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A fé inabalável da fundadora da ONG Mães da Sé, que transformou seu luto em esperança

Foto: Marcelo Santos

Por Marcelo Santos

No dia 23 de dezembro de 1995, Ivanise Esperidião, 63 anos, viu sua vida mudar completamente: sua primogênita, Fabiana Esperidião da Silva, então com 13 anos, desapareceu sem deixar pistas a poucos metros de casa, em São Paulo (SP). O que parecia ser uma tragédia pessoal acabou revelando-se, com o tempo, um drama coletivo que atinge milhares de famílias brasileiras. “Foram meses procurando a minha filha sozinha, sem encontrar ninguém que estivesse vivendo a mesma dor. Achava que era só comigo, até entender que essa era uma realidade invisível para a sociedade”, recorda-se.

Essa dor solitária foi o ponto de partida para um dos movimentos mais emblemáticos de busca por desaparecidos do Brasil. Ivanise fundou a ONG Mães da Sé, transformando sua angústia em missão. Desde então, quase seis mil pessoas foram localizadas graças ao seu trabalho incansável – uma batalha sustentada por algo muito maior: a fé. “Se não fosse a minha fé em Deus, eu não teria resistido. Foi Ele quem me deu uma missão no momento em que pedi uma forma de suportar.”

À frente da organização não governamental, sediada no coração da capital paulista, Ivanise se tornou um farol para famílias que, a exemplo dela, viram-se, repentinamente, à deriva. Mesmo sem notícias de Fabiana, sua entrega à causa nunca enfraqueceu. “Cada mãe que reencontra seu filho é como se um pedaço da minha filha voltasse para casa. É isso que me mantém de pé.” Nesta entrevista franca e emocionada à Graça/Show da Fé, ela compartilha detalhes de sua trajetória, das dúvidas que teve diante de Deus, das lutas contra o descaso e, acima de tudo, da força que vem do Alto.

Como nasceu o movimento Mães da Sé?

Tudo começou com o desaparecimento da minha filha, que até hoje não foi encontrada. Três meses depois daquele dia, o trabalho surgiu de maneira inesperada. Nasci em um lar cristão: minha mãe foi, durante muitos anos, membro da Assembleia de Deus e, depois, passou a integrar a Congregação Cristã no Brasil. A fé sempre sustentou a minha mãe, assim como me sustentou também. Porém, confesso que, naquela hora, eu me revoltei com Deus.

De que maneira se deu esse momento de dúvida e revolta?

Eu perguntava para o Senhor: Por que eu? Por que a minha filha?. Era uma dor muito solitária. Durante três meses, procurei a Fabiana sozinha, andando por essa cidade imensa [referindo-se à capital paulista]. Fui a hospitais, ao Instituto Médico Legal (IML) e a delegacias, e não encontrei ninguém vivendo o mesmo que eu. Era só eu e Deus. Eu me lembro de um dia, em especial. Tinha acabado de chegar da rua, exausta. Naquele instante, tive, de fato, uma discussão com Deus. Falei: Por que o Senhor está me castigando, usando a minha filha? Se é para castigar, que castigue a mim! Já vivi bastante, mas ela só tem 13 anos. Disse aquilo revoltada, de peito aberto. Mas, imediatamente, um arrependimento enorme me invadiu. Eu me ajoelhei de novo e pedi perdão a Ele. Foi quando clamei: Senhor, me mostra uma forma de esperar. Eu não sei como suportar essa dor. E Ele me respondeu.

Como foi essa resposta?

Alguns dias depois, uma amiga da faculdade me ligou e me deu o telefone de uma organização [Mães da Cinelândia] no Rio de Janeiro (RJ) que apoiava famílias de crianças desaparecidas. Cadastrei o nome da Fabiana na iniciativa. Três semanas depois, recebi uma ligação: a dramaturga Glória Perez iria colocar relatos de mães na novela Explode Coração, e me convidaram para participar. Gravei aquele depoimento esperançosa. Tinha certeza de que encontraria minha filha quando minha fala fosse ao ar. No entanto, a semana passou, a novela foi exibida com a minha declaração, e nenhuma notícia veio. No dia seguinte, fui procurada por duas jornalistas de jornais importantes de São Paulo e desabafei. Contei tudo sobre a minha busca solitária e relatei que eu mesma investigava o desaparecimento de Fabiana e levava as informações à polícia. No fim dessas entrevistas, deixei um número de telefone, que nem era meu, mas da dona da casa onde eu morava, e dei este recado: “Se alguém estiver passando pela mesma situação, me ligue”. No outro dia, o telefone não parava de tocar. Eram mães, pais, familiares, jornalistas, rádios, TVs. Uma semana depois, já estávamos na Praça da Sé com mais de cem pessoas. Ali nasceu o movimento, no dia 31 de março de 1996.

Então, foi quando tudo começou?

Naquele momento, entendi que Deus tinha me dado uma missão. Eu Lhe pedi uma forma de esperar, e Ele me deu um trabalho. Se ficasse parada, enlouqueceria. De lá para cá, abdiquei da minha vida profissional, do meu casamento, tudo ficou em segundo plano. Mas vejo esse chamado como uma missão divina. Se a dor de perder a minha filha serviu para dar visibilidade a esse problema e ajudar outras famílias, então é preciso dizer: Deus sabe o que faz. Até hoje, não achei a Fabiana, mas já encontrei quase seis mil pessoas.

Já pensou em desistir?

Nunca. Cada vez que uma pessoa é encontrada, minha esperança se renova mil vezes. Na semana passada, estava em Ribeirão Preto (SP), na casa do meu irmão, quando recebi a denúncia de que um rapaz, desaparecido há dez meses, encontrava-se em situação de rua, em Santo André (SP). Aquilo virou meu dia de cabeça para baixo. Fiquei em contato com a irmã dele, orientando-a. Quando ela confirmou que era mesmo ele, já passava das 23h. Mas minha alegria foi tão grande que não consegui dormir.

De que maneira ficou a sua relação com Deus depois de tudo isso?

Só se fortaleceu. Ele é quem me mantém de pé. Todos os dias, quando acordo, abro a janela do meu quarto e agradeço por mais um dia, por mais uma esperança. Não saio de casa sem orar. E, quando volto, agradeço de novo. Frequento a Congregação Cristã do Brasil, mas também vou à Assembleia de Deus e participo de círculos de oração. Não importa o templo. O importante é buscar a Deus.

Como é lidar com essa dor por tanto tempo?

A vida das pessoas continua, mas a nossa, sendo mãe, para. A minha parou em 23 de dezembro de 1995. Creio que ser mãe é uma dádiva divina. Quando Ele nos dá a maternidade, já sabe do que somos capazes de suportar. O amor de mãe é diferente de qualquer outro. A mãe não desiste!

Ivanise Esperidião
Fundadora da ONG Mães da Sé

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