Clamor atendido
14/05/2025
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Guerras e catástrofes naturais geram questões quanto ao fim dos tempos

Foto: Ahmed / Gerado com IA / Adobe Stock

Por Lilia Barros

Em um mundo cada vez mais marcado por acontecimentos aterrorizantes, muitos cristãos se perguntam: estariam as profecias bíblicas sobre o fim dos tempos se realizando diante de nossos olhos? Fatos mais recentes, como a guerra entre Israel e Hamas, iniciada em outubro de 2023, e a invasão da Ucrânia pela Rússia, que perdura desde fevereiro de 2022, intensificam esse tipo de reflexão.

O relatório do Índice Global da Paz de 2024 – produzido desde 2007 pela ONG australiana Institute for Economics & Peace (IEP) para medir quão pacíficas são as nações e regiões do planeta – revela que o número de combates no mundo é o maior desde a Segunda Guerra Mundial, com 56 confrontos ativos entre países e 110 milhões de pessoas deslocadas por força desse cenário. Para muitos estudiosos das Escrituras, esses acontecimentos ecoam as declarações de Jesus registradas em Mateus 24.6,7: E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares.

O professor e teólogo Leonardo Andrade opina: “É importante evitar especulações, mas os conflitos que abrangem a nação [Israel] estão cumprindo as profecias descritas nas Sagradas Escrituras”
Foto: Arquivo pessoal

Eles chamam a atenção, por exemplo, para o agravamento da situação política, econômica e social do Oriente Médio. “Tudo o que envolve Israel faz parte do calendário profético. É importante evitar especulações, mas os conflitos que abrangem a nação estão cumprindo as profecias descritas nas Sagradas Escrituras”, opina o professor e teólogo Leonardo
Andrade, o qual relembra disputas históricas que envolveram a nação israelense, como a Guerra da Independência (1948), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973), enfatizando que “em todos elas, o Senhor esteve e está com Israel para fazê-lo vencedor”.

Indagado a respeito dos sinais que indicariam a proximidade do fim dos tempos, Andrade menciona o retorno dos judeus dispersos a Israel, que vem ocorrendo ao longo das últimas décadas, como um cumprimento profético significativo. Ele aponta também alguns eventos: o caos econômico, as guerras religiosas, os conflitos de gênero, a crescente rejeição aos princípios cristãos e as desavenças familiares. “É a manifestação do avanço da iniquidade, outra sinalização de que a volta de Jesus está próxima”, adverte o professor, que também é filósofo e historiador especializado em Línguas Semíticas e Culturas do Oriente Antigo.

O Pr. Rafael Mariano dos Santos, ao analisar o papel de Israel nos eventos apocalípticos, destaca: “Será relevante em muitos momentos, mas não podemos superestimá-lo”
Foto: Marcelo Santos

Ao mesmo tempo, Andrade expressa preocupação diante de interpretações equivocadas das profecias bíblicas e faz um alerta sobre falas especulativas: “São totalmente desfavoráveis e distorcem a Palavra de Deus”. Ele critica a associação indevida de figuras contemporâneas, como o presidente da França, Emmanuel Macron, ao papel de anticristo, ou as versões sensacionalistas segundo as quais o termo Uber estaria relacionado ao diabo. “Criam uma visão ruim em relação à Igreja de Cristo. Precisamos deixar a Palavra ser a Palavra, a fim de que ela se cumpra de modo saudável, sem que haja a criação de fábulas ou especulações infundadas.”

Cautela e vigilância – Já o Pr. Rafael Mariano dos Santos, diretor da Academia Teológica da Graça de Deus (Agrade), explica que as interpretações teológicas podem ser divididas entre o aliancismo, o qual vê a Igreja como o “novo Israel”, e o dispensacionalismo, que atribui à nação israelense um papel central nos eventos apocalípticos. “Creio que Israel será relevante em muitos momentos, mas não podemos superestimá-lo”, analisa o pastor, frisando que os cristãos devem manter uma postura cautelosa mesmo que os confrontos atuais, por sua gravidade, despertem conjecturas escatológicas.

O pastor batista e professor Gabriel de Oliveira Porto avalia: “Em comparação com tantas outras guerras que já ocorreram, não vejo nada de especial nas atuais”
Foto: Marcelo Santos

Ao avaliar as calamidades recentes, como pandemias e desastres naturais, Rafael Mariano considera esses episódios sinais dos tempos, mas esclarece que eles são apenas prenúncios de algo maior a ser revelado. “As desgraças que presenciamos são pequenos indícios de outras muito piores que se abaterão”, afirma, referindo-se às descrições de catástrofes registradas no livro do Apocalipse. Santos ressalta ser fundamental que os crentes estejam atentos, sem cederem às interpretações precipitadas e sensacionalistas que, muitas vezes, ignoram o contexto mais amplo da Palavra.

Além disso, o diretor da Agrade salienta os cuidados que os servos de Deus devem tomar ao associar casos contemporâneos às profecias bíblicas, já que o propósito delas é infundir temor e arrependimento. “A principal precaução deve ser manter-se cheio do azeite e esperar os acontecimentos com uma postura de vigilância.” Por outro lado, ele critica duramente aqueles que procuram marcar datas para a volta de Cristo, como já ocorreu na virada do século e, posteriormente, quando se previa o fim do mundo para 2012 e, depois, para 2018. O ministro adverte ainda que não se deve lançar mão de textos bíblicos para justificar posições políticas. “O reinado final de Cristo será perfeito, e, assim, veremos novo Céu e nova Terra”, opina Mariano, rechaçando a tese de que o mundo atual seria meramente reformado. [Leia, no final desta reportagem, o quadro O que a Bíblia revela?]

O Pr. Alexandre Dutra acredita que as atuais guerras tenham um caráter escatológico por envolverem terras e povos mencionados na Palavra do Senhor: “Israel é o ‘relógio’ profético de Deus”
Foto: Marcelo Santos

Verdadeira tribulação – Na visão do pastor batista e professor Gabriel de Oliveira Porto, doutor em Teologia Sistemática, as batalhas em si não são os sinais mais significativos. Isso porque os textos bíblicos revelam, como Daniel 9.26, que o mundo está em um estado constante de falta de paz, com pelejas e desolações ao longo dos séculos. “Em comparação com tantas outras guerras que já ocorreram, não vejo nada de especial nas atuais”, avalia Porto, autor da coleção literária Teologia Fácil e coordenador do Seminário Batista Livre, em Guarulhos (SP). Ele defende que a efetiva indicação da proximidade do fim dos tempos será o início de uma falsa paz – não a eclosão de novos combates.

Foto: Gerado com IA / Adobe Stock

Gabriel lembra que, conforme registra o livro de Daniel, o período da Grande Tribulação não começará com confrontos, e sim com a tentativa de um grande líder entre os gentios de estabelecer um acordo de paz com Israel e seus inimigos. “Esse momento de aparente harmonia será o início da verdadeira tribulação, conforme descrito nas Escrituras”. O ministro do Evangelho assevera que ocorrências globais, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, também se encaixam no panorama de hostilidades recorrentes previstas nas profecias. E, ao ser questionado sobre o sofrimento da Igreja durante a Grande Tribulação, o ele afirma ter uma visão clara de que os cristãos não estarão na Terra durante esse período. Segundo Gabriel Porto, a perseguição aos crentes e as circunstâncias apocalípticas descritas no Texto Santo são parte de um cenário que as nações vivenciarão após o Arrebatamento. Entretanto, ratifica que a Igreja estará livre de tais adversidades.

O Pr. Fernandes Lima diz que é primordial haver vigilância espiritual dos crentes em relação às questões globais
Foto: Marcelo Santos

Tensões mundiais – O Pr. Alexandre Dutra, diretor do Ministério Amigos de Sião, que promove o apoio aos judeus desde 1967, acredita que as atuais guerras tenham um caráter escatológico por envolverem terras e povos mencionados na Palavra do Senhor. “Israel é o ‘relógio’ profético de Deus”, garante ele, citando a passagem de Daniel 9.24, que menciona a centralidade do povo judeu e de Jerusalém no plano divino. Dutra destaca o princípio das dores descritas em Mateus 24.3-31, como guerras, fomes e desastres naturais, indicativos da aproximação do fim dos tempos.

O pregador reforça que a fundação do Estado de Israel, ocorrida em 1948, os enfrentamentos no Oriente Médio e as tensões globais materializam as profecias de guerras e rumores de guerras (Mt 24.6). Ele menciona também o texto de Ezequiel 38, que fala de uma coalizão liderada por Gogue, da terra de Magogue, contra Israel, relacionando-a ao atual papel do Irã e seus aliados, que constantemente desafiam a nação israelense. “O profeta descreve uma batalha devastadora, que seria como uma tempestade sobre a Terra, mas Deus intervirá, derrotando essa federação”, explica o pastor, assinalando que esses são sinais claros do cumprimento das Escrituras. “O que está profetizado se cumprirá no tempo determinado pelo Senhor”, afirma.

Prejuízos causados por forte terremoto que atingiu a cidade de Antakya, na Turquia, em fevereiro de 2023
Foto: Pernandi Imanuddin / Adobe Stock

Os acontecimentos da atualidade, observa o ministro, exigem dos cristãos não apenas atenção ao cenário geopolítico, mas também dedicação à leitura da Bíblia, a fim de que haja uma compreensão profunda dos fatos. Por isso, para Dutra, diante dessa realidade, o papel da Igreja é ser luz e sal no mundo, conforme ensina Mateus 5.13,14: “Devemos ser testemunhas corajosas, anunciando o Evangelho e vivendo como agentes de transformação, enquanto as situações se desenrolam conforme o plano divino”.

De acordo com o Pr. Fernandes Lima, da sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em São Paulo e cantor da Graça Music, é primordial haver vigilância espiritual dos crentes em relação às questões globais. Ele pondera que os fatos atuais foram profetizados na Palavra de Deus e devem ser entendidos como advertências para que os cristãos permaneçam firmes e confiantes no Criador. Citando a passagem de Mateus 24.4 na qual Jesus adverte: Acautelai-vos, que ninguém vos engane, Lima atesta que é preciso tomar precauções contra falsos ensinamentos que podem enfraquecer a fé. Em contrapartida, declara que Jesus convocou Seus seguidores a se manterem no Caminho, atentos para não deixarem que haja o esfriamento do amor (Mt 24.12,13). Por tal razão, o pastor realça que os crentes em Jesus precisam fortalecer diariamente a sua comunhão com o Senhor por meio da oração e do estudo bíblico para enfrentarem as aflições do mundo: “As Sagradas Escrituras já preveem tanto os desafios atuais quanto a promessa de salvação eterna para aqueles que se mantiverem alicerçados na presença de Cristo,” conclui.


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