Carta Viva – 256
01/11/2020Perfil | Rozi Santos
01/11/2020Em transformação
Pré-adolescência é uma fase que requer atenção especial da família e da Igreja
Por Patrícia Scott
Eles não são crianças nem adolescentes: estão em uma fase de transição. Vivem em uma avalanche de transformações no corpo e na mente, com o início da puberdade, a qual leva a uma série de conflitos emocionais. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), esse estágio é chamado de pré-adolescência e vai dos 10 aos 14 anos. À semelhança dos pequenos, os pais nem sempre sabem como lidar com as novas questões que se apresentam. Para piorar, a companhia dos tutores já não é mais bem-vinda como antes. Os colegas passam a ter proeminência na vida dos filhos, pois os adolescentes sentem necessidade de ser aceitos por seus pares e pertencer a um grupo. “Nessa fase, há uma tendência a dar muita importância aos amigos. Ocorre um distanciamento dos pais, o que pode trazer desentendimentos, porque eles não aceitam esse afastamento e tentam forçar uma aproximação”, pontua a psicóloga Laryssa Cunha.
Segundo a especialista, apesar dessa distância, o diálogo entre pais e filhos continua sendo fundamental nessa fase e deve continuar a existir. Para que o menor se sinta à vontade para conversar, é preciso que o adulto compreenda que ele está passando por mudanças e criando uma identidade própria. Ela ressalta ser válido o adulto usar o contato visual e demostrar ao filho que está perto para escutar e valorizar as suas experiências. “É importante não buscar o conflito e tentar se colocar no lugar da criança. Os pais precisam lembrar-se de que já passaram por essa etapa e do quanto ela foi difícil. É primordial que os responsáveis mostrem que estão ao lado do filho, não contra ele”, aconselha Cunha. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Dicas para os pais]
Variações de humor, rebeldia e desinteresse pelos estudos podem se manifestar nesse período de metamorfose. Para a psicopedagoga Luciana Brittes, é fundamental identificar por que e com que frequência isso acontece. “Se a criança é ocasionalmente rebelde, agressiva, tudo bem. Faz parte do comportamento de indivíduos que estão entrando na pré-adolescência”, avalia a profissional. Por outro lado, ela alerta: se a rebeldia e a agressividade forem rotineiras, podem indicar um problema mais grave, por exemplo, o transtorno opositor desafiador, mais conhecido pela sigla (TOD). “Se for o caso, os pais devem procurar um especialista para definir o diagnóstico.”
Para Luciana, se o problema da rebeldia interferir nos estudos – e não houver a presença de qualquer transtorno –, cabe aos pais auxiliar na organização dos trabalhos escolares. Ela indica a montagem de um cronograma de atividades, junto com o pré-adolescente, levando em conta as sugestões dele. “É preciso estipular horário e local para a realização das tarefas e estabelecer metas, seguindo os limites do menor, e variar as metodologias utilizadas”, recomenda a profissional, a qual sugere oferecer possibilidades de estudo com ferramentas tecnológicas, como aplicativos, e a realização de atividades mais lúdicas. “São exemplos de ações que farão com que o pré-adolescente volte a se sentir animado e estimulado a estudar”, garante.
“Orientação bíblica” – Na igreja, eles também buscam seu espaço, desejam ser vistos e reconhecidos. Não querem participar das atividades do departamento infantil, no entanto não estão suficientemente maduros para frequentar as reuniões dos adolescentes. Para suprir essa lacuna, a Igreja Batista Fontes, no bairro Jardim Independência, em Campinas (SP), desenvolve um trabalho com esse público. São 20 pessoas envolvidas no ministério, que contam com a participação de cerca de 100 pré-adolescentes. “Uma das principais atividades desenvolvidas é a Escola Bíblica. Também temos grupos de discipulado, semanalmente, além das programações quinzenais, como jogos, sorvetada e piquenique”, conta o Pr. Lucas Rathlef Lisboa, líder do ministério, o qual indica que há um grande desafio a ser vencido. “Alguns pais ficam decepcionados, pois esperam que eduquemos seus filhos. Entretanto, a orientação bíblica é que eles sejam os responsáveis. Somos colaboradores, não substitutos.”
A parceria entre família e igreja é imprescindível também na opinião dos líderes regionais de pré-adolescentes da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), no centro de Três Corações (MG). Estefânia Barros e o marido, Emerson Antônio de Barros, lideram 70 pré-adolescentes da região. “É primordial os pais incentivarem seus filhos a participarem do projeto, de maneira que se mantenham firmes na fé e não se desviem dos caminhos do Senhor”, pondera Estefânia, a qual relata que, durante as atividades semanais do ministério, meninas e meninos são separados e encaminhados para dois grupos: Quartinho Rosa e Papo Reto Teen, respectivamente. “A cada encontro, desenvolvemos um tema diferente, inserindo dinâmicas, atividades, desafios, estudo bíblico, louvor e oração”, informa a líder, destacando a relevância de fazê-los crescer no Evangelho. “Entendemos que, se os pré-adolescentes forem instruídos a praticarem a Palavra, no futuro, serão bons obreiros, pastores, levitas, além de excelentes cidadãos.”
Na visão do Pr. Joelson Lemos, superintendente da União de Adolescentes da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, em Porto Alegre (RS), todo investimento na pré-adolescência é um “gasto” a menos na fase adulta. “É fundamental tratá-los como adolescentes iniciais, franqueando, para cada um deles, a oportunidade de se desenvolver biológica, psicológica, social e espiritualmente.” Segundo Lemos, no momento, há cerca de mil pré-adolescentes cadastrados na união de adolescentes liderada por ele. “Desenvolvemos várias atividades, como o Dia da Princesa, o Dia do Guri, o Projeto Filhos de Issacar [nos moldes dos escoteiros] e o Devocional Teen, além da Escola Bíblica Dominical.”
Conhecimento da Palavra – Negligenciar essa faixa etária e suas necessidades pode acarretar uma grande evasão de pré-adolescentes das igrejas. Para evitar isso, a sede estadual da IIGD em São Paulo tem dado atenção especial a eles. “Implementamos um canal de comunicação coerente com esse público sem infantilizá-lo e, ao mesmo tempo, criamos um elo de amizade entre eles e os mais velhos. Assim, estes, que já têm maturidade espiritual, discipulam os teens”, relata Kim Arés Stedten Ferreira, um dos coordenadores do departamento na sede estadual e na IIGD em Santo Amaro, na zona sul da capital paulista.
No entendimento de Kim, esses menores são confrontados com argumentos, ideias e padrões de comportamento antibíblicos, e, para refutá-los, precisam conhecer o Texto Sagrado. “Nos cultos semanais, compartilhamos o Evangelho com mensagens temáticas, como ansiedade, perdão e crise de identidade. Utilizamos recursos visuais e sonoros, e eles têm a oportunidade de expressar seus pensamentos.”
Na IIGD na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), o departamento de pré-adolescentes , de igual modo, é muito atuante. “Precisamos fazê-los entender que são capazes, que podem avançar, com base na Palavra. Muitos são inseguros e ansiosos”, analisa Naiele Lyra da Conceição, uma das coordenadoras do ministério. Na visão dela, é necessário que esses pequenos saibam quem são em Cristo, quais os propósitos do Altíssimo para eles nos campos ministerial, profissional e sentimental. “É primordial investir neles, a fim de que o Senhor molde o caráter e o comportamento deles.” Além disso, para Naiele, é imprescindível eles “mergulharem” na presença do Pai celestial diariamente. “Assim, terão a fé alicerçada”, garante, deixando claro que, apesar de todas as mudanças e dificuldades, os pré-adolescentes encontrarão, na Palavra, a melhor estratégia para vencer os desafios desse período.
Dicas para os pais
:: Estejam próximos, pois, embora pareça que os pré-adolescentes querem distância, eles desejam manter alguma proximidade com seus responsáveis.
:: Demonstrem interesse e tentem ser mais participativos: descubram quem são seus melhores amigos, as músicas e os filmes preferidos, quais atletas, artistas e influenciadores digitais eles admiram.
:: Mantenham a conversa em dia.
:: Não minimizem os sentimentos deles. Para um adulto, as preocupações do pequeno podem parecer bobas, mas, como nessa idade os hormônios estão à flor da pele, tudo é vivido intensamente.
:: Brinquem com eles, pois ainda gostam de videogames e de jogos de tabuleiro. Há a possibilidade de fazerem atividade ao ar-livre ou investir em um hobby que possam praticar juntos. Isso fortalecerá os vínculos e a relação de confiança entre pais e filhos.
:: Criem uma rotina em parceria com eles. Isso faz com que pais e filhos se sintam seguros. As atividades, obrigações e os horários devem ser definidos.
(Fonte: Leiturinha e Extra)