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Escolas evangélicas crescem no Brasil com uma educação apoiada na formação espiritual

Foto: Louis-Photo / Adobe Stock

Por Marcelo Santos

No Brasil, onde crises morais, emocionais e sociais afetam cada vez mais as famílias, cresce o número de pais e mães que buscam sistemas educacionais que vão além da grade curricular do Ministério da Educação, como os colégios confessionais. Dados da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI, a sigla em inglês) revelam a força dessa tendência: são mais de duas mil escolas cristãs no país – em sua maioria, evangélicas – que compõem um universo cada vez mais relevante no cenário educativo.

A diretora educacional da ACSI Brasil, Dilean Martins, afirma: “A Conferência Nacional de Educação (CONAE) 2024, que elaborou o novo Plano Nacional de Educação, trouxe propostas preocupantes para a sociedade cristã”
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

Na opinião da diretora educacional da ACSI Brasil, Dilean Martins, esse movimento é uma resposta clara a um momento de fragilidade ética e confusão de valores. “Vivemos um tempo em que muitos discursos sobre saúde mental e educação emocional têm tentado dar respostas humanas a questões espirituais. Cremos que só a Palavra de Deus pode nos tornar completos e nos proporcionar paz”, explica ela, acrescentando que, por isso, a instituição da qual faz parte forma “educadores que caminham com sabedoria e graça e que ensinam com base em uma cosmovisão [visão de mundo] bíblica”.

De acordo com Dilean, o trabalho da ACSI visa fortalecer a identidade das escolas cristãs e ampliar seu impacto na sociedade. “Promovemos eventos, congressos, clubes de leitura e encontros de professores por área do conhecimento, além de atuarmos ativamente nas redes sociais. Ensinamos ao coração do educador e oferecemos ferramentas práticas para serem usadas em sala de aula”, afirma a diretora. Ela ressalta ainda que a Associação, a qual participa também dos debates sobre políticas públicas, vê com apreensão o cenário atual. “A Conferência Nacional de Educação (CONAE) 2024, que elaborou o novo Plano Nacional de Educação, trouxe propostas preocupantes para a sociedade cristã. Nossa primeira resposta é a oração; a segunda, a mobilização e a divulgação. Precisamos estar vigilantes como Neemias: com um olho aberto enquanto dormimos.”

A professora e empreendedora Fabiana Luiz dos Santos testemunha: “Meus filhos estudaram em uma escola cristã, e sou grata pelos frutos que colhemos”
Foto: Marcelo Santos – modificada por IA

Conceitos aprendidos e vividos – O desejo de ver os filhos crescerem em ambientes que conciliem fé e educação de qualidade motivou a professora e empreendedora Fabiana Luiz dos Santos, 43 anos, a escolher um colégio confessional. “Meus filhos estudaram em uma escola cristã, e sou grata pelos frutos que colhemos. Eles aprenderam valores, como empatia e responsabilidade, e os aplicaram no dia a dia por meio do respeito ao próximo, sendo sensíveis ao sofrimento do outro e entendendo que a fé está ligada à prática, não só ao discurso.”

A pedagoga Aldivani dos Santos Soares afirma: “A fé cristã me inspira a ver cada criança como uma criação de Deus, com dons e potencial, e isso muda a maneira como cuidamos, acolhemos e ensinamos”
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

Educadora há mais de 20 anos, Fabiana percebeu que os valores cristãos se entrelaçavam com cada disciplina. “Foi marcante ver que os princípios cristãos estavam presentes em tudo: da Matemática à Educação Física. A forma como os conflitos eram resolvidos, o acolhimento dos professores e o cuidado com cada aluno refletiam um compromisso com o Evangelho”, descreve ela, observando que a instituição de ensino cristã fortalece a identidade das crianças e dos adolescentes. “Para mim, a escola foi uma parceira. Meus filhos cresceram com uma base sólida, sabendo quem são, em quem creem e por que vivem. Isso é precioso demais”, declara.

A professora de inglês Adriane Barreira garante: “Quando os valores bíblicos são integrados ao conteúdo, os alunos desenvolvem caráter, empatia, senso de justiça e cooperação. Eles aprendem não apenas para si, mas para servir melhor a Deus e à humanidade”
Foto: Arquivo pessoal

A pedagoga Aldivani dos Santos Soares, 36 anos, membro da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Cidade Ademar, zona sul de São Paulo (SP), esclarece que, na primeira infância, a educação exige ainda mais sensibilidade. Atuando em uma escola para crianças até cinco anos, ela acredita que educar nessa fase é um ato de amor que deve ser guiado por princípios espirituais. “A fé cristã me inspira a ver cada criança como uma criação de Deus, com dons e potencial, e isso muda a maneira como cuidamos, acolhemos e ensinamos”, afirma a educadora, destacando que os valores são transmitidos mais por atitudes do que com palavras. “Ensinar respeito é incentivar a escuta e o cuidado com o outro. Ensinar perdão é mostrar que todos erram, mas é sempre possível recomeçar. Tudo isso se aprende com o exemplo. Minha fé não fica fora da sala de aula: ela está em todas as minhas ações com os pequenos.”

Com quase três décadas de experiência no ensino de Inglês, Adriane Barreira, 56 anos, professora em uma escola confessional cristã em Bauru (SP), afirma que a espiritualidade influencia diretamente o desempenho e o comportamento dos estudantes. “Quando os valores bíblicos são integrados ao conteúdo, os alunos desenvolvem caráter, empatia, senso de justiça e cooperação. Eles aprendem não apenas para si, mas para servir melhor a Deus e à humanidade”, garante a mestra, assinalando que a rotina escolar é cuidadosamente planejada. “Iniciamos o dia com oração entre os professores e com as turmas. Temos aulas de religião, semanas temáticas, eventos com os pais e ações solidárias. Isso transforma o clima da escola. Assim, o respeito, a solidariedade e o amor ao próximo se tornam vivências diárias.”

A enfermeira Juliane Alessandra Pereira da Silva pontua que o bom ambiente escolar fortaleceu o testemunho de fé de suas filhas, nascidas em um lar cristão: “Elas oram com as amigas que estão passando por dificuldades”
Foto: Arquivo Graça / Marcelo Santos

A experiência da enfermeira Juliane Alessandra Pereira da Silva, 42 anos, mãe de Isabella, 16, e Maria Clara, 14, reforça o discurso de Adriane Barreira. “A nossa história começou por indicação de outros pais da Igreja. Conheci a escola e percebi que era um lugar com princípios cristãos, que incentiva a prática do Evangelho de maneira simples e acolhedora, com orações nas salas de aula e devocionais diários”, relata ela, que frequenta a sede da IIGD em Mauá (SP), região metropolitana da capital paulista. Casada com o Pr. Sérgio Murilo, ela pontua que o bom ambiente escolar fortaleceu o testemunho de fé de suas filhas, nascidas em um lar cristão. “Elas já tinham uma base, mas percebo que há frutos abençoados. Elas oram com as amigas que estão passando por dificuldades, incentivam a fé e demonstram comportamento e postura que revelam princípios sólidos.”

Indagada sobre o equilíbrio entre ensino e fé cristã, Juliane é categórica. “Como mãe, a gente pensa em um pacote completo. A escola oferece material didático de qualidade e professores preparados, mas, sem dedicação e valores, isso não basta. No entanto, quando o aluno é guiado por princípios bíblicos, a colheita será excelente”, observa a enfermeira, frisando que os papéis da escola e da família são complementares. “Tudo é uma semeadura: a escola planta, fazendo a parte dela; nós, a família, plantamos também. Nosso objetivo é colher frutos que farão a diferença na sociedade.”

O Pr. Ronildo Cristo dos Anjos observa: “Há uma crise de identidade nas famílias, uma juventude carente de referência. O Evangelho tem poder de formar pessoas melhores, e impedir esse acesso é cortar as raízes morais da sociedade”
Foto: Arquivo pessoal

Um debate em curso – Por outro lado, se a vivência da fé nos colégios confessionais é estruturada e acolhida, as manifestações espontâneas de religiosidade nas escolas públicas têm gerado discussões. Em Pernambuco, de agosto a outubro de 2024, o Ministério Público do estado (MPPE) passou a receber reclamações e denúncias a respeito dos “intervalos bíblicos” – encontros promovidos por alunos evangélicos, durante o recreio, para ler a Bíblia, orar e cantar louvores. Apesar de a participação nas reuniões ser voluntária, o MPPE considerou que elas poderiam representar proselitismo religioso em ambiente público. Desse modo, cobrou da Secretaria de Educação o envio de cartilhas orientadoras para reforçar os limites entre o ensino religioso e a prática religiosa.

A interferência do MPPE foi criticada por líderes cristãos e por parte da sociedade civil, que viram na ação um cerceamento à liberdade de expressão dos estudantes. “Esses encontros começaram com jovens levando violão, compartilhando versículos e louvando durante o intervalo. Tudo de modo pacífico, sem obrigatoriedade. De repente, virou alvo de denúncia. O Brasil é laico, mas não é antirreligioso”, declara o Pr. Ronildo Cristo dos Anjos, 50 anos, da sede regional da Igreja da Graça em Vitória de Santo Antão (PE), distante 46 km da capital, Recife. Na opinião do ministro, a repressão da fé nas instituições públicas de ensino revela uma tentativa ideológica de calar a influência cristã. “Há uma crise de identidade nas famílias, uma juventude carente de referência. O Evangelho tem poder de formar pessoas melhores, e impedir esse acesso é cortar as raízes morais da sociedade.”

Foto: Rido / Adobe Stock

Ao longo das últimas décadas, esse debate em torno da fé nas escolas vem ganhando força e abrindo espaço para iniciativas que contemplam o ensino de valores bíblicos. É o caso da Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios (AECEP), fundada em 1997, que atua em diferentes regiões do Brasil orientando escolas que adotam a Abordagem Educacional por Princípios (AEP) – uma metodologia que integra currículo acadêmico e valores da Palavra de Deus com foco na formação ética e crítica dos alunos. Segundo André Lima, membro do Conselho da AECEP e responsável pelas publicações da instituição, as escolas cristãs por princípios representam uma continuidade histórica da atuação educadora da Igreja. “Educar, ensinar, emancipar a pessoa é um dos efeitos práticos do cristianismo. Hoje, a educação cristã escolar é uma volta às nossas raízes. É dar às famílias a opção de educar seus filhos segundo seus princípios, participando ativamente do processo”, avalia ele, que é historiador, teólogo, mestre em Educação por Princípios e doutorando em Educação pela Southeastern University, em Lakeland, na Flórida (EUA).

Coautor do livro Abordagem educacional por princípios: um primeiro olhar, editor-chefe da Editora Cristã Evangélica e consultor educacional, André Lima lembra que a escola cristã não deve isolar o aluno da realidade, mas prepará-lo para encará-la com discernimento. “A educação por princípios não é uma bolha. É um espaço de formação integral, onde o aluno aprende a avaliar ideias à luz das Escrituras”, explica ele, apontando que, atualmente, a formação dos professores ainda é um dos principais desafios enfrentados pelas escolas cristãs. “Nem sempre o educador chega preparado para atuar com uma cosmovisão bíblica. Por isso, temos investido em formação continuada, pós-graduação e cursos voltados para esse perfil. Ensinar com excelência e fidelidade à fé exige preparo”, afirma o mestre, salientando que a escola é uma extensão da formação que começa em casa e se nutre na fé. “Quando essa aliança é firme, os frutos são profundos na vida pessoal, familiar e social.”


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