Juventude
01/11/2020
Entrevista – 256
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Entrevista – 256
01/11/2020
Foto: langstrup / 123RF

Em busca de sentido

Falta de propósito de vida é uma das causas do aumento do suicídio entre jovens

Por Ana Cleide Pacheco

A cada 40 segundos, alguém comete suicídio no planeta. São quase 800 mil mortes autoinfligidas por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pessoas de todas as raças, de diversos perfis econômicos e de várias idades estão em risco, mas os jovens e adolescentes são os mais presentes nessas estatísticas: o suicídio é a terceira causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos, de acordo com a OMS.

O problema é crescente. Um levantamento sobre a saúde mental dos universitários norte-americanos demonstrou que, em apenas cinco anos, o número de estudantes que tentaram o suicídio mais que dobrou. De acordo com dados divulgados pela agência de notícias Reuters, o percentual de universitários que atentaram contra a própria vida subiu de 0,7%, em 2013, para 1,8% em 2018, último ano avaliado. Nesse mesmo período, o índice de estudantes que relataram estar em depressão profunda saltou de 9,4% para 21,1%.

O Pr. Guilherme Falcão diz que tantas opções criaram um vazio existencial, levando as novas gerações a cair no conformismo: “Acabam imitando comportamentos” Foto: Arquivo pessoal

Outro estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Stanford, também nos Estados Unidos, mostrou que a taxa de mortalidade entre os jovens de 25 a 34 anos, em 2019, foi 20% maior em relação a 2008. Os fatores que mais contribuíram para esse aumento foram os suicídios e as overdoses. São vários os motivos apontados por especialistas para justificar o aumento do número de jovens que se matam: desde dificuldades econômicas até a crescente utilização das novas tecnologias e o abuso de drogas. Mas o fato é que, cientificamente, pouco se sabe sobre a razão de as novas gerações serem tão propensas a tirar a própria vida.

Lucas Tadeu de Andrade Almeida: “O fato de não vivenciarmos essa questão da urgência de sobreviver faz com que alguns caiam na rotina, e a vida perca um pouco o sentido” Foto: Arquivo pessoal

Especialista em Psicologia Clínica e Logoterapia [abordagem psicoterápica que investiga o sentido da vida], o Pr. Guilherme Falcão, 67 anos, da Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba (PR), aponta um caminho. De acordo com ele, as facilidades do dia a dia, nas duas últimas décadas, podem estar por trás do problema. Falcão lembra que o acesso de muitos jovens a bons colégios e universidades se tornou mais viável, assim como ao aparato tecnológico. Segundo o líder, tantas opções criaram um vazio existencial, levando as novas gerações a cair no conformismo. “Assim, acabam imitando comportamentos, vestuário e compra de itens tecnológicos, não tendo opinião própria, sendo conduzidos pela música, pela cultura e por tudo o que está acontecendo.” Para ele, por não encontrarem o sentido para a existência, muitos acabam perdendo a vontade de viver.

Liane de Oliveira Rangel Cantalice: “No passado, chegávamos à nossa casa e estávamos à mercê da influência de nossa família. Hoje, quando estão em casa, eles continuam nas redes sociais” Foto: Arquivo pessoal

Se, nas gerações passadas, a preocupação era a subsistência, a mocidade de hoje tem tempo de sobra para se preocupar com as complexidades do mundo contemporâneo. Essa é a opinião de Lucas Tadeu de Andrade Almeida, 24 anos, mestrando pelo Departamento de Neurociências da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Com o acesso às tecnologias e à informação, temos uma perspectiva da realidade bem diferente da experimentada anteriormente pelos nossos pais.” De acordo com Lucas Almeida, seus pares vivem um momento de maior prosperidade econômica e estão acomodados a isso. “Se pararmos para analisar, muitos jovens não têm com o que se preocupar. Acordam, vão estudar, trabalhar, e está tudo pronto. E o fato de não vivenciarmos essa questão da urgência de sobreviver faz com que alguns caiam na rotina, e a vida perca um pouco o sentido”, avalia. “Na verdade, falta propósito e, o mais importante, Deus”, afirma ele, membro da Catedral Metodista de Niterói (RJ).

Osvaldo Christen Filho alerta: “O uso de drogas e o acesso exagerado às tecnologias expressam algo que não vai bem na vida do sujeito” Foto: Arquivo pessoal

Sofrimento mental – Para a psicóloga Liane de Oliveira Rangel Cantalice, 58 anos, a juventude atual realmente está mais propensa à depressão e ao suicídio, porém lembra que esse aspecto sempre existiu. Segundo a especialista, a diferença é que os jovens de agora se conectam mais facilmente com outras pessoas depressivas ou com baixa autoestima. “No passado, chegávamos à nossa casa e estávamos à mercê da influência de nossa família. Hoje, quando estão em casa, eles continuam nas redes sociais, onde buscam indivíduos na mesma situação.”

Myrna Amaral Catinin de Souza Espíndola informa: “As drogas e as tecnologias podem ser meios modernos para lidar com as angústias diante da falta de sentido e da ansiedade” Foto: Arquivo pessoal

Membro da Igreja Presbiteriana Betânia em São Francisco, na cidade de Niterói (RJ), a psicólogia ressalta: os desafios das novas gerações estão centrados na quantidade de informações que não conseguem processar. “Elas [as informações] ajudam a fortalecer e reforçar suas dificuldades. É como se tivessem colocado um megafone nas questões emocionais comuns na transição da adolescência para a juventude.”

O abuso de substâncias e o uso desenfreado dos dispositivos eletrônicos também entram nessa equação, como lembra o psicólogo Osvaldo Christen Filho, 64 anos, especialista em Dependência Química. “O uso de drogas e o acesso exagerado às tecnologias expressam algo que não vai bem na vida do sujeito”, lembra ele, assinalando que os vícios têm em sua base a falta de habilidade para lidar com outras questões. “Limites, perdas, solidão, identidade de gênero, doenças mentais, convívio social problemático, abusos de qualquer tipo”, enumera o psicólogo, destacando que tal nível de sofrimento mental pode levar ao suicídio.

Pr. Adriano Correia da Silva: “Cada cristão compõe esse Corpo, a Igreja, que é viva, com emoções e sentimentos. Nada substitui o abraço, o sorriso, o olho no olho. É uma família que se ganha” Foto: Arquivo pessoal

A também psicóloga Myrna Amaral Catinin de Souza Espíndola, 35 anos, concorda com Christen Filho, ao falar dessa fuga da realidade. “As drogas e as tecnologias podem ser meios modernos para lidar com as angústias diante da falta de sentido e da ansiedade ante a manutenção de relações interpessoais”, informa ela, membro da Primeira Igreja Batista de Niterói (RJ).

Remédios espirituais – O Pr. Adriano Correia da Silva, 39 anos, da Igreja Internacional da Graça de Deus em São Lourenço do Sul (RS), ressalta que a casa do Senhor é a única que pode oferecer aos jovens aquilo de que mais necessitam: o Evangelho. O pastor destaca que o ser humano não foi criado para viver só, mas, sim, em conexão com Deus e os irmãos. “Cada cristão compõe esse Corpo, a Igreja, que é viva, com emoções e sentimentos. Nada substitui o abraço, o sorriso, o olho no olho. É uma família que se ganha. Isso faz bem à alma, ao corpo e à fé. Essa conexão salva vidas.”

Pr. Michel Ferreira Piragine: “Na Bíblia, temos inúmeros remédios espirituais para as crises da alma. O apóstolo Paulo sempre nos convida a dar atenção à nossa mente, alimentando-a com bons pensamentos” Foto: Reprodução/web

O Pr. Michel Ferreira Piragine, 37 anos, responsável pela juventude da Primeira Igreja Batista em Curitiba (PR), concorda com o Pr. Adriano da Silva e lembra que a depressão é o mal do século. Por isso, é necessário orientar os jovens a buscar a Deus. “Na Bíblia, temos inúmeros remédios espirituais para as crises da alma. O apóstolo Paulo sempre nos convida a dar atenção à nossa mente, alimentando-a com bons pensamentos. Além disso, caminhar com Deus e a Igreja, estar em comunidade, é saudável”, destaca o pregador ressaltando a importância de sair do mundo virtual para o relacional. “Isso ajuda a entender a sua identidade em Jesus e o propósito de Deus, a valorização do outro e de si mesmo.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro O propósito de Deus para o homem]

O Pr. Douglas de Souza Pedrosa, 27 anos, ministro de jovens da Primeira Igreja Batista em Niterói (RJ), acredita que a marca da juventude é a busca pela descoberta da verdade. Entretanto, chama a atenção para o fato de que essa busca precisa ser canalizada para as fontes corretas. Em sua opinião, a Igreja, norteada pelas Escrituras Sagradas, aponta o caminho da vida abundante aos que necessitam. “A comunidade de fé é portadora das Boas Notícias de salvação.”

Pr. Douglas de Souza Pedrosa: “É necessário reconhecer o gesto amoroso do Pai e acolher Jesus como Senhor dos nossos dias e histórias, salvando-nos de nós mesmos e da perdição eterna” Foto: Arquivo pessoal

Nessa descoberta, de acordo com Pedrosa, a pregação da Palavra é como uma moeda de duas faces: de um lado, está sua contextualização para esse momento histórico, e, do outro, o conteúdo bíblico, eterno, imutável, que norteará ao encontro de Jesus. “Dessa forma, sempre convido cada jovem a olhar o cenário complexo deste mundo. Se fizermos uma rápida viagem aos primeiros capítulos de Gênesis, perceberemos questões que nos apontam as dimensões da queda da humanidade.” No entanto, o pastor lembra que as Boas-Novas da salvação em Cristo são o poder de reconciliar o ser humano com Deus e consigo mesmo. “É necessário reconhecer o gesto amoroso do Pai e acolher Jesus como Senhor dos nossos dias e histórias, salvando-nos de nós mesmos e da perdição eterna”, conclui.


O propósito de Deus para o homem

A Palavra apresenta diversas passagens acerca do propósito da nossa existência, demonstrando que a segurança para viver neste mundo só pode ser percebida mediante a submissão ao Senhor. Confira:

  • O que diz respeito a mim o Senhor levará a bom termo; a tua misericórdia, ó Senhor, dura para sempre; não desampares as obras das tuas mãos (Sl 138.8 NAA).
  • Muitos propósitos há no coração do homem, mas o conselho do SENHOR permanecerá (Pv 19.21).
  • Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti (Is 26.3).
  • Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais (Jr 29.11).
  • E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto (Rm 8.28).
  • Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas (Ef 2.10).
  • (Fonte: Bíblia Sagrada)


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