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A formação cristã dos Estados Unidos, iniciada pela colonização inglesa no século 17, é um elemento essencial da história e da identidade cultural do país, hoje com 343 milhões de habitantes e considerado a maior potência mundial. Desde então, o cristianismo tem sido uma força central na vida social, política e cultural dos norte-americanos, influindo diretamente em uma diversidade de tradições, movimentos e influências ao longo dos séculos. Segundo o estudo Cenário Religioso, divulgado em fevereiro de 2025 pelo instituto Pew Research Center, após registrar uma queda do número de seguidores de Jesus nos últimos anos, os cristãos representam, atualmente, 62% da população estadunidense, sendo 40% protestantes. Apesar do declínio brutal em relação a 2007, quando somavam 78%, esse índice vem se mantendo relativamente estável. Em 2014, por exemplo, correspondiam a 71%.

Foto: Divulgação
Ao avaliar a trajetória dos servos de Deus naquela nação da América do Norte, o professor de História Arão Alves esclarece que a implementação do cristianismo no país ocorreu graças à migração de dissidentes religiosos que fugiam da perseguição na Europa. Entretanto, ao contrário do que ocorreu em muitos países europeus, os Estados Unidos não definiram uma igreja oficial. “A Primeira Emenda da Constituição, assinada em 1791, garantiu a liberdade religiosa, proibindo o estabelecimento de uma religião estatal, e favoreceu o pluralismo denominacional”, destaca o historiador. Ele frisa que, ao longo da história cristã norte-americana, vários pastores ganharam destaque, como o renomado evangelista batista Billy Graham (1918-2018), conselheiro espiritual de nove presidentes norte-americanos.

Foto: Arquivo pessoal
De acordo com Arão Alves, no decorrer dos anos, a Igreja passou a estreitar seus laços com o Estado americano, assumindo cada vez mais um papel de agente político. Esse posicionamento, na visão do docente, contribuiu para o distanciamento de parte das novas gerações de cristãos. Por isso, alguns cidadãos substituíram o convívio eclesiástico por atividades extrarreligiosas. “Com o tempo, o vínculo do crente com a igreja se fragilizou, levando ao cenário atual. Não por acaso, algumas congregações estadunidenses não realizam reuniões nas noites de domingo”, informa Alves, destacando que há uma crescente secularização da fé no país. “Os limites entre o sagrado e o profano se tornam mais opacos, a ponto de, em algum momento, alguns cristãos não sentirem falta de estarem em um culto. Esse comportamento pode ressoar nos resultados das pesquisas sobre a fé cristã nos Estados Unidos”, acrescenta. Arão observa que, embora os levantamentos sinalizem uma redução do número de cristãos, é difícil afirmar que houve uma estabilização. “Os dados podem se basear em discursos de cidadãos que, na prática, não vivem uma crença genuína”, pondera.

Foto: Arquivo pessoal
Há mais de 50 anos atuando nos Estados Unidos, o Rev. Renato Bernardes, 76 anos, lidera a Comunidade Cristã Presbiteriana em Newark, cidade mais populosa do estado de Nova Jersey. Tendo testemunhado, nas últimas décadas, várias transformações religiosas, ele não se surpreende com o resultado do estudo do Pew Research Center – mesmo considerando se tratar dos EUA, uma nação historicamente marcada pela fé protestante. Bernardes lembra que esse declínio não é um fenômeno recente. Para ele, apesar de o país ter sido colonizado por grupos ligados a esse segmento religioso, nem todos os que desembarcaram em solo americano estavam comprometidos com os preceitos bíblicos. O pastor também ressalta que, ao permitir a diversidade religiosa, a Constituição dos EUA criou um cenário de influências sobre o cristianismo, facilitando a entrada de pessoas de diferentes culturas e religiões, vindas de inúmeras regiões da Europa e da Ásia. “Alinhado às diversas crenças religiosas, o secularismo começou a crescer e, consequentemente, afetou a fé cristã. Pelo menos é o que mostram as pesquisas.”
Novas gerações – O Pr. Ney Silva Ladeia, líder da Primeira Igreja Batista na Flórida (EUA), com sede em Pompano Beach, conhece bem o desafio enfrentado pelos líderes nos Estados Unidos. Embora festeje a estabilidade no número de cristãos, possivelmente devido ao desenvolvimento de algumas igrejas e o surgimento de focos de avivamento, o ministro acredita que a tendência de redução do contingente de crentes nos EUA não deve acabar. Contudo, vê a possibilidade de reverter esse quadro por meio do discipulado da nova geração, desde a infância. “A família precisa recuperar o seu papel como educadora, seguindo a ordenança bíblica de transmitir a fé aos filhos. Trata-se de uma condição indispensável para enfraquecer esse processo de esfriamento”, orienta Ladeia, enfatizando que, ao mesmo tempo, as igrejas devem dedicar esforços para melhorar seus ministérios infantis.

Foto: Arquivo pessoal
De acordo com o líder, ao manter a educação religiosa de modo sistemático em casa e na igreja, a sociedade cristã norte-americana não terá de se preocupar com a falta de uma nova geração capaz de substituir os mais idosos. Ainda assim, o pastor chama a atenção para um cenário problemático: em muitas comunidades de fé, a média de idade dos membros é de 60 anos. “O resgate do papel da família e o cuidado redobrado da congregação para atrair e influenciar jovens e crianças são a única forma de mudar essa tendência.”
O relatório do estudo do Pew Research Center revela que existe a chance de uma nova queda no índice de cristãos devido ao comportamento dos jovens, os quais se mostram menos interessados em seguir uma crença. Dessa maneira, afirmam os pesquisadores, quase 80% da população que se identifica como cristã é de pessoas mais velhas, e apenas 46% dos adultos jovens disseram seguir o cristianismo. Para os estudiosos, o desafio agora será descobrir se essa parcela de indivíduos irá, em algum momento, rejeitar o Evangelho, ou, se à medida que envelhecer, permanecerá firme na Palavra.

Foto: Arquivo pessoal
Segundo o Pr. Abraão Cifuentes Franklin Lucas Junior, líder da Igreja Batista Brasileira Central no Texas (EUA), em Dallas, esse cenário pode ser diferente do que aponta a pesquisa. Ele argumenta que tem havido um esforço evangelístico das igrejas, atuando nas escolas e universidades, direcionado aos estudantes, a fim de gerar crescimento espiritual e formar amigos e líderes, por exemplo. “Há uma geração que tem buscado deixar claro o seu posicionamento de fé, e cabe à Igreja influir e investir nesse ambiente”, compartilha o ministro, acrescentando que, “haverá um resgate dessa geração”. Para Abraão Cifuentes, enquanto isso não se materializa, é preciso entender os motivos por trás das quedas sucessivas do número de crentes em Jesus nos Estados Unidos. Para o pastor, essa redução está diretamente relacionada à cultura norte-americana, focada nos negócios. Ele pontua que essas organizações deixaram de ser um organismo vivo e ficaram presas a um modelo. “Não estou falando de costumes, mas de liturgia. Os mais antigos são pouco maleáveis e, com isso, fazem surgir um distanciamento em relação à nova geração.”
“Janela de oportunidades” – O levantamento Cenário Religioso revelou outra informação que mereceu análise de especialistas ouvidos pela reportagem de Graça/Show da Fé: aproximadamente 29% dos norte-americanos se identificam como “desigrejados” – religiosos que não congregam. Na opinião do teólogo Amauri Costa de Oliveira, mestre em Ciências da Religião, o problema dessas pessoas não é com Deus. “Trata-se de uma questão institucional”, afirma ele, argumentando que vem tomando corpo um movimento segundo o qual se pretende aproximar esses indivíduos, atraindo-os de volta à igreja.

Foto: Arquivo pessoal
O teólogo reforça alguns dados apresentados pelo estudo, como o fato de que a maioria dos norte-americanos (83%) acredita em Deus. Para Amauri, essa informação revela que, apesar do avanço do secularismo e do relativismo – disseminados na cultura estadunidense, afetando igrejas e influenciando as instituições cristãs –, o cristianismo conseguiu se reinventar nos Estados Unidos. Ele recorda que houve um tempo em que se falava em pós-cristianismo, como aconteceu na Europa. Hoje, segundo Oliveira, os sinais foram trocados e já se fala em pré-avivamento. “O desafio é aproveitar essa janela de oportunidades”, comenta, observando que o cristianismo como movimento religioso vem ganhando muita força e pode se organizar, como alguns grupos já têm feito.” [Do editor: pós-cristianismo refere-se à perda de influência dominante do cristianismo na cultura, na sociedade e na vida pública]

Foto: Arquivo pessoal
Líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Pompano Beach, no sul da Flórida (EUA), o Pr. Moisés Peres admite que as congregações cristãs devem concentrar seus esforços nos jovens, tendo cuidado para não deixar que as tecnologias afastem a garotada do culto presencial. “O comodismo gerado pelos aplicativos faz as pessoas se sentirem menos motivadas a saírem de casa, o que acaba influenciando no hábito de ir à igreja. Muitos creem que podem aprender mais lendo matérias ou vendo vídeos pelo celular. Com isso, aos poucos, vão se afastando sem perceber”, alerta o ministro. Por outro lado, o fato de a grande maioria dos norte-americanos ainda crer em Deus incentiva as lideranças a trabalharem mais para espalhar a mensagem do Evangelho. “Não podemos parar de evangelizar. Quanto mais nos empenharmos nesse objetivo, mais pessoas serão salvas e, consequentemente, o cristianismo crescerá”, conclui Peres, ressaltando que, independentemente dos desafios, a Igreja Evangélica continua mostrando que desempenha um papel fundamental na sociedade norte-americana por ser um dos segmentos religiosos mais expressivos e influentes.