Obra divina

Pastores e líderes apontam as bases para a construção de lares saudáveis

Por Patrícia Scott*

Nascida no Éden, a família é um projeto divino, conforme a passagem bíblica que narra a criação da mulher e a celebração do primeiro casamento (Gn 2.18-25). Mais do que a união de duas pessoas com o objetivo de povoar a Terra (Gn 1.28), o matrimônio é um pacto eterno que prefigura a aliança entre Deus e a Sua Igreja (Ap 19.6-8).

No entanto, nos últimos tempos, essa sagrada instituição tem sido atacada, criticada e desvalorizada como nunca em toda a História. Em nome de recentes transformações sociais, muitos defendem a destruição da estrutura familiar tradicional estabelecida pelo próprio Todo-Poderoso: homem, mulher e filhos. O pastor e escritor norte-americano, Frederick K. C. Price (1932-2021), rebate tais ideias em seu livro Casamento & família – uma visão para o viver familiar (Graça Editorial): O casamento é uma ordenança divina, destaca. [Na página 22 desta reportagem, leia o quadro Ingrediente principal]

Manter o matrimônio é um dever conjugal. Com essa perspectiva, Denzel Washington, famoso ator cristão norte-americano, fala de seu casamento de quatro décadas com Pauletta Washington. Certa vez, ao ser questionado sobre a longevidade de sua união, ele declarou: Temos de trabalhar para o relacionamento dar certo. Não desistir um do outro. É um compromisso. Não existe lua de mel todos os dias, mas pode ajudar serem sempre bons amigos.

O pastor e escritor norte-americano, Timothy Keller (1950-2023), dizia que o matrimônio é uma forma de relacionamento peculiar: É uma amizade turbinada. Vai além da amizade entre irmãos, que pode ser muito, muito gratificante e maravilhosa. É diferente até mesmo das conexões entre pais e filhos, por mais calorosas que possam ser. É maior que a amizade. É tão somente alguma outra coisa, e não algo que você consegue apenas fazendo sexo.

A Bíblia é repleta de exemplos comprobatórios de que não existe família perfeita. Por isso, os relacionamentos conjugais e o convívio entre pais e filhos estão sujeitos a conflitos. Depois que Adão e Eva pecaram no Jardim do Éden, o primeiro problema que enfrentaram foi o conflito na família – entre eles e, depois, entre os dois filhos [Gn 3.12 e 4.8], avaliou o famoso evangelista norte-americano, Billy Graham (1918-2018) certa vez. Qual é o problema? Muitas respostas podem ser dadas: rivalidade entre os filhos, à medida que crescem; ciúmes, raiva, falta de sensibilidade, tratamento injusto ou severo – a lista é quase interminável. E cada um deles pode conter um elemento de verdade, dependendo da situação, completou Graham.

Alicerçados no Senhor – Somente a obediência à Palavra de Deus é capaz de estabelecer um lar saudável, informa o Pr. Jonas Balbinot, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Lages (SC). “Haverá aflição, mas é preciso bom ânimo para vencer as adversidades. Elas servem para abrir os olhos dos cristãos, que devem lutar por suas casas”, ressalta ele, enfatizando que os seguidores de Jesus não devem se conformar com a visão do mundo. Ao contrário, precisam vigiar para que seus relacionamentos sejam sustentados pelo Senhor. “As telas de TV, os smartphones, tablets e computadores influenciam, divulgando conteúdo nocivo principalmente para nossos filhos. É necessário que os pais fiquem atentos a eles e às amizades”, alerta Balbinot.

O Pr. Elton Melo, da Primeira Igreja Batista Independente em Curitiba (PR), lembra que o Senhor criou a família para refletir Seu amor e cuidado com o ser humano. “Ela proporciona apoio, educação moral e crescimento espiritual. É basilar para a sociedade”, afirma o líder, assinalando que essa organização expressa a glória de Deus quando vive em amor, respeito e unidade. “Seguir os ensinamentos bíblicos fortalece os laços familiares e glorifica o Senhor.”

Entretanto, o ministro batista faz uma ressalva: como não há perfeição, é urgente olhar para a Palavra e aprender com ela. Um exemplo é o contexto parental de Abraão, que traz pontos positivos e negativos. Dentre os positivos, Elton Melo cita a fé, a obediência e a hospitalidade. “Abraão confiou em Deus e obedeceu-Lhe [Gn 12.1-4]. Ele e a esposa Sara acolhiam visitantes [Gn 18.1-8].” Mas o pastor lembra ainda o lado negativo: a impaciência de Sara e as mentiras de Abraão. “Ela não confiou no tempo de Deus e sugeriu que o marido tivesse um filho com Hagar [Gn 16.1-4]. Abraão, por sua vez, mentiu ao afirmar que Sara era sua irmã [Gn 12.10-13]”, expõe o líder.

Justamente em decorrência de ser uma instituição bíblica, a família tem sido alvo de ataques espirituais e mundanos, afirma o Pr. Sérgio Freitas, da sede regional da Igreja Internacional da Graça de Deus em Serra (ES). O líder aponta que, no cenário atual, esse núcleo fundamental tem sofrido diversas investidas devido à deterioração moral e espiritual vigente e às influências seculares negativas. De acordo com Freitas, os cristãos precisam estar revestidos da armadura de Deus, para resistir a esses ataques, e estar firmes contra as astutas ciladas do diabo, como aconselhou o apóstolo Paulo aos efésios (Ef 6.11-18). Para tanto, é preciso intimidade e comunhão com o Senhor, vigilância espiritual, oração e fé: “A Bíblia sugere que a proteção à família seja estabelecida em valores espirituais e, acima de tudo, em uma vida de oração e dependência do Altíssimo.” [No final desta reportagem, leia o quadro Ensino bíblico]

Segurança emocional – O Pr. Claudeci Pereira dos Santos, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Parnaíba (PI), adverte: se a família for destruída, os ensinamentos dos verdadeiros valores ficarão comprometidos. “O lar deve ser um lugar de proteção, conforto e segurança”, diz o líder, lembrando que Jesus realizou o primeiro milagre em um casamento (Jo 2.1-9). Em outras palavras, no momento em que um novo lar se forma. “Famílias saudáveis geram pessoas equilibradas e fortalecidas em amor e respeito”, assegura ele, alertando que a destruição desse núcleo leva aos vícios, às brigas e agressões. “A sociedade se perde, porque as pessoas estão afastadas da essência formulada por Deus.”

O Pr. Dario Brunet, do Projeto Vida Nova de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), cita Jó como exemplo de pai zeloso. “Era um homem íntegro, temente a Deus, que se desviava do mal. Ele intercedia pelos filhos e se preocupava em vê-los juntos.”

Por sua vez, a Pra. Mônica Terrigno, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Mesquita (RJ), recorda-se de Timóteo, relatando que, segundo o apóstolo Paulo, a mãe desse moço, Eunice, e a avó dele, Loide, tinham uma fé inabalável que devia ser seguida pelo jovem (2 Tm 1.5). “A fé foi passada de geração a geração. Elas cumpriram seus papéis com excelência, sempre em sujeição aos mandamentos divinos. Passavam bom testemunho, pois conseguiram blindar a família.”

De acordo com a pastora, os lares são destruídos porque Jesus, o Verbo Vivo, não é o Centro, e tampouco o Reino de Deus se manifesta nesse lugar. Ela adverte que Satanás tem investido contra as famílias e continuará a investir. “A Bíblia diz que o mundo jaz no maligno. Todos os ataques vêm dele: desrespeito, imoralidade, pornografia, prostituição, adultério”, enumera Terrigno, lamentando que essa instituição criada por Deus esteja sendo desvalorizada. “Há divisão, desprezo, incompatibilidade e egoísmo, visto que os valores bíblicos não são colocados em prática”, pontua.

Em sua opinião, somente seguindo as instruções dadas pelo apóstolo Paulo em Efésios 6.11-18 [sobre a armadura de Deus], as famílias serão capazes de se proteger das investidas malignas. “A espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, e a oração são fundamentais para que a família seja equilibrada e saudável”, afirma a pastora, orientando que, quando esse núcleo se alinha com as Sagradas Escrituras, surge espaço para o perdão, o amor, a compaixão, o respeito, a misericórdia e o elogio. “As práticas espirituais proporcionam autoridade, e o lar prevalece para a glória de Deus”, conclui.

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