Turismo religioso
13/01/2025
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Foto: Katerina Yevtekhova / Gerado com IA / Adobe Stock

CONTA AS BÊNÇÃOS

Testemunhos, experiências de fé com poder para transformar vidas e fortalecer a Igreja

Por Marcelo Santos

A novidade de vida gerada pela conversão ao Evangelho não deve ser guardada, e sim propagada. Quanto a isso, o Senhor Jesus disse ao endemoninhado gadareno após libertá-lo: Volta para casa e conta aos teus tudo o que Deus fez por ti. Então, foi ele anunciando por toda a cidade todas as coisas que Jesus lhe tinha feito (Lc 8.39 – ARA).

O testemunho – É uma ferramenta poderosa para anunciar a experiência do encontro com Cristo. Evidenciado pela transformação de vida, por meio da cura, da restauração e da libertação, ele funciona ainda como uma mensagem de esperança àqueles que passam por dificuldades, mostrando que Deus não só está presente, como também atuante.

Foto: Divulgação / Graça Music

No entanto, mais do que palavras, o testemunho deve ser vivido no cotidiano, nas ações, nas escolhas e na maneira como o cristão lida com os desafios. Desse modo, a fé se torna tangível, impactando as pessoas ao redor e fortalecendo a Igreja. Em sua segunda epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo declara: Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (2 Co 5.17).

Ao longo das últimas décadas, o poder dessa prática tem sido registrado em diversos louvores, como o composto em 1897 pelo pregador e poeta norte-americano Johnson Oatman Jr. (1856-1922), que assinou mais de cinco mil letras de hinos cristãos: Se da vida as vagas procelosas são/ Se com desalento julgas tudo vão/ Conta as muitas bênçãos, dize-as de uma vez/ Hás de ver surpreso quanto Deus já fez/ Conta as bênçãos, conta quantas são/ Recebidas da divina mão/ Uma a uma, dize-as de uma vez/ Hás de ver surpreso quanto Deus já fez.

Gravada incontáveis vezes, Conta as bênçãos tem sido entoada por importantes nomes da música. Está, por exemplo, presente no CD Grandes Louvores – Volume 5, do Missionário R. R. Soares. A canção ilustra o impacto que o testemunho pode causar na vida espiritual das pessoas. Apesar de comunicar situações difíceis, suas estrofes levam uma mensagem de encorajamento que impulsiona o crente a se lembrar das promessas e das bênçãos realizadas pelo Senhor. O mesmo recado é registrado por Paulo em sua carta aos Tessalonicenses – Pelo que exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis (1 Ts 5.11) – e pelo salmista: Vinde e ouvi, todos os que temeis a Deus, e eu contarei o que ele tem feito à minha alma (Sl 66.16).

Celebração da vitória – A prática de compartilhar histórias de fé ressoa também na música contemporânea, como no forró Conta o milagre, incluída no álbum Deus é a resposta (2017) do cantor e pastor Fernandes Lima, lançado pela Graça Music. A canção, composta por Lima, Missionário R. R. Soares e Ronaldo André, é um convite à celebração das maravilhas e bênçãos do Altíssimo: Conte o milagre que Deus fez em sua vida/ E glorifica o nome santo de Jesus/ Quem estava triste agora vai sorrir/ O sono vai chegar pra quem não conseguiu dormir.

A trajetória de Fernandes Lima é um exemplo de fé e redenção: ele foi liberto dos vícios e venceu diversas dificuldades. Sua música alegre, seu sorriso contagiante e seu ministério pastoral na Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em São Paulo são provas do poder transformador da Palavra. “Testemunhar é afirmar e comprovar algo”, destaca o cantor, enfatizando a importância de contar a conversão pessoal, uma prática tão antiga quanto a própria fé cristã.

Foto: Mirador / Gerado com IA / Adobe Stock

Para ele, quando uma pessoa compartilha as obras realizadas pelo Senhor em sua vida, está pregando e exaltando o poder de Jesus. “Dividir relatos de cura, bênçãos financeiras ou transformações pessoais é uma maneira poderosa de enaltecer a generosidade de Deus.”

O cantor frisa que, ao compartilhar o seu testemunho, os membros da igreja encontram esperança e encorajamento para vencer as próprias batalhas. Além do impacto pessoal, ele observa que esse ato contribui para criar uma rede solidária. “Compartilhar com a Igreja que Deus liberta das drogas, inclusive do álcool, e dos vícios relacionados à pornografia, por exemplo, encoraja as pessoas”, avalia ele, reconhecendo que sua mudança ajudou a transformar vidas. “Muitos vêm até mim dizendo que ouviram minha história e encontraram forças para lutar contra as dependências”, celebra.

Renovo espiritual – O Pr. Rafael Mariano dos Santos, reitor da Academia Teológica da Graça de Deus (Agrade), acredita queapartilha de bênçãos alcançadas desempenha também um papel significativo na liturgia evangélica. “O principal em um culto é a pregação”, esclarece ele, ressaltando, porém, que “os testemunhos fortalecem a fé, não apenas daqueles que estão começando na caminhada, mas também dos que frequentam a Igreja há anos.” Para o pastor, apesar dessas narrativas não substituírem a Palavra, elas são fundamentais para renovar o entusiasmo espiritual.

Pr. Rafael Mariano dos Santos: “Os testemunhos fortalecem a fé, não apenas daqueles que estão começando na caminhada, mas também dos que frequentam a igreja há anos”
Foto: Arquivo pessoal

Entretanto, o líder alerta para a necessidade de verificar a autenticidade desses relatos, especialmente quando há explanação de curas milagrosas, e recomenda a leitura de obras com essa vertente. De acordo com ele, é possível evitar exageros que desviem a atenção da mensagem cristã. Para isso, é importante buscar orientações em livros, como Curai enfermos e expulsai demônios e O testemunho da fé, ambos do evangelista T. L. Osborn e publicados pela Graça Editorial. “O alicerce da fé cristã está relacionado às promessas e às declarações bíblicas, e não às experiências alheias”, salienta.

O teólogo Gutierres Fernandes Siqueira, membro da Assembleia de Deus Ministério do Belém, em São Paulo (SP), especialista em Teologia Pentecostal e autor de diversos livros na área, pontua: “Cada testemunho é uma forma de adoração viva. Não apenas celebra a ação de Deus, mas também mostra como as verdades bíblicas se manifestam. Além disso, é uma afirmação de que o Senhor ainda realiza milagres e transforma vidas, assim como fez nos tempos antigos”.

O estudioso enfatiza que as vivências de fé ajudam a fortalecer o Corpo de Cristo. “Compartilhar nossas lutas e vitórias reforça o senso de pertencimento entre os membros da congregação. Isso é crucial para criar união e solidariedade”, garante Gutierres, acrescentando que incorporar essa rotina ao culto gera benefícios, como o encorajamento mútuo.

Foto: Divulgação / Graça Editorial

No entanto, o teólogo alerta: “Há o risco de haver falas longas, exageradas, ou ainda a possibilidade de algumas pessoas se sentirem pressionadas a ter ‘grandes’ histórias”. Segundo ele, a fim de evitar essa “armadilha”, as igrejas devem estabelecer diretrizes claras. “É importante reservar momentos específicos para os testemunhais, garantindo que estes não comprometam outros elementos essenciais do culto, especialmente a pregação da Palavra”, opina Gutierres, acrescentando, “quando bem conduzidos, eles fortalecem a fé, a comunidade e a experiência de culto. É uma tradição.”

Experiência inspiradora – Maria José Carmassi, 73 anos, hoje pastora da IIGD em Itanhaém (SP), e Nelson Carmassi, 80 anos, contador aposentado, já moravam juntos em 1989, mas não estavam casados. “Quando comecei a frequentar a Igreja, a pregação sobre a bênção do casamento parecia falar diretamente comigo”, recorda-se ela, que logo conversou com Nelson sobre a necessidade de formalizar a união. “Um dia, cheguei do culto e falei com ele que precisávamos nos casar, porque já dividíamos a mesma casa havia algum tempo.”

O teólogo Gutierres Fernandes Siqueira pontua: “Cada testemunho é uma forma de adoração viva. Não apenas celebra a ação de Deus, mas também mostra como as verdades bíblicas se manifestam. Além disso, é uma afirmação de que o Senhor ainda realiza milagres e transforma vidas, assim como fez nos tempos antigos”
Foto: Arquivo pessoal modificado por IA

Entretanto, a resposta do companheiro foi que jamais se casaria. “Ele disse que, se eu quisesse realmente fazer isso, iríamos nos separar, porque, no coração dele, não tinha mais propósito de casamento.” Diante daquela situação e do pedido dele que ela não voltasse a tocar naquele assunto, Maria José decidiu orar.

Dias depois, um episódio do programa apresentado pelo Missionário R. R. Soares a impactou. “Uma senhora contava que, depois de viver com o marido por 20 anos sem estarem legalmente casados, começou a clamar e jejuar para que a união deles fosse estabelecida diante de Deus. O casamento foi realizado, e eles estavam felizes”, lembra-se Maria José, reforçando que aquele testemunho trouxe muita alegria para o seu coração. “Comecei a pular e a dizer para Jesus que Ele faria a obra na minha vida.”

A Pra. Maria José Carmassi afirma “Em todas as igrejas que pastoreei, Deus fez a obra em pessoas que moravam juntas sem se casar. Este mês, por exemplo, celebraremos o casamento de um casal que estava nessa condição havia 25 anos”
Foto: Arquivo Graça / Marcelo Santos

No domingo seguinte, durante a reunião, o Missionário pregou novamente sobre casamento. “Ele disse: Vocês moram juntos, se amam, e, se estão juntos, é porque existe amor. Ela tem um nome, e você, outro. Então, o que o impede de dar o seu sobrenome a ela?”. A pregação parecia uma resposta direta às orações de Maria. No caminho de volta para casa, Nelson fez uma surpreendente proposta. Parou o carro e perguntou se ela estava disposta a se casar. “Fiquei sem acreditar. Ele falou: Sabe que sou uma pessoa muito difícil. Mesmo assim, quer se casar comigo? Respondi: Por isso que quero me casar com você.

Assim, em 18 de julho de 1992, o casal formalizou a união na Igreja da Graça na Praça da Sé, no Centro de São Paulo (SP), na presença de amigos e familiares. Aquele evento marcou a vida e o ministério de Maria José. “Em todas as Igrejas que pastoreei, Deus fez a obra em pessoas que moravam juntas sem se casar. Este mês, por exemplo, celebraremos o casamento de um casal que estava nessa condição havia 25 anos.”

Foto: bnenin / Adobe Stock

Histórias como a da Pra. Maria José e do cantor Fernandes Lima abençoam vidas e provam que compartilhar experiências de fé proporciona significativas mudanças. Foi o que fez o endemoninhado gadareno, citado no início desta matéria: E ele foi e começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos se maravilhavam (Mc 5.20).


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