Jornal das Boas-Novas – 258
01/01/2021
Carta do Pastor à ovelha – 260
01/03/2021
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01/03/2021
Foto: Mario Gogh / Unsplash

Nem frio nem quente

Por que a Palavra de Deus condena a mornidão espiritual

Por Evandro Teixeira

Quase 40 anos depois de sair do Egito, o povo de Israel estava prestes a entrar na terra de Canaã. Porém, Balaque, rei dos moabitas, tentou impedir esse evento, buscando a ajuda do profeta Balaão. Seu objetivo era o povo ser derrotado ainda no deserto, por isso quis que o profeta amaldiçoasse os israelitas em troca de um generoso pagamento. No entanto, Balaão só poderia fazer o que Deus determinasse, e Ele jamais amaldiçoaria os Seus.

Mesmo conhecendo as promessas do Senhor para Israel, Balaão, motivado por aquela oferta, cogitou a possibilidade de o Altíssimo mudar de ideia se recebesse sacrifícios. No entanto, isso não sucedeu. Por três vezes, o profeta teve de proferir bênçãos sobre o povo. Na primeira profecia, declarou não ser capaz de amaldiçoar aqueles que o Todo-Poderoso havia abençoado. Na segunda, reafirmou que Deus estava ao lado dos israelitas, garantindo-lhes a vitória sobre os moabitas. Na terceira, Balaão falou sobre as maravilhas que o Senhor havia planejado para Israel. Ele também ressaltou que seria maldito quem se levantasse com o propósito de amaldiçoar aquela gente.

A capa do livro Balaão – Deus transforma a maldição em bênção, obra do Missionário R. R. Soares, lançada pela Graça Editorial

Esse episódio, relatado nos capítulos 22, 23 e 24 de Números, inspirou o Missionário R. R. Soares a lançar o livro Balaão – Deus transforma a maldição em bênção (Graça Editorial). A partir dessa passagem, o autor extrai diversos ensinamentos e os contextualiza, a fim de serem aplicados na vida dos servos do Pai celeste na atualidade. Segundo Soares, assim como ocorreu com o povo de Israel, os cristãos hoje podem ser alvos de maldições, vindas de diferentes fontes. Entretanto, o Eterno transforma quaisquer barreiras que apareçam no caminho de Seus santos em degraus da vitória. A história de Balaão serve de exemplo para que possamos contemplar a magnitude do amor e da fidelidade do Altíssimo. O Senhor havia feito promessas a Abraão, Isaque, Jacó e aos filhos de seus filhos: Ele lhes entregaria a Terra Prometida e supriria as suas necessidades, sendo inimigo dos seus inimigos, amigo dos que se tornassem seus amigos. Por extensão, essas bênçãos também nos alcançariam. Deus, por certo, cumpriria a Sua Palavra, explica o Missionário.

Dicas eficazes – Dessa forma, mesmo sendo alvo de palavras de maldição, os servos fiéis precisam saber que o cuidado do Soberano com o povo de Israel se estende, com a mesma intensidade, a eles. No entanto, conforme ressalta o Pr. Juarez Ferreira de Jesus, doutor em Ciências da Religião e líder da Igreja Metodista em Itabira (MG), o cristão deve ter convicção do senhorio de Cristo sobre sua vida e do caráter restaurador dEle para enfrentar essas situações. “Assumimos Sua identidade quando O aceitamos como nosso Salvador pessoal e nEle depositamos todos os nossos intentos.” A partir dessa decisão, frisa Juarez Ferreira, as ações do cristão devem se tornar “idênticas” às do Altíssimo. 

Pr. Juarez Ferreira de Jesus: “O Senhor é sábio em arquitetar os Seus propósitos. Para isso, Ele pode até usar pessoas inapropriadas, como o próprio Balaão, que tinha a índole corrompida” Foto: Arquivo pessoal

O pastor destaca que, havendo um projeto de Deus para abençoar uma pessoa, uma igreja ou uma nação, Ele não permitirá que nada interfira nesse processo. “O Senhor é sábio em arquitetar os Seus propósitos. Para isso, Ele pode até usar pessoas inapropriadas, como o próprio Balaão, que tinha a índole corrompida”, pontua o líder, assinalando que o servo de Cristo necessita compreender que está em uma batalha espiritual. Ele lembra que o apóstolo Paulo deu dicas eficazes de como se armar para esse confronto diário, ao enumerar, em Efésios 6, ferramentas que se transformam em uma blindagem: No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais (Ef 6.10-12). 

A armadura de Deus, da carta de Paulo aos Efésios, também é citada pelo Pr. Salomão Dutra de Melo, líder da Igreja Metodista do Brasil em Itanhomi (MG). Ele destaca que o capacete, associado à salvação (Ef 6.17), está ligado à ideia de que a mente deve estar protegida para os dardos inflamados do diabo não a atingirem. “Temos de entrar com o Senhor em todas as lutas, pois Ele julga as nossas causas”, observa, mencionando ainda o texto de Deuteronômio 32.36a: Porque o Senhor fará justiça ao seu povo e se compadecerá dos seus servos (ARA). 

Pr. Salomão Dutra de Melo: “Temos de entrar com o Senhor em todas as lutas, pois Ele julga as nossas causas” Foto: Arquivo pessoal

Zelo do Senhor – Não fosse a mão abençoadora de Deus, a trajetória de Francisco Lúcio Pereira, 34 anos, teria sido bem diferente. Ele cresceu em um ambiente de violência doméstica. O pai, alcoólatra, costumava proferir palavras de maldição para Francisco. Quando tinha 15 anos, a família ficou sem ter onde morar, pois o pai havia ateado fogo na residência. Naquela época, sua mãe já havia encontrado o Evangelho e levava o filho aos cultos – mesmo o marido indo, várias vezes, até a porta da igreja para fazer escândalos. 

Pr. Francisco Lúcio Pereira, que ouvia do pai, alcoólatra, palavras de maldição: “Devemos servir-Lhe com dedicação e obediência. Diante dos obstáculos, temos de nos agarrar às Suas promessas” Foto: Arquivo pessoal

Em meio a tantas tribulações, Francisco, ainda jovem, apropriou-se do texto de Isaías 49.15: Pode uma mulher esquecer-se tanto do filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, me não esquecerei de ti. “Entendi que o Senhor não Se referia ao abandono de minha mãe, mas tentava mostrar o zelo dEle comigo”, comenta ele, que é pastor auxiliar da Igreja do Evangelho Quadrangular em Engenheiro Rocha Freire, na cidade de Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense.

Benjamin Gremler / Unsplash

Francisco Pereira acredita que poderia ter enveredado pelo mesmo caminho do pai, se não fosse a intervenção divina. “Talvez, agora, eu estivesse perdido no mundo das drogas e do alcoolismo, como uma pessoa desacreditada”, analisa. O pregador, à medida que conhecia o Senhor e a Sua Palavra, entendia que as promessas dEle, reservadas àqueles que Lhe são fiéis, transformam qualquer maldição em bênção. “Devemos servir-Lhe com dedicação e obediência. Diante dos obstáculos, temos de nos agarrar às Suas promessas”, ensina ele, que também é professor de História, pós-graduando em Filosofia e Sociologia, e casado com Stephanie Marie Mota Pereira, 31 anos, com quem tem uma filha de 11 anos, Sara.

Muitas adversidades – A história da família de Júnia Francisca Júlio, 54 anos, também teria sido outra sem a ação libertadora de Deus. Por tradição, seus parentes repetiam práticas de feitiçaria. “Com o passar dos anos, outros hábitos, que misturavam crendices e esoterismo, foram sendo acrescentados”, recorda-se Júnia, pastora e evangelista do ministério itinerante da Ordem de Pastores Evangélicos Mundial (OPEM). 

Júnia Francisca Júlio, que conviveu com parentes que repetiam práticas da feitiçaria: “Pude compreender que, quando o Senhor tem um plano em nossa vida, Ele nunca deixa de cumpri-lo” Foto: Arquivo pessoal

Todos aqueles hábitos, relata ela, fizeram suas irmãs mais velhas se envolverem com práticas demoníacas, acreditando que, assim, poderiam desfazer uma maldição que diziam haver sobre a família. Por causa disso, durante anos, tempo e dinheiro foram gastos sem quaisquer resultados. Com a morte do pai (que se converteu no hospital), Júnia e alguns familiares foram a uma igreja evangélica pela primeira vez. Lá, a Palavra tocou o coração deles, e aceitaram Cristo. A partir daquele dia, ficaram libertos do inimigo e do jugo daquela “maldição”.

A pastora salienta que, pouco a pouco, de conversão em conversão, os membros da família passaram a viver sob a bênção de Deus – só alguns ainda não estão convertidos. “Pude compreender que, quando o Senhor tem um plano em nossa vida, Ele nunca deixa de cumpri-lo, por mais que o inimigo se levante contra”, ensina a pregadora, alegre por ver a nova geração de sua família já nascer em lares cristãos.

Aliança com Deus – O Pr. Glauco Pires André, líder da Igreja Metodista Betel em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), lembra que é incontestável o cuidado de Deus para com os Seus, mas salienta que isso está condicionado à fidelidade e obediência de Seu povo a Ele. “Quando se esqueceu dos mandamentos divinos, Israel perdeu esse acompanhamento pessoal do Eterno”, observa o pastor. Qualquer cristão, frisa ele, pode se deixar levar por decisões erradas. “Embora possamos também ser tentados a ignorar o conselho e a voz do Senhor, não podemos cair nesse erro”, adverte o líder. 

Pr. Glauco Pires André: “Embora possamos também ser tentados a ignorar o conselho e a voz do Senhor, não podemos cair nesse erro” Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Douglas dos Santos Paiva, líder regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Santa Luzia (MG), evidencia que, depois de se afastar do Senhor e amargar várias derrotas, o povo de Israel se arrependia e restabelecia sua aliança com o Criador. Em sua opinião, o mesmo processo pode acontecer com qualquer cristão que, por um deslize, deixa-se enganar pelo inimigo.“Por mais que enfrente momentos ruins  devido a um erro, as bênçãos reservadas pelo Senhor ao servo arrependido sempre serão bem maiores.”

No entanto, o líder adverte sobre a necessidade de o cristão estar atento às ciladas do inimigo e, assim, viver de acordo com os mandamentos do Senhor. Citando o conhecido texto de 1 Pedro 5.8 (Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar), o pastor garante que, se a pessoa estiver no centro da vontade de Deus, nada ou ninguém impedirá o querer dEle na história dela. “Mesmo que apareçam falsos profetas com a intenção de desviar o servo de Deus de Seu propósito, ele não deve deixar de acreditar que há também uma promessa a ser cumprida na sua vida.” 


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