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Expectativas realistas e disposição para fazer o cônjuge feliz são aspectos essenciais para tornar um casamento duradouro
Por Evandro Teixeira
O matrimônio é, por definição, uma aliança formada por duas pessoas que se unem com o propósito de construir uma nova história juntas. Para aqueles que sonham com um relacionamento feliz, a escolha do cônjuge parece ser a tarefa mais importante. Para os cristãos, além do bom entrosamento, ter a bênção de Deus na vida a dois é essencial. Contudo, o que mais pode ser considerado realmente importante antes e depois de dizer “sim”?
No livro Deus forma casais (Graça Editorial), o teólogo e escritor britânico Derek Prince (1915-2003) e sua esposa, Ruth Prince (1930-1998), enfatizam um aspecto importante dessa complexa decisão: ambos os cônjuges precisam estar cientes do que a vida a dois irá exigir deles. Inúmeros casamentos infelizes foram resultado de pessoas que entraram nele sem considerar, seriamente, tudo aquilo que seria requerido delas. Infelizmente, isso é verdade não apenas para os não crentes, mas também para muitos cristãos, afirmam os autores.
O teólogo e apologista norte-americano Timothy Keller faz coro com o casal Prince. Em artigo publicado recentemente no portalda revista cristã estadunidense Relevant,Kellerinforma que, na busca pelo par, homens e mulheres tendem a focar apenas em alguém que satisfaça seus desejos. Dessa forma, no entendimento do teólogo, cria-se um conjunto irreal de expectativas, o qual frustrará um quando o comportamento que o outro espera não se confirmar. Para ele, quem age assim não vê o casamento como a união de duas pessoas imperfeitas visando criar um espaço de estabilidade, amor e consolação. Na verdade, segundo Keller, tais pessoas buscam alguém que apenas complemente suas capacidades e atenda aos seus desejos sexuais e emocionais.
O Pr. Airton Pereira da Silva, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Cássia (MG), lembra que a felicidade no casamento é construída com a participação do marido e da mulher. “Quando um lado quer só receber, o outro pode não ter o que dar. Nessa hora, o barco poderá ir a pique”, comenta o líder, destacando o fato de que, antes de se casar, é necessário ter em mente as recomendações do apóstolo Paulo em sua carta aos efésios: Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo (Ef 5.28).
O analista financeiro Jefferson Luiz da Silva, 36 anos, membro da sede regional da Igreja da Graça em Juiz de Fora (MG), acredita que, em primeiro lugar, o casal precisa permitir que o Senhor participe integralmente do relacionamento, conforme exorta o Salmo 127.1,2: Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono. Casado há cinco anos com Isabel Nunes Machado, 33, e ainda sem filhos, ele considera temerária a postura de quem busca o matrimônio visando atender somente às próprias vontades. “Aquele que tem o objetivo de apenas agradar a si mesmo, em algum momento, será frustrado. No casamento, a individualidade não deve ser mais prioridade. O propósito de Deus é que um complete o outro, sendo cúmplices, amigos e parceiros”, comenta Jefferson, o qual acredita ser um erro a busca pela pessoa “certa”. “Trata-se de um falso raciocínio que cria na mente e no coração um modelo de parceiro que só existe na ficção. Todos nós temos imperfeições, que poderão gerar atritos no relacionamento”, pondera.
A psicóloga Dora Eli Martins Freitas concorda que a procura pela “pessoa certa” é fruto de uma idealização, não de uma concepção real. “Mesmo com o máximo de informação que um cônjuge possa ter do outro, ambos nunca se conhecerão plenamente antes do casamento”, explica a especialista, a qual lembra que uma das facetas do matrimônio é fazer-se conhecer e ser conhecido do outro na intimidade da convivência. “Na revelação de quem somos, buscamos o acolhimento e a aceitação, o que nos move para a transformação dos aspectos sombrios e não saudáveis que interferem negativamente na relação a dois.”
“Insatisfação no relacionamento” – O pastor e psicanalista Glauco Pires André, líder da Igreja Metodista em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), concorda que, independentemente do tempo de namoro, o casamento sempre revelará novas facetas das pessoas. “Não existe príncipe encantado, assim como não existe esposa perfeita”, informa ele, destacando que uma vida conjugal, para ser saudável, precisará de diversos ajustes. “Ao longo do casamento, teremos diversos testes, nos quais, para sermos aprovados, teremos de ceder várias vezes em prol do relacionamento.”
O Pr. Welfany Nolasco Rodrigues, da Igreja Metodista Nova Canaã, em Cachoeiro de Itapemirim (ES), observa que o egoísmo tem causado milhares de divórcios. Ele diz também que essa atitude egocêntrica vem levando muitos que não pensam em casamento a adotar uma vida desregrada sexualmente por preferirem continuar “livres” para satisfazer as próprias vontades. “Dentro de um casamento, porém, uma pessoa que só pensa em satisfazer suas necessidades se torna um pesadelo. Ela irá se sobrepor à outra, buscando a própria satisfação e gerando uma insatisfação no relacionamento.”
Além de tirarem o foco de si mesmos, os cônjuges devem manter firme o desejo de permanecerem juntos, pontua a enfermeira Mábila Driely Moura Carvalho Olanczuk, 33 anos. Casada há sete anos com José Carlos Olanczuk, 45, e mãe de dois filhos, ela congrega, com a família, na sede estadual da Igreja da Graça em Teresina (PI). Segundo Mábila, para o casal continuar unido, é necessário que Deus seja o centro do matrimônio. “O temor do Senhor impede os servos fiéis de tomar atitudes que possam levar ao fim o casamento deles.” De acordo com a enfermeira, as ações do homem e da mulher em meio às crises serão resultantes dos propósitos estabelecidos antes da oficialização do vínculo. “Ao buscar alguém para compartilhar uma vida em comum, é preciso observar os princípios e valores dessa pessoa. Além disso, ambos têm de caminhar na mesma direção”, recomenda Mábila, a qual lembra que as pessoas não podem se enganar achando que a convivência será fácil. “Não existe casamento sem dificuldade. Nos momentos de crise, a vontade de continuar juntos fará muita diferença.”
Para o Pr. Alexandre Pontes, auxiliar na sede estadual da IIGD em Manaus (AM), há casais que se unem motivados apenas pela paixão, um sentimento que tende a ficar mais brando ao longo do tempo. De acordo com Pontes, à medida que os anos passam, esse “calor” inicial diminui, mas, entre casais maduros, outro sentimento é fortalecido: o amor. Segundo ele, um obstáculo para que essa saudável transição aconteça é a visão deturpada de que as pessoas se casam para serem felizes. “Na verdade, deveríamos decidir pelo casamento para fazer nosso cônjuge feliz”, salienta o líder.
Casado com a Pra. Carla Pontes e pai de duas filhas, ele afirma que recordar o que uniu o casal no matrimônio pode ajudar a superar os momentos difíceis. “Agindo assim, ambos sempre estarão prontos a se apoiarem a despeito das circunstâncias”, acrescenta o pastor, assinalando que ter esse entendimento já na fase de namoro é essencial. Na opinião do ministro, no momento em que começam a se conhecer, os namorados devem observar aspectos espirituais, morais e físicos, prioritariamente nessa ordem, antes de tomar a importante decisão. “O sucesso da relação irá depender da forma como esses fatores foram vistos e tratados”, observa.
Entrega total – Já o psicanalista Gleubert Carlos Coliath defende a necessidade de que, antes do casamento, os noivos estabeleçam um alinhamento de objetivos que sejam compatíveis com as expectativas de cada um, abrangendo a vida emocional, familiar, financeira e espiritual. “Caso o indivíduo não tenha o desejo de compartilhar isso, melhor permanecer solteiro”, orienta o especialista. Ele assinala que a satisfação no casamento é proveniente dos frutos gerados pela união.
A Pra. Maria Marta Ramos Pinto, líder regional da IIGD em Itapecerica da Serra (SP), afirma que um casamento focado apenas nos próprios interesses nascerá fadado ao fracasso. Ela reitera que a vida a dois requer entrega total e mútua, os quais não devem priorizar a autorrealização. Afinal, de acordo com a pastora, tal atitude seria reprovada pela Palavra de Deus, conforme Provérbios 18.1: Busca seu próprio desejo aquele que se separa; ele insurge-se contra a verdadeira sabedoria.
Ela acrescenta que o casamento é uma construção que envolve duas pessoas com qualidades e defeitos, que, no intuito de formar laços de estabilidade e amor, precisam andar em comum acordo a fim de se ajudarem mutuamente. “Assim, um confortará o outro nos momentos de extrema necessidade”, declara, lembrando a clássica passagem de Eclesiastes 4.9-12, citada em tantas cerimônias de casamento: Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque, se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante. Também se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? E, se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão depressa.