Sociedade
01/02/2020
Carta do Pastor à ovelha – 247
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Foto: Fey Marin / Unsplash

Dias contados

A morte é um tema difícil para muitas pessoas, mas o cristão tem motivos para encará-la com naturalidade

Por Ana Gleide Pacheco

Embora não seja agradável falar de morte, de vez em quando, ela entra em pauta nas conversas do dia a dia. Provocada por tragédia, doença grave ou por crime violento, ainda mais se envolver famosos, ganha destaque nos jornais, nos sites, nas redes sociais e nas emissoras de TV e de rádio. Além disso, tem notoriedade nas ruas e motiva debates. Para alguns, o assunto acarreta peso e temor, para outros, é visto de modo natural.

Uma pesquisa, encomendada pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (SINCEP), concluiu que, para mais de 73% dos brasileiros, discutir sobre o fim da vida é um tabu e, para 10%, falar disso tem o poder de atrair a morte. No entanto, segundo o levantamento, pior que morrer é ver um ente querido partir: 82,4% acham que não há nada mais sofrido do que a dor da perda de alguém que se ama. Na mesma análise, 30% disseram ter medo de falecer.

Entretanto, a questão é tratada com tranquilidade pela técnica de enfermagem Fabiana Pery, 43 anos, membro da Igreja Sara Nossa Terra do Fonseca, em Niterói (RJ). Ela frisa que quem ama Cristo não precisa temer, e sim se preparar para a inadiável data. “Tudo o que vivemos e vemos é transitório e limitado. Não precisamos ter medo quando acreditamos em um plano de salvação, em um Deus maravilhoso, que foi capaz de enviar Seu único Filho para morrer por nós e pelos nossos pecados.” Pery evidencia que, quando alguém aceita esse grande amor e tem uma experiência verdadeira com Jesus, confia que, um dia, irá ao encontro dEle. “Cremos em um Céu glorioso com Cristo, onde adoraremos a Deus o tempo todo, porque Ele é bom”, assinala, emocionada.

Fabiana Pery: “Não precisamos ter medo quando acreditamos em um plano de salvação, em um Deus maravilhoso, que foi capaz de enviar Seu único Filho para morrer por nós e pelos nossos pecados”
Foto: Arquivo pessoal

Morrer é lucro – O psicanalista Renildo da Silva Moreira lembra que Deus criou o homem para viver eternamente. Contudo, com a queda – a entrada do pecado no mundo –, isso acabou. Por outro lado, ele destaca as palavras do apóstolo Paulo. Em Filipenses 1.21, esse servo fiel fala da eternidade e do desejo dele de partir deste mundo para estar com o Messias: Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro (ARA). “Morrer se torna lucro para o cristão porque a morte não é o fim da linha, é apenas um momento”, ressalta Moreira, pastor integrante do corpo de líderes da Igreja Batista Betânia em Sulacap, zona norte do Rio de Janeiro. “No entendimento do apóstolo, a vida era o próprio Cristo. Essa leveza de espírito que Paulo alcançou em relação à vida e à morte, por meio do Evangelho, o qual ele experimentou intensamente, é proposta a todos os que professam Cristo como Senhor absoluto.”

O psicanalista Renildo da Silva Moreira: “Morrer se torna lucro para o cristão porque a morte não é o fim da linha, é apenas um momento”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Fernando Santana, da Comunidade Evangélica Águas do Trono, em Camaçari (BA), acredita que, como o homem foi criado para a eternidade, é uma consequência do pecado ninguém se acostumar com a ideia da morte. “No entanto, com a abreviação de nossos dias, precisamos encará-la como o destino de todos e dar a atenção necessária ao que segue após fecharmos os olhos nesta terra.”

Pr. Fernando Santana, ao falar da morte: “Com a abreviação de nossos dias, precisamos encará-la como o destino de todos e dar a atenção necessária ao que segue após fecharmos os olhos nesta terra”
Foto: Arquivo pessoal

Se alguém está pronto para a vida eterna com o Redentor, sublinha Santana, não há o que temer, pois, como registra o livro de Eclesiastes 3.11b, Deus pôs a eternidade no coração do homem. “A questão é que nem todos estão preparados para isso”, observa o pastor, ressaltando que terão sofrimento os que não estão em Cristo, conforme está em Mateus 25.46: E irão estes para o tormento eterno, mas os justos, para a vida eterna.

“Ressurreição gloriosa” – A psicóloga clínica Ana Claudia Amaro da Cruz crê que a maior luta do ser humano é, justamente, contra a morte, pois significa separação, partida, finitude da existência humana. “O homem, mesmo sendo curioso por natureza, esquiva-se do que não domina e não possui conhecimento”, analisa. De acordo com ela, um panorama antropológico sobre a finitude humana mostra que toda uma visão social foi construída para ela continuar desconhecida e rejeitada. “Os valores veiculados pelos meios de comunicação, por exemplo, são voltados para a vida.”

A psicóloga clínica Ana Claudia Amaro da Cruz lembra que a Bíblia oferece a única resposta satisfatória capaz de lançar fora todo o temor referente à finitude: “A morte existe por causa do pecado”
Foto: Solmar Garcia

Entretanto, Ana Claudia da Cruz lembra que a Bíblia oferece a única resposta satisfatória capaz de lançar fora todo o temor referente à finitude. “A morte existe por causa do pecado, entretanto Cristo veio para ter vitória sobre ela. Assim, todos aqueles que têm a fé estabelecida nEle e O recebem como Salvador vão vencê-la, por meio da ressurreição gloriosa”, atesta a psicóloga, a qual também é pastora da Igreja Batista Betânia, em Sulacap, na zona norte carioca.

O Pr. Fernando Cesar Oliveira destaca que a grande notícia anunciada pelo Evangelho do Messias é a ressurreição do Senhor. “Esse evento tão importante foi um golpe fatal para a morte, a maior inimiga do homem, já que Cristo a venceu”, afirma ele, que lidera a Igreja Nova Aliança Batista em Vila Mariana, zona sul de São Paulo (SP). De acordo com Oliveira, que também é psicólogo, é importante considerar a diferença entre a morte e o morrer. “Há indivíduos que, por meio da fé em Jesus, superam a dificuldade de tratar desse assunto. Mas o morrer ainda envolve temores legítimos: será de forma violenta, em um acidente ou assalto? Será sofrido por uma condição difícil, de enfermidade? Será em uma velhice debilitante? Será sereno, tendo o apoio e a presença dos amados por perto? Tudo isso acaba mexendo com o imaginário do ser humano”, pontua.

O Pr. Fernando Cesar Oliveira lembra da ressurreição de Jesus: “Esse evento tão importante foi um golpe fatal para a morte, a maior inimiga do homem, já que Cristo a venceu”
Foto: Marcelo Santos

Vivendo o luto – O Pr. Alcione Martins Salgado, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) de São José do Rio Preto (SP), avalia que a morte é uma abordagem espinhosa. “Falar sobre ela ainda é complicado para muitos, por se tratar de perdas: pais que perdem filhos, filhos que perdem pais, maridos que perdem esposas e vice-versa. Enfim, algo que mexe com os sentimentos, já que as pessoas têm consciência de que não mais verão seus amados.”

De fato, paraos que permanecem neste mundo, a partida de um ente querido parece bastante cruel, e tocar no assunto pode envolver sofrimento. Segundo especialistas, isso se deve à dificuldade de se lidar com o luto: fala-se dos mortos, mas não da morte. Quando alguém se vai, é comum que se instalem dor, tristeza e angústia naqueles que ficam. O choro pode ser uma constante até que a perda seja superada de alguma maneira.

O Pr. Alcione Martins Salgadoao falar de como a morte afeta as famílias: “Algo que mexe com os sentimentos, já que as pessoas têm consciência de que não mais verão seus amados”
Foto: Arquivo pessoal

Contudo, antes mesmo que essa “superação” suceda, não raramente aqueles que estão próximos dizem coisas como: “Não chore”, “Você precisa ser forte”, “Isso vai passar”. “Às vezes, eles agem assim com as melhores intenções, porém acabam não percebendo que estão sendo insensíveis. Tentar amenizar falando essas frases é não dar espaço e acolhimento ao luto do próximo”, ensina o pastor e psicólogo Fernando Cesar Oliveira. “Quando pedimos ao outro que não chore, fazemos com que ele se sinta ainda mais sozinho, e isso pode aumentar a sua dor.” Para Fernando Oliveira, não saber enfrentar o luto pode estar associado às dificuldades em trabalhar os próprios medos. “Quem vive o luto pode chorar e se sentir triste. O apóstolo Paulo reconheceu isso quando disse aos cristãos da igreja em Tessalônica que eles podiam ficar tristes, porém não sem a esperança no Cristo ressuscitado”, afirma, citando 1 Tessalonicenses 4.13,14.

O Pr. Henrique Ferreira lembra: “Eles estão sendo recolhidos, com sua fé devidamente guardada. Cristo venceu a morte e, ao fecharmos os olhos, entraremos no descanso com Ele”
Foto: Solmar Garcia

Na opinião do Pr. Henrique Ferreira, da Igreja Evangélica Altar de Adoração, em São Pedro da Aldeia (RJ), muitos não entendem que o luto é um processo natural e importante para a reconstrução daquele que perdeu alguém. Isso porque, de modo geral, homens e mulheres não são ensinados a lidar com o fim da vida. Contudo, o cristão precisa compreender esse assunto de forma diferente. “O apóstolo Paulo nos ensina: Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé [2 Tm 4.7]. Essa sensação de missão cumprida não está sendo encontrada pelas pessoas, por causa disso várias delas não aceitam a morte.” Ele salienta ser necessário entender que aqueles que voltam para o Pai já cumpriram o seu chamado e terminaram a carreira. “Por isso, eles estão sendo recolhidos, com sua fé devidamente guardada. Cristo venceu a morte, e, ao fecharmos os olhos, entraremos no descanso com Ele”, conclui.


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