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01/11/2020Carta Viva – 256
01/11/2020De volta à origem
Pastores defendem a necessidade de resgatar a essência da Igreja Primitiva
Por Evandro Teixeira
Nos tempos de Jesus, havia muitos mestres judeus ensinando em Israel. Contudo, ao contrário deles, o Senhor não estava preocupado em formar doutores da Lei Mosaica, e sim em constituir líderes para a comunidade que representaria o Reino divino entre os homens: a Igreja. O livro de Atos dos Apóstolos mostra como viviam os primeiros cristãos: eles se dedicavam à oração e a aprender os ensinamentos do Messias, testemunhavam as maravilhas e os sinais feitos pelos apóstolos, mantinham-se unidos e tinham tudo em comum, reuniam-se diariamente para orar e fazer refeições comunitárias, cativavam a simpatia do povo, pregavam as Boas-Novas e levavam muitos à salvação (At 2.42-47). [Leia o quadro Comunidade de fé]
Porém, com o passar dos séculos, a Igreja se distanciou desse padrão, embora algumas características básicas tenham sido mantidas. Na opinião do Rev. Eber Cocareli, diretor e apresentador do programa Vejam Só!, da Rede Internacional de Televisão (RIT), o exemplo da Igreja de Jerusalém, onde os bens eram compartilhados uns com os outros (At 4.32), pode não ser realizável hoje. Por outro lado, a ideia de cuidar dos pobres e arrecadar doações (2 Co 8.3, 4) não está tão distante das igrejas da atualidade.
Em contrapartida, quanto à evangelização, o pastor observa, nos cristãos desta geração, a não urgência em anunciar as Boas-Novas. Cocareli lembra que, logo após Jesus ter subido aos Céus, dois homens de branco consolaram os discípulos afirmando a volta dEle (At 1.11). A crença nesse iminente retorno os levou a sair por toda a parte pregando o Evangelho, especialmente mediante testemunho pessoal. “Causa certo estranhamento a falta de empenho da Igreja moderna na propagação da mensagem de Cristo, em comparação com o fervor dos primeiros irmãos. Isso porque os crentes de hoje já testemunharam fatos que sinalizam a proximidade da segunda vinda de Jesus. Incrivelmente, isso não os move”, constata.
Opinião semelhante é partilhada pelo Pr. Elber Paixão da Conceição, 52 anos, para quem a Igreja atual não perdeu apenas o fôlego, mas também a paixão pelo Evangelho. “O Ide de Jesus [Mc 16.15] tem dado lugar a eventos em que pouco se fala da salvação pela graça”, analisa o pastor, o qual lidera a Igreja Batista Herança da Graça, em Lindo Parque, no município de São Gonçalo (RJ). Ele entende que dificilmente haverá, neste tempo, uma igreja como a descrita em Atos dos Apóstolos. No entanto, Elber Conceição afirma fazer parte da parcela dos empenhados em resgatar, em nossos dias, as boas obras da Igreja Primitiva. Para ele, o fato de a Igreja atual viver em um contexto diferente da primitiva não nos autoriza abandonarmos a fidelidade ao Altíssimo. O líder recorda a postura do profeta Daniel, que permaneceu firme no Senhor, mesmo em meio a uma cultura avessa a tudo que ele cria (Dn 1.8). “Ele estava na Babilônia, mas a Babilônia não estava nele nem o influenciava. Assim como Daniel, os verdadeiros cristãos devem manter o foco em Cristo.”
Crescimento evangélico – No ponto de vista do Pr. Carlos Augusto Vailatti, 47 anos, líder da Igreja Evangélica Jaboque em São Paulo (SP), a prática da oração deveria ser mais enfatizada nas congregações. Afinal, sem ela, as demais atividades eclesiásticas perdem sua função. “Conheço lideranças que excluíram os cultos de oração de suas programações semanais ou passaram a dar menos importância a eles. Isso é muito sério”, lamenta Vailatti, alertando para a relevância de retomar o desejo de orar com frequência, frisando as palavras do apóstolo Paulo aos tessalonicenses: Orai sem cessar (1 Ts 5.17).
Todavia, Vailatti vê que a Igreja de hoje não está necessariamente inerte, pois pesquisas mostram o crescimento do número de evangélicos no Brasil e em outras partes do planeta. “Entretanto, em termos de propagação da Palavra, obviamente ainda há muito por fazer em nosso país e no mundo. Não podemos viver indiferentes à ordem do Mestre de ensinar todas as nações”, assinala, referindo-se ao texto de Mateus 28.19.
Por sua vez, o Pr. Nilton Gomes de Abreu Júnior, 38 anos, da Igreja do Evangelho Quadrangular na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), acredita que diversas comunidades cristãs se esforçam para agir como os primeiros salvos.
No entanto, lamenta dizer que outras não vivem sob o mesmo rigor. “Muitas pessoas buscam a igreja com o objetivo de realizar sonhos pessoais. Precisamos voltar ao amor da Igreja Primitiva”, adverte Abreu, citando Mateus 24.12: E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará. Contudo, para ele, sempre haverá o remanescente da fé, lutando a fim de a Palavra se cumprir. “Creio que Deus mantém Seus propósitos com a Igreja. Tudo está sob o Seu domínio.”
“Genuíno Evangelho” – O Pr. Vinícius Guedes Gomes, 48 anos, pensa que as constantes perseguições da Igreja Primitiva gerava naqueles cristãos uma dependência maior do Criador. Líder da Igreja do Evangelho Quadrangular do Cacuia, em Nova Iguaçu (RJ), ele ressalta que a situação tranquila dos crentes ocidentais leva muitos deles a se sentirem em uma zona de conforto. “Às vezes, por pouca coisa, as pessoas perdem a fé e abandonam os princípios bíblicos, distanciando-se do genuíno Evangelho.”
A oração, acentua o pastor, deixou de ser uma prática constante para muitos, até mesmo pelos inúmeros compromissos do dia a dia. Ele entende, porém, que a evangelização é um campo que continua dando frutos. “Hoje, com o avanço nos canais de comunicação, é possível fazer com que a Palavra de Deus rompa as fronteiras, chegando às partes mais remotas do mundo. Creio que a mensagem de salvação tem alcançado os quatro cantos da Terra, libertando, curando e transformando vidas em Nome de Jesus.”
O Pr. Luís Rogério de Oliveira, 56 anos, tem visão parecida com a de Vinícius Gomes. “Os recursos tecnológicos disponíveis, como a popularização dos meios digitais, fazem com que, por vezes, não sejam usados os métodos tradicionais para pregar a Palavra, uma possibilidade impensada no passado”, analisa Oliveira, diretor do Instituto de Ensino Teológico de Petrópolis (IETEP), da Assembleia de Deus em Petrópolis (RJ). Ele aponta que, assim como o Espírito Santo e a Palavra são os mesmos, as responsabilidades da Igreja não mudaram. “O modelo de poder, evangelismo e amor cristão, mostrados em Atos dos Apóstolos, ainda reverbera atualmente.”
Para o pregador, a intercessão continua sendo uma ordenança bíblica, sendo também essencial para a comunidade cristã, assim como a expressão do amor fraternal por meio de ações de ajuda ao próximo. “Por mais que os tempos não sejam os mesmos, é necessário e possível manter a essência da Igreja Primitiva”, conclui.
Comunidade de fé
A Igreja Primitiva tinha, pelo menos, quatro características marcantes. Confira:
:: Era uma igreja de oração
Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos. (Atos 1.14)
Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. (At 6.4)
Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João, os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo. (At 8.14,15)
Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. (At 13.3)
:: Vivia em união
E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.(At 2.42)
Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.(At 2.44)
E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E estavam todos unanimemente no alpendre de Salomão.(At 5.12)
:: Evangelizava e crescia
De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas.(At 2.41)
Muitos, porém, dos que ouviram a palavra creram, e chegou o número desses homens a quase cinco mil.(At 4.4)
E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais.(At 5.14)
:: Era cheia do Espírito Santo
E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. (At 2.4)
E, tendo eles orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a palavra de Deus. (At 4.31)
Assim, pois, as igrejas em toda a Judeia, e Galileia, e Samaria tinham paz e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo.(At 9.31)
(Fonte: Bíblia Sagrada)