Bíblia
01/01/2021Falando de História – 258
01/01/2021Compromisso com a Palavra
Mulheres tendem a ler mais a Bíblia do que homens
Por Evandro Teixeira
Para os cristãos, a leitura das Escrituras é bem mais do que um hábito. Trata-se de uma prática necessária aos que desejam crescer no conhecimento de Deus e fortalecer sua comunhão com Ele. Nas igrejas, por meio de pregações e estudos bíblicos, adultos e crianças geralmente são estimulados a ler a Palavra. Entretanto, embora o incentivo seja para todos, pesquisas realizadas nos Estados Unidos têm observado algo curioso. Todos os anos, um levantamento feito naquele país, intitulado State of the Bible (Estado da Bíblia), demonstra que as mulheres norte-americanas exibem níveis mais altos de engajamento na leitura e na meditação do Texto Sagrado do que os homens. Elas são, em média 2% mais propensas que eles a ler a Palavra várias vezes por semana e a aplicar os princípios e valores bíblicos à vida diária delas. Por outro lado, o número de homens que têm pouco ou nenhum compromisso com a leitura bíblica é, em média, 3,5% maior que o de mulheres. A pesquisa é levada a efeito desde 2011, a pedido da Sociedade Bíblica Americana, e a versão 2020 manteve essa tendência. A sondagem mostrou ainda que 47% das mulheres norte-americanas possuem algum nível de comprometimento com a leitura da Bíblia fora dos cultos e das celebrações religiosas. Esse percentual engloba desde aquelas que têm contato com a mensagem do Senhor uma vez por mês quanto as que o fazem quatro ou mais vezes na semana. Já o número de homens que buscam uma aproximação ainda que mensal com a Palavra ficou seis pontos percentuais abaixo (41%).
O levantamento, realizado a pedido da Sociedade Bíblica Americana, confirma os resultados de outros estudos. Uma sondagem feita, em 2019, pelo Centro de Pesquisas Pew, apenas entre os protestantes norte-americanos, também explicitou um maior interesse feminino pela leitura do Antigo e Novo Testamento: 66% das mulheres evangélicas leem o Texto Sagrado, pelo menos, uma vez por semana, contra 58% dos homens. Embora esses números possam envolver a leitura bíblica apenas durante os cultos dominicais, outra investigação (de 2017) reforça a ideia de que as mulheres se envolvem mais com a Bíblia fora da igreja do que o sexo masculino: a Baylor religion survey (Pesquisa Baylor sobre Religião) expôs que 36% das mulheres cristãs gastam algum tempo semanal ou diário com a leitura da Bíblia. Entre os homens, o percentual foi de 29%.
Embora não existam pesquisas semelhantes sobre a realidade brasileira, a psicóloga Joserijane Maria e Silva Pontes, que é também pastora auxiliar na Igreja do Evangelho Quadrangular de Piedade, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), acredita que o resultado em nossa nação não seria diferente. Ela toma como base a sondagem Retratos da leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro. Dados de sua 5ª edição, divulgados em 2020, revelaram que 54,2% das mulheres são leitoras; entre os homens esse percentual é de 45,9%. Além de manter a Bíblia como o livro mais lido, o documento põe em evidência o público feminino como maior apreciador de todos os gêneros literários. “Um dos fatores que explicariam o maior interesse delas pela leitura seria a curiosidade e a sede, no caso da mulher evangélica, por conhecimento bíblico.”
Joserijane não é a única a concordar que, se o tema fosse esquadrinhado aqui, o resultado seria parecido. Para a psicóloga Rosilene Martines Soler, uma prova de que as mulheres se sobressaem aos homens no quesito leitura bíblica é a existência de uma grande variedade de Bíblias de estudo para o público feminino. “Apesar de todas essas justificativas, a busca por amparo espiritual é o principal motivo de as mulheres serem leitoras mais vorazes dos Textos Sagrados”, ressalva a psicóloga, membro da Igreja Batista Boas Novas de Parque Vila Prudente, zona leste de São Paulo (SP).
A jornalista e teóloga Denise Santana, membro da Igreja Memorial Batista, em Brasília (DF), frisa outro aspecto: a prevalência de pessoas do sexo feminino nas comunidades evangélicas. Segundo ela, isso fica nítido em todas as atividades eclesiásticas, e não raramente as mulheres estão na direção dessas programações, inclusive aquelas voltadas ao incentivo da leitura das Escrituras. A jornalista também entende como indicativo do maior interesse delas o número de atividades exclusivas para o público feminino nas igrejas. “As mulheres sempre foram mais envolvidas na vida religiosa do que os homens.”
Para Denise Santana, por serem mais atuantes em ações de crescimento do Reino de Deus, elas sentem a necessidade de estarem mais envolvidas com a leitura da Palavra. Porém, ela observa que essa adesão feminina a atividades ligadas à fé não é um fenômeno recente. A jornalista lembra que, após a morte de Jesus, as mulheres foram as primeiras a visitar o túmulo do Mestre, no domingo pela manhã. Na ocasião, foram surpreendidas pelo anjo anunciando a ressurreição de Cristo, e foi por intermédio delas que os discípulos ficaram sabendo do ocorrido. “Há textos mostrando que as mulheres sempre foram interessadas na vida espiritual”, comenta ela, mencionando a passagem de Marcos 15.40,41: E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé, as quais também o seguiam e o serviam, quando estava na Galileia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém.
Competências cognitivas – O Pr. Fábio Henrique Ribeiro, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Passos (MG), salienta que o percentual de mulheres evangélicas, no Brasil, é maior que o de homens. Ele cita a pesquisa Datafolha sobre religião, divulgada no início de 2020, segundo a qual 31% dos entrevistados se declararam evangélicos, sendo que desses, 58% pertenciam ao sexo feminino. O pastor ressalta que isso sugere, por si, a existência de mais mulheres do que homens acessando a Bíblia no país. Sobre o destaque dado às mulheres nos estudos norte-americanos, porém, ele entende haver diversos fatores que influenciam nos hábitos de leitura delas. Mas, para a sua correta compreensão, Ribeiro afirma que seria necessária uma investigação específica, levando em consideração uma série de variáveis que não foram avaliadas pelos estudos citados.
A psicóloga Dora Eli Martins Freitas segue essa linha de raciocínio. Membro da Catedral Evangélica (da Igreja Presbiteriana Independente), na Consolação, Centro de São Paulo (SP), ela diz que a leitura bíblica, por si, requer algumas competências cognitivas, como atenção, concentração e capacidade de interpretação de texto. Além disso, a especialista sublinha que é preciso levar em consideração a personalidade do leitor, a qual influencia seu hábito de ler. Aqueles que são mais introvertidos, conforme ela explica, conseguem desenvolver melhor os pontos favoráveis para o entendimento dos textos, pois tendem a ser mais atentos e concentrados. Outra questão que deve ser considerada é a disponibilidade do coração, a motivação e o desejo de conhecimento. No caso da leitura bíblica, pontua a terapeuta, esses estímulos vêm do Espírito Santo. “É possível que as mulheres introvertidas tenham ainda mais facilidade para ler e aprofundar reflexões”, opina, ressaltando que há diversos traços da personalidade feminina que devem ser evidenciados. “Por serem mais sensíveis, emotivas e dedicadas, entre outras características, as mulheres acabam sendo mais engajadas em algumas tarefas, como ler a Bíblia. Elas só têm a ganhar com isso, pois a leitura acarreta benefícios emocionais e intelectuais.”
Frutos eternos – Evangélica há 32 anos, a Pra. Gerciana da Conceição Gomes, 47 anos, sempre se dedicou à leitura bíblica. Ela vivia vários conflitos familiares e era no contato com o Texto Sagrado que encontrava conforto e segurança. Para Gerciana Gomes, que é pastora auxiliar na Igreja do Evangelho Quadrangular de Cacuia, em Nova Iguaçu (RJ), ler a Palavra é estar frente a frente com o Senhor. “Lendo as Escrituras, passamos a conhecer melhor a Deus e a nos aproximar dEle.” E, citando o conhecido texto de Mateus 7.24 (Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha), Gerciana lembra que os prejuízos são grandes para aqueles que não têm amor pela leitura bíblica.
A dona de casa Silvana Assunção Ferreira Martins, 57 anos, é leitora dedicada do Livro Santo desde a sua conversão, em 2006. Ao longo desse tempo, nunca enfrentou dificuldade para folheá-lo e atentar às suas palavras. Para ela, membro da IIGD em Campo Belo (MG), alguns cristãos acabam abrindo mão desse momento por falta de interesse ou de tempo, e ter contato com a Bíblia apenas durante os cultos é muito pouco. “Ler a Palavra é essencial para o servo de Jesus. Por meio dela, podemos conhecer mais o Senhor e nos fortalecer na fé. Sem isso, corremos mais riscos de cometer erros.”
Foi exatamente uma passagem bíblica que despertou Silvana para uma falha que ela vinha cometendo. Embora buscasse a Deus pela conversão do marido, Wantuil Alvis Martins, 65 anos, caminhoneiro aposentado, percebia que nada mudava, e ele se mantinha resistente à Palavra. Foi quando realmente entendeu o que declara 1 Pedro 3.1: Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao vosso próprio marido, para que também, se algum não obedece à palavra, pelo procedimento de sua mulher seja ganho sem palavra. Ela percebeu, então, que tinha de fazer algumas mudanças no trato com o esposo. Como consequência, as brigas cessaram. “Ele começou a orar comigo. Deus o libertou do vício da bebida, e hoje serve ao Senhor”, compartilha a dona de casa, demonstrando que a dedicação das mulheres à leitura bíblica produz frutos que perdurarão por toda a eternidade.