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Abraão de Almeida

ROMA, os árabes e a Terra Santa

Desde o advento de Cristo até os nossos dias, a história de Israel (e de Jerusalém, em particular) está pontilhada de eventos trágicos ou gloriosos. O último grande choque entre a nação judaica e o Império Romano foi a revolta de Bar Kochba (132-135), quando pereceram perto de 600 mil judeus e quase mil vilas foram destruídas. O motivo da revolta foi a reconstrução de Jerusalém por Adriano como uma nova cidade pagã, e a instalação de um templo em honra de Júpiter, uma das principais divindades romanas. Terminada a guerra, a Palestina deixou de ser o centro do judaísmo em razão das medidas antirreligiosas tomadas por Roma. 

Foto: Reprodução

Captura de Jerusalém – O domínio árabe na Palestina começou em 638, com a captura de Jerusalém, e durou até 1099, quando os cruzados a conquistaram sob a liderança do duque Godofredo de Bulhão (1060-1100). Esse período de dominação árabe pode ser dividido em quatro partes: da conquista até 660; a dinastia Um’awiya (660-750); a dinastia Abbasi (750-969) e, finalmente, a dinastia Fatímida (969-1099). 

A situação dos judeus e da Terra de Israel nesse período é vivamente descrita pelo historiador David Ben-Gurion (1886-1973) na obra Biblioteca de cultura judaica (vol.9, p. 203): Os árabes aplicaram maior severidade em seus métodos de administração e segurança, e cedo tornavam claro o propósito de transformarem a Terra dos Judeus numa terra de permanente colonização árabe. […] A princípio, judeus e árabes gozavam de iguais direitos em relação a todos os lugares santos judaicos (em especial, nas cidades de Jerusalém e Hebrom). Decorrido algum tempo, essa situação mudou. Os privilégios dos judeus com respeito ao Monte do Templo, por exemplo, foram pouco a pouco reduzidos. […] Negaram-lhes, porém, ao fim, esse direito, e proibiram a presença deles no Monte. E uma vez que já não tinham licença para orar no Monte Moriá, voltaram-se para o Monte das Oliveiras.

Motivos das cruzadas – Desde que Flávio Odoacro (433-493) derrubou, em 476, Rômulo Augústulo, o último dos imperadores romanos, tribos germânicas procedentes das margens do Reno e do Danúbio (entre eles, os hérulos e os ostrogodos) governaram despoticamente os povos ocidentais, antes submissos à adiantada civilização greco-romana. 

No Oriente, incluindo-se a Palestina, hordas asiáticas de guerreiros, vindas da Tartária e da Mongólia, assolaram as ex-províncias do quase milenar e recém-caído Império Romano, no que foram seguidas pelos árabes. Estes, fanatizados discípulos de Maomé, assumiram as rédeas dos governos orientais e, de espada na mão, implantaram à força sua religião em toda a Arábia, Egito, Síria, Pérsia, Palestina, parte da Índia e até mesmo em algumas regiões europeias. 

Foto: Wikimedia / Giraudon – The Bridgeman Art Library

Dizem alguns historiadores que os maometanos se apegaram com tanto fervor à sua “guerra santa” que só não tomaram conta do mundo porque foram limitados pelas águas. Esses novos senhores do Oriente, talvez por precaução, não quiseram incomodar muito seriamente o Império Grego (ou Bizantino), sediado em Constantinopla. Esse império, graças a uma pérfida política externa, conseguiu subsistir até a época da segunda cruzada, como veremos adiante.

Radicados nas principais cidades, os califas muçulmanos, com o correr do tempo, representavam várias e grandes dinastias, sendo as principais a dos Abássidas (sediada na Síria) e a dos Fatimistas, com sede no Egito. Essas dinastias, sempre desunidas, levaram seus exércitos a se empenharem entre si em grandes e sangrentas batalhas. No século 9, tais fatos despertaram os gregos de sua tradicional indiferença pelo que acontecia à sua volta, e fizeram com que se aproveitassem das graves dissensões entre os muçulmanos. 

Porém, a costumeira negligência grega pôs a perder, em pouco tempo, todas as conquistas.

Peregrinações – Enquanto esses fatos se sucediam, as peregrinações aos santos lugares continuavam cada vez mais concorridas, sem grandes dificuldades. Eram cristãos e muçulmanos de todas as partes que se punham a caminho da desolada Jerusalém. 

No entanto, com a chegada do século 10, essas peregrinações assumiram um caráter tristemente sombrio: um violento terremoto destruiu o que restava de Jerusalém, e um gigantesco cometa, por muito tempo, assombrou os povos. Havia ainda revoluções por toda parte, e, em todas as igrejas, pregavam-se sermões sobre o fim do mundo. Por tudo isso, aquele século ficaria conhecido como a meia-noite do período medieval.

David Ben-Gurion (1886-1973) – Foto: Israel Government Press Office

A partir do começo do século 11, as peregrinações se tornaram quase impraticáveis para os cristãos. Bandos de árabes beduínos abandonaram o deserto e surgiram nas estradas do Oriente Médio, assaltando e matando os que se dirigiam piedosamente à terra de Israel, causando indignação aos cristãos de todo o mundo. Estes já não partiam mais a sós, mas em grupos cada vez maiores.

Em 1054, Lietbert (1010-1076), Bispo de Cambrai, partiu para a Terra Santa com mais de três mil peregrinos. Foram tantas as desgraças sofridas que retornou à Europa sem ver Jerusalém, perdendo na viagem a maior parte de seus companheiros. Dez anos mais tarde, sete mil peregrinos tomaram juntos o caminho da Palestina, e tantas foram as calamidades da viagem que menos de quatro mil deles conseguiram chegar ao Oriente. Os outros pereceram tragicamente nas mãos dos beduínos salteadores.

Todavia, desgraças ainda bem maiores haveriam de abater-se tanto sobre os cristãos orientais como sobre os peregrinos que se dirigiam à Terra Santa, com o surgimento no Oriente dos turcos, que assolavam campos e cidades, assaltando e assassinando os peregrinos indefesos. Nenhum povo conseguiu deter o rápido avanço desses ferozes guerreiros que, como outros bárbaros, intitularam-se defensores da fé maometana. De conquista em conquista, eles tomaram a Pérsia em 1052, apoderaram-se depois da Síria, do Egito e da Palestina, tomando Jerusalém em 1078.

A partir daquela data, os peregrinos, depois de enfrentarem mil perigos nas estradas do Oriente, não podiam entrar em Jerusalém sem antes pagar um elevado preço em dinheiro. 

Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com

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