
A Igreja primitiva moldou aspectos essenciais da fé que influenciam a vida cristã até hoje
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INFLUÊNCIA IMPACTANTE
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Por Lilia Barros
Com a tecnologia já profundamente integrada ao cotidiano deles desde o nascimento, os nativos digitais– jovens que cresceram com acesso constante à internet, aos smartphones e às redes sociais e fazem parte das gerações Z (nascidos entre 1995 e 2010) e Alfa (nascidos entre 2010 e 2025) – demonstram ter outra mentalidade em relação ao mercado de trabalho e ao processo de desenvolvimento profissional. Com aptidão para lidar com plataformas digitais, inteligência artificial (IA) e comunicação on-line, eles anseiam por uma nova dinâmica nas conexões de emprego. No entanto, enfrentam desafios específicos, como a adaptação às estruturas corporativas tradicionais e ao desenvolvimento de competências socioemocionais.

Foto: Arquivo pessoal
De acordo com uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, até 2027, cerca de 44% das habilidades exigidas no mercado de trabalho serão diferentes das atuais. Os candidatos a vagas precisarão apresentar em seus currículos itens, como resiliência, flexibilidade e agilidade. Nesse cenário, os nativos digitais precisam investir continuamente em formação crítica e pensamento estratégico para se manterem relevantes. Em contrapartida, a familiaridade com ferramentas digitais faz deles profissionais ágeis, criativos e altamente conectados.
A publicitária Marisa Sizino da Victoria, mentora em produção de conteúdo estratégico, pontua que o mercado tem enfrentado mudanças significativas nos últimos anos. “Há uma geração mais imediatista e impaciente, mas também aberta a novas possibilidades.” Dentro desse contexto, ela observa que muitos jovens têm desvalorizado o Ensino Superior, considerando a formação acadêmica um investimento de retorno duvidoso. “A expectativa de começar ganhando R$ 15 mil é perigosa. Ninguém entra no mercado já sabendo tudo. É preciso passar pelo processo de aprendizado e construção profissional”, alerta ela, que é membro da Igreja Recomeçar, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).

Foto: Arquivo pessoal
Por sua vez, o Pr. Marcelo Gualberto da Silva, diretor nacional da Mocidade Para Cristo do Brasil (MPC-Brasil), com sede em Belo Horizonte (MG), faz uma distinção importante entre as finanças e os princípios da fé cristã. “Quando o dinheiro se torna a principal motivação, isso revela uma falha na comunhão com o Senhor”, enfatiza, citando as palavras de Jesus em Mateus 6.19-21, como orientação acerca das prioridades na vida: Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. “Tudo é passageiro. Portanto, não devemos colocar nosso coração no que é efêmero”, destaca Silva.

Foto: Arquivo pessoal
Universo virtual – Já o Pr. Leonardo Távora, da Primeira Igreja Batista de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), chama a atenção para a crescente atração dos jovens pela carreira de influenciador digital. Segundo ele, a profissão é vista como sinônimo de popularidade, fama e altos ganhos financeiros. “Mesmo com conteúdos superficiais, basta ter uma câmera e um ring light [dispositivo de iluminação circular, geralmente com LEDs, usado para iluminar objetos ou pessoas em fotos e vídeos] para gravar de qualquer lugar e, depois, postar nas redes sociais. Há muito dinheiro envolvido em patrocínios”, observa.

Foto: Arquivo pessoal
Na opinião do ministro, é necessário alertar esta geração para os impactos negativos que podem surgir com essa escolha – sempre acompanhada de promessas de retorno financeiro rápido. “A pressão constante por produzir conteúdo transforma muitos em reféns das plataformas digitais. Eles se veem obrigados a compartilhar tudo: o que estão fazendo, para onde vão. Dão satisfação o tempo todo”, explica Távora, acrescentando que esse ritmo pode ser desgastante e levar a pessoa a manifestar um quadro de exaustão e adoecimento emocional. “É um cenário que pode gerar desconforto e até depressão, como já ocorreu com o humorista e influenciador Whindersson Nunes, entre outros casos semelhantes.”
Diante das mudanças de expectativas da juventude em relação ao mercado de trabalho, a gestora pública Gabriela Bicalho, que está à frente do Serviço Nacional de Emprego itinerante (SINE Móvel) no Espírito Santo, conhece bem essa realidade. Ela salienta que o projeto, em parceria com empresas capixabas, incentiva o retorno dos jovens aos estudos e a permanência na formalidade, buscando atrair aqueles que têm adiado a entrada no ambiente profissional ou optado por caminhos alternativos, como o empreendedorismo digital. “Estamos mobilizando empresas para contratá-los, oferecendo melhores salários, qualificação e treinamentos específicos”, ressalta Gabriela, membro da Igreja Atos de Amor em Guaranhuns, na cidade de Vila Velha (ES).

Foto: Arquivo pessoal
De acordo com ela, o objetivo do SINE Móvel é mostrar à juventude que a educação formal é essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional e que o trabalho vai muito além da remuneração. “Eles desenvolvem habilidades, como disciplina, esforço e capacidade de crescimento, competências que não se aprendem apenas com o uso da tecnologia”, afirma a especialista, sinalizando que muitos jovens olham para a faculdade como algo ultrapassado ou desnecessário, especialmente diante do sucesso rápido de personalidades na internet. “É comum ouvirmos relatos de gente que se sente desencorajada a seguir a trajetória tradicional ao ver pessoas, da mesma idade, ganhando fortunas nas redes sociais.”
Segundo uma pesquisa de mercado realizada em 2024 pela Nielsen Media Research, o Brasil ocupa a liderança mundial em número de influenciadores no Instagram: são mais de 10,5 milhões de usuários com, pelo menos, mil seguidores na plataforma. Desses, cerca de 500 mil têm perfis com mais de dez mil seguidores, faixa que já caracteriza um criador de conteúdo relevante para ações publicitárias. Considerando também os dados do YouTube e do TikTok, o país figura entre os três maiores mercados de influencers do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia.

Virtual e presencial – Ao analisar os dados fornecidos pelo levantamento da Nielsen, o Pr. Flaviano Almeida dos Santos, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Venda Nova do Imigrante (ES), observa que a geração atual está imersa em interações digitais e menos propensa ao presencial. “Dificilmente desejam estar confinados em um escritório, já que a convivência virtual, aparentemente, gera menos conflitos”, afirma o ministro, alertando para o fato de que a valorização dos meios virtuais não pode levar ao desprezo das formas tradicionais de trabalho. “A questão central está em como esses jovens são incluídos tanto no universo digital quanto no mercado de trabalho, sendo que eles são, majoritariamente, influenciados pelas redes sociais.”
No ponto de vista de Santos, a forte presença das plataformas digitais e da tecnologia no cotidiano têm impactado não apenas os jovens, mas também profissionais mais experientes, que passaram a rever sua relação com o trabalho convencional. “Muitos argumentam que suas profissões podem perder credibilidade ou retorno financeiro nos próximos anos”, aponta ele, acrescentando que é cada vez maior o número de pessoas que está migrando para o ambiente virtual em busca de uma vida profissional mais promissora. “É como um novo leque de oportunidades que se abre para todos.”

Foto: Arquivo pessoal
Um exemplo bem-sucedido dessa migração é o da jornalista Ariadna Brito, 42 anos. Após muito tempo no mercado de trabalho tradicional, ela iniciou a transição para o meio digital. Durante três anos, conciliou o emprego formal com os projetos pessoais. “Foi um processo longo e desafiador”, relembra-se Ariadna, que, atualmente, trabalha como estrategista digital, copywriter [especialista em escrever textos para fins de marketing e publicidade] e infoprodutora [profissional que cria e vende produtos de informação on-line]. “Busquei autonomia, liberdade geográfica e escalabilidade. Hoje, ganho quatro vezes mais do que no meu último emprego com carteira assinada”, comemora.
Liberdade e conexão – Pesquisador e autor de livros, como Geração Selfie e Conectados, o Pr. Rodolfo Capler sublinha que os nativos digitais cresceram em um mundo totalmente conectado, dinâmico e em constante transformação. Tal realidade os faz se relacionarem de maneira diferente com o mercado de trabalho. “Mais do que estabilidade, eles desejam propósito, flexibilidade de horário, liberdade para escolher projetos e possibilidade de crescimento profissional contínuo.” O pesquisador assinala que esses jovens não buscam apenas uma fonte de renda, e sim oportunidades que estejam alinhadas aos seus valores pessoais. “Em contrapartida, oferecem criatividade, capacidade de adaptação e domínio das tecnologias digitais a partir de um olhar inovador para os desafios da contemporaneidade.”

Foto: Arquivo pessoal
Para ele, outro fator que molda essa mentalidade é a percepção que os jovens têm de que dificilmente conseguirão se aposentar em condições confortáveis, especialmente após as mudanças nas regras da previdência aprovadas no país. “Eles entendem que precisam desfrutar da vida agora. Por isso, mesmo enfrentando mais riscos, acreditam que a liberdade profissional compensa. Muitos apostam em múltiplas fontes de renda, preferencialmente dentro de modelos colaborativos de liderança”, pondera.
Líder da Igreja Batista Alternativa, no Centro de Piracicaba (SP), Capler lembra que, sob a perspectiva bíblica, o trabalho sempre esteve ligado à dignidade humana. Essa ideia aparece no relato da criação, em Gênesis, quando Deus encarrega o homem de cuidar do jardim do Éden antes mesmo da queda (Gn 2.15). “Isso mostra que trabalhar é a expressão do propósito divino para a humanidade. No entanto, o pecado afetou todas as áreas da vida, inclusive a maneira como enxergamos essa atividade.” Defendendo a necessidade de recuperar a visão do Senhor sobre esse tema, o pesquisador conclui: “O trabalho organiza o caos e cria oportunidades de servir ao próximo.”