Medicina e Saúde – 259
01/02/2021
Sociedade
01/04/2021
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Abraão de Almeida

Nero, os cristãos e os judeus

Nero (37 – 68 d.C.), o imperador romano responsável pela morte do apóstolo Paulo e de inúmeros outros cristãos, subiu ao poder em 54 d.C., em lugar de Britânico, o legítimo herdeiro, com a ajuda de
Júlia Agripina Menor (15 – 59), mãe do soberano. Descrito como curto de pernas, grosso de pescoço e barrigudo, Nero não ostentava qualquer virtude e cometeu inúmeras atrocidades, como o incêndio de Roma, em julho do ano 64, provocado por ele mesmo, cuja culpa lançou sobre os inocentes cristãos.

Em decorrência dessa calúnia, vários crentes em Jesus pereceram da maneira mais cruel possível, relata a obra de A. Knight e W. Anglin, Breve esboço de história do cristianismo (Casa Editora Evangélica, 1943, p.11): Alguns foram vestidos em peles de animais ferozes e perseguidos pelos cães até morrerem; outros foram crucificados; outros envolvidos em panos alcatroados e depois incendiados ao pôr do sol, para que pudessem servir de luzes durante a noite. Nero cedia o seu próprio jardim para essas execuções e apresentava ao mesmo tempo alguns jogos de circo, presenciando toda a cena vestido de carreiro, umas vezes a pé no meio da multidão, outras do seu carro.

Foto: Sander Crombach / Unsplash

A execução de Agripina, ordenada pelo próprio Nero, seu filho, dá a ideia da devassidão desse homem e da crueldade da Roma Imperial daquela época.
Popeia Sabina – mulher de Oto (32 – 69), que mais tarde foi imperador (em 69, e por apenas três meses) – levou a Nero, de quem era amante, falsas acusações de traição da progenitora desse monarca. Esta, ao saber das intrigas tramadas contra sua vida, escreveu a ele: Uma mulher que nunca teve filhos não sabe o que é perdê-los. A natureza nos torna odiosos ou indiferentes àqueles objetos de que não temos a experiência. Admira-me que prestando ouvidos a intrigas, possas dar crédito a semelhante desumanidade. Não conheces, meu filho, a afeição que todas as mães nutrem pelos seus filhos? […] Porventura te esqueces que durante nove meses te carreguei em meu ventre? Como admitir então que eu mesma tentasse destruir o filho querido que me custou tanta angústia dar à luz? É possível que os deuses, encolerizados pelo excesso de amor que te consagro, queiram desse modo punir-me. […] Diz-me: por que haveria eu de tramar contra a tua vida? Para afundar eu mesma em destino pior? Não tem cabimento. Que esperança poderia induzir-me a desejar a tua queda? É certo que a ambição de mando corrompe muito frequentemente a lei da natureza; que a justiça não tem espada para punir aqueles que delinquem dessa maneira; e que a cobiça não olha a delitos para chegar a seus fins. […] Minha inocência não tem que se defender, mas confiar inteiramente na tua justiça. Adeus.

Sangrentas batalhas – Longe de se deixar convencer pela carta de sua mãe, Nero ordenou a sua execução no ano 59: ela morreu estrangulada. Após 14 anos de um sinistro reinado, em que eliminou também muitos nobres, Nero foi condenado à morte pelo Senado Romano. Porém, antes de ser cumprida a pena, matou-se com a própria espada.

Foi ainda no governo dele, no ano 66 d.C., que os judeus na Palestina se rebelaram contra Roma e seu domínio, aniquilando as guarnições romanas do mar Morto e da Torre Antônia. Para reprimir a rebelião, o imperador enviou grande exército sob o comando de Tito Flávio Vespasiano (que depois se tornou o líder do Império Romano, de 69 a 79). Várias e sangrentas batalhas foram travadas na Galileia, com elevado número de vítimas de ambos os lados.

Tito Flávio Vespasiano (39 – 81) Foto: Wikimedia

Na Páscoa de 70 d.C., as legiões romanas, sob o comando de Tito (39 – 81), cercaram Jerusalém. O terrível sítio durou cinco meses de sofrimentos indescritíveis. Nesse período, 600 mil cadáveres foram lançados para fora dos muros da cidade. A peste e a fome se encarregavam de dizimar centenas de pessoas diariamente. Quando a cidade caiu, contou-se cerca de 1,1 milhão de mortos. Por uma das portas apenas, foram retirados 115 mil cadáveres. Dos 97 mil sobreviventes, a maior parte foi levada para Roma; outros foram presenteados às províncias do Império para morrerem como gladiadores nas arenas em espetáculos públicos, e outros ainda seguiram para trabalhos forçados no Egito.

Em 8 de setembro do ano 70, o chamado terceiro Templo – ampliado e remodelado por Herodes, o Grande (73 a.C. – 4 d.C.), a partir de 20 a.C. – foi incendiado por um soldado romano. Só o muro ocidental de sustentação da esplanada do Templo permaneceria em pé, vindo a ser chamado mais tarde de Muro das Lamentações.

Herodes, O Grande (73 a.C. – 4 d.C.), com os três magos do Oriente: ele ampliou e remodelou o chamado terceiro Templo, que viria a ser incendiado por um soldado romano no ano 70 Foto: Reprodução

O primeiro Templo, como sabemos, foi construído por Salomão, mais ou menos em 959 a.C., e destruído pelos babilônios em 586 a.C. (2 Rs 25.8-17). A construção do segundo Templo foi feita por Zorobabel, depois que terminou o cativeiro babilônico. Começou em 538 a.C. e terminou por volta de 516 a.C. (Ed 6). O terceiro Templo, aquele feito sob o comando de Herodes, o Grande, ficou pronto no ano de 64.

Com o aniquilamento de Jerusalém no ano 70, as comunidades cristãs da Palestina perderam sua influência sobre as igrejas gentílicas (de gentios), o que fez a luta de Paulo em favor da liberdade cristã se consolidar. E, assim, Antioquia, Roma e Éfeso se tornaram os principais centros da expansão cristã.

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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