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Foto: Arte sobre foto de arquivo pessoal

Dias de perseguição



Pastor explica o mesotribulacionismo, teoria pela qual o arreba­tamento repentino da Igreja ocorrerá em meio à Grande Tribulação

Por Patrícia Scott

Ao longo dos séculos, o estudo da escatologia bíblica – as doutrinas referentes às últimas coisas – tem gerado acalorados debates. Temas como a Grande Tribulação, o Arrebatamento, o Dia da Ira, entre outros, dividem os estudiosos que buscam compreender o que a Bíblia registra sobre os eventos que antecedem e sucedem a volta de Cristo. O Pr. Valdo Matos, 53 anos, da Comunidade Bíblica Moriá, em Taboão da Serra (SP), é um desses pesquisadores.

Por meio de seus estudos, ele tem chegado à conclusão de que o mesotribulacionismo – vertente escatológica a qual defende que a Igreja será arrebatada aos Céus no meio da Grande Tribulação (período em que haverá muito sofrimento) – é a que mais se aproxima da revelação das Escrituras Sagradas. Entretanto, segundo o pastor, tal nomenclatura não é a ideal, porque o período da Tribulação durará três anos e meio, sendo sucedido pelo Dia da Ira do Senhor, o qual terá igual extensão de tempo. “Seria adequado que chamássemos essa visão de Pós-Tribulacionismo ou Pré-Ira”, afirma o líder.

Nesta entrevista à Graça/Show da Fé, o Pr. Valdo Matos explica o que é a visão mesotribulacionista acerca dos eventos relacionados à Grande Tribulação, ao Arrebatamento e ao Dia da Ira do Senhor.

O que é o mesotribulacionismo?

As palavras gregas meso e midi significam no meio e entre. Assim, o mesotribulacionismo defende que a volta de Jesus se dará no meio do período de sete anos, quando ocorrerão os eventos escatológicos denominados Grande Tribulação e Dia da Ira, ambos com três anos e meio de duração. Suas bases se dão em uma construção teológica fundamentada em referências e inferências lógicas sobre o tempo dado para a ação do anticristo. Ao contrário do que pregam outras correntes teológicas, o período concedido a ele é de três anos e meio, e não de sete anos (conforme os textos de Daniel 7.25; 9.25; 11.45; 12.1; Apocalipse 11.3; 13.5; 18.20). O fim do anticristo se dará com o esplendor da vinda do Senhor, quando findará o seu tempo para agir no mundo.

Qual é a diferença entre o Dia da Ira do Senhor e a Grande Tribulação?

A Grande Tribulação é a perseguição aos santos, realizada pelo diabo por intermédio do anticristo. A Ira do Senhor é produzida por Deus contra o anticristo e aqueles que receberam a marca dele. No contexto escatológico, trata-se de uma resposta à Grande Tribulação, pois é a vingança do Altíssimo contra os inimigos dos separados para Deus. As diferenças entre esses dois eventos estão em Apocalipse 6.17, e em Mateus 24.29,30. Embora não o mencionem de forma explícita, esses textos falam da vinda do Senhor. A abertura dos primeiros cinco selos (Ap 6.1-11) revela a Grande Tribulação dos santos, mas só no sexto selo é que chega o Dia da Ira de Deus e do Cordeiro (Ap 6.12-17).

Quem sofrerá na Grande Tribulação?

Os ímpios não sofrerão (Ap 13.16, 17). Nesse período, quem receber a marca da besta terá privilégios, e não perseguição. Com a abertura do sexto selo, a situação se inverte, pois os santos serão poupados e os ímpios, mortos. É dessa vingança que os mártires perguntam em Apocalipse 6.10 [E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?]. Essa é uma prova de que a Grande Tribulação não é a Ira de Deus, e sim a fúria das nações contra os santos. A única resposta que recebem é que aguardem até que se complete o número dos que devem ser mortos. Só depois virá a Ira, a vingança.

Jesus estará na Terra para a execução do Dia da Ira do Senhor?

Sim, conforme Apocalipse 14.1,19,20; 16.14; 17.14; 19.15-19. Esses textos estão de acordo com Romanos 11.26 e Isaías 59.20, além de Ezequiel 38.22,23 e Zacarias 14.1-5. Sobre o que registra Apocalipse 14, há quem afirme que os 144 mil serão levados para o Céu. No entanto, o monte Sião fica na Terra, onde Jerusalém está estabelecida.

A Igreja passará pela Grande Tribulação?

A Grande Tribulação só ocorrerá porque os santos estarão na Terra (Mt 10.22). Se a Igreja fosse arrebatada antes desse evento, quem seriam os perseguidos? Os ímpios não, pois, uma vez que recebem a marca da besta, nada de ruim lhes ocorrerá (Dn 11.39; Ap 13.16,17). Em 2 Tessalonicenses 1.7,8, o apóstolo Paulo diz que o sofrimento da Igreja será até o tempo em que Jesus vier de forma visível, trazendo vingança. Portanto, a Igreja passará pela Tribulação.

Quando se dará o arrebatamento da Igreja?

Ocorrerá quando Jesus voltar para acabar com o poder do anticristo e implantar o Seu Reino na Terra. Ao retornar, Ele Se dirigirá para Jerusalém, a fim de lutar em favor de Israel, que estará invadido pelos exércitos do anticristo na metade da última semana mencionada pelo profeta Daniel. Nessa ocasião, o Messias ordenará aos Seus anjos que realizem dois tipos de ajuntamento: lançar para fora de Jerusalém todos os ímpios e levar para lá os salvos de todas as nações (Mt 8.11,12). Não há arrebatamento para o Céu. Paulo diz que o encontro entre Cristo e a Igreja se dará nos ares (1 Ts 4.14-18). Mas, nesse dia, o Senhor descerá para reinar. O Seu destino é Israel, em cumprimento de promessas descritas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Na parábola do joio e do trigo (Mt 13.24-30; 36-43), Jesus chama de Reino de Seu Pai (v. 43) um lugar em que o joio está plantado com o trigo. Nele, há muitos escândalos e muitas iniquidades, que devem ser arrancados primeiro. Só depois, a colheita se dará, o Arrebatamento. A parábola é escatológica e não pode estar falando do Céu, pois lá não há escândalos e iniquidades.

A Igreja não será arrebatada para o Céu?

Deve ser considerado o local em que Jesus estava quando disse que muitos virão do Oriente e do Ocidente (Mt 8.11), confirmando que o Reino será estabelecido na Terra, em Jerusalém, onde os salvos se reunirão. Os textos mencionados para destacar que a Igreja será levada para o Céu (Fp 3.20,21) devem ser observados a partir de contextos remotos. A futura pátria está no Céu (Hb 13.14), mas isso não significa que o nosso destino será lá, pois a cidade descerá do Céu, assim como o Senhor.

Valdo Matos
Pastor e pesquisador

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