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03/12/2022Franco crescimento
República Dominicana se sobressai pelo crescimento evangélico nos últimos anos
Por Evandro Teixeira
A América Latina sempre foi majoritariamente católica. Porém, nas últimas décadas, o número de evangélicos vem aumentando rapidamente nesse continente. Em 1995, os católicos somavam 80%, hoje são 56%; e os que se declaram evangélicos passaram de 3,5% para 19,7% no mesmo período, segundo dados do instituto de pesquisas Latinobarómetro, com sede em Santiago, no Chile. Entretanto, um país tem se destacado nesse cenário: a República Dominicana.
Situada no coração do Caribe, na América Central, a nação de 11 milhões de habitantes é palco de um crescimento exponencial do rebanho protestante. De acordo com o Relatório Internacional de Liberdade Religiosa da embaixada dos Estados Unidos, os evangélicos, que eram 12% da população em 2008, representavam 26% em 2020. Por sua vez, o Conselho Dominicano de Unidade Evangélica (CODUE) estima que, atualmente, 30% dos dominicanos sejam protestantes. Trata-se do segmento que apresentou a maior tendência de crescimento no mapa religioso da República Dominicana nas últimas décadas.
Enquanto isso, o contingente de católicos não para de encolher. Em décadas passadas, eles chegavam a representar 90% da população nacional. Porém, no final de 2020, os fiéis à Igreja de Roma deixaram de ser a maioria hegemônica, representando menos da metade dos dominicanos (49%). O fenômeno também é digno de nota porque o catolicismo ainda é a religião oficial do país: a Concordata assinada entre o Governo de Santo Domingo e o Estado do Vaticano, em 1954, deu à Igreja Católica Romana uma série de privilégios, entre eles, a celebração dos casamentos. Por causa daquele acordo, eram legalmente reconhecidas apenas as uniões matrimoniais realizadas pela Igreja Católica ou em cartório. No entanto, a Constituição de 2010 mudou essa situação: além de reconhecer os casamentos realizados por outros grupos religiosos, a nova Carta Magna estabeleceu a liberdade de culto e a laicidade do Estado.
“Livre expressão” – De acordo com o Prof. Arão Inocêncio Alves de Araújo, mestre em História Social, a mudança na legislação foi essencial para o redimensionamento do cenário religioso da República Dominicana, pois, antes, a imposição do catolicismo deixava pouco espaço para as outras religiões. Para ele, ao estabelecer o Estado laico na Constituição de 2010, o país deixou de tratar a fé católica como requisito para o exercício pleno da cidadania. “Esse contexto favoreceu a mudança de fé dos dominicanos, comportamento que reafirma a importância da liberdade religiosa, um direito que deve ser valorizado.”
Araújo lembra que, no Brasil, houve um processo semelhante, quando o Estado laico foi estabelecido no final do século 19, após a promulgação da primeira Constituição da República, em 1891. “O Estado laico foi crucial para gerar o crescimento dos evangélicos no Brasil. E o mesmo vem acontecendo na República Dominicana”, compara o educador, assinalando que as transformações religiosas ocorridas em solo dominicano também são vistas em outros países latinos, como o México.
Obviamente, a mudança na legislação não provocaria mudanças tão significativas no tecido social, se não fossem as iniciativas evangelísticas e missionárias promovidas pelas igrejas evangélicas e por organizações estrangeiras. De acordo com o missionário brasileiro Lindinilto Saturno Matias, o ambiente na República Dominicana é favorável à pregação da Palavra. “Por onde passamos, encontramos evangelismo nas ruas. As denominações estão se unindo em prol do avanço do Evangelho no país”, informa Matias, residente em solo dominicano desde 2018.
Lindinilto Saturno, integrante da agência Gideões Missionários da Última Hora (GMUH), tem auxiliado o pastor de uma igreja na cidade de Pedernales, no Sul do país, na fronteira com o Haiti. Segundo ele, o trabalho tem crescido ali. “A garantia da livre expressão da fé permite que mais pessoas ouçam a Palavra por diferentes meios de comunicação”, testemunha ele, lembrando que a pandemia aproximou muita gente do Evangelho em busca de amparo espiritual e emocional.
No entanto, apesar desse cenário favorável à pregação, Lindinilto reconhece que, em algumas localidades, a falta de recursos financeiros dificulta o envio e a manutenção de missionários em território dominicano. “São poucos os obreiros disponíveis para atuar em outras regiões de fronteira com o Haiti, onde há milhares de imigrantes provenientes do país vizinho em busca de uma vida melhor.”
Leitura bíblica – A República Dominicana guarda uma interessante afinidade com a Palavra: é o único Estado do mundo que tem uma Bíblia em sua bandeira nacional. O artigo 32 da Constituição dominicana indica que o Livro, encimado por uma cruz dourada, está aberto em João 8.32: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Além disso, uma lei federal estabelece a leitura bíblica diária obrigatória antes do início das aulas, em todas as escolas públicas.
A missionária e psicóloga Talita Souza da Silva Oliveira, da Primeira Igreja Batista em São João de Meriti (RJ), acredita que ler a Escritura Sagrada gera familiaridade com ela. Contudo, esclarece que isso é insuficiente para fazer uma transformação social mais profunda. Segundo Oliveira, para que aconteçam tais mudanças, é preciso concentrar esforços na educação religiosa das crianças. A psicóloga, que já atuou como missionária em países da África, afirma a urgência de investir nos pequenos. “Assim, eles crescerão com uma base cristã genuína.”
Avanços tecnológicos – Na opinião do missionário André Souto Bahia, é preciso aproveitar uma janela de oportunidade aberta para a pregação da Palavra na República Dominicana. Diretor de treinamento da filial brasileira da organização missionária Operação Mobilização (OM), ele conhece de perto a realidade dominicana, pois já trabalhou no vizinho Haiti.
Para Bahia, o declínio da relevância do catolicismo e o crescimento do movimento evangélico são fenômenos observados em outros países latino-americanos. Em sua opinião, a Igreja Católica dominicana perdeu fiéis por causa do tradicionalismo. Assim, os dominicanos buscam congregar em comunidades que melhor atendam às suas necessidades pessoais e espirituais, fortalecendo o movimento evangélico dia após dia.
André Bahia salienta ainda que os avanços tecnológicos – principalmente o advento da internet e o crescimento das redes sociais – colaboraram para que houvesse maior conexão entre os evangélicos. “A mudança do cenário político-religioso na América Latina e os efeitos da popularização da web, que facilita o acesso a informações, são realidades inerentes a missões transculturais contemporâneas.”
Ao mesmo tempo, a democratização da informação fez com que as pessoas se tornassem mais seletivas, sobretudo quanto à fé. Bahia observa, aliás, que nem todos os egressos do catolicismo migraram para outro segmento religioso. Um estudo realizado pelo Conselho Dominicano da Unidade Evangélica (CODUE) em 2018 demonstra que 29,4% dos cidadãos declaram não pertencer a qualquer religião. Na opinião do missionário, esse dado acende um alerta: é necessário mais empenho dos grupos evangelísticos para alcançar essa parcela da população. “Manter a base bíblica e o compromisso com a contextualização são cuidados prioritários para uma Igreja que entende a sua missão e o mundo para o qual foi enviada.”
Com experiência em missões transculturais em alguns países, o Pr. Hilton dos Santos Sousa Júnior, líder da Igreja da Graça na Romênia, confirma que os desafios à propagação do Evangelho na República Dominicana são observados em outros campos missionários ao redor do globo. Segundo ele, um dos problemas é a falta de mão de obra, algo apontado por Jesus e registrado em Lucas 10.2: Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara. “Precisamos avançar na preparação de obreiros e de cristãos que possam prosperar, a fim de financiar a pregação do Evangelho”, declara o ministro, enfatizando que a mudança no cenário religioso nessa nação caribenha é uma prova inequívoca do agir de Deus. “O crescimento do número de evangélicos no país confirma o quanto o Espírito Santo tem tocado o coração do povo dominicano”, conclui.
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