Igreja
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O pioneiro Henry Nott perseverou por anos até ver a primeira alma se entregar a Cristo no Taiti
Por Élidi Miranda*
Maior ilha da Polinésia Francesa, arquipélago situado no sul do Oceano Pacífico, o Taiti é um famoso destino turístico. Por ter águas de cor azul turquesa, paisagens exuberantes e um povo amável e hospitaleiro, os viajantes se sentem visitando uma espécie de paraíso. Mas nem sempre foi assim. O país se tornou esse lugar aprazível depois de uma mudança radical operada pela pregação do Evangelho entre seus habitantes devido à perseverança de um servo de Deus fiel: o inglês Henry Nott (1774-1844). Ele se dispôs a enfrentar por quase duas décadas a hostilidade e a devassidão daquele povo até que a primeira alma se convertesse a Cristo.
O capitão James Cook (1728-1779), navegador pioneiro do Pacífico Sul, mapeou as ilhas que formam a Polinésia Francesa pela primeira vez por volta de 1767. A partir da descoberta do comandante, o Taiti e outras terras insulares circunvizinhas passaram a ser chamadas de Ilhas Sociedade da Polinésia. Seguindo a “trilha” do explorador britânico, os primeiros missionários ingleses aportaram no Taiti, em março de 1797, dispostos a pregar aos nativos. Entre eles, estava Henry Nott, um jovem com um bom conhecimento de linguística, resoluto e disposto a aprender o idioma local a fim de levar almas para Jesus.
Quando chegaram à ilha, os missionários encontraram uma dupla de marinheiros europeus, Peter e Andrew, que havia sido expulsa de seus navios por mau comportamento. Ambos estavam na região havia muitos anos, dominavam a língua e passaram a ajudar os evangelizadores como intérpretes. A princípio, os servos de Deus foram muito bem recebidos pelos nativos, especialmente pelo temido e sanguinário rei Pōmare I (1753-1803). O primeiro culto cristão em solo taitiano ocorreu em 19 de março de 1797 e contou com a presença do monarca. Entretanto, os missionários logo descobririam que tanto o soberano quanto seus súditos estavam mais interessados no que os machados, as facas e outras ferramentas ocidentais poderiam proporcionar a eles.
Pōmare I era um homem libertino, que incitava seu povo à violência. Este vivia em estado de guerra permanente contra tribos rivais. Os conflitos deixavam um rastro de destruição e morte, e o sangue dos inimigos era oferecido no altar a Oro, deus pagão da guerra. A prática do infanticídio também era comum: o sacrifício de crianças e bebês em troca do favor dos deuses era amplamente praticado. Além disso, enfermos, deficientes e idosos eram sepultados ainda vivos na praia.
Mesmo sendo obrigado a testemunhar tamanhas atrocidades, o pregador continuava firme em seu propósito. Quatro anos depois de ter se estabelecido na ilha, em agosto de 1801, Nott pregou seu primeiro sermão sem a necessidade de intérprete. Ao longo desse tempo, alguns taitianos quiseram se converter em troca de objetos ocidentais, mas nenhum deles estava disposto a deixar suas práticas imorais. Os missionários insistiam em uma mudança de comportamento, e isso passou a irritar os nativos.
Primeira conversão – Em 1803, o rei Pōmare I morreu, e seu filho, Otu (1782-1821), Pōmare II, tomou o lugar do pai, mostrando-se mais sanguinário que o patriarca. No mesmo ano, as guerras napoleônicas tiveram início, prejudicando as viagens ultramarinas inglesas e deixando os missionários sem seus machados e utensílios pessoais, como sapatos, e vestindo apenas farrapos, uma vez que suas roupas se desgastaram. O novo rei se empenhou para que a população odiasse os evangelizadores. Em 1805, três desses servos de Deus já haviam sido mortos, e outros seis fugiram da ilha. Nott estava entre os que permaneceram. Nesse período, obreiros se juntaram a ele a fim de ajudar no trabalho e também foi quando o pregador conheceu a esposa, Ann.
Porém, em 1810, cansados de tantos ataques, os missionários deixaram o Taiti, com exceção do casal Nott, que estava determinado a ganhar aquele povo e a traduzir a Bíblia para a língua local. Anos foram consumidos nesse esforço, no entanto Henry Nott continuou a dedicar atenção especial ao rei Otu, buscando persuadi-lo a crer em Cristo.
Em uma das conversas com o pregador, em 1813, o jovem monarca finalmente entregou sua vida ao Salvador. Ele mandou construir uma capela para a realização dos cultos, e o local, de início, contou com cerca de 40 pessoas. Com o passar do tempo, as reuniões chegaram a ter 800 participantes. Naquele mesmo ano, o rei mandou derrubar todos os templos dos deuses pagãos da aldeia. A estátua de madeira do “poderoso” Oro foi cortada em pedaços para ser usada como lenha.
Novos missionários chegaram à ilha, e, a cada dia, mais taitianos abraçavam o Evangelho. Escolas foram abertas na região, e, em 1819, Otu promulgou uma série de leis inspiradas no Livro Sagrado.
Ao longo das décadas seguintes, Nott voltou à Inglaterra apenas duas vezes. Em uma delas, para supervisionar a impressão da Bíblia completa na língua taitiana, em 1838. De volta ao Taiti, o missionário continuou pregando e trabalhando arduamente até primeiro de maio de 1844, quando foi chamado por Deus à morada celestial.
Graças à perseverança de Henry Nott, os visitantes que chegam a Papeete, capital do país, ou às famosas ilhas de Moorea e Bora Bora são recepcionados por uma população amistosa formada, em sua maioria (84%), por cristãos. (*Com informações de Wholesome Words)