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01/03/2021Bíblia em bytes
Brasil é líder em número de downloads das Escrituras
Por Ana Cleide Pacheco
Em um mundo cada vez mais conectado, onde quase tudo se resolve com um clique, a forma como as pessoas buscam informação mudou completamente. Das prosaicas receitas culinárias a trabalhos científicos elaborados, tudo está acessível na internet. E é claro que o livro mais lido de todos os tempos, a Bíblia Sagrada, também está disponível no ambiente virtual – e vem conquistando mais leitores, segundo informações da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). De acordo com a organização, números coletados em 2019 mostram que a distribuição de Bíblias digitais vem crescendo rapidamente: 25% das cópias da Palavra distribuídas em todo o globo em 2019 estavam disponíveis on-line; em 2018, esse percentual era bem menor (17%).
Cerca de 10 milhões de cópias do Texto Sagrado foram baixadas em 2019, em especial na Ásia, na América do Sul, na América Central, na Europa e na região do Oriente Médio. Com relação aos idiomas, a maioria dos usuários eram falantes de espanhol e português. E, não por acaso, o Brasil foi o líder de downloads do Livro Santo: 1,8 milhão de exemplares. “Graças ao digital, as pessoas podem ler as Escrituras em qualquer país na tradução que elas entendem. A Bíblia pode ser lida durante uma viagem, em uma sala de espera, em casa”, celebra o diretor-executivo da SBB, Rev. Erní Seibert.
Seibert esclarece que o objetivo da Sociedade Bíblica não é vender Bíblias, e sim modificar trajetórias pela Palavra de Deus. “Realizar isso tem um preço, e os recursos para impressão ou distribuição digital vêm da venda de Bíblias e de ofertas.Mas o alvo é fazer as pessoas lerem e terem a vida transformada. Assim, quanto mais pessoas acessarem o Livro Santo, melhor”, acrescenta Erní Seibert.
Ele explica que, nos últimos anos, a SBB aprendeu a mensurar melhor os números de distribuição no universo digital. No começo, ela não tinha experiência sobre como fazer isso. Então, se alguém tivesse uma Bíblia no celular e trocasse de aparelho, baixaria o livro outra vez, dando a impressão de que uma nova Bíblia estava sendo distribuída, embora fosse apenas uma substituição. Estudos e pesquisas levaram à conclusão de que a melhor maneira de lançar mão dessa aferição seria vincular as Bíblias digitais ao e-mail das pessoas que faziam o download. Assim, ficaria mais fácil perceber quando um indivíduo estava apenas repondo a Bíblia que tinha em um celular ou computador antigo.
Dessa maneira e por meio de outras formas de mensuração envolvidas no processo, é possível saber detalhes que antes, com as Escrituras impressas, não se conseguiam. “Por exemplo: sempre que uma Bíblia digital é lida, os dados são armazenados, como local e hora da leitura, livro e capítulos lidos. Não sabemos quem está lendo, porém temos a informação de que país está sendo feito o acesso, o que facilita na hora de levar a efeito o levantamento. E é motivo de glorificar a Deus por tantas pessoas se dedicarem à leitura da Palavra”, alegra-se Seibert, destacando que algumas entram em contato com a SBB para agradecer-lhe pela iniciativa. “Só quando isso acontece podemos descobrir como a leitura no ambiente on-line as ajudou. Sem dúvida, o crescimento da Igreja também está sendo influenciado pela disponibilidade da Bíblia no meio digital.”
Leitura diária – A técnica de Segurança do Trabalho Roselia Gonçalves de Melo, 34 anos, é uma entusiasta desse formato. “Tenho o hábito de ler no ônibus, por isso sempre levava minha Bíblia comigo. Ela era grande, então comprei uma menor e mais fina, porém ainda ocupava um espaço generoso da minha bolsa”, recorda-se. Ela relata que, quando começaram a surgir as versões digitais, resitou quanto a elas, no entanto, depois de baixar um exemplar, logo notou a facilidade para fazer a leitura diária da Palavra. “É algo bom para todos e para a obra de Deus”, salienta ela, que frequenta a Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Casa de Oração, em Cidade Nova, na capital amazonense, Manaus (AM).
Assim como Roselia teve certa resistência antes de começar a ler o Livro dos livros no modelo digital, persiste, no meio cristão, alguma oposição ao uso das Bíblias on-line. O Pr. Neemias dos Santos Lima, 60 anos, da Igreja Batista do Braga, em Cabo Frio (RJ), viveu uma situação desafiadora com relação a esse assunto. Uma vez, ele ouviu uma irmã dizendo aos jovens que não aceitava a Bíblia em computador ou no celular. “Eu me juntei ao grupo e perguntei a razão, já que hoje a tecnologia tem se mostrado uma bênção para as igrejas. Ela não titubeou e, levantando em suas mãos um exemplar em papel, falou que só aceitava a Palavra da forma como veio.” O pastor, carinhosamente, explicou à irmã que a Bíblia não tinha esse formato quando foi escrita e que seu surgimento no impresso se deu graças ao desenvolvimento de uma nova tecnologia, tão inovadora para a época quanto os aparelhos celulares de agora. “Ela, como toda ovelha obediente e consciente, compreendeu. Disse que não tinha pensado nisso, que eu tinha razão e repensaria suas posições sobre o que ouviu.”
Para o Pr. Luiz Vanderley Vasconcelos de Lima, 57 anos, líder dos jovens da Igreja Presbiteriana Betânia em São Francisco, na cidade de Niterói (RJ), as pessoas tendem a se fechar um pouco para o novo. Com relação à Bíblia digital, ele ressalta que existe bloqueio por parte de alguns, mas que essa barreira desaparecerá à medida que os irmãos mais refratários forem instruídos pelos pastores, líderes e professores. “As primeiras duas páginas da Palavra foram escritas por Deus em pedras, porém as pedras não eram sagradas. Tanto que foram quebradas durante o ímpeto de ira de Moisés. Depois, ele teve de reescrever as mesmas palavras em tábuas, que nem existem mais”, ressalta Luiz Vanderley, que também é psicólogo clínico.
Vandi Lima, como é mais conhecido na Igreja Betânia, frisa que o conteúdo do texto permaneceu, entretanto mudou o meio físico em que as letras foram grafadas. “Hoje é a mesma coisa: sagrado é o conteúdo, e não o livro em si”, explica ele ao ressaltar que é preciso diferenciar zelo de exagero. “Há quem ache pecado deixar a Bíblia cair no chão. Claro que devemos cuidar dela, porque devemos ter zelo com o que nos pertence, no entanto isso é um tanto exagerado”, assevera ele, destacando que se pode ter um apego afetivo, porém jamais fazer do livro uma espécie de deus. “Trata-se da Palavra revelada do Senhor. Isso é o que importa e faz a diferença. É para esse ponto que devemos atentar, e não para a questão de ser impressa ou digital”, orienta.
Aprofundamento necessário – Para o Pr. Wellison Magalhães Paula, 53 anos, da Primeira Igreja Batista do Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), o levantamento da SBB demonstra que não só a mensagem bíblica está alcançando mais pessoas, mas também a Igreja está comunicando melhor sua mensagem. “Atualmente, basta ter um dispositivo conectado à internet para alguém ler a Bíblia e tantos outros livros. E isso em toda parte do planeta e em sua própria língua”, assinala Wellison, que também é jornalista.
Para ele, a pesquisa citada no início desta reportagem é um exemplo significativo de que a rede mundial de computadores não é algo a ser combatido. Contudo, chamou a atenção para o que considera extremamente importante: as Bíblias digitais precisam ser usadas com sabedoria, pois a dedicação ao estudo da Palavra deve fazer parte da jornada. “Ter disciplina tanto para ler quanto para estudar é fundamental. Isso porque o resultado da leitura, o aprendizado e o aprofundamento com o texto bíblico são imprescindíveis para o desenvolvimento espiritual do cristão. Ainda teremos de mensurar, com cuidado, até que ponto as pessoas estão se aprofundando em estudar as Escrituras.”
Outra questão é a disciplina e a reverência durante os cultos. De acordo com o Pr. Fernando Ferreira de Albuquerque, usar tablets e celulares para ler a Bíblia, no culto ou em qualquer outro lugar, não é errado. Porém, em sua opinião, é preciso evitar as distrações. “O ideal é desativar as notificações, para elas não acabarem fazendo a pessoa se dispersar. Na verdade, a atenção e a disciplina devem estar presentes tanto na leitura impressa quanto na virtual. No segundo caso, a pessoa fica mais suscetível às distrações”, analisa o pastor, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Paraná. “A solução é manter-se atento e perceber quando não está conseguindo focar no que realmente importa que é a Palavra de Deus e suas revelações.”
Fac-símile de parte do texto de Gênesis 1 na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA), no app Bíblia SBB
De maneira geral, líderes e membros das igrejas evangélicas observam que, independentemente do formato da Bíblia, importa que a Palavra de Deus seja disseminada, e o alvo é que todos cheguem ao conhecimento do Altíssimo, o Criador do Universo, de Jesus, Seu Filho e Salvador da humanidade, e do Espírito Santo que abre o entendimento dos leitores das Escrituras e revela o que o Senhor deseja comunicar.
Para o Pr. Válter de Siqueira Sales, 74 anos, da Igreja Batista da Capunga, em Recife (PE), não se pode negar a forte inclinação, principalmente dos mais jovens, para os meios “modernos e mais práticos” de ler e de ouvir a Palavra. “Considero importante que, durante o culto, por exemplo, o celular seja usado no aplicativo Bíblia e não em outras funções ou para outras finalidades”, recomenda ele, assinalando que, em sua igreja, o uso do Livro Sagrado em meio digital é visto com naturalidade, sem restrições. “O Texto Bíblico é capaz de impactar nossa vida, seja por qual meio for. Ele trará sempre, em si e de si mesmo, sua poderosa influência, de todo suficiente, na tela ou no papel, no Brasil ou em qualquer lugar”, conclui.