Telescópio – 289
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Estudo aponta que para obter uma vida feliz e saudável é preciso manter boas e sólidas amizades
Por Ana Cleide Pacheco
Ao contrário do que muitos pensam, não é preciso construir uma carreira de sucesso, ter bastante dinheiro ou muitos bens para encontrar a felicidade. Na verdade, ser feliz não tem a ver com acumular riqueza, mas com algo bem mais fácil de se conquistar e que, teoricamente, está ao alcance de todos: relacionamentos sólidos e saudáveis. Tais conclusões fazem parte do mais longo estudo científico já realizado sobre felicidade. Conduzido por pesquisadores da Escola de Negócios da Universidade de Harvard (EUA), o projeto teve início em 1937 e reuniu voluntários de diferentes faixas etárias e origens. Ao longo dos anos, os estudiosos avaliaram as respostas de mais de 50 mil entrevistados em todo o mundo. [Do editor: A pesquisa continua em andamento, mas, agora, com os filhos dos primeiros participantes.]
No decorrer de décadas de estudo, os cientistas descobriram também que quanto mais diversificado o nível de interações sociais de uma pessoa, mais feliz e saudável ela será. Ou seja, além de manter contato com familiares e amigos próximos, interagir amistosamente com colegas de trabalho e conversar com gente de fora desses círculos, como atendentes de supermercado ou entregadores, aumenta a sensação de bem-estar e prazer com a vida.
Por outro lado, o levantamento aponta que indivíduos solitários são mais propensos a desenvolver doenças físicas e emocionais. “Eles têm mais insônia e imunidade baixa do que aqueles que convivem com amigos frequentemente”, afirma a médica anestesiologista Leila Maria Chaves Ribeiro. “Até mesmo enfermidades mais simples, como um resfriado, demoram mais a serem curadas quando não se desfruta de relacionamentos saudáveis”, complementa. A especialista lembra que outras pesquisas já demonstraram que ter amigos reduz a ansiedade e ajuda a combater a depressão – doença caracterizada pela perda ou diminuição de prazer e pelo desinteresse na convivência social. “Quando há um relacionamento agradável entre as pessoas, o organismo responde com a liberação de substâncias químicas produzidas pelos neurônios, tais como a ocitocina e a dopamina, que são fontes de bem-estar físico e psicológico”, informa a médica.
A ocitocina – conhecida como o hormônio do amor e da união social –, e a dopamina – um neurotransmissor que atua em diversas regiões do cérebro, influenciando as emoções, o aprendizado, o humor e a atenção –, fortalecem o sistema imunológico e oferecem sensação de prazer quando se está em boa companhia. “Por isso, reitero que é muito importante que os indivíduos tenham uma rede social, e não estou falando de mídia digital. É sobre estar com outras pessoas, aceitando as diferenças e escutando-as com empatia. Isso gera paz, felicidade e relacionamentos saudáveis”, afirma Leila Ribeiro.
“Sem julgamento” – A terapeuta Adriana Oliveira Ferreira Gomes, 51 anos, da Igreja Batista Amor e Vida, no bairro Piam, em Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, assegura que socializar, além de diminuir os sentimentos de solidão, evitar depressão, ansiedade e outras doenças, contribui para fortalecer os valores éticos fundamentais ao desenvolvimento moral do ser humano. Assim, mesmo que as demandas do dia a dia reduzam o tempo dedicado às interações sociais, é necessário buscar todos os meios possíveis para promover momentos de comunhão com as pessoas queridas. “Há um ditado que diz: ‘Quem quer dá um jeito, quem não quer dá uma desculpa’. Mesmo não tão presentes fisicamente, é preciso cuidar das amizades da forma que é possível, porém entregando o nosso melhor e recebendo o melhor do outro”, ensina.
Para a contadora Marineide Ferreira, 51 anos, a amizade tem poder curativo, terapêutico e libertador, pois significa acolhimento. Membro da Primeira Igreja Batista de Parque São Vicente, em Belford Roxo (RJ), ela cita um conhecido texto de Provérbios: há amigo mais chegado do que um irmão (Pv 18.24) e pontua: “As pessoas buscam amigos com os quais possam falar de forma aleatória sobre coisas boas, ruins, bobas, sérias, seja de forma presencial, seja de forma virtual. E é formidável quando isso acontece sem julgamento, mas com acolhimento. Isso faz com que esses laços se tornem terapêuticos”.
A empresária Danielle Chaves Ferreira, 43 anos, da Comunidade Evangélica de Mesquita (RJ), na Baixada Fluminense, considera a amizade como um complemento indispensável à existência humana. “Tenho amigos que se encaixam em minha vida e suprem o que falta em mim. As interações sociais aumentam o bem-estar, pois ocorre uma troca e um crescimento saudável de todos os envolvidos”, observa.
Longevidade – O estudo citado no início desta reportagem apontou também que uma vida plena de bons relacionamentos pode aumentar a longevidade em até dez anos. A merendeiraMaria Claudia Santos da Silva Oliveira, 51 anos, da Primeira Igreja Batista em Santa Amélia, em Belford Roxo (RJ), é um exemplo de como as boas amizades influenciam a saúde física. Ela recebeu o diagnóstico de câncer de mama há alguns anos e, graças ao apoio dos amigos, lidou com esse grave problema com menos dificuldade. “Encontrei conforto, primeiro em Jesus, depois nos amigos. E isso fez muito bem para mim. Eu me senti abraçada por pessoas que me amam: minha família, minha igreja e meus amigos, que são mais chegados que irmãos. Vivenciei essa dor em meio a muito carinho. Ter esse suporte me ajudou bastante”, testemunha.
Nas Sagradas Escrituras, é possível encontrar inúmeros versículos que falam sobre viver bem e em comunhão. O Salmo 133.1-3, por exemplo, declara: Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre. Essa passagem deixa claro que as bênçãos do Senhor são estabelecidas por meio de relacionamentos saudáveis.
Na opinião do Pr. Diogo Bulhões de Morais, 41 anos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no centro de Anápolis (GO), a comunidade evangélica tem um papel fundamental no desenvolvimento de estreitos laços de amizade entre os irmãos. “A comunhão na congregação envolve, geralmente, um senso de conexão e apoio mútuo”, destaca o líder, lembrando que o ambiente eclesiástico é propício para que as pessoas compartilhem suas experiências de fé, orem umas pelas outras, encorajarem-se mutuamente e busquem juntas uma comunhão mais profunda com Deus. “A Igreja também pode desempenhar um papel importante na promoção de interações saudáveis fora das atividades religiosas, estendendo-se para além dos encontros formais. Muitas até incentivam a formação de pequenas comunidades, nas quais os membros podem se reunir em um ambiente mais intimista para compartilhar suas vivências.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro Como viver bem]
Rebeca dos Santos Ivantes Gomes, 35 anos, professora voluntária de jovens e adolescentes na Segunda Igreja Batista em Heliópolis, Belford Roxo (RJ), concorda com o pastor Diogo de Morais e reitera que o convívio na igreja local gera efeitos positivos nos relacionamentos interpessoais. “Nesse contexto, o indivíduo encontra acolhimento, empatia e segurança, capacitando-se para criar laços emocionais”, afirma a docente, a qual menciona outro conhecido provérbio que corrobora o resultado da pesquisa de Harvard, citada no início desta reportagem: Em todo o tempo ama o amigo; e na angústia nasce o irmão (Pv 17.17). “Essa passagem nos ajuda a compreender o quão importante se torna a amizade e o seu significado ao logo de nossa vida. Afinal, ela nos permite reconhecer e estabelecer laços que, quando satisfatórios e equilibrados, podem nos garantir bem-estar físico, emocional e espiritual”, conclui.
Como viver bem
Certa vez, ao ser questionado sobre qual seria o maior de todos os mandamentos da Lei de Moisés, Jesus respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22.37-39).
Com essas palavras, o Mestre estava oferecendo a Seus interlocutores uma receita simples para uma vida plena e feliz. À luz desse versículo e da longa pesquisa citada na matéria, não é difícil compreender por que a Bíblia está repleta de passagens que falam sobre como manter bons relacionamentos e boas amizades. Confira algumas delas:
Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai, nem entres na casa de teu irmão no dia da tua adversidade; melhor é o vizinho perto do que o irmão longe (Pv 27.10).
Como o ferro com o ferro se aguça, assim o homem afia o rosto do seu amigo (Pv 27.17).
E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também (Lc 6.31).
O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei (Jo 15.12).
Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo (Fl 2.3).
Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também (Cl 3.13).
Pelo que exortai-vos uns aos outros e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis (1 Ts 5.11).
Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros (1 Jo 4.11).
(Fonte: Bíblia Sagrada)