
Chamado à salvação
14/03/2025
Estratégias criativas e inovadoras são utilizadas por cristãos a partir de recursos específicos que focam em determinados grupos de pessoas
14/03/2025
Por Daniele Vieira
A Bíblia, não por acaso, alerta para o fato de que o poder da palavra se sobrepõe à simples comunicação de ideias ou à transmissão de mensagens. Ela deixa claro que as palavras têm a capacidade de construir ou destruir, inspirar ou desanimar, curar ou ferir. Sendo assim, pode influenciar uma pessoa de maneira profunda e duradoura. É o que diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Efésios, na qual adverte: Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem (Ef 4.29). O conselho paulino segue o ensino de Jesus expresso nos evangelhos de que as palavras ditas são, na verdade, o reflexo do que há no coração: Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más (Mt 12.34,35).

Foto: Arquivo pessoal
No ponto de vista do teólogo Leonardo de Moura, membro da Igreja Novos Começos em Gramacho, Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense, aquilo que é falado exerce influência direta sobre o que é realizado e experimentado, conforme o registro da segunda carta aos Coríntios: E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri; por isso, falei. Nós cremos também; por isso, também falamos (2 Co 4.13). O estudioso cita também a passagem em que Cristo compara a fé a um grão de mostarda: E Jesus lhes disse: E Jesus lhes disse: Por causa da vossa pequena fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá — e há de passar; e nada vos será impossível (Mt 17.20). Moura ressalta que a fé precisa ser comunicada por meio das palavras.
O que pronunciamos, defende ele, reflete como cremos e determina o que vivenciamos em Deus. “Não se trata de misticismo ou de palavras mágicas, mas de declarações fundamentadas na Palavra de Deus, das quais precisamos nos apropriar e viver seus efeitos. Da mesma forma, estar sob palavras de derrota e fracasso atrairá uma realidade de acordo com aquilo que se crê e se fala.”

Foto: Arquivo pessoal
Além disso, Leonardo de Moura afirma que a Bíblia relata episódios nos quais as palavras proferidas fizeram toda a diferença e transformaram realidades (Nm 13). O teólogo esclarece, por exemplo, que a instrução dada aos 12 espias enviados para ver a Terra Prometida era observar se o local era produtivo. “Eles testemunharam toda a beleza e prosperidade da terra. Mas, ao contrário de Josué e Calebe, dez deles se concentraram nos desafios da conquista, em vez de focar na promessa que Deus já havia feito.” Como resultado, aquilo que saiu da boca deles desmotivou a congregação, que se rebelou contra Moisés. “A consequência dos que levaram a má notícia foi morrer no deserto, enquanto Josué e Calebe, que mantiveram a fé, herdaram a terra.”
Bênção e maldição – O teólogo Gustavo Felix endossa a narrativa de que as palavras possuem poder, como evidenciado em Provérbios 18.21: A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto. “Nossas palavras podem trazer edificação ou destruição. Assim, elas são vistas como um meio de manifestar a nossa vontade, podendo ter consequências espirituais e morais”, destaca, sublinhando que Jesus avisou sobre a importância do que é falado, ao afirmar que haverá julgamento (Mt 12.36,37). “Abençoar alguém com palavras é invocar o favor de Deus sobre a pessoa. O contrário também é verdadeiro. O que é dito pode ser usado para amaldiçoar e, assim, gerar consequências negativas.”

Foto: Arquivo pessoal
Na opinião de Felix, toda palavra de maldição sempre será carregada de inveja, ódio e malícia, a ponto de se tornar uma espécie de profecia autorrealizável. Por isso, para ele, as pessoas que recebem constantemente palavras negativas e maldosas têm a identidade destruída. “A carta de Tiago diz que a língua também é um fogo; como mundo de iniquidade (Tg 3.6a), sugerindo que as palavras podem ser um instrumento de bênção ou maldição”, recorda-se, argumentando que o uso da Palavra de Deus, dentro de contextos espirituais, gera um impacto profundo e transformador na sociedade e nos indivíduos, fazendo nascer valores percebidos na mudança social com base em princípios de justiça e equidade. “A Escritura é uma força poderosa que transcende o tempo e o espaço, moldando vidas e modificando sociedades de maneira profunda e duradoura, pois seu impacto vai além das palavras escritas. É uma força viva que tem a capacidade de renovar, inspirar e transformar”, define Gustavo Felix.

Foto: Arte sobre foto de arquivo pessoal
Por sua vez, o Pr. Valmir Nascimento, da Assembleia de Deus em Cuiabá (MT), observa que da mesma boca pode proceder bênção e maldição e compara a língua a uma fonte que tanto pode produzir água doce como amarga. Ele salienta que o poder das palavras, segundo a perspectiva bíblica, não possui um caráter esotérico. “Está relacionado à sua repercussão individual e social”, opina o pastor assembleiano, argumentando que as palavras não possuem poder por si mesmas, como se fossem capazes de mudar realidades, como expressões mágicas. “A sua força está no impacto que produz na vida de todos os envolvidos, gerando atitudes benéficas ou não”, acredita Nascimento, pontuando que as palavras de bênção podem ser usadas a nosso favor e do outro, porque seu conteúdo atua como um rio que vai irrigando a mente de quem as ouve. “Elas produzem vida, ânimo, coragem e boa vontade,” finaliza.
Para o Pr. Igor Andrade, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro (RJ), alguns exemplos do Texto Santo nos ajudam a compreender o poder da palavra. Entre eles, está o da mulher com o fluxo de sangue (Mt 9.20-22; Mc 5.24-34 e Lc 8.43-48). “Quando ela saiu de casa em direção a Jesus, já levava, em seus lábios, palavras de fé e bênção”, enfatiza o ministro, referindo-se ao versículo 28 do capítulo 5 de Marcos: Porque dizia: Se tão-somente tocar nas suas vestes, sararei. Andrade ainda aponta a passagem de Marcos 11.14, na qual Cristo fala da figueira seca. “As palavras são ferramentas essenciais na realização do milagre que esperamos do Senhor, e aquelas que são positivas cooperam nesse processo. Já as negativas podem atrasar a ação do Criador”, opina, asseverando a importância de escolhê-las com sabedoria diariamente. “Verbalizar o que se espera de bom é uma ótima tarefa para trazer à existência coisas que ainda não são”, aconselha o pastor.

Foto: Arquivo pessoal
Controle da língua – O Pr. Paulo Borges, da IIGD em Alcântara, no município de São Gonçalo (RJ), Região Metropolitana do Rio de Janeiro, frisa que o poder de uma palavra pode modificar qualquer situação. “O próprio Deus fez uso dela para criar a nossa existência, inclusive a morte e a vida”, revela o líder, assinalando que tudo é definido pelo que é declarado, como registrado em Provérbios 18.21: A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto. “Podemos usar a linguagem para abençoar, mas ela pode servir também para amaldiçoar uma pessoa”, assevera Borges, mencionando que as declarações do justo e do ímpio são distintas com base em Provérbios 10.11: A boca do justo é manancial de vida, mas a violência cobre a boca dos ímpios.

De acordo com o Pr. Felipe Freitas, presidente de ensino da Universidade Atitude (Uniatitude), falar muito é sinal de insensatez. Citando Provérbios 17.28 (Até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerrar os seus lábios, por sábio), ele atesta que é mais fácil verbalizar o que se quer do que permanecer em silêncio, mas ressalta que quem controla a língua ganha muitas coroas na vida. “Nossa voz serve para glorificar a Deus. Estamos na Terra para sermos cartas vivas nas mãos do Altíssimo”, define, destacando que “são vãs as nossas palavras”. Ele crê que o silêncio permite ao homem reconhecer a sua pequenez diante do mistério de Deus.
O maior exemplo, evidencia Felipe, é Cristo, que ficou em silêncio, cumprindo profecias do Antigo Testamento, como a de Isaías 53.7: Ele foi oprimido, mas não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. “Quando Jesus foi interrogado por Pôncio Pilatos e pelos líderes religiosos, Ele permaneceu em silêncio durante grande parte do tempo, cumprindo essa profecia e demonstrando Sua submissão à vontade do Pai.”

”Foto: Lassedesignen / Adobe Stock
Felipe Freitas ressalta que o povo de Deus deve refletir diariamente sobre o que tem falado e buscar praticar a misericórdia, pois ela abre “torneiras celestiais”: “Ao usar o poder das palavras de maneira consciente e positiva, você pode promover mudanças benéficas em sua vida e na dos outros, criando um impacto duradouro e construtivo. Cabe ao crente em Jesus honrar as pessoas ao redor dele, semeando o amor e o perdão. Devemos praticar a generosidade e cultivar relações saudáveis por meio da empatia e compreensão”, conclui o pregador.