Heróis da Fé | Paul W. Brand
01/09/2022Família – 279
01/10/2022O avanço da Reforma: Portugal e colônias
Na edição anterior, falamos do progresso da Reforma Protestante na Espanha. Neste artigo, vamos tratar do avanço da Reforma em Portugal e suas colônias.
Um dos principais nomes relacionados com o protestantismo em Portugal foi o gramático e construtor bélico-naval renascentista Fernão de Oliveira (1507-1581).
Segundo o historiador e pedagogo lusitano Antônio Baião (1878-1961), Fernão de Oliveira foi filólogo como João de Barros (1496-1570), aventureiro como o explorador português Fernão Mendes Pinto de Montemor (1510-1583), perseguido pela Inquisição como o historiador, viajante e diplomata Damião de Góis (1502-1574), navegador como o nobre, cartógrafo e administrador colonial português João de Castro (1500-1548) e, porventura, o único escritor de Arquitetura Naval do seu tempo e do seu país.
Frade dominicano, Fernão de Oliveira, pelo espírito de aventura e por ser vítima de inveja, teve de emigrar. Em 1532, abandonou o convento, refugiando-se na Espanha. Quatro anos depois, regressou a Portugal e publicou a primeira gramática em língua portuguesa.
Em uma de suas visitas a Lisboa, travou conversa com um dos livreiros da Rua Nova do Almada, ocasião em que manifestou sua fé nas doutrinas protestantes. Por tal postura, o livreiro o denunciou à Inquisição, em cujas mãos Fernão de Oliveira teve de sofrer as consequências do seu testemunho de fé. Ele foi detido em 1547, mas, após três anos na prisão, foi transferido para o Mosteiro de Belém, onde, em 1551, conseguiu liberdade condicional.
Foto: Caparicano066 / Wikimedia
Foto: Reprodução
No ano seguinte, participou da malfadada expedição organizada pelo rei de Portugal e do Algarve,
D. João III (1502-1557) ao Norte da África, onde ficou prisioneiro. Em 1553, retornou à capital portuguesa. Em 1554, em Beira Alta, foi denunciado como cismático por D. Antônio da Cunha, um falso amigo, recebendo nova ordem de prisão. Depois de obter a liberdade, Oliveira exerceu as atividades de revisor da Imprensa da Universidade de Coimbra e de professor de Retórica. Em 1556, viajou para a França, e, a partir de então, há poucos registros sobre ele. Faleceu aos 74 anos, em Aveiro, em 1581.
Na fogueira – Muitos outros portugueses célebres sofreram em decorrência da fé evangélica. No século 17, João Ferreira de Almeida (1628-1691), o primeiro tradutor da Bíblia completa para o português, só não pereceu na fogueira por viver no estrangeiro. No século seguinte, foi o escritor Francisco Xavier de Oliveira (1702-1783), chamado de “o protestante lusitano”, que se livrou de ser morto pelo “crime” de ter outra fé, diferente da qual professara durante anos.
Outra figura protestante é o Dr. Vicente Gomez y Tojar (1808-1874), ex-sacerdote católico espanhol, fugido do seu país, que abraçou as ideias da Reforma Protestante nas primeiras décadas do século 19, no exílio. Auxiliado pela Sociedade Missionária Wesleyana (Metodista) e pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, sediadas em Londres, foi trabalhar em Portugal no ano de 1832 ou 1833. Sua missão era distribuir as Escrituras Sagradas e, se possível, fundar uma igreja evangélica.
No ano de 1839, Gomes y Tojar fundou, na Rua Nova do Almada, em Lisboa, perante 110 pessoas, uma capela, à qual deu o nome de Capela da Proclamação do Santo Evangelho de Jesus Cristo, trabalho esse que duraria até 1870. Era obra missionária em língua castelhana, pois as leis vigentes não permitiam aos nacionais professarem uma religião diferente da do rei, conforme registra a historiadora Sônia Apparecida de Siqueira, em sua obra A Inquisição Portuguesa e a sociedade colonial (São Paulo, Editora Ática, 1978, p. 224).
Foto: Divulgação / SBB
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Influência protestante no Brasil – A influência protestante não deixou de se fazer sentir no Brasil, na virada do século 16 para o 17, como dão a entender as confissões que muitos brasileiros fizeram nessa época. O editor italiano Arnoldo Mondadori (1889-1971) menciona Pero Cárdigo, que ousava proclamar sua descrença nos santos, e afirma: Mais sério parecia ser o caso de Cristóvão da Costa, que afirmara, para alguns amigos, que a sua fé bastava para o salvar. Coisa idêntica fizera Bernardo Ribeiro. A heresia era mal de fácil contágio. Os confidentes que apareceram à Mesa para contar terem estado na companhia de luteranos ingleses ou holandeses, no mar, ou presos por eles em suas cidades, foram pelos ministros do Santo Ofício examinados acuradamente, não fossem eles terem aderido ao protestantismo às escondidas. Nesse zelo inquisitorial, originaram-se os processos de Baltazar André, Antônio Maciel, Cosmo Gonçalves, Francisco Pires, Gonçalo Vaz e João Bono, e as investigações feitas em torno da confissão de Antônio Guedes (citado em Mulheres imortais, São Paulo, Companhia Melhoramentos, vol. I, p. 74).
Podemos perceber que, através dos tempos, o Senhor tem velado sobre a Sua Palavra para ela se cumprir. A dedicação e o sofrimento desses heróis da fé constituem preciosa lição, da qual não podemos nos esquecer.
Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com