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Foto: Arquivo pessoal

A força da mente

Neurocientista explica a relação entre o cérebro, as emoções e a dor

Por Patrícia Scott

A neurociência estuda as modificações no sistema nervoso em diversas situações da vida. Ao promover a melhor compreensão dos fenômenos cerebrais, esse campo científico ajuda os profissionais de saúde na tomada de decisões clínicas. Entre os estudiosos dele, destaca-se o neurocientista Renato Fernandes de Paulo, 42 anos, o qual vem pesquisando, especificamente, os processos neurais envolvidos na sensação de dor, fenômeno que, quando crônico, é percebido no cérebro, em grande parte, pelas mesmas áreas que processam as emoções.

De acordo com o especialista, a dor é uma experiência sensorial ou emocional, e sua interpretação está mais no cérebro do que no corpo em si. Além disso, segundo ele, muitas dores físicas podem ter raízes nas emoções. “A maneira como alguém pensa, assimila as coisas, o local em que está inserido e o jeito como se comporta influenciam diretamente a sensação e a percepção da dor”, assegura Renato de Paulo, formado em Fisioterapia, mestre e PhD em Bioquímica Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Neurociências pela Imperial College, de Londres, na Inglaterra.

Membro da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), Renato fala, nesta entrevista à Graça/Show da Fé, da conexão entre cérebro e dor e explica como as emoções se refletem nas sensações dolorosas.

Como o cérebro reage à dor?

A dor aguda não tem a capacidade de fazer grandes modificações no cérebro, mas as dores crônicas, que persistem por mais de seis meses, podem modificar drasticamente o cérebro, principalmente as áreas emocionais e de identificação de ameaça. A dor crônica pode deixar a pessoa com pensamentos catastróficos, em que tudo parece ser perigoso. A boa notícia é que podemos cuidar da dor, tratando o cérebro.

É possível o pensamento controlar a dor?

Quando a pessoa sente dor, física ou emocional, crônica ou não, o cérebro entra em estágio de ameaça, como forma de proteção. As emoções e os sentimentos, inclusive a dor, têm origem nos pensamentos e são processados no cérebro. Veja: se alguém chutar a sua perna, pode gerar muita dor e raiva, porém não vai doer se você fizer o gol ou pontuar no esporte do qual gosta muito. Uma dor no peito é diferente para um homem jovem e uma mulher após os 40 anos com histórico de câncer na família. Pergunte-se: “A dor que estou sentindo pode ser aliviada se eu distrair meu cérebro com exercícios respiratórios ou fazendo algo de que gosto?”; “Quando meus pensamentos negativos aumentam, minha dor piora?”. Assim, a pessoa refletirá sobre a importância dos pensamentos na interpretação da dor e da ameaça.

O que é necessário para evitar as dores originadas nas emoções?

Terapia, meditação e exercícios físicos são o tripé da saúde emocional. É bom deixar claro que a meditação não tem ligação com práticas religiosas ou espirituais, e sim é um exercício físico para o cérebro. Ou seja: concentrar-se, de fato, em algo deixa os neurônios mais fortes, realizando mais sinapses [comunicações neuronais], e mais flexíveis. Um cérebro flexível suporta melhor as dores emocionais.

De que maneira as emoções afetam a saúde do organismo?

A emoção positiva libera substâncias curativas, como neurotransmissores que ativam o sistema nervoso autônomo (chamado de parassimpático), acalmando o organismo. Em paz, os órgãos entendem que podem se regenerar e trabalhar normalmente. Ao contrário, emoções negativas, como o estresse crônico, aceleram o organismo e ativam o sistema nervoso autônomo chamado de simpático, liberando excesso de cortisol, que paralisa o organismo, colocando o indivíduo em um estado permanente de luta e fuga, como se estivesse sempre em perigo.

Por que o isolamento social tem prejudicado tanto o bem-estar geral do ser humano?

Está no DNA do homem ser sociável. Quando acontece o afastamento do grupo ao qual o indivíduo pertence, o cérebro dispara o alarme de ameaça e provoca a dor emocional. Repare que a dor não é o problema, mas apenas um sinalizador da problemática real, que é a falta de pertencimento a uma família, a um grupo de amigos, a um ambiente de trabalho.

Por que há significativo sofrimento emocional na rejeição?

Rejeição é o oposto de pertencimento. Pertencer é a base da saúde emocional. A dor, principalmente a crônica, leva ao afastamento, isolamento e à sensação de rejeição. Pacientes com esse sofrimento emocional precisam de acolhimento e empatia. A boa notícia é que os exercícios físicos, de força muscular, ajudam na regulação do humor, além de reduzir a ansiedade.

O que é necessário para garantir a manutenção da saúde, de modo geral?

Tenha, ao menos, cinco amigos com estilo de vida saudável. Evite a automedicação. Tenha fé e adquira a prática de orar. Alimente-se com comida de verdade, ou seja, evite os empacotados, enlatados e instantâneos. Medite na Palavra de Deus. Faça terapia. Inclua atividade física no seu dia a dia.

Renato Fernandes de Paulo
Fisioterapeuta, neurocientista, mestre e PhD em Bioquímica Médica

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