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Boeing 737-347
Foto: Aero Icarus / Wikimedia
Abraão de Almeida

DEGRAUS INTERMEDIÁRIOS

Minha experiência em muitas viagens aéreas é que o maior esforço feito pela aeronave está na decolagem. Lembro-me de uma viagem em família, de Belo Horizonte (MG) a São Paulo (SP), nos anos de 1970, em que o avião partiu do antigo aeroporto de Pampulha. A aeronave estava superlotada, e a pista parecia pequena demais. O piloto acelerou fortemente as turbinas ainda na curva que dava acesso à pista de decolagem e continuou acelerando ao máximo para que o Boeing 737-347 deixasse o solo bem ao final da curta e ondulada pista. Assim também ocorre na vida cristã. Os primeiros passos são os mais difíceis, marcados por obstáculos, como problemas familiares, atritos com colegas de trabalho, desprezo de velhos amigos, dificuldades em abandonar vícios, linguagem torpe, vestes mundanas etc.

Tribulações – Especialmente no meu caso, convertido aos 20 anos de idade, os costumes eram duros. Eu fazia o movimento bancário da loja em que trabalhava, indo a pé de uma agência bancária a outra, no forte calor de Barra Mansa (RJ) e de chapéu na cabeça, o que era a regra da minha igreja naquele início de 1961. Não nego que foi difícil suportar aquela tradição, mas o sólido ensinamento bíblico ministrado pelo saudoso Pr. Nicodemos José Loureiro (1927-2018) era tão poderoso e edificante que compensava qualquer sacrifício. A igreja era um lugar de pura bênção, sempre crescendo, e cada culto era uma verdadeira festa espiritual, com batismos no Espírito Santo, manifestação dos dons espirituais e muitas conversões genuínas.

Nicodemos José Loureiro (1927-2018)
Foto: Reprodução / Flickr-nilmabostonrio

No entanto, confesso que, quando me mudei para São Paulo, na primeira curva da estrada de ferro, o meu chapéu Prada voou pela janela do trem. Eu sabia que não teria de usar aquele complemento de vestuário onde iria morar e congregar.

A propósito, estava em um hotel em São Paulo, há poucos anos, folheando um jornal em que havia uma reportagem sobre o Rio antigo. Ilustrava o texto a foto de um acidente de carros na Avenida Brasil, ocorrido por volta de 1920. Havia muita gente ao redor dos veículos. Percorri os olhos nos homens e não vi um sequer que não usasse chapéu. Era o costume da época, e, como a minha igreja havia nascido no Rio de Janeiro naquele período, os seus pioneiros entenderam que o traje masculino deveria incluir o adereço.

Perseverança ou paciência Soube de uma irmã tão impaciente com o marido e os filhos que pediu ao seu pastor que orasse por ela, pois precisava muito de paciência. O líder espiritual pediu em oração que Deus enviasse tribulação àquela serva. Após o “amém”, ela reclamou: “Como o senhor pôde pedir isso para mim?” A resposta foi: “A Bíblia diz, minha irmã, que a tribulação produz a paciência (Rm 5.3)”.

Bernard Montgomery (1887-1976)
Foto: Imperial War Museum / Wikimedia

Um exemplo clássico da falta de paciência, ou perseverança, ocorreu na Segunda Guerra Mundial. Dois exércitos estavam acampados no Norte da África: o dos aliados, sob o comando do marechal de campo Bernard Montgomery (1887-1976), e o da Alemanha, liderado pelo marechal de campo Erwin Rommel (1891-1944). Ambos tencionavam se retirar diante das diminutas condições de sobrevivência naquele deserto. No entanto, Montgomery recuou primeiro. Ao saber que o inimigo tinha ido embora, Rommel ocupou posição avantajada na guerra, dificultando muito a sua derrota pelos aliados.

Alegria indescritível – O domínio do Espírito Santo sobre o nosso corpo produz em nós um caráter aprovado (Rm 5.4 – NVI). A comprovação dessa virtude ocorre nas muitas vitórias espirituais vividas no processo de crescimento em maturidade, ou seja, nas boas experiências que formam nosso caráter. Se o cristão nasce no Reino de Deus com a presença do Consolador nele, no estágio seguinte do seu desenvolvimento, ele experimentará a paixão do Espírito, a qual é irresistível. Eu me recordo da minha juventude: domingo de manhã, na Escola Bíblica Dominical e, à tarde, nos cultos ao ar livre ou distribuindo literatura cristã. Fazíamos aquilo com um ardor incontido.

Erwin Rommel (1891-1944)
Foto: German Federal Archive / Wikimedia

Certa tarde de domingo, enquanto um colega e eu pregávamos à beira de um caminho que ligava dois bairros, em Osasco (SP), na região metropolitana de São Paulo, um bom número de pessoas ouvia o Evangelho. De repente, o tempo mudou, ameaçando chuva. Eu estava pregando quando começou a chover, mas ninguém foi embora. Era um milagre: os ouvintes estavam presos pelo poder da Palavra.

Em outra ocasião, eu havia adquirido boa quantidade de Evangelhos ilustrados, próprios para a evangelização, mas não consegui um companheiro sequer para me acompanhar no evangelismo entre as dezenas de jovens da congregação. Então, um irmão, que não frequentava a igreja, prontificou-se a ir comigo. Seguimos por uma longa rua que margeava a estrada de ferro e, de porta em porta, falávamos de Jesus, fazíamos um apelo e deixávamos a literatura. Quando saímos da última casa, a presença divina nos envolveu de modo tão glorioso que ficamos paralisados, chorando no meio da rua. Era como se o céu baixasse ali, e o próprio Deus nos desse um caloroso abraço. Nossa alegria era indescritível!

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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