No último artigo, começamos a falar dos dons ministeriais – apóstolo, profeta e evangelista. Nesta edição, trataremos de outros três dons: pastor, doutor e dons de socorro.

Pastor – O pastor, por assim dizer, está casado com a Igreja. Ele é o apascentador do rebanho. Apascentar, segundo o Dicionário Aurélio, é levar à pastagem, guardar, doutrinar, ensinar, guiar, recrear, deleitar, entreter. O Salmo 23, de Davi, é uma descrição perfeita de Deus como o nosso Pastor, e revela algumas das qualidades inerentes ao ministério pastoral.

O primeiro dever do pastor é alimentar o seu rebanho e dessedentá-lo (v. 1 e 2), mediante a pregação e o ensino da Palavra, de preferência auxiliado por um mestre ou doutor. Pregar o Evangelho é proclamar as verdades eternas com sabedoria, unção e autoridade. Para tanto, não é condição essencial que o pastor seja grande orador ou excepcional expositor da Bíblia. A pregação deve ser o bálsamo que cura as feridas dos doentes, e não um chicote que fere.

A expressão refrigera a minha alma (v. 3) refere-se às consolações de Deus. Uma ovelha exposta ao Sol por longo tempo pode se sentir febril. O pastor sábio e cuidadoso percebe o problema e unge a cabeça do animal com azeite, como um refrigério. Os tempos de refrigério pela presença do Senhor, de que falou o apóstolo Pedro, em certo sentido já chegaram para a Igreja (At 3.19). O verso 3 segue: Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. O pastor guia o seu rebanho também por meio do aconselhamento, um vasto campo que o líder deve explorar com sabedoria, em meio a uma sociedade que carece de conselheiros matrimoniais, educativos, financeiros. Hoje, poucas pessoas tomam uma decisão séria sem ouvir antes bons conselheiros.

O pastor precisa tratar com carinho e respeito os membros da igreja, e estes devem tê-lo em alta consideração. Para cumprir tal propósito, o líder tem de examinar as Escrituras e buscar a iluminação do Espírito Santo, assim, na condição de um representante de Deus, conseguirá aconselhar com ética a fim de guiar a congregação em sua caminhada cristã.

Doutor (ou mestre) – O mestre é aquele que ajuda a remover as dúvidas. De acordo com Davi, Deus nos guia pelas veredas da justiça. Portanto, quando um mestre ensina a igreja, ele o faz também nessa direção. Jesus, nosso exemplo, disse que veio ao mundo a fim de dar testemunho da Verdade (Jo 18.37), que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10.45). O pastor da igreja deve lançar mão dos que possuem o dom de ensinar, mas ele próprio deve ser um mestre. Entretanto, se o pregador não possuir o dom do ensino, deve supervisionar o trabalho dos mestres, para que estes o façam com dedicação e firmeza.

O doutor (ou mestre) deve estar firmado na Bíblia, a qual tem muito a dizer acerca dos conselheiros. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, declara: Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros (Rm 15.14).A bondade faz parte do fruto do Espírito. Logo, o mestre deve ser bom, carinhoso, virtuoso, benevolente e generoso, e isso em toda a sua forma de viver. Ele deve refletir em sua vida cotidiana a bondade do Pai celestial. O mestre é completo em Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros de sabedoria e conhecimento, nEle habita a plenitude da Trindade.

O famoso evangelista norte-americano Dwight L. Moody (1837-1899) escreveu: Evangelistas são homens singulares, cavoqueiros, que cavam nas pedras. Pastores são os ornamentadores da pedra, retirando as arranhaduras das beiras. Mestres são artífices que as colocam nos lugares devidos.

Dons de socorro – Escrevendo à Igreja de Corinto, Paulodiz: E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas (1 Co 12.28).

Ao refletir sobre o pedido dos filhos de Zebedeu, de se assentarem um à direita e o outro à esquerda de Jesus Cristo (Mc 10.35-37), o teólogo britânico John Stott (1921-2011) afirmou: O símbolo de uma liderança autenticamente cristã não é a veste de púrpura de um imperador, mas o avental batido de um escravo; não um trono de marfim e ouro, mas uma bacia de água para a lavagem dos pés.

Por sua vez, o teólogo estadunidense Curtis Vaughan (1925-2005), que foi professor emérito do Novo Testamento no Seminário Teológico Batista do Sudoeste, em Fort Worth (Texas, EUA), salienta, em seu comentário acerca da carta de Paulo aos Efésios: Sentimos tanto medo de que nos acusem de ensinar a salvação pelas obras que não temos dado a devida atenção à ênfase bíblica a elas como fruto e prova da salvação. Vaughan lembra que Jesus andou fazendo o bem, e acrescenta: Deveríamos seguir o Seu exemplo. Deveríamos acudir às necessidades dos pobres das nossas comunidades. Deveríamos contribuir com os nossos recursos para socorrer aos milhões que morrem de fome em todo o mundo, ajudar os que não têm lar, ser amigos de quem não tem amigos, cuidar dos doentes e dos que sofrem. Em suma, a compaixão que dizemos possuir tem de ser traduzida em atos positivos de bondade e generosidade.

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