
FÉ FRUTÍFERA
13/10/2025
Por Lilia Barros
Há um adágio popular que diz: “Se conselho fosse bom, não se dava, vendia”. No entanto, à luz da Bíblia, dar ou receber orientações é um princípio de sabedoria estabelecido por Deus para o crescimento e a proteção de Seu povo. Provérbios, um livro das Escrituras Sagradas repleto de recomendações sobre o valor do aconselhamento, registra: Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros há bom êxito (Pv 15.22 – ARA). O direcionamento sábio ajuda a evitar decisões precipitadas, corrige caminhos e fortalece espiritualmente. Uma instrução firmada na Palavra de Deus pode levar a mudanças profundas de comportamento e a uma restauração da fé.

Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA
Contrário ao ditado popular citado, o Pr. Natan Alves Martins, da Assembleia de Deus Ministério Belém – Setor Lapa, na zona oeste de São Paulo (SP), afirma que as diretrizes são essenciais para a vida cristã, uma vez que o Senhor estabeleceu o princípio da aprendizagem ao longo das etapas da caminhada espiritual. “A fonte da verdadeira sabedoria é o Altíssimo. Porém, é fundamental filtrar as recomendações que chegam aos ouvidos e discernir se realmente procedem do Senhor”, adverte Martins, destacando as características de um bom conselheiro. “Temer a Deus para receber sabedoria, manter um testemunho que inspire confiança e encorajamento, e não falar o que pensa ou deseja, mas transmitir aquilo que Cristo quer comunicar”, argumenta o líder assembleiano, mencionando a passagem de Tiago 3.13-17: Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa. Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia.

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O Pr. Natan reforça que os pais são instrumentos usados pelo Senhor para orientar seus filhos, pois acumulam experiências e, por isso, desejam poupá-los de decisões equivocadas. Segundo ele, caso o conselho seja rejeitado, deve-se avaliar a forma como foi transmitido. “Seja um exemplo e procure entender a razão da recusa. Mostre que obedecer aos pais é também uma maneira de honrar a Deus, já que eles representam a primeira autoridade a quem o filho deve se submeter desde a infância”, diz o ministro, referindo-se à passagem de Efésios 6.1-3: Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.

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Segundo a Prof.ª Cristiane Rodrigues dos Santos, membro da Primeira Igreja Batista em Santa Mônica, Vila Velha (ES), o aconselhamento, para ser eficaz, precisa seguir alguns passos. “Antes de aconselhar alguém, acolha e ouça essa pessoa. Muitas vezes, ela só precisa ser compreendida e abraçada”, enfatiza a docente, que também é educadora e coach parental. “É essencial agir com ética e nunca oferecer opiniões sem que haja abertura para isso. Quem compartilha a própria dor, geralmente, está perdido no ‘olho do furacão’ e precisa confiar para se abrir”, afirma. Na opinião de Cristiane, aconselhar é um ato delicado e, em certos casos, até arriscado, pois a orientação dada pode refletir mais a trajetória pessoal de quem aconselha do que a real necessidade do outro. “Medimos as situações com a nossa régua, o que torna o processo mais complexo”, explica ela, a qual já aconselhou muitos cristãos que precisavam tratar de questões espirituais. “Instruir com base na Bíblia é mais simples, porque tenho o Livro Sagrado como regra de fé e conduta”, frisa a especialista.

Integração geracional – As Escrituras recomendam lançar mão da sabedoria dos mais velhos para ensinar aos mais novos: Com os idosos está a sabedoria, e na abundância de dias, o entendimento (Jó 12.12). Nos tempos atuais, nunca esse conselho fez tanto sentido, especialmente com a previsão da Organização das Nações Unidas (ONU) de que a população idosa triplicará até 2050, passando a superar 2 bilhões de pessoas com idade acima de 60 anos. Para o Pr. Rafael Antunes Vieira, presidente da Convenção Batista Fluminense, ainda existe um hiato entre as gerações, visto que os mais velhos não querem se comprometer e os mais novos não desejam se submeter. “De um lado, há um desprezo velado pela sabedoria, tratada pelos jovens como obsoleta. De outro, há uma desvalorização dos novos conhecimentos e das habilidades da juventude. Precisamos, com urgência, falar a idosos e jovens sobre os princípios da Palavra que norteiam tudo isso”, adverte Vieira, esclarecendo que a idade, por si só, não garante sabedoria, tampouco capacidade para aconselhar. “Nem todos os mais velhos têm essa habilidade ou esse preparo”, comenta ele, reforçando que seria arriscado considerar alguém bom conselheiro apenas pela experiência acumulada. “Quando este assume o papel de auxiliador, o processo é positivo. Mas, quando se coloca como dono da verdade, passa a ser um problema”, assevera.

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O Pr. Tiago Santos de Almeida, da Assembleia de Deus em São Diogo, na cidade de Vitória (ES), pontua que, de acordo com a Bíblia, os mais velhos têm a responsabilidade de guiar os mais novos. “Essa é uma tarefa atribuída aos que são maduros na fé. As mulheres idosas devem instruir as mais jovens, conforme registra Tito 2.3-5. Além disso, Provérbios 16.31 (NVT) ensina: Os cabelos brancos são coroa de glória, para quem andou nos caminhos da justiça”, destaca o pastor, lembrando que, a partir da perspectiva cristã, há uma motivação clara tanto para quem dá quanto para quem recebe conselhos. “Aconselhar é um ato de amor e receber esse ensinamento expressa humildade”, afirma o ministro assembleiano, citando Provérbios 11.14: Não havendo sábia direção, o povo cai, mas, na multidão de conselheiros, há segurança.

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Tiago de Almeida salienta o que o Livro Sagrado ensina por meio do exemplo marcante de Roboão, filho de Salomão. “Ele rejeitou o conselho dos anciãos e preferiu ouvir jovens inexperientes (1 Rs 12.8). Tal escolha resultou na divisão do reino de Israel (2 Cr 10.13,14)”, relata o pastor. Em contrapartida, a Palavra registra a trajetória de Timóteo, servo que seguiu os ensinamentos do apóstolo Paulo e se tornou um grande líder da Igreja primitiva. “Isso mostra que ouvir conselhos pode mudar destinos”, garante Almeida. Ele ressalta que, em sua caminhada ministerial, já presenciou jovens terem a vida transformada positivamente após conversas fundamentadas na Escritura, e outros se afastarem do Evangelho depois de rejeitarem as instruções, sofrendo consequências dolorosas devido a isso. “O sábio dá ouvidos aos conselhos”, prega ele, citando Provérbios 12.15 (O caminho do tolo é reto aos seus olhos, mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio).

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Nesse cenário, o Pr. Jorge Luís dos Santos Lacerda, da Igreja Batista em Camarista Méier, no Engenho de Dentro, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), destaca a importância do exemplo dos pais. “Não adianta falar muito e viver pouco”, afirma o ministro batista, assinalando que é fundamental compartilhar com os mais jovens a experiência acumulada, incluindo acertos e erros. Lacerda, que relata ter perdido o pai aos 11 anos, testemunha que precisou buscar orientação com pessoas mais velhas. “Antes de decidir sobre estudos, profissão ou futuro, sempre pedia conselhos ao meu tio”, recorda-se ele, acrescentando que, após a conversão, passou a recorrer ao pastor da igreja e a um irmão na fé mais experiente. “Só então tomava minha decisão. Até hoje, continuo fazendo isso.”

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Orientação assertiva – Ao reiterar a ideia de que uma vida bem-sucedida depende de conselhos práticos, o Pr. Elder Cavalcante Júnior, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Rio Grande do Norte, cita as palavras de Salomão expressas em Provérbios 20.18: Cada pensamento com conselho se confirma; e com conselhos prudentes faz a guerra. “Isso significa que as orientações são essenciais para a vitória em qualquer situação, incluindo o conflito”, aponta o ministro, exaltando o fato de que pessoas que vivenciaram experiências comuns podem compartilhar o que aprenderam. O pastor declara que ouvir conselhos pode livrar o crente em Jesus de percorrer caminhos já trilhados e, assim, dar um passo à frente, evitando problemas. Cavalcante recorda o que está escrito em Deuteronômio 28.1: E será que, se ouvires a voz do Senhor, teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu te ordeno hoje, o Senhor, teu Deus, te exaltará sobre todas as nações da terra. “Quando ouvimos a voz do Senhor e guardamos os Seus mandamentos, as bênçãos nos alcançam.”

Compartilhando opinião semelhante, o Pr. Paulo Henrique Miranda Araújo, líder estadual da Igreja da Graça na Bahia, garante que conselhos devem ser acolhidos em qualquer fase da vida. Ele cita o exemplo de Moisés, que, aos 80 anos, recebeu a sugestão de seu sogro Jetro de compartilhar as responsabilidades no cuidado com o povo com homens capazes e tementes ao Senhor (Êx 18.14-27). “Esse foi um bom aconselhamento, e podemos ver que foi direção de Deus. Nunca é tarde para pedir conselhos”, reconhece Paulo Araújo, que, ao conversar com a reportagem de Graça/Show da Fé, aproveitou a oportunidade para fazer um alerta aos mais novos – especialmente àqueles que têm dificuldade de ouvir os mais experientes, por causa da influência das redes sociais. “Muitos jovens preferem se apegar a informações superficiais da internet em vez de dar ouvidos a quem tem vivência e maturidade”, observa o pastor, mencionando um conselho do Senhor passado pelo profeta Isaías: Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada, porque a boca do Senhor o disse (Is 1.19,20). “Se a pessoa não escuta nem pratica o ensinamento, acabará colhendo o pior”, adverte Araújo.