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31/07/2025
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Aguardar o tempo de Deus é um caminho de fé e resiliência que forja o caráter cristão

Foto: Ashalina / Gerado com IA / Adobe Stock

Por Lilia Barros

Em um mundo apressado e dinâmico, a espera é cada vez menos tolerada. A cultura do imediatismo, marcada pela busca constante por respostas e resultados rápidos, impacta profundamente a rotina diária. Lidar com essa urgência nem sempre é simples, especialmente quando se trata de esperar em Deus. Desse modo, o que deveria ser um exercício de fé e confiança para os crentes em Jesus se torna um processo doloroso que leva muitos deles a pensarem que o Senhor está indiferente aos seus problemas e às suas orações.

Entretanto, as Escrituras Sagradas mostram que, ao aguardarem a providência do Alto, homens e mulheres alcançaram grandes vitórias. Após ser ungido pelo profeta Samuel (1 Sm 16.1-13), Davi esperou aproximadamente 15 anos para se tornar rei de Judá (2 Sm 2.2-4), e, depois, mais sete anos para assumir o reinado de todo Israel (2 Sm 5.1-4), em meio a lutas e perseguições. Mesmo diante das adversidades, José perseverou e chegou a ser governador do Egito (Gn 41.41-43). Ana desejava muito ter um filho. Ao esperar com fé, ela realizou, enfim, o sonho da maternidade (1 Sm 1.20-23).

O Pr. Ricardo Ferreira Pereira observa: “Aguardar a resposta do Senhor não precisa ser um fardo de angústia ou desconforto”
Foto: Arquivo pessoal

Planos perfeitos – O Pr. Ricardo Ferreira Pereira, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Nova Carapina ll, no município de Serra (ES), na Grande Vitória, lembra que existem duas palavras gregas, com significados distintos, para designar tempo: cronos e kairós. “O primeiro pode ser contado e medido pelo homem. O segundo está sob o controle de Deus, já que Ele determina as horas e os meios para que tudo seja realizado.” O ministro reconhece que esperar no Senhor é, de fato, uma tarefa desafiadora, pois envolve ansiedade e imediatismo, que são gerados pela falta de compreensão para lidar com o kairós. “É possível que a pessoa pense ter sido esquecida pelo Pai celestial. Essa sensação tenta ganhar voz e desencadeia um vazio. Nesse momento, existe o perigo de o indivíduo sucumbir ao pecado”, ressalta Pereira.

Todavia, o pastor esclarece que o “remédio” para o cristão não cair nessa armadilha é intensificar a aproximação com o Criador até que sinta leveza, paz e liberdade, a qual só pode ser encontrada na presença de Deus. “Aguardar a resposta do Senhor não precisa ser um fardo de angústia ou desconforto,” complementa.  Pereira aproveita a oportunidade para ratificar dois conselhos aos seguidores de Jesus: “Invista na comunhão com o Altíssimo, o que nunca é desperdício, e se recorde das boas lembranças que o Pai já fez em seu favor.” Dessa maneira, salienta ele, o cristão pode encontrar segurança no processo de espera. “Esse tempo pode ser proveitoso porque, enquanto a pessoa ora, Deus molda o caráter dela, desenvolvendo nela virtudes, como a paciência.” O ministro lembra ainda que a suposta demora no agir divino não significa castigo. “Não andamos por sentimentos, mas pela fé. Quando escolhemos confiar no tempo do Todo-Poderoso, mesmo sem entendê-lo, desfrutamos de esperança, porque estamos convictos de que Ele tem sempre o melhor a oferecer,” conclui.

O Pr. Júnior Fanticelli, o qual argumenta que aguardar no Senhor é sinal de maturidade espiritual, esclarece: “Orar é um dever cristão, responder à oração, porém, é uma decisão divina”
Foto: Divulgação / Paula Barros Fotografia

A partir desse contexto, o Pr.Júnior Fanticelli, da Assembleia de Deus Nova Vida em Itapoã, na cidade de Vila Velha (ES), argumenta que aguardar no Senhor é sinal de maturidade espiritual. “Orar é um dever cristão, responder à oração, porém, é uma decisão divina”, destaca, acrescentando que os planos do Senhor são eternos e perfeitos. “Mesmo quando parece que Ele Se esqueceu, é um período de aprendizado. Se não é bênção nem maldição, é lição”, garante Fanticelli.

O ministro assembleiano aponta que devemos ter em mente os atributos divinos e nos recordar de Sua grandeza em contraste com nossas limitações. “O Altíssimo, em Sua eternidade, não está sujeito ao tempo e ao espaço, como nós – Suas criaturas. Um de Seus poderes indivisíveis é a onisciência, o conhecimento absoluto (Sl 139.1-4), algo inalcançável para o ser humano”, argumenta o pastor, reforçando a ideia de que as promessas do Eterno são infalíveis. Citando Números 23.19 (Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria?), Fanticelli assevera que até para patriarcas, profetas, reis e apóstolos foi difícil aguardar no Senhor. “Nossa mente limitada vive em constante tensão entre o que desejamos e o modo como o Altíssimo age”, ensina o líder, assinalando que a maneira com que lidamos com a espera revela o estado do nosso coração. “Uma coisa é não entender o tempo de Deus; outra, bem diferente, é se recusar a esperar, o que pode se tornar iniquidade.”

Foto: stokkete / Adobe Stock

Total dependência – A técnica de Enfermagem Márcia Caldas Rosa, 54 anos, membro da Igreja O Brasil para Cristo, em Jardim Imperador, zona leste de São Paulo (SP), viveu experiências marcantes nas quais viu Deus agir de imediato. Em outras, precisou aguardar bastante pela intervenção celeste. Durante o período em que atuou em determinado hospital [que nossa Redação prefere não revelar por questões éticas], no qual cuidava de crianças com câncer, Márcia se angustiava ao presenciar o sofrimento dos pequenos. “Eles choravam de dor, e aquilo mexia muito comigo. Cheguei a questionar o meu chamado e a minha profissão”, relembra-se, citando um episódio que impactou sua trajetória. “Um dia, um menino gritava tanto de dor, que fui para o corredor e orei: Senhor, faz essa criança  parar de chorar ou vou pedir demissão. Naquela hora, o garoto se acalmou. Deus agiu rápido.”

A técnica de Enfermagem Márcia Caldas Rosa, que trabalhou durante seis anos em um necrotério, conta: “Foi um tempo longo de espera, mas entendi que Deus tinha algo a me ensinar. Ali, eu aprendi sobre a finitude da vida e o valor de cada oportunidade”
Foto: Arquivo pessoal

No entanto, Márcia Rosa também experimentou um momento em que o Altíssimo demorou a entrar com providência – pelo menos aos seus olhos. Durante seis anos, ela trabalhou em um necrotério e orava diariamente para ser transferida. “Foi um tempo longo de espera, mas entendi que Deus tinha algo a me ensinar. Ali, eu aprendi sobre a finitude da vida e o valor de cada oportunidade”, conta. Atualmente, a técnica em Enfermagem atua em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) InfantoJuvenil na cidade de São Paulo (SP). Ela continua esperando pela resposta de uma oração que perdura há várias décadas: a salvação em Cristo do pai de seus filhos. “Há 30 anos, intercedo por isso com confiança. Nesse tempo, compreendi que Deus conhece com precisão aquilo de que necessitamos com urgência e o que Ele deseja nos ensinar pela espera”, relata a profissional da saúde, feliz por saber o papel que deve desempenhar como crente em Jesus e por compreender que há obras que só cabem ao Altíssimo realizar. “Quando temos esse entendimento, tudo passa a fazer sentido.”

A teóloga Alana Carla Lucena Farias assevera que o período de espera é importante: “A nossa fé é moldada nesses momentos, e, por mais difíceis que possam parecer, eles são preciosos e necessários”
Foto: Arquivo pessoal

A teóloga e mestre em Ciências da Religião Alana Carla Lucena Farias, da Primeira Igreja Batista em João Pessoa (PB), declara que o impasse surge quando o crente tenta adequar o tempo controlado pelo Todo-Poderoso ao administrado pelo ser humano. “É impossível fazer tal coisa, porque nossa medida é finita. Por isso, a percepção de espera é negativa aos nossos olhos.” Na opinião dela, o esforço para dominar os dois tempos é o que causa frustração. “Queremos ter o controle da nossa vida, mas não temos esse poder”, assevera Alana, a qual aconselha o crente, durante a espera, a se dedicar mais a conhecer o Senhor a partir da Sua Palavra e investir em períodos de oração. “A nossa fé é moldada nesses momentos, e, por mais difíceis que possam parecer, eles são preciosos e necessários.”

Foto: Julia / Gerado com IA / Adobe Stock

Por sua vez, o Pr. Mauricio Fragale, da Igreja Nova na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), cita o exemplo de Abraão, que teve fé e esperança mesmo quando não havia motivo e, por isso, tornou-se o pai de muitas nações (Gn 17.4). “A palavra esperança na Bíblia é elpis, que significa uma alegre expecta­tiva de coisas boas. Porém, a situação dele e de Sara não era só difícil: era impossível aos olhos humanos. Então, Abraão tinha de aprender a confiar e esperar o tempo do milagre.” No entanto, naquele período, ressalta o pastor, o casal tentou “dar uma ajuda” a Deus, e, por isso, o patriarca teve um filho com a escrava Agar – Ismael (Gn 16.1-16). “Não era o plano do Senhor. Houve uma precipitação. Abraão esperou por 25 anos, porque a promessa foi feita aos 75, e Isaque nasceu quando já estava com 100 anos (Gn 21.1-5).”

O Pr. Mauricio Fragale afirma: “É a ação da fé que impulsiona a adoração até a concretização daquilo que se espera no Senhor”
Foto: Arquivo pessoal

O líder salienta que, naquele espaço de tempo, conforme registram as Escrituras, Abraão fortaleceu a sua fé e passou mais de duas décadas adorando e agradecendo a Deus por algo que cria (Rm 4.20,21). “Ele se agarrou a isso como alguém que está pendurado em uma corda, e que, se largar, morre. Abraão não tinha alternativa a não ser crer e esperar”, aponta Mauricio, asseverando que cabe a todos os cristãos fazerem o mesmo. “Posicione-se e dê glórias a Deus. É a ação da fé que impulsiona a adoração até a concretização daquilo que se espera no Senhor.”


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