Diante do envelhecimento da população brasileira, cabe à Igreja investir no cuidado dos idosos

Por Daniele Vieira

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a população global com mais de 60 anos deverá alcançar 2 bilhões de pessoas até 2050 – o que, dentro de duas décadas e meia, corresponderá a um quinto da humanidade. No Brasil, o Censo de 2022 indicou que 32,1 milhões de habitantes já têm 60 anos ou mais (15,8% da população). O Ministério da Saúde estima que, em 2030, o número de brasileiros idosos vai superar a quantidade de crianças de zero a 14 anos. Diante desse cenário, especialistas indicam que é necessário reavaliar e readequar, com urgência, as políticas públicas de modo a atender as demandas da terceira idade.

Na visão da geriatra Márcia Urbelino, o Brasil não está preparado para essa elevação no número de idosos. “Individualmente, as pessoas não são adeptas da medicina preventiva. O indivíduo trata a doença, mas não promove saúde. Essa prática reflete a falta de planejamento para o envelhecimento”, critica a médica. Segundo ela, envelhecer com independência, autonomia e longevidade requer a adoção de hábitos saudáveis desde bem cedo, ainda na infância e adolescência. “Seria bom que houvesse, no currículo escolar, aulas de educação alimentar e atividade física diária”, analisa Márcia, acrescentando que seria fundamental manter uma boa rotina de sono, com pelo menos sete horas de repouso diárias. Em relação aos que já são idosos, levando em consideração o grau de cognição de cada indivíduo, é essencial realizar algum tipo de movimento corporal que consuma energia, como caminhada.

Respeito e honra – A nova realidade demográfica no Brasil impacta também as comunidades de fé, as quais vão criando programas de acolhimento e inclusão de idosos, muitas vezes, com o apoio dos ministérios dedicados à velhice. Um deles é o Movimento 60+, que busca sensibilizar as igrejas sobre a importância de oferecer aos membros com mais de 60 anos iniciativas que promovam o desenvolvimento da vida cristã, incentivem o autocuidado e proporcionem espaços para o compartilhamento de suas vivências. “O ministério é um mover do Espírito Santo, para que a igreja tenha um novo olhar”, salienta o professor aposentado Robert Liang Koo, um dos coordenadores do 60+. “Eles podem ser idosos e estar aposentados, mas são maduros e experientes”, aponta ele, destacando que essas pessoas permanecem aptas para o serviço na obra do Senhor, conforme registra o Salmo 92.14 (Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes). “Com o envelhecimento acelerado da população mundial, ressaltar essa verdade bíblica é urgente.”

Casado com Elizabeth, pai de três filhos, avô de nove netos e pastor jubilado, Robert afirma que o Movimento 60+ tem alertado as igrejas para que não se tornem ambientes que considerem os indivíduos descartáveis. “É preciso enxergá-los como um tesouro, a base mais estável da igreja, que pode representar muitos frutos para o Reino de Deus”, assevera ele, informando que o 60+, formado por evangélicos que tiveram experiências profissionais e eclesiásticas diversas, já organizou quatro encontros nacionais com idosos. “O último ocorreu no município de Sumaré (SP), onde reunimos 200 pessoas.” [No final dessa reportagem, leia o quadro O que a Bíblia diz sobre os idosos?]

Cheios de valor – A Pra. Silvana Veiga, 58 anos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Vila Margarida, na cidade de Itaguaí (RJ), está sempre disposta a realizar a obra divina. Para ela, a idade não é limitadora para quem deseja semear a Palavra de Deus. “Procuro ser útil na Igreja, ajudando no que for preciso”, informa a pregadora. Ela salienta que está pronta para orientar os mais novos – tanto em idade quanto na fé –, tendo em mente que dar testemunho da experiência pessoal com Cristo pode transformar uma vida. “É preciso encorajá-los a permanecer no Caminho, que é Jesus, inclusive a partir das nossas vivências. Precisamos transmitir paciência, amor e empatia, e exalar a compaixão do Senhor.”

O Pr. Vicente Albino Costa Filho, 72 anos, da Igreja da Graça no bairro Plataforma, em Salvador (BA), concorda com a pastora e reforça: “Os jovens procuram algo que seja sustentável para a vida deles, mas, ao mesmo tempo, são frágeis diante de situações embaraçosas”. Ele assinala que busca passar para os mais novos a confiança gerada pela Palavra e pela fé em Cristo, para que tenham condições de superar as dificuldades da vida. “Prego que o vinde de Jesus anula qualquer fraqueza pessoal, levando os ouvintes a serem fiéis à Escritura para agradar ao Senhor”, pontua o ministro, referindo-se ao texto de Mateus 11.28: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.

Compartilhando do mesmo pensamento, o Pr. Paulo Borges, da IIGD em Alcântara, no município de São Gonçalo (RJ), afirma que a Sagrada Escritura registra que o Altíssimo conduzia Seu povo por intermédio de profetas, muitos deles com idade avançada. Citando o texto de Provérbios 1.7 (O temor do SENHOR é o princípio da ciência; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução), Borges esclarece que nunca devemos renunciar ao conhecimento, pois este nos leva ao caminho da salvação. “Sigo Jesus desde a minha infância, e o temor me mantém firme no caminho de santidade”, testemunha o ministro, sublinhando a mensagem do Salmo 90.12: Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio.

Ativos na obra – No Rio de Janeiro (RJ),aIIGD desenvolve o ministério A Terceira Idade que Vence, que realiza reuniões estaduais com o intuito de promover a integração dos idosos por diversos meios, como aulas de alfabetização e pintura. “Realizamos encontros mensais para dividir experiências, além dos cultos”, informa o Pr. Wagner Lima, líder do ministério na sede estadual da Igreja da Graça em Madureira, que é composto por 70 pessoas.

Em Salvador (BA), A Terceira Idade que Vence começou a funcionar na sede estadual da Igreja da Graça por causa da disposição de um grupo de idosas. “Grande parte delas desejava participar de algumas atividades da Igreja, e, assim, passamos a realizar nossas reuniões, e deu muito certo”, conta Zuleide Correia da Annunciação, 77 anos, líder do grupo Plenitude, um ministério formado por 35 mulheres que organizam cafés da manhã com evangelização, passeios em fazendas e tardes de cinema em que são exibidos filmes evangélicos. “Agora, além da nossa igreja-sede, as congregações nos bairros iniciaram trabalhos semelhantes, inspirando-se nos frutos que colhemos”, relata ela.

No bairro Solimões, na região norte de Belo Horizonte (MG), a Igreja Batista Anunciar criou, em 2020, durante o período da pandemia de covid-19, o ministério Diamante, nome que remete ao grande valor da velhice, com o objetivo de cuidar e acompanhar idosos membros da congregação. “Naquele momento, percebi o desafio de acolher e acompanhar as pessoas mais velhas, principalmente aquelas que não podiam congregar presencialmente e precisavam receber visitas”, relata o Pr. Leno Santos, líder da igreja e coordenador do ministério. “Oferecemos suporte aos idosos de modo geral, inclusive quando estão hospitalizados.”

Uma vez ao mês – sempre em um sábado – acontece o Culto Diamante, com a ministração da Ceia do Senhor. Nos demais dias da semana, os idosos recebem visitas de voluntários do ministério, e, durante o ano, são realizados passeios e encontros. “Muitos continuam ativos nos trabalhos da igreja, servindo nas diferentes áreas”, expõe Leno, deixando claro que, segundo a Escritura Sagrada, a velhice não é, de maneira alguma, uma fase de estagnação. Pelo contrário, terão sonhos, como diz o profeta Joel (Jl 2.28), e podem ser produtivos, ainda que assumindo uma carga de trabalho menor, tal como o rei Salomão aconselha, em Eclesiastes 9.10: Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma.

---

• Facebook
• Instagram