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Por Marcelo Santos
Desde os tempos bíblicos, a maternidade é cercada por uma atmosfera de mistério, beleza, desafios e profundas expectativas. Não se trata apenas de um marco biológico ou de um ciclo natural da vida, e sim de uma vivência carregada de simbolismo, fé e imenso significado espiritual. Para as mulheres cristãs, o ato de gerar ultrapassa os limites do físico: é um momento de profunda entrega a Deus; um caminho trilhado com intercessão, confiança e reverência ao Criador. Assim como Sara e Ana, que viveram a maternidade como cumprimento das promessas do Altíssimo, muitas evangélicas veem a gestação como um tempo sagrado, marcado por oração, medos, lágrimas e esperança renovada a cada batimento do coração do bebê.

Foto: Arquivo pessoal
Foi o que ocorreu com a auxiliar administrativa Michele Daiane Pereira de Paula, 42 anos, que viveu um milagre. Após enfrentar um câncer de mama e entrar em menopausa precoce, recebeu a notícia de que não poderia engravidar. No entanto, ela e o marido, o Pr. Eli Eber Souza de Paula, 43, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Iracemápolis (SP), no interior paulista, persistiram naquele sonho. Em 2020, Michele congelou óvulos para uma futura inseminação, mas, em maio de 2021, engravidou sem qualquer tratamento. “Aos olhos dos médicos, era impossível, porém Deus realizou o desejo do nosso coração”, testemunha ela.

Mesmo antes de confirmar o sexo do bebê, Michele tinha convicção de que seria uma menina e passou a chamá-la de Rebecca – hoje com três anos de idade. “O exame só confirmou o que o Senhor já tinha falado comigo”. Ela lembra que, a partir do diagnóstico da doença até a gestação, a fé sempre foi a base de sua jornada. “Sabia que o Senhor estava no controle, e Ele me abençoou”. Michele de Paula, membro há 18 anos da Igreja da Graça, destaca todo apoio espiritual que recebeu da congregação, inclusive uma palavra profética recebida do Missionário R. R. Soares antes de engravidar: Instruir-te-ei e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos (Sl 32.8). “Sempre busquei o Senhor, acreditando que Ele faria o impossível”, afirma ela, exaltando o poder da fé e da oração. “Deus é tudo para mim, sempre foi. E minha conexão com o Pai só cresceu,” finaliza.

Foto: Arquivo pessoal
Outras mulheres também vivenciaram a maternidade como resposta às suas preces. Uma delas é a administradora Deinifren Andresa Vieira Barbosa, 34 anos. Por quase uma década, ela conviveu com o diagnóstico de útero miomatoso [quando há miomas – tumores benignos – que se desenvolvem no músculo liso do útero], condição que a levou a se submeter a cirurgias, tratamentos sem sucesso e laudos que reforçavam a impossibilidade de uma gravidez. “Era como se a esperança estivesse morrendo aos poucos”, ressalta ela, membro da Igreja da Graça em Santo André (SP), na região do ABC Paulista.
Entretanto, apesar da dor e da dúvida, Deinifren não abriu mão da fé: intensificou as orações e passou a investir na obra divina com o propósito de patrocinar a chegada do filho. “Eu ofertava com o coração cheio de esperança, acreditando que o Senhor poderia me conceder esse presente”. E, assim, teve a sua perseverança recompensada pelo nascimento de Marcos Aurélio, atualmente com dois anos. O seu menino, frisa a administradora, é a prova de que a fé realiza o impossível. “Passar por todo o processo sem crer teria sido insuportável. Foi Deus quem me sustentou”. Deinifren Barbosa acredita que seu testemunho pode inspirar mulheres a não desistirem de sonhar com a maternidade, mesmo quando os prognósticos são desfavoráveis.

Foto: Marcelo Santos
Propósito divino – Os desafios maternais, aliás, são inúmeros. A cinegrafista Jucimara Oliveira, 48 anos, salienta que conciliar maternidade, trabalho e ministério nunca foi uma tarefa fácil. Ao longo de três gestações, ela enfrentou questões físicas e emocionais distintas. A primeira gravidez, aos 20 anos, foi vivida com a energia da juventude; a segunda, aos 28, trouxe situações inesperadas, incluindo um atropelamento que quase comprometeu sua saúde e a do bebê; e a terceira, aos 38, considerada de alto risco. Em todas essas fases, Jucimara respeitou os limites do corpo e das emoções, sempre apoiando-se na fé e na certeza de que o Altíssimo guiava seus passos. A mãe de Cleves Júnior, 27 anos, Giulia, 19, e Davi, 10 anos, testemunha que venceu o medo e a insegurança por meio da Palavra. “A cada criança, a gente entende que há um propósito do Criador para nós”. Para ela, apesar do trauma do acidente, o evento foi um divisor de águas, e sua filha é um símbolo de vitória. Porém, na terceira gestação, a cinegrafista se viu obrigada a lidar com os cuidados inerentes de uma gravidez tardia – o acompanhamento médico rigoroso – e a confiança no Todo-Poderoso.

Seu esposo, Cleves Gimenez, 50 anos, atuou de maneira decisiva, apoiando-a para que ela seguisse atuando profissionalmente e na liderança estadual do ministério infantil Crianças que Vencem (CQV), da Igreja da Graça em São Paulo. Indagada sobre qual conselho daria às mulheres evangélicas que passam por situações semelhantes, ela recomenda que confiem no Altíssimo, enxerguem a maternidade como uma missão divina e aprendam a entregar seus filhos aos cuidados do Pai celestial. “Eles são como flechas nas mãos de Deus, lançadas no tempo certo, para cumprir um propósito,” conclui.
A confiança inabalável no Criador também conduziu a Pra. Tamires dos Santos, 33 anos, ao reencontro com a paz interior durante a maternidade. Casada com o Pr. Danilo Pereira dos Santos, 33, ela divide seu tempo entre a família e o ministério de casais e líderes da IIGD na Cidade Ademar, zona sul de São Paulo (SP). Tamires conta que sua primeira gestação foi marcada pela depressão pós-parto. “Foi um período sombrio que me traumatizou, mas nós nos mantivemos firmes em Cristo e conseguimos superar”. A ministra acrescenta que aquela experiência quase a impediu de tentar uma nova gravidez. No entanto, impulsionada pela fé e pelo desejo do marido, ela buscou ajuda e enfrentou seus medos. “Era confiar ou não em Deus. Não dava para ficar no meio do caminho”, relata.

Foto: Marcelo Santos
Para a pastora, o papel desempenhado por seu esposo naquele momento foi essencial. “Brinco que o nosso segundo filho é a cara do Danilo porque foi ele quem gerou na fé, quando eu ainda estava cheia de inseguranças”, diz a líder, aconselhando outras mulheres a buscarem auxílio e orientação de modo a ajustarem suas expectativas: “A maternidade é um chamado, mas também precisa ser leve. Não somos supermulheres, e está tudo bem admitir isso, ”alerta.
Missão doulas – Além de sustentar mulheres nas próprias experiências gestacionais, a fé pode impulsionar vocações. É o que tem experimentado a técnica em administração Aline Ferreira, 33 anos, que atua como doula cristã – alguém que presta apoio físico, emocional e informativo à gestante e aos familiares, oferecendo orientação espiritual com base na Palavra. Membro da Assembleia de Deus Ministério Bereana, em São Paulo (SP), e mãe de Yeshuane, de seis anos, ela conta que encontrou na maternidade uma missão que ultrapassa o lar e alcança outras famílias.

Foto: Arquivo pessoal
Segundo Aline, sua trajetória na área administrativa de escolas a fez se aproximar do universo infantil, mas tudo mudou mesmo quando conheceu a escola Doulas na Missão, que junta suporte emocional à visão de mundo cristã. Sentindo o chamado para exercer essa função, ela ressalta que busca resgatar o significado da maternidade sob a ótica da fé, ajudando mulheres a enxergarem seus filhos como uma herança do Senhor, conforme registra o texto do Salmo 127.3 (Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre, o seu galardão). Durante seus acompanhamentos, Aline combina ciência e fé, mostrando como princípios bíblicos e descobertas médicas caminham juntos na gestação e no parto. Além disso, a profissional inspira suas pacientes com histórias de mães da Bíblia, como Sara e Ana, que, mesmo diante de adversidades, confiaram nos planos de Deus.
Essa abordagem, destaca Aline, ajuda as gestantes a terem confiança e serenidade para vivenciar a maternidade com propósito e entrega. Ao mesmo tempo, enfatiza que a fé é uma aliada poderosa para enfrentar os percalços da gravidez, como a ansiedade, os medos e as preocupações sobre o futuro. Desse modo, a técnica em administração as orienta a fortalecerem a comunhão com o Senhor, frisando que se pode lançar sobre Ele as ansiedades, conforme registra 1 Pedro 5.7. Para ela, a gestação é um momento de aprendizado e de exercício dos frutos do Espírito, como paciência e domínio próprio. “Mulheres sabem parir, e bebês sabem nascer”, resume. Aline Ferreira esclarece que encoraja as gestantes que acompanha a confiarem na perfeição do Criador e a se prepararem para viver a maternidade com plenitude.

Foto: Divulgação
Emocional e espiritual – Alguns profissionais, como a teóloga e escritora Ilma Cunha, vêm dedicando sua vida a estudar as causas emocionais e espirituais da infertilidade. Em sua obra Enigmas da alma, ela relata e analisa histórias de mulheres que enfrentaram dificuldades para engravidar, avaliando a influência exercida pela mãe da futura gestante nesse processo. “Quando uma mulher engravida, ela reedita as questões da maternidade da mãe com ela”, explica. A autora acrescenta que fatores, como traumas familiares, vivências difíceis e, até mesmo, o papel da paternidade podem se tornar obstáculos para a concepção. “Compreender a própria história é um passo essencial para superar os desafios da gestação.”
Outro aspecto abordado por Ilma diz respeito aos princípios bíblicos relacionados à fertilidade. Em suas pesquisas, ela identificou que a desonra aos pais é um fator recorrente entre aquelas que não conseguem gerar filhos. Citando a promessa bíblica registrada em Êxodo 20.12 (Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá), a escritora afirma que a harmonia familiar e o respeito aos mandamentos de Deus criam um ambiente mais propício à gravidez. Além disso, assevera que a aliança dos cônjuges, dentro de um casamento regido pelas ordenanças do Criador, é um ponto favorável à fertilidade porque, desse modo, os filhos são concebidos debaixo da bênção do Senhor. “É a missão que Ele entregou ao homem para, junto com a mulher, cumprir a descendência.”
Em alguns casos, observa ela, a infertilidade pode estar ligada a traumas inconscientes, como o de uma mulher que associava sua dificuldade de engravidar à morte da mãe no parto, mas lembra que a fé pode transformar tudo e, assim, promover a cura. Portanto, aponta que, por meio da oração e da leitura da Palavra, buscando conhecer a vontade divina, o caminho para a maternidade pode ser aberto, como aconteceu com Isabel, que, apesar de ser estéril, foi abençoada com um filho. “O mesmo Deus que respondeu no passado também dá respostas nos tempos atuais”, finaliza a teóloga.