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01/06/2021Pequenos e conectados
Como alcançar o coração das crianças com a Palavra em plena Era digital
Por Ana Cleide Pacheco
Quando o assunto é educação religiosa dos pequeninos, um dos versículos mais citados é Provérbios 22.6 (Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele). Trata-se de um conselho bíblico, uma regra geral que deve acompanhar todo o processo educativo deles, em casa e na igreja, desde a mais tenra idade. Entretanto, nos últimos anos, a formação cristã das crianças tem ganhado uma concorrente poderosa: a internet.
Elas mal desenvolvem as primeiras habilidades motoras e já são munidas de celulares e tablets recheados de aplicativos, que aprendem a manipular rapidamente. Dessa forma, são capazes de ficar muito tempo distraídas. Um levantamento realizado pelo aplicativo de controle parental AppGuardian, divulgado em 2019, mostrou que pessoas com idades de 5 a 15 anos passam 5,7 horas no celular diariamente, em média.
Porém, com dedicação, é possível aos pais disciplinar o tempo gasto na web e, ao mesmo tempo, direcionar o uso da rede mundial de computadores para um propósito mais nobre que simplesmente o entretenimento. É o que defende a pedagoga Eleuza Maria Teles Uchôa Sá, 52 anos, a qual acredita que os avanços tecnológicos e o domínio desses recursos pelos infantes podem levá-los a aprender mais sobre Deus e, assim, seguir Jesus. “É uma missão difícil, mas não impossível. Ensinar a criança a ter equilíbrio no uso da tecnologia, sem que isso afete seu relacionamento com Deus e com o próximo, requer estudo, disponibilidade e esforço dos adultos.”
A especialista lembra ainda que é importante o pequeno aprender mais e mais da Bíblia de forma prazerosa e divertida. “Isso pode ser oferecido pela tecnologia e cabe aos pais e líderes aproveitarem as oportunidades”, afirma Eleuza Sá, membro da Assembleia de Deus em Nova Iguaçu (RJ), onde atua na evangelização de crianças desde 1999.
O instituto de pesquisas Barna Group, em parceria com o OneHope(ministério voltado para crianças, adolescentes e jovens),levou a efeito um estudo nos Estados Unidos sobre a formação cristã de meninos e meninas na Era da internet. A sondagem buscou saber quais eram as maiores preocupações dos pais relacionadas a como levar seus filhos à fé em Cristo em meio a um mundo bastante tecnológico. O resultado da análise – intitulada Orientando as crianças a descobrir a Bíblia, navegar na tecnologia e seguir a Jesus – aponta, por exemplo, que três de cada cinco famílias cristãs procuram frequentar a igreja com seus filhos toda semana, ao longo da infância deles. Também foi explicitado que seis em cada dez pais cristãos (altamente engajados com a fé) dizem que a programação infantil é a principal razão pela qual eles escolheram congregar em determinado lugar.
Contudo, a missionária, capelã e educadora Leia Garcia Venancio Falcão, 44 anos, frisa que, no Brasil, as igrejas ainda estão engatinhando quando o assunto é a utilização do universo digital. “A internet deve ser usada em benefício da evangelização. Por isso, capacitar pessoas para compartilhar a fé utilizando as tendências digitais deve fazer parte do propósito dos ministérios. As crianças estão inseridas nesse contexto, pois são as mais suscetíveis a esse novo formato de comunicação”, explica a missionária, a qual congrega na Assembleia de Deus Ministério Adorar de Engenheiro Pedreira, em Japeri (RJ). Ela lembra que cabe aos pais e às igrejas ensinar os pequenos, prepará-los e direcioná-los para o bom Caminho, que é Cristo, com toda a sabedoria. “Sem ignorar o mundo digital no qual estamos inseridos”, ressalva.
Pelo exemplo – A pedagoga Karmynha Melquíades, 36 anos, membro da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) de Tibiri, em Santa Rita (PB), defende que pais e professores conheçam bem o “território” no qual as crianças “estão pisando”, ao se tratar de web. “Quando for necessário, devem intervir por meio de ensinamentos, atos de disciplina e estabelecimento de regras que precisam ser apresentadas de maneira pacífica e cordial”, aconselha.
Atuando há 20 anos no ministério infantil, a pedagoga afirma que, mesmo estando conectadas ao mundo virtual, as crianças devem compreender que a mais relevante de todas as “conexões” é a comunhão com Cristo. “Necessitam entender que foram chamadas para manifestar o amor de Deus seja onde for, tanto no virtual quanto no real.” Ela ressalta que o papel dos pais é direcionar as crianças no caminho em que devem seguir, como se lê no texto que abre esta reportagem. Porém, Karmynha Melquíades reforça que esse ensinamento deve acontecer de forma prática, no dia a dia. “Elas vão aprender mais com o exemplo do que apenas com palavras.”
A evolução tecnológica tem contribuído bastante para a difusão da fé cristã, como instrumento de evangelização e discipulado. [Leia a reportagem sobre o tema na página 22 desta edição] Da mesma forma, o avanço da tecnologia tem proporcionado avanços sem precedentes na tradução da Bíblia para vários idiomas, facilitando a divulgação das Escrituras em países nos quais a pregação do Evangelho é proibida. Por isso, a missionária Keila Araújo, 37 anos, ressalta que as novas aplicações e ferramentas de comunicação virtual podem contribuir para o desenvolvimento espiritual das crianças, desde que sejam utilizadas com esse fim. “Penso que professores, pais e os diversos líderes precisam rever sua postura diante da tecnologia, que deve ser usada de maneira consciente e eficaz.”
Fundadora e diretora do Instituto Ministério com Crianças (IMC), voltado para a formação de líderes e professores, Keila lembra que a Igreja tem um papel significativo na tarefa de ensinar crianças e adultos a explorar, com sabedoria, a web. Segundo ela, líderes e membros das congregações cristãs devem estar preparados para executar programações que atendam ao propósito principal do ministério infantil: fazer as crianças seguirem Cristo. “Cada aula ou mensagem bíblica deve ter informações que alcancem seu intelecto e toquem o coração delas, suprindo suas necessidades emocionais.” Ademais, prossegue Keila, as ministrações da Palavra devem terminar sempre com “um desafio” que leve o pequenino à ação, ou seja, a uma mudança de comportamento. “A fórmula é simples: ganhar a mente e o coração das crianças e, por consequência, sua vontade, o que as levará à ação: seguir Jesus.”
Culto doméstico – Diretor da Aliança Pró-Evangelização de Crianças (APEC), organização que está no país há oito décadas, o missionário Gilberto Celeti, 71 anos, ressalta que os pais devem se esforçar para promover a interação dos filhos com a mensagem do Senhor. Ele afirma que a internet deve ser uma aliada nesse processo, e não algo que afaste tanto os adultos quanto as crianças da verdade de Cristo.
O missionário adverte que, além de a meninada permanecer tempo demais na companhia de aparelhos eletrônicos, a maior parte dos aplicativos usados nada têm a ver com os ensinamentos bíblicos. “Por essa razão, elas ficam expostas a influências ‘daninhas’. Os limites devem ser bem colocados pelos pais e responsáveis, não só neste campo como em todas as áreas da vida”, recomenda Celeti, membro da Igreja Presbiteriana de Vila Mariana, na zona sul de São Paulo (SP). “Temos feito pesquisas, por exemplo, sobre o culto doméstico, e constatamos que 94% dos lares cristãos não o realizam. Como podemos esperar que as crianças se interessem pela vida com Cristo ou pela leitura bíblica, se os próprios pais não dão o valor adequado às práticas que ajudam nessa caminhada?”
A pedagoga Sue’laine Gonçalves, 35 anos, especialista em Educação Especial, segue a mesma linha de raciocínio. “Sou a favor da criação do hábito da boa e velha leitura da Bíblia, em família, no culto doméstico”, destaca ela, que é contra o uso do celular pelas crianças no momento da leitura do Texto Sagrado. Para a especialista, o aparelho possui uma série de aplicativos, e a criança pode considerar a Bíblia apenas mais um programa a ser instalado e desinstalado. “É claro que existem jogos bíblicos atraentes para cada idade, e acho válido usá-los, mas eles não podem substituir a leitura da Palavra em papel”, aconselha a educadora, membro daAssembleia de Deus em Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ) e atuante no ministério infantil há 22 anos.
Ela sublinha que várias famílias negligenciam a prática do culto doméstico por falta de conhecimento ou de tempo, entretanto reforça a importância da criação de uma rotina e de um hábito de leitura do Livro Santo, até tornar-se algo prazeroso para o pequeno. “Existem várias literaturas que estimulam a leitura devocional, além de Bíblias em linguagem própria ao entendimento da criança”, destaca Sue’laine. Ela lembra, entretanto, que, somente pelo exemplo dos adultos, a garotada desenvolverá o gosto pela leitura bíblica. “A criança só vai ter vontade de ler a Bíblia se seus pais também o fazem.”
Dons ministeriais
As práticas devocionais – como a leitura bíblica, a oração e o culto doméstico – levam as crianças a crescer na fé dia após dia. Para ajudar as famílias nessa tarefa, a Graça Editorial lançou a obra Como descobrir os dons espirituais de seus filhos, do pastor norte-americano Adam Stadmiller. Nas mais de 200 páginas, o autor apresenta uma série de orientações aos pais sobre como estimular seus filhos a desenvolver uma profunda comunhão com Deus e descobrir seus dons espirituais. O pastor, que lidera a La Jolla Christian Fellowship Church, uma das igrejas mais antigas de San Diego, na Califórnia (EUA), crê que ajudar os pequeninos a descobrir seus dons espirituais é uma das tarefas mais importantes dos pais: Temos de entender uma coisa: Deus quer que ensinemos as crianças a terem fé, sem as limitarmos. Não podemos achar que não são capazes de assimilá-la, pois, assim como nós, elas têm um chamado ministerial. (Ana Cleide Pacheco, com informações de Graça Editorial)