, alinhada à cultura nacional, e ofereceu esperança escatológica com a mensagem da volta de Cristo. No aspecto social, reafirmou o cuidado divino por todas as dimensões da vida humana, inspirando transformação e superação, especialmente entre os mais vulneráveis.
O pentecostalismo brasileiro possui características singulares?
Sem dúvida. Há características únicas do movimento, que são o resultado tanto das particularidades culturais do país quanto de sua ampla extensão territorial. No Brasil, a transmissão do conhecimento pentecostal tem sido predominantemente oral, o que difere, por exemplo, dos Estados Unidos, onde a literatura teológica sempre desempenhou um papel central. Essa ênfase na oralidade significa que muito da doutrina pentecostal é aprendida nos púlpitos, por meio de sermões e ensinamentos, embora tenha havido, nos últimos anos, um esforço crescente para ampliar a produção literária. Outro aspecto singular é a ênfase escatológica. Os pentecostais brasileiros, frequentemente, pregam sobre o retorno de Cristo, tornando essa expectativa parte integral da vida eclesiástica. Tal característica, além de alimentar a esperança dos servos de Deus, influencia diretamente as suas práticas diárias e a sua visão de mundo.
Qual é o papel da Igreja no Brasil na promoção de um avivamento espiritual genuíno?
Embora o avivamento seja, acima de tudo, um presente gracioso do Senhor à Sua Igreja, a responsabilidade de buscá-lo cabe ao povo de Deus. Historicamente, os grandes avivamentos ocorreram em contextos de oração fervorosa e contínua, aliados à exposição fiel das Escrituras, que devem ser priorizados pela Igreja no Brasil. O clamor cria um ambiente propício para que o Espírito Santo opere, enquanto a Palavra sustenta e direciona os fiéis. Além disso, é fundamental que a congregação promova a comunhão entre os irmãos, pois um avivamento genuíno não é individual, e sim comunitário, impactando tanto a vida da Igreja quanto a sociedade ao redor.
Poderia dar exemplos da influência do pentecostalismo nas transformações sociais e culturais do Brasil?
O impacto do pentecostalismo na sociedade brasileira é inegável. Ele trouxe uma mensagem de esperança que mudou perspectivas e realidades. Escatologicamente, a pregação constante da volta de Cristo dá ao povo um senso de propósito eterno. Socialmente, a ênfase na transformação de vida impulsionou avanços educacionais, econômicos e culturais. Muitos que, anteriormente, viviam em situações de extrema vulnerabilidade experimentaram ascensão social, evidenciando o impacto da mensagem pentecostal. Um exemplo claro é a representatividade das mulheres negras pentecostais como o rosto predominante da fé evangélica no país, refletindo o alcance do movimento entre as classes populares e nas periferias.
Quais são os desafios da Igreja brasileira para manter a autenticidade do avivamento espiritual diante das pressões culturais e sociais contemporâneas?
Manter a chama do avivamento acesa exige esforço contínuo. Primeiro, a oração deve ser prioridade. Sem ela, o ardor espiritual se apaga, e a Igreja se torna estéril. Segundo, é indispensável um compromisso profundo com a Palavra, que é descrita como fogo em Jeremias 23.29. Por fim, a comunhão na casa de Deus é essencial. Em tempos de crescente desigrejamento, é vital resgatar a mensagem de Hebreus 10.25a (NVI): Não deixemos de nos reunir como igreja, segundo o costume de alguns.
Weder Fernando Moreira
Pastor, teólogo e autor