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Encontro com a fé

Pesquisa nacional mostra que muitos brasileiros já mudaram de religião ao menos uma vez, e a maior parte deles abraçou o Evangelho

Por Evandro Teixeira

Em 1940, os cristãos protestantes representavam apenas 2,7% da população nacional. Porém, na segunda metade do século 20, os brasileiros iniciaram um processo de transição religiosa em uma velocidade sem precedentes. Assim, de 1991 a 2010, o percentual de evangélicos mais que dobrou: subiu de 9% para 22,2%. E, de lá para cá, esse crescimento vem sendo mantido, e há projeções de que, a partir da década de 2030, a fé evangélica se torne majoritária no Brasil.

O jornalista Marcelo Moreira Ramiro diz que as igrejas evangélicas precisam atender à busca das pessoas por salvação com amor
Foto: Arquivo pessoal

Ao investigar o comportamento nacional em relação à fé, a consultoria de pesquisa Brasilis revelou que um terço da população (33%) já trocou de religião ao menos uma vez. A maior parte abandonou as crenças aprendidas na família para ingressar em alguma igreja evangélica (54%). Segundo esse levantamento, essa troca se dá por vários fatores em nosso país. Entre os novos convertidos ao Evangelho, por exemplo, 54% mencionaram a busca pela salvação como motivo principal para essa mudança, e 43% citaram experiências negativas com líderes da religião anterior. Além disso, ter sido convidado por um amigo ou familiar e a boa convivência na nova congregação também foram mencionados pelos entrevistados como razões para seguir outra doutrina. De acordo com a Brasilis, o resultado da investigação também revela que os evangélicos têm sido ativos e efetivos na divulgação de sua mensagem, o que se traduz no crescimento numérico – muito maior que dos outros segmentos de fé.

O Pr. Nilton Gomes de Abreu Júnior acredita que o testemunho pessoal é um importante elemento usado por Deus: “A transformação de um membro da família desperta nos demais parentes o interesse de conhecer a igreja. A partir daí, nasce a possibilidade de haver mais um convertido”
Foto: Arquivo pessoal

O jornalista e teólogo Marcelo Moreira Ramiro concorda que a pesquisa confirma a eficácia do trabalho de evangelização realizado pelas comunidades cristãs brasileiras. Para Ramiro, a busca pela salvação – mencionada como principal motivação de quem mudou de religião – reforça a necessidade de os pregadores serem claros e consistentes em suas mensagens ao apresentar o plano divino para a humanidade, a graça redentora de Jesus e a promessa de vida eterna. “Esse movimento das pessoas revela uma necessidade humana profunda e universal de se conectar com algo maior, e as igrejas evangélicas têm a responsabilidade de atender a essa procura com amor, verdade e compromisso”, defende.

A pedagoga Claudeci Vieira Cruvinel de Sousa está entre as pessoas que viveram um processo de transição religiosa; em seu caso, a partir da influência do marido, o eletricista Wilson de Sousa Vieira, que converteu-se ao Evangelho em 2008
Foto: Arquivo pessoal

Marcelo Ramiro ressaltou outro achado interessante dos dados divulgados pela Brasilis: a influência de familiares e amigos no processo de conversão. Segundo ele, a evangelização pessoal realizada por alguém próximo tem impacto significativo por se basear em uma relação de confiança e afeição. O teólogo observa que a transformação positiva de um ente querido ou um amigo funciona como poderoso testemunho do êxito da fé cristã. “Esse contexto nos lembra de que, como seguidores de Cristo, somos chamados a compartilhar nossa crença e refletir, por meio de nossas atitudes, o amor de Deus”, pontua Ramiro, assinalando que as igrejas devem ser espaços de promoção do senso de pertencimento e segurança, onde as pessoas se sintam confortáveis para explorar o conhecimento da Palavra e crescer espiritualmente.

A aposentada Nilza Silva trocou as crenças que aprendera ao longo da vida pela verdade do Evangelho: “Na casa de Deus, encontrei a verdadeira felicidade ao lado de meu Senhor Jesus”
Foto: Arquivo pessoal

Processo de conversão – O Pr. Nilton Gomes de Abreu Júnior, da Igreja do Evangelho Quadrangular do Guerenguê, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), acredita que o testemunho pessoal é um importante elemento usado por Deus. “A transformação de um membro da família desperta nos demais parentes o interesse de conhecer a igreja. A partir daí, nasce a possibilidade de haver mais um convertido”, pontua o pastor. Ele conheceu o Evangelho por intermédio de um primo, que se converteu milagrosamente após entrar bêbado em uma igreja.

A pedagoga Claudeci Vieira Cruvinel de Sousa, 48 anos, está entre as pessoas que viveram um processo de transição religiosa. Em seu caso, a partir da influência do marido. Em 2010, ela teve seu encontro com o Senhor Jesus na sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Goiás. Claudeci crescera em uma família que tinha outra prática de fé. Por isso, quando seu marido, o eletricista Wilson de Sousa Vieira, 49 anos, converteu-se ao Evangelho em 2008, ela ficou decepcionada.

Foto: Arte sobre foto de Javier Art Photography / Adobe Stock

Como “não gostava de crentes”, ela recebeu mal aquela decisão e ameaçou até deixá-lo. “Ele orava por mim nas madrugadas, e eu acordava com a testa cheia de óleo consagrado. Essa situação me irritava de tal maneira que eu não sentia mais alegria de estar com ele”, afirma. Porém, Wilson permaneceu firme em oração, e a pedagoga desistiu da ideia de se separar dele.

Naquele tempo, ele ia fielmente aos cultos, na companhia do filho, Rafael Vieira Cruvinel de Sousa, que, à época da conversão do pai, tinha apenas cinco anos. Apesar da contrariedade da esposa, o eletricista se manteve falando do Evangelho para ela e, ainda, convidando-a para os cultos.

Até que, em 2010, ao atravessar uma avenida, Claudeci foi atropelada e hospitalizada. Depois do acidente, ela começou a repensar sua vida, dando oportunidade para o Espírito Santo atuar em seu coração. Nesse ínterim, uma atitude de Rafael, hoje com 21 anos, foi definitiva em seu processo de conversão. “Meu filho disse que não iria mais à Igreja com o pai se eu não fosse também”, relembra-se.

A professora aposentada Irlene Moreira ensina: “É essencial, ao apresentar o Texto Sagrado, falar sobre a soberania de Deus, revelando-O como um ser superior, invisível e Criador de todas as coisas”
Foto: Arte sobre foto de Javier Art Photography / Adobe Stock

Por causa da “imposição” do menino, a mãe aceitou participar de um culto. Ela gostou tanto da reunião que nunca mais deixou de ir à Igreja. E, depois de dois anos, ela e o marido, casados há 24 anos, tornaram-se obreiros. Claudeci acredita que Jesus usou sua família para que a Palavra de Deus preenchesse um vazio de seu interior.

A aposentada Nilza Silva, 72 anos, trocou as crenças que aprendera ao longo da vida pela verdade do Evangelho. Membro da sede regional da Igreja da Graça em Lavras (MG) há quatro anos, ela relata que sua experiência de conversão e libertação aconteceu há cerca de duas décadas em uma igreja de outro ministério. Envolvida com práticas distantes da Palavra, ela percebeu que sua vida não evoluía, sobretudo financeiramente. Então, tocada pelo Espírito Santo, decidiu se entregar a Cristo. No entanto, ao tomar aquela atitude, enfrentou represálias do diabo e quase morreu queimada. Mesmo em meio a tantas lutas, Nilza não desistiu. “Na casa de Deus, encontrei a verdadeira felicidade ao lado de meu Senhor Jesus”, testemunha ela.

Liberdade de escolha – Na visão da professora de Ensino Religioso aposentada Irlene Moreira, 67 anos, alguns pontos devem ser observados quando se evangeliza pessoas adeptas de uma crença não cristã. “Algumas podem ter uma visão politeísta (adorar vários deuses). Por isso, é essencial, ao apresentar o Texto Sagrado, falar sobre a soberania de Deus, revelando-O como um ser superior, invisível e Criador de todas as coisas”, explica a docente, reforçando que é fundamental sempre fazer isso com respeito e sabedoria.

O Pr. Claudionei Valter diz que é fundamental investir na formação religiosa no lar e lembra que os pais são os principais responsáveis pela educação dos filhos
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião de Irlene, ao mostrar o Altíssimo como o Todo-Poderoso, o crente em Jesus deve esclarecer que o Senhor não obriga ninguém a segui-Lo, pois dá ao ser humano a liberdade de escolha. “Podemos decidir como queremos viver. No entanto, inevitavelmente, colheremos os frutos de nossas decisões”, ela ensina, esclarecendo que o resultado da pesquisa da Brasilis deve servir de alerta para os cristãos. “Se há pessoas que mudam de religião, passando a seguir a fé evangélica, outras podem fazer o caminho inverso.” Para ela, a fim de evitar isso, os servos de Deus precisam não apenas ensinar a Palavra aos seus filhos e pregar àqueles que estão sob sua esfera de influência, como também adotar para si um comportamento respaldado na Bíblia, dando um bom testemunho. “Há pessoas que têm um discurso muito correto, mas sem qualquer conexão com o seu dia a dia”, enfatiza Irlene.

Pensamento semelhante é compartilhado pelo Pr. Claudionei Valter, líder da IIGD no Parque Paulista, em Duque de Caxias (RJ), especialmente sobre quão fundamental é investir na formação religiosa no lar. O ministro lembra, segundo as Escrituras Sagradas, que os pais são os principais responsáveis pela educação dos filhos, conforme registra o texto de Provérbios 22.6: Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele. “Na verdade, temos de ensiná-los desde crianças e, mesmo depois de crescidos, continuar regando a semente no coração deles”, orienta o pastor, citando Hebreus 10.25, que fala da comunhão contínua com a Igreja: Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia.

O Pr. Diogo Bulhões de Morais afirma que é fundamental fortalecer a família: “Essa base é essencial para o desenvolvimento de uma solidez espiritual que possa ser transmitida às gerações futuras”
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com o pregador, muitos jovens só frequentam os cultos de determinado segmento por causa dos pais. Entretanto, quando chegam à juventude, muitos fazem experimentos e comparações, e alguns optam por mudar de prática de fé, seguindo um caminho diferente daquele ensinado pela família. “Para mim, esse tipo de comportamento pode estar implícito no resultado da pesquisa. Entretanto, os dados revelam o poder de convencimento da Palavra, que tem orientado a decisão de muitas pessoas, conduzindo-as à casa de Deus,” finaliza o ministro.

Fé potencializada – Além dos fatores espirituais que explicam o crescimento evangélico no Brasil, obtido pelo trabalho incansável e inspirador de milhares de pastores e obreiros dedicados ao propósito do Senhor de levar almas à salvação, há elementos estratégicos. Na visão do Pr. Diogo Bulhões de Morais, líder da Igreja da Graça em Anápolis (GO), a tecnologia e as mídias, sobretudo as redes sociais, têm sido aliadas nesse processo de transição religiosa e no consequente avanço da fé evangélica no Brasil. Para ele, com uma boa estrutura, um forte trabalho de evangelização e o uso dos recursos da internet, o crescimento das igrejas evangélicas tende a ser potencializado. No entanto, o pastor assevera que, nesse processo, fortalecer a família é fundamental. “Essa base é essencial para o desenvolvimento de uma solidez espiritual que possa ser transmitida às gerações futuras.”

O Pr. Ronaldo Viana da Silva pontua: “O número de comunidades cristãs aumenta e, com sua multiface denominacional, as igrejas estão presentes em diferentes setores da sociedade junto ao povo que carece de ajuda espiritual
Foto: Arquivo pessoal

Há quem diga que o crescimento da Igreja vem sendo impulsionado pela facilidade de abrir templos evangélicos no país. Segundo pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (ligado à Universidade de São Paulo), em um período de apenas duas décadas, houve um aumento de 543% no número de templos abertos no Brasil: um salto de 17.033 templos em 1990 para 109.560, em 2019. “O número de comunidades cristãs aumenta e, com sua multiface denominacional, as igrejas estão presentes em diferentes setores da sociedade junto ao povo que carece de ajuda espiritual e social”, pontua o Pr. Ronaldo Viana da Silva, da Primeira Igreja Batista de São João do Paraíso, em Cambuci (RJ). Para o líder batista, por todos os motivos apontados nesta reportagem, é perfeitamente possível antever o crescimento contínuo da fé protestante em nossa nação, fazendo com que os evangélicos se tornem maioria dentro de alguns poucos anos. “Certamente será um marco histórico”, comemora.


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