Comunhão
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Embora seja uma celebração comum nas igrejas, a Palavra estabelece condições para o cristão participar da Ceia do Senhor
Por Evandro Teixeira
Instituída pelo Senhor Jesus, a Santa Ceia faz parte da programação da maioria das igrejas evangélicas. No entanto, sua realização vai além de um simples ritual: lembra aos cristãos do sacrifício do Filho de Deus na cruz, conforme registra Mateus 26.26-28: Jesus tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.
A importância desse momento é reafirmada pelo apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios: Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha (1 Co 11.23-26).
Após fazer a refeição com os discípulos, por ocasião da Páscoa, Jesus foi traído e levado à crucificação. Por isso, o pão e o vinho são elementos associados à Sua morte e ressurreição. Mas o memorial da Santa Ceia também representa a expectativa da volta de Cristo. Participar dessa mesa deve ser uma experiência marcante para o cristão. A Palavra de Deus menciona algumas exortações sobre a maneira correta de cumprir tal ordenança
(1 Co 11.17-22).
“Arrependimento diário” – O professor de Teologia e membro da Assembleia de Deus do Ouro Fino, em Nova Iguaçu (RJ), Ezequiel Pereira da Silva, observa que a vontade de Deus é que todos participem da Santa Ceia. Ele defende esse entendimento em razão das palavras do Mestre registradas em João 6.54-56: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último Dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. Por se tratar de um ato espiritual, Ezequiel alerta que é necessário fazer parte do Corpo de Cristo para participar desse momento. “Precisamos receber Jesus como Senhor e Salvador, aceitar o batismo e ter consciência da necessidade de arrependimento diário”, esclarece.
O educador ensina ainda que a Ceia do Senhor representa a Nova Aliança entre Deus e o homem. É um evento fortalecedor da comunhão entre os irmãos em Cristo, conforme 1 Coríntios 10.17: Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão. “Estamos unidos com o Senhor pelo que Ele fez por nós na cruz”, ressalta.
Por sua vez, o Rev. Eber Cocareli, diretor e apresentador do programa Vejam Só!, exibido pela Rede Internacional de Televisão (RIT), salienta que, apesar de ser uma celebração coletiva, a participação na Santa Ceia demanda que cada pessoa se analise, como orienta o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 11.28-30: Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disso, há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem. “A Palavra de Deus estabelece a necessidade de discernimento espiritual como condição essencial para comer o pão e beber o vinho”, pontua Cocareli.
Indagado por nossa reportagem se seria permitida a participação de crianças na Ceia, o reverendo esclarece que, embora possam ser salvas, elas não têm condição plena de entender o mecanismo da morte redentora de Cristo e suas implicações subjetivas. Em contrapartida, afirma que jovens e adultos salvos em Jesus podem e devem participar da Santa Ceia, mesmo não sendo batizados nas águas. No entanto, ressalta que, devido ao zelo, a maioria das igrejas permite que apenas os membros participem da Santa Ceia. “Pastores e líderes temem pelas graves consequências de uma participação irresponsável”, destaca Cocareli, sinalizando que a Bíblia deixa sob a responsabilidade de cada pessoa a decisão de participar ou não.
Corpo e Sangue – O Pr. Aristidis Machado Macedo, da Igreja Batista de Aré, em Itaperuna (RJ), enfatiza que as dádivas relativas à participação nesse memorial estão associadas à salvação. Nesse ato, o servo de Deus relembra sua comunhão com o Criador e sua condição de pecador alcançado pela graça divina. Essa lembrança precisa acompanhar o cristão em sua caminhada. “Se observar a obra de Jesus na cruz e a compreensão do seu significado, a pessoa corre o risco de ficar perdida”, adverte.
Portanto, participar da Ceia indignamente, como foi apontado pelo Rev. Eber Cocareli, assemelha-se a comer o pão e beber o vinho sem discernir corretamente esse ato. Para Macedo, essa autoavaliação deve ser algo constante na vida cristã, funcionando como uma ferramenta de fortalecimento espiritual. Ele considera que, por meio de atitudes, é possível perceber se a pessoa tem uma fé alicerçada em Deus. “Pelos frutos, podemos conhecer melhor a árvore. A fé verdadeira deixa marcas, como apego à pureza e à santidade”, conclui o Pr. Aristidis.
Diversas bênçãos – A respeito do autoexame de consciência requerido daqueles que participam da Santa Ceia, o Missionário R. R. Soares ressalta, no artigo Examine-se diante de Deus, publicado no portal Ongrace: Temos de examinar como vivemos neste mundo mau, onde somos expostos às tentações (Ef 5.15-17). Se guardamos os mandamentos do Senhor, recusando as ofertas do inimigo, não há problema em participar da Santa Ceia. Porém, se cedemos ao maligno e deixamos de confessar isso a Deus, a fim de sermos perdoados, é melhor não nos assentarmos à Sua mesa para comer do pão e beber do sangue de Cristo.
O Missionário salieta que deixar de participar da mesa do Senhor não é a melhor decisão a ser tomada pelo cristão: ele deve se arrepender e confessar o pecado diante do Criador. No Egito, depois de comerem o cordeiro pascoal, simbolizando o Messias que havia de vir, todos foram curados: Mas, a eles, os fez sair com prata e ouro, e entre as suas tribos não houve um só enfermo (Sl 105.37). Beber do cálice é importantíssimo, aconselha R. R. Soares.
Com base nesse entendimento, o Pr. Maiquel Marques, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus no Rio de Janeiro, ensina que, ao participar da Santa Ceia, o cristão reconhece o sacrifício de Cristo e recebe diversas bênçãos. Os elementos dessa celebração se tornam um remédio para o corpo e a alma. “Ao comer o pão e beber o vinho, além do perdão dos pecados, obtemos a cura.” Citando um texto bíblico conhecido, o pregador enfatiza que Jesus, em Seu sacrifício no Calvário, levou sobre Si todas as doenças: Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados (Is 53.4-5).
Essas bênçãos estão condicionadas à correta participação na Santa Ceia, como lembra o Pr. Alexandre Vieira de Araújo, líder regional da Igreja da Graça em Limeira (SP). Nesse sentido, ao comer o pão e beber o vinho sem arrependimento pelos erros cometidos, o crente arrisca a sua salvação. O ministro do Evangelho alerta os membros de sua Igreja para essa questão, evidenciando a misericórdia divina. “Ensinamos que, se alguém estiver em pecado, basta pedir perdão sinceramente, e o Senhor o perdoará. Assim, o indivíduo poderá participar da Santa Ceia”, explica.
Vida de comunhão – Conforme a orientação bíblica, esse memorial deve ser mantido até que o Senhor Jesus volte, como ensina o Pr. Elton Eduardo Paz de Araújo, líder regional da IIGD em Tancredo Neves (AM). Ele aponta que não existe um padrão universal para essa celebração, pois cada igreja pode definir as próprias práticas e tradições. “Algumas comunidades cristãs realizam a cerimônia todo mês; outras, toda semana ou em ocasiões especiais.”
Para as igrejas evangélicas que consideram a Santa Ceia um mandamento, não realizar tal celebração pode ser interpretado como negligência. Porém, há comunidades cristãs que a enxergam como um símbolo opcional e valorizam mais a compreensão espiritual desse memorial do que a celebração presencial entre irmãos em Cristo. Contudo, para Elton Araújo, tratar a Santa Ceia como algo opcional é um erro. “Abrir mão de realizá-la é desobedecer à orientação deixada por Jesus.”
O Pr. Lacir Pereira da Silva, líder estadual da Igreja da Graça em Teresina (PI), compartilha desse entendimento. Ele reafirma a importância de a igreja celebrar a Santa Ceia, tomando como exemplo a reunião de Jesus com Seus discípulos. Para isso, todos os membros devem estar aptos a participar, cientes de que precisam manter uma vida de comunhão com Deus, abstendo-se do pecado. “Todo erro que cometermos nos acarretará prejuízos, além de torturar nossa mente e nos separar de Deus”, adverte o ministro. Ele ressalta que a Santa Ceia deve ser encarada como um grande e importante momento para os salvos por Cristo. “Celebramos nossa libertação do cativeiro espiritual no qual vivíamos, sendo resgatados das trevas e transportados para o Reino da Luz, por meio da morte e ressurreição de Cristo.”